FIGURAS DE LINGUAGEM. Figuras sonoras/fonéticas. Assonância 03/10/2012
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- Paula Covalski Pereira
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1 FIGURAS DE LINGUAGEM Figuras de linguagem, também chamadas de figuras de estilo, são recursos especiais de que vale quem fala ou escreve, para comunicar à expressão mais força e colorido, intensidade e beleza. O estudo das figuras de linguagem faz parte da estilística. Figuras sonoras/fonéticas Aliteração Repetição de sons consonantais(consoantes). CruzeSouza é o melhorexemplo deste recurso. Uma das características marcantes do Simbolismo, assim como a sinestesia. "(...) Vozes veladas, veludosas vozes, / Volúpias dos violões, vozes veladas / Vagam nos velhos vórtices velozes / Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas." (fragmento de Violões que choram. Cruz e Souza) Assonância Repetição dos mesmos sons vocálicos. (A, O) - "Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral." (Caetano Veloso) (E, O) - "O que o vago e incógnito desejo de sereumesmodemeusermedeu." (Fernando Pessoa) ONOMATOPEIA Criação de uma palavra para imitar um som. "Havia uma velhinha / Que andava aborrecida / Pois dava a sua vida / Para falar com alguém. / E estava sempre em casa / A boa velhinha, / Resmungando sozinha: / Nhem-nhem-nhem-nhemnhem..." (Cecília Meireles) PARANOMÁSIA Quando numa mesma sentença temos o emprego de palavras parônimas, ou seja, palavras de sons parecidos, dizemos que ocorreu aí a paranomásia, figura de linguagem que consiste no emprego de palavras parecidas, numa mesma sentença, gerando uma espécie de trocadilho. Neologismo Beijo pouco, falo menos ainda. Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. Intransitivo: Teadoro, Teodora Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias (Padre Antonio Vieira) Premissas - antecedentes Primícias - primeiros frutos (simbolicamente, algo muito bom) Figuras de sintaxe/construção ELIPSE Omissão de um termo ou expressão facilmente subentendida. Casos mais comuns: a) pronome sujeito, gerando sujeito oculto ou implícito: iremos depois, compraríeis a casa? b) substantivo - a catedral, no lugar de a igreja catedral; Maracanã, no ligar de o estádio Maracanã c) preposição - estar bêbado, a camisa rota, as calças rasgadas, no lugar de: estar bêbado, com a camisa rota, com as calças rasgadas. d) conjunção - espero você me entenda, no lugar de: espero que você me entenda. e) verbo - queria mais ao filho que à filha, no lugar de: queria mais o filho que queria à filha. Em especial o verbo dizer em diálogos - E o rapaz: - Não sei de nada!, em vez de E o rapaz disse: Não sei de nada! 1
2 ZEUGMA Omissão (elipse) de um termo que já apareceu antes. Se for verbo, pode necessitar adaptações de número e pessoa verbais. Utilizada, sobretudo, nas or. comparativas. Alguns estudam, outros não, por: alguns estudam, outros não estudam. "O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano. - omissão de era (Chico Buarque) Hipérbato/Inversão Alteração ou inversão da ordem direta dos termos na oração, ou das orações no período. São determinadas por ênfase e podem até gerar anacolutos. Morreu o presidente, por: O presidente morreu. Pleonasmo Repetição de um termo já expresso, com objetivo de enfatizar a idéia. "E rir meu riso e derramar meu pranto / Ao seu pesar ou seu contentamento." (Vinicius de Moraes) - Obs.: pleonasmo vicioso ou grosseiro (Vício de linguagem) - decorre da ignorância, perdendo o caráter enfático (hemorragia de sangue, descer para baixo) Assíndeto Ausência de conectivos de ligação, assim atribui maior rapidez ao texto. Ocorre muito nas orações coordenadas. "Não sopra o vento; não gemem as vagas; não murmuram os rios." Polissíndeto Repetição de conectivos na ligação entre elementos da frase ou do período. O menino resmunga, e chora, e esperneia, e grita, e maltrata."esobasondasritmadas/esobasnuvenseos ventos / e sob as pontes e sob o sarcasmo / e sob a gosmaeovômito (...) (Carlos Drummond de Andrade) ANACOLUTO Emprego de um termo solto (ou expressão) a que se faz na frase alguma referência. Abandono da construção gramatical utilizada numa frase ou verso para se adoptar outra construção. Verifica-se, por exemplo, quando uma oração que parece ser a principal fica em suspenso pelo aparecimento de outra oração que a faz seguir noutro sentido. Os anacolutos são frequentes na oralidade, uma vez que o carácter imediato e não planificado da fala espontânea conduz a reorientações sintáticas nas construções frásicas. "Tua mãe, não há idade nem desgraça que lhe amolgue a índole rancorosa. Camilo Castelo Branco As pernas parecia que tinham desaprendido de andar. ANÁFORA Consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade. Vi uma estrela tão alta, Vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo Na minha vida vazia. Manuel Bandeira Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres Que ninguém mais merece tanto amor e amizade Que ninguém mais deseja tanta poesia e sinceridade Que ninguém mais precisa tanto da alegria e serenidade. Vinícius de Morais 2
3 Anadiplose Consiste na repetição de uma palavra ou expressão no fim de uma frase (ou verso) e no começo de outra. Só não roeu o imortal soluço que rebentava, Que rebentava daquelas páginas Tu choraste em presença da morte Em presença da morte choraste Silepse É a concordância com a idéia, e não com a palavra escrita. Existem três tipos: a) de gênero (masc x fem): São Paulo continua poluída (= a cidade de São Paulo). V. Sª é lisonjeiro. b) de número (sing x pl): Os Sertões contra a Guerra de Canudos (= o livro de Euclides da Cunha). O casal não veio, estavam ocupados. c) de pessoa: Os brasileiros somos otimistas (3ª pes. - os brasileiros, mas quem fala ou escreve também participa do processo verbal) FIGURAS DE PALAVRAS Metáfora Emprego de palavras fora do seu sentido normal, por analogia. É um tipo de comparação implícita, sem termo comparativo. A Amazônia é o pulmão do mundo. Encontrei a chave do problema. "Veja bem, nosso caso / É uma porta entreaberta." (Luís Gonzaga Junior) Catacrese Uso impróprio de uma palavra ou expressão, por esquecimento ou na ausência de termo específico. O pé da cadeira quebrou. A boca do túnel estava interditada. A asa da xícara quebrou. Metonímia/Sinédoque Substituição de um nome por outro em virtude de haver entre eles associação de significado. Ler Jorge Amado (autor pela obra - livro) / Ir ao barbeiro (o possuidor pelo possuído, ou vice-versa - barbearia) / Bebi dois copos de leite (continente pelo conteúdo - leite) / Ser o Cristo da turma. (indivíduo pela classe - culpado) / Completou dez primaveras (parte pelo todo - anos) / O brasileiro é malandro (sing. pelo plural - brasileiros) / Brilham os cristais (matéria pela obra - copos). ANTONOMÁSIA / PERÍFRASE Substituição de um nome de pessoa ou lugar por outro ou por uma expressão que facilmente o identifique. Fusão entre nome e seu aposto. O rei dos reis = Jesus Cristo, A cidade luz = Paris, O rei das selvas = o leão, Escritor Maldito = Lima Barreto 3
4 Sinestesia Interpenetração sensorial, fundindo-se dois sentidos ou mais (olfato, visão, audição, gustação e tato). Ex.: "Mais claro e fino do que as finas pratas / O som da tua voz deliciava... / Na dolência velada das sonatas / Como um perfume a tudo perfumava. / Era um som feito luz, eram volatas / Em lânguida espiral que iluminava / Brancas sonoridades de cascatas... / Tanta harmonia melancolizava." (Cruz e Souza) FIGURAS DE PENSAMENTO Antítese Aproximação de termos ou frases que se opõem pelo sentido. "Neste momento todos os bares estão repletos de mulheresvazias" Nada com Deus é tudo. Tudo sem Deus é nada. PARADOXO/OXÍMORO (do Grego, parádoksos = estranho, extraordinário) - é a reunião de ideias contraditórias e aparentemente inconciliáveis, num só pensamento, o que nos causa uma determinada indignação ou estranheza. Paga a escola particular mais cara, mas não assiste à aula. Em vez de prestar atenção ao conteúdo da aula, fica distraindo-se com o celular. Essa é a sábia ignorância, a que Sócrates tanto se referia. QUIASMO (de Grego, Khiasmós = disposto em cruz) - Que por seu turno, deriva da letra grega [X] qui. O quiasmo é uma espécie de antítese; também conhecido como antimetábole. Consiste no cruzamento de grupos sintáticos paralelos (dois ou quatro vocábulos), de forma que o grupo de vocábulos do primeiro se repete no segundo em ordem inversa (AB x BA): Melhor é merecê-los [a] sem os ter [b] Que possuí-los [b] sem os merecer. [a] (Os Lusíadas, c IX, 93) Com dois elementos: Desfeito em cinzas, Em lágrimas desfeito. O quiasmo também pode ser encontrado na prosa: De certos homens, dizia Sócrates, que não comiam para viver, mas só viviam para comer. (Pe. Antônio Vieira) APÓSTROFE Consiste em interromper a narração para dirigir a palavra a pessoas ausentes ou ao leitor. Sintaticamente, a apóstrofe exerce a função de vocativo dentro de uma sentença. Veja alguns casos: Tende piedade de mim, Senhor, de todas as mulheres Que ninguém mais merece tanto amor e amizade. Não basta inda de Dor, ó Deus terrível! (Vinícius de Moraes) Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal. (Fernando Pessoa) EUFEMISMO Consiste em "suavizar" alguma ideia desagradável Ele enriqueceu por meios ilícitos. (roubou), Você não foi feliz nos exames. (foi reprovado) HIPÉRBOLE Exagero de uma ideia com finalidade expressiva Estou morrendo de sede. (com muita sede), Ela é louca pelos filhos. (gosta muito dos filhos) 4
5 IRONIA Utilização de termo com sentido oposto ao original, obtendo-se, assim, valor irônico. O ministro foi sutil como uma jamanta. GRADAÇÃO Apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax) "Nada fazes, nada tramas, nada pensas que eu não saiba, que eu não veja, que eu não conheça perfeitamente." PROSOPOPEIA / PERSONIFICAÇÃO / ANIMISMO É a atribuição de qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais e inanimados. "A lua, (...) Pedia a cada estrela fria / Um brilho de aluguel..." (Jõao Bosco / Aldir Blanc) Hipálage Recurso sintático-semântico que consiste em atribuir a um ser ou coisa uma ação ou qualidade que pertence a outro ser ou outra coisa presente ou subentendido no texto. A buzina impaciente do carro não parava. (o motorista é que é impaciente, não o carro ou a buzina) As vizinhas das janelas fofoqueiras estão à espreita. (são as vizinhas que são fofoqueiras, não as janelas) O vôo negro dos urubus é majestoso. (são os urubus que são negros, não seu vôo) 5
O que são? O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar uma maior expressividade refere-se às figuras de linguagem.
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