RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO - DEVER DE PREVENÇÃO E CONHECIMENTO DA MATÉRIA
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- Fernando de Sintra Paranhos
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1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO - DEVER DE PREVENÇÃO E CONHECIMENTO DA MATÉRIA Rénan Kfuri Lopes Sumário: I Introdução II Erro médico III Responsabilidade civil IV Conclusão I Introdução Várias são as solicitações feitas ao articulista no sentido de enfrentar como advogado as questões do tema da responsabilidade civil do médico. Faz-se necessário, sem dúvida, uma palavra dirigida não aos pacientes ou juristas, mas sim, com toda honestidade, AOS MÉDICOS. Neste bosquejo, longe de pretender-se uma dissertação clássica, com o verniz frio dos tratadistas, a intenção é uma só: despertar para o MÉDICO a matéria, suas conseqüências mais habituais, e, principalmente, alertá-lo para que tome MEDIDAS PREVENTIVAS. Induvidosamente, o médico passou a ser o profissional liberal mais visado, que proporciona maior alarde na mídia quando efetivamente ocorre ou ao menos supeita-se de um erro profissional. Já existem movimentos comunitários, delegacias especializadas em erros médicos, promotores de justiça que se dedicam ao tema, forte literatura jurídica e uma rotulação até
2 certo ponto exagerada pela imprensa, criando daí uma massa crítica ao procedimentos dos médicos. No âmbito legal, além dos códigos civil e penal preverem indenizações e penas contra o médico culposo, mais recentemente vieram a constituição federal implantando o dano moral e o código de defesa ao consumidor. Todos numa fiscalização acirrada dos erros médicos, evoluindo a jurisprudência (decisões reiteradas dos Tribunais) num sentido condenatório ao médico, de valores muitas das vezes vultosos. Assim, deve a classe médica em geral ter conhecimento do que está ocorrendo na esfera judicial, para tomar medidas no sentido da PREVENÇÃO, mirando o abrandamento do erro médico, na maioria das vezes cometidos pela ignorância da matéria in examen ou pela falsa sensação da impunidade. Hoje as coisas mudaram bastante. Os médicos recém-formados não podem deixar-se levar pela chama incandescente que carrega o jovem profissional, sem esquecerem de adotar medidas de segurança na área que atuam ou permitirem que a carga excessiva de trabalho reflita na condução segura dos procedimentos. E tão pouco os médicos mais experientes, iludiremse pela fictícia sensação de impunidade, pois, como dito e repetido, a sociedade e o judiciário mobilizam-se num policiamento constante e os Conselhos Regionais de Medicina, passaram a analisar com elogioso critério os casos concretos. Valem s palavras de OVÍDIO in Metamorfoses quando Dédalo advertiu ao filho Ícaro para não voar alto demais: pelo meio irás mais seguro. II Erro médico O erro médico nada mais é do que a falha do médico no exercício de sua profissão. 2
3 É com elastério, as múltiplas formas do erro médico admitidas encaradas pelos próprios médicos, pacientes e juristas. As situações que caracterizam o erro médico são diversas, inadequadas dissertá-las de per se nesta oportunidade, porém o que mais levam os pacientes a emergir a questão nos meandros judiciais ocorre quando NÃO são atingidas as respostas aos tratamentos ou intervenções cirúrgicas, escapando às suas expectativas positivas, levando-os a desconfiar da incapacidade ou erro do médico. A atmosfera de intensa emoção que envolve o médico com o paciente, aliada à presença próxima e palpiteira dos sempre apreensivos parentes, quando não solucionado satisfatoriamente o caso, propiciam insinuações maldosas e, aberta uma pequena brecha na condução dos trabalhos, mesmo que isto não seja o motivo do insucesso do paciente aos procedimentos, entretanto, é o suficiente para uma provocação judicial. Portanto, o prognóstico ofertado com entusiasmo injustificável, sem avisar COM TODAS AS LETRAS os riscos, conseqüências, efeitos ou a possibilidade de malograr o tratamento é perigosíssimo. Outro ponto que motiva interpretar como erro médico é a demonstrada falta de dedicação pelo médico. Assoberbado de compromissos, o médico que não dispensa um carinho ao paciente, transmite uma sensação de desamparo e até certa forma humilhação. A propósito, sempre bom repetir que as más condições do hospital manifestam ao paciente uma dose de cumplicidade do médico. Em suma, devem os médicos acautelarem-se ao extremo na exercitação da medicina. III Responsabilidade Civil 3
4 A obrigação do médico não é a cura, mas uma prestação de serviços conscienciosos, utilizando dos meios científicos disponíveis para melhor atender ao paciente, o que juridicamente denomina-se obrigação de meio. O descumprimento da obrigação do médico é flagrado quando age culposamente (sem intenção de errar), caracterizada pela sua imprudência, negligência ou imperícia profissional. Em apertada síntese, a imprudência evidencia-se quando procede sem cautela, precipitadamente. Exemplo mais comum, o cirurgião que opera sem o diagnóstico correto e em o preparo adequado do paciente. A negligência é a falta de diligência, o desleixo, verbi gratia, os esquecimentos de gazes ou compressas no corpo do paciente, o descuido de não prescrever ou recomendar as cautelas necessárias quando da liberação do internamento. Já a imperícia é a deficiência de preparo para a profissão, falta de habilidade, desconhecimento técnico e científico, a incompetência. Presentes qualquer uma das três tipificadoras acima, e havendo nexo causal entre a atitude médica e o resultado danoso para o paciente, pontifica-se a responsabilidade civil. Não se pode olvidar por seu turno que cabe ao paciente provar a inexecução adequada da obrigação por parte do médico, detectando sua culpa. Promovida uma ação judicial nas esferas cíveis e criminais, salvo casos grotescos, a culpa do médico só é colhida após um laudo pericial elaborado por médicos especializados nos meandros forenses, mesmo porque juízes e advogados não têm qualquer conhecimento técnico na área médica. Havendo a mínima culpa do médico, apontada no laudo pericial ou provada por testemunhas, gera uma obrigação de 4
5 INDENIZAR ao lesado, avaliada proporcionalmente pelos prejuízos sofridos de jaez material e moral. O dano moral ganhou foro de constitucionalidade (art.5º incisos V e X da Constituição Federal do Brasil), e a sua indenização é calculada levando-se em conta a dor-física e a dorsentimento do vitimado, suas conseqüências presentes e futuras, cabendo ao juiz em cada caso concreto, fixá-la de acordo com os fatos norteadores e as condições das partes (vítima e médico). IV Conclusão Feitas estas considerações num estilo fácil de leitura, o signatário prescreve aos médicos a maior possível PREVENÇÃO na conduta profissional, tanto sob a ótica da qualidade do serviço prestado quanto nas medidas acautelatórias, evitando o desprazer inesperado das ações indenizatórias, muitas delas insufladas por oportunistas de plantão. Sub censura. Rénan Kfuri Lopes, adv. ABRIL DE
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