Certificados Brancos: conceito e experiências de mercado

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1 Certificados Brancos: conceito e experiências de mercado Estas directrizes foram impressas no âmbito do projecto EuroWhiteCert. Para mais detalhes acerca do projecto e dos parceiros do projecto, visite o website do projecto ou contacte o coordenador do projecto em nicola.labanca@polimi.it

2 1 INTRODUÇÃO As Instituições Europeias (Comissão, Parlamento e Concelho) estão a declarar um novo compromisso para aumentar fortemente a percepção da eficiência energética na União Europeia. Foram formuladas novas Directivas (ex. a Directiva na promoção da eficiência energética e de serviços de energia) e o Livro Verde em eficiência energética, foi emitido para agir como catalizador para esta renovada política de entendimento. O esquema de certificados brancos é um dos novos instrumentos chave, que estão previstos para apoiar as melhorias de eficiência energética. Um esquema de certificados brancos (negociável), não substitui mas complementa as políticas e medidas existentes, e pode contribuir para alcançar os correntes ou reformulados objectivos de eficiência energética, de uma forma económica. Como representante de um conjunto de instrumentos de mercado no mercado interno Europeu, é construído sob experiências de esquemas similares, tais como o mercado da UE de emissões e os esquemas de certificados verdes. Esta brochura fornece informação adicional em experiências obtidas com o sistema e os elementos chave ao nível nacional e Europeu. Esta, explora as possibilidades de implementação de semelhante esquema a nível Europeu. OBJECTIVOS O objectivo de incrementar a poupança energética na Europa serve múltiplos propósitos. A redução da procura de energia irá aumentar a segurança de abastecimento energético, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e melhorar a qualidade do ar. A introdução de novas tecnologias de eficiência energética, pode ser um grande contributo para a competitividade e emprego na UE. Um esquema de certificados brancos pretende facilitar a obtenção de objectivos de poupança energética. Através da certificação, pretende garantir-se a obtenção de uma determinada quantidade de poupança energética. O aspecto comerciável permite alcançar esse objectivo de uma forma económica. Benefícios chave de um sistema de certificados brancos: A certificação garante a obtenção do objective acordado. A introdução de comerciabilidade leva a uma obtenção dos objectivos, a um custo mínimo. O sistema pode abrir potenciais de poupança energética e actores que estão actualmente fechados por outros instrumentos. Pode reduzir o peso em orçamentos públicos. Pode estimular o mercado para as ESCOs. Possíveis inconvenientes de um esquema negociável de certificados brancos: Reforça o objectivo apenas com o aumento da eficiência e não com a redução do consumo global de energia. Pode envolver elevados custos de transacção. Pode favorecer principalmente acções fáceis de implementar e de medir. Um sistema Europeu requer uma harmonização substancial das políticas energéticas. IMPLEMENTAÇÃO Os certificados brancos foram usados até agora em conjunto com um esquema de obrigações. Os actores do mercado (usualmente comercializadores ou distribuidores de energia), são obrigados a atingir uma determinada quantidade de poupança energética. A conformidade do objectivo, requer a submissão a um número de certificados comensurável com o objectivo de poupança de energia. Os certificados podem ser criados a partir de projectos de que resultem poupanças energéticas, por actores do mercado ou ESCOs. O actor do mercado recebe certificados, pelas poupanças obtidas, que podem ser usados para o seu próprio objectivo ou podem ser vendidos a (outros) participantes. Deve ser notado, que um esquema de certificados brancos não implica necessariamente a possibilidade de comercialização. 1

3 2 ESBOÇO DO ESQUEMA DE CERTIFICADOS BRANCOS O estabelecimento de qualquer esquema de certificados não é uma tarefa fácil. A ilustração seguinte traça os passos chave, na definição de um esquema de certificados. As escolhas feitas num grande número de Nomear um corpo independente para a emissão de certificados Definir claramente os certificados: tamanho, tecnologias, elegibilidade, validade, etc. Formular as regras do jogo: mercado, partes, conformidade, etc. Estabelecer um sistema de registo e sistemas de monitorização & verificação Formular as regras; definir penalizações Organizar o resgate de certificados elementos pode influenciar o sucesso e a operacionalidade do esquema. Os aspectos chave a tratar, incluem: Como podem ser definidas apropriadamente as metas? Para que período, se devem referir as metas? Que participante terá a obrigação de alcançar as metas de poupanças? Como pode ser garantido que todos os grupos de consumidores contribuintes para o financiamento do esquema, receberão também benefícios? Qual é o período de submissão mais apropriado? Qual será a validade dos certificados, e será permitido o seu deposito e/ou empréstimo? Que tipos de projectos, em que sectores, são elegíveis para receber certificados? Que interacções existirão com outros instrumentos de políticas? Como pode ser evitada a contagem dupla com outros instrumentos de politicas? Que tipo de sistema de medida e verificação deve ser adoptado para optimizar o equilíbrio entre os custos e a precisão das poupanças, tal como a simplicidade e custo da verificação? Como pode ser garantido que a entidade editora dos certificados é independente e tecnicamente qualificada? Como pode ser assegurado que o mercado criado é suficientemente transparente? Como pode o sistema acelerar a inovação das tecnologias de eficiência energética? Como podem ser avaliadas e incluídas no esquema as poupanças energéticas de programas comportamentais? EXPERIÊNCIAS NA EUROPA Vários países Europeus já implementaram esquemas de certificados brancos, ou estão a considerá-lo seriamente. A Itália começou um esquema em Janeiro de 2005; a França um ano mais tarde. A Grã-bretanha combinou o seu sistema de obrigações para poupanças energéticas com a possibilidade de comercializar as obrigações e poupanças (apenas quantidades de participantes obrigados através de contratos bilaterais). A Dinamarca e a Holanda estão a considerar seriamente a introdução de um esquema de certificados brancos, no futuro próximo. A Flandres (Bélgica) implementou obrigações de poupanças energéticas para empresas da rede eléctrica, sem comercialização de certificados. A procura na maioria dos esquemas é criada por obrigações para os comercializadores de gás e electricidade, com a excepção da Itália que optou por obrigar as distribuidoras. País Dinamarca França Grã-bretanha Itália Holanda Objectivo e período 7.5 PJ/ano em PJ total em PJ total em PJ total em PJ total em 2020 % da procura anual 1.7% (fim do ano) 1% (média) 1% (média) 0.5% (média) 1.8% (fim do ano) 2

4 3 O sector e a cobertura de tecnologias dos esquemas variam fortemente. Enquanto que na França são elegíveis medidas de eficiência energética, para todos os sectores e tipos de combustível, desde que não estejam já cobertas pelo esquema de comercio de emissões, na Grã-bretanha é restringido para medidas no sector doméstico e existe um requisito especifico, de realizar no mínimo metade das poupanças no sector domestico social. A Itália inclui todos os sectores de energia de uso final, tal como usos intermédios do sector do gás. A Itália tem uma condição específica, de que pelo menos metade das poupanças devem ser alcançadas através da redução do uso final de electricidade e gás. MEDIDA E VERIFICAÇÃO A Medida e Verificação (M&V) é a chave para um mecanismo de mercado de certificados brancos, aplicado à promoção da eficiência energética em sectores de uso final. Como as poupanças não podem ser medidas, têm que ser calculadas através da comparação do consumo e/ou uso de energia antes (i.e. o consumo de referência) e após a implementação de medidas de poupanças, ver a figura seguinte. CONSUMO DE ENERGIA REFERÊNCIA POUPANÇAS DE ENERGIA DESEMPENHO ENERGÉTICO DA MEDIDA PRE-INTERVENÇÃO PÓS-INTERVENÇÃO Contudo, as condições de referência podem ser alteradas após a instalação da medida de poupança. Tais alterações podem incluir mudanças nas condições de referência, no desempenho do equipamento, e nas condições externas (e.g. condições atmosféricas) Evidentemente, uma metodologia de verificação e certificação de projectos e das suas poupanças é necessária, para um sistema de certificados sólido. São usados vários sistemas; cada um com diferentes níveis de precisão e de custos. Estes variam de métodos de engenharia, baseados em cálculos detalhados que são calibrados com dados locais, para medição de uso final, onde o consumo de energia é medido activamente com equipamento especializado. Quanto mais sofisticado for o método, maiores são os custos. Não existe um método globalmente preferido, para todos os projectos. Claramente, uma M&V abrangente e complicada, pode conduzir a elevados custos para pequenos e médios projectos. Os participantes devem desenvolver protocolos M&V ex-ante que predefinam os factores de poupança para cada tipo de projecto. Utilizando estes métodos, os custos de M&V e com isto os custos totais dos certificados são significativamente mais reduzidos. Três países desenvolveram e testaram com sucesso, várias fórmulas ex-ante, cobrindo a maioria dos projectos de pequena e média dimensão. Por exemplo, o uso de lâmpadas fluorescentes compactas em Itália usa um único factor simples por lâmpada, que foi afinado para representar a desejada poupança energética, tendo em consideração o tempo de uso, nãoadicionalidade, falha e ruptura, etc. Todos os cálculos formam tratados com informação estatística. Independentemente da utilização de métodos ex-ante ou ex-post, a harmonização do processo de verificação é crucial para evitar a incerteza, duplicação de esforços e perdas potenciais da credibilidade do mercado. As metodologias de M&V podem ser padronizadas para alguns projectos e sectores específicos. Actores chave em esquemas de certificados brancos Os corpos governamentais que determinam o sistema e fixam grupos para o controlo da operação do sistema. Os distribuidores e comercializadores de energia são normalmente os actores do mercado alvo, que é determinado pelos objectivos de poupança energética. As companhias de serviços de energia podem criar certificados a partir de projectos de poupança energética. As corporações residenciais podem criar certificados a partir das renovações de outros edifícios. Participantes ETS que necessitem de créditos em conformidade com o sistema de mercado de emissões da UE. 3

5 4 COMERCIALIBILIDADE E LIQUIDEZ DE CERTIFICADOS Os sistemas de mercado comerciáveis são normalmente usados para alcançar os objectivos, a um preço mais reduzido. De forma a concretizar esta eficiência económica é necessário que o mercado seja suficientemente transparente e líquido. O mercado óptimo deve ter um grande número de participantes, com suficiente informação nos produtos e preços e suficientes oportunidades de mercado. A transparência e a liquidez do mercado podem ser aumentadas por, entre outros: Plataformas de trocas que publicam o volume e os preços das transacções Alargamento da área geográfica do mercado (e.g. ligação a outros sistemas, permitidas para importação e exportação de certificados) Permitir (de forma limitada) o depósito e o empréstimo de certificados Fornecer certeza na procura (e.g. formulando simultaneamente objectivos a longo e a médio prazo) Desenvolvimento de um mercado de avanço Introdução de produtos financeiros INTERACÇÃO COM OUTROS MECANISMOS Os esquemas de certificados brancos podem interagir fortemente com outros mecanismos e objectivos, no âmbito da política energética da UE. A sua contribuição para a geração de poupanças energéticas adicionais, resulta na redução da procura de energia primária e por conseguinte reduz as emissões de gases de efeito estufa. Então, um esquema de certificados brancos pode reduzir os custos do esquema da UE de comércio de emissões. Como os objectivos para as energias renováveis são geralmente formulados em termos relativos (como parte do consumo global de electricidade), o efeito de poupanças energéticas dos certificados brancos, podem também reduzir o custo total de alcançar os objectivos Europeus para aumentar a penetração das energias renováveis. Por outro lado, quando a redução da procura de electricidade conduz a preços mais reduzidos no mercado por grosso, o custo de alcançar os objectivos das renováveis pode aumentar. Um esquema de certificados brancos reduz a necessidade de subsídios de poupanças energéticas, mas ao mesmo tempo reduz as receitas dos impostos energéticos (se as tarifas não forem alteradas). Recomenda-se que a promoção de medidas de apoio (como analises energéticas e/ou informação sobre medidas de poupança energética relevantes) com o objectivo de aumentar a transparência do mercado e informar tanto as partes como os utilizadores finais sobre as opções de poupança, potenciais e custos. EXEMPLO DE PROJECTOS Que espécie de projectos podem resultar na criação de certificados brancos? Abaixo ilustra-se que tipos de projectos estão a ser actualmente implementados, que podem ser qualificados para um esquema de certificados brancos, as partes envolvidas e as quantidades de poupanças. Aplicação de motores de alto rendimento numa industria vidreira Portuguesa. Em alternativa à opção mais barata de reparar os motores existentes, a empresa optou por substituí-los por motores novos de alto rendimento, realizando uma poupança total de 144,060 kwh/ano. 4

6 5 EXEMPLO DE PROJECTOS Promoção de Lâmpadas Fluorescentes Compactas Os corpos Municiais Franceses promoveram o uso de CFLs. A agência local de energia ADUHME, decidiu distribuir CFLs numa cidade de habitantes, Clermont Ferrand. Um total de CFLs foram vendidas pelos supermercados locais e associações de funcionários, correspondendo a cerca de MWh poupados em 6 anos. Renovação de escolas na Hungria O município de Óbuda (III distrito de Budapeste) tem habitantes e 108 edifícios municipais com uma idade média de anos. Seis destes edifícios (escolas) foram renovados, incluindo a substituição de 4721 m 2 de janelas, 1794 m 2 de isolamento da parede frontal e 8466 m 2 de isolamento do tecto. As poupanças esperadas de energia primária após a renovação atingem GJ/y, 30% do consumo total de energia primária antes da renovação. Explicação da terminologia Adicionalidade: os projectos realizados em esquemas de certificados brancos devem obter poupanças adicionais, às que seriam obtidas de qualquer forma devido a outras politicas de apoio. Referência: desenvolvimento de referência no uso de energia num projecto especifico. Uso final de energia: uma medida do conteúdo energético dos combustíveis no ponto onde são consumidos. Cálculo ex-ante das poupanças energéticas: método de cálculo que pré-define a quantidade de energia usada e poupada por uma medida, antes da sua implementação. Cálculo ex-post das poupanças energéticas: cálculo das poupanças após a implementação da medida. 5

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8 O Projecto EuroWhiteCert é suportado pela Comissão Europeia e vários governos nacionais. É conduzido sobre os auspícios do Programa Intelligent Energy for Europe (IEE) da Comunidade Europeia e quinze agências nacionais: Áustria AEA, Agência de Energia Austríaca; Bulgária EnEffect, Centro para a Eficiência Energética; ESD Bulgária Ltd, Energia para o Desenvolvimento Sustentável; Finlândia VATT, Instituto Governamental para a Investigação Económica; França ARMINES, organização de investigação da Ecole des Mines de Paris; ADEME, Agência Francesa para o Ambiente e a Gestão de Energia; Alemanha ZSW, Centro para a Investigação em Hidrogénio e Energia Solar; Grécia CRES, Centro para as Fontes de Energia Renováveis; Hungria CEU, Departamento das Ciências e Politicas do Ambiente da Universidade Central Europeia; Itália eerg, Grupo de Investigação da Eficiência de uso final do Politécnico de Milão com o apoio de la220; APAT, Agência Italiana para a Protecção do Ambiente e Serviços Técnicos; Holanda - Ecofys, companhia internacional de consultadoria especializada em energia sustentável e alterações climáticas; Portugal ISR-UC, instituto de investigação e transferência tecnológica associado à Universidade de Coimbra; Suécia IIIEE, Instituto Internacional para a Economia Ambiental Industrial com o apoio do ELFORSK (Companhia de I&D das empresas Suecas do sector Eléctrico) e STEM (Agência de Energia Sueca); Reino Unido ESD, Energia para o Desenvolvimento Sustentável Ltd, com o apoio do DEFRA (Departamento de Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais) A responsabilidade pelo conteúdo deste documento recai sobre os autores. Não representa a opinião da Comunidade Europeia. A Comissão Europeia não é responsável por qualquer uso que possa ser feito da informação aqui contida.