Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2017/ ) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : GRENDENE S A ADVOGADO : FABIANO DE BEM DA ROCHA E OUTRO(S) - RS RECORRIDO : RB CALCADOS INDUSTRIA E COMERCIO LTDA - ME ADVOGADOS : PAULA BIANCA DIAS - RS SABRINA DE OLIVEIRA ARAUJO - RS CAROLINNE COELHO DE CASTRO COUTINHO - CE CARLA NAYALI DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - CE RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): Cuida-se de recurso especial interposto por GRENDENE S/A, com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional. Ação: de obrigação de não fazer e de reparação dos danos decorrentes de infração a desenho industrial, ajuizada pela recorrente em face de RB CALÇADOS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. Decisão interlocutória: acolheu a exceção de incompetência apresentada pela recorrida, para reconhecer a competência do foro da Comarca de Juazeiro do Norte/CE. Acórdão: manteve decisão monocrática que havia negado seguimento ao agravo de instrumento interposto pela recorrente. Recurso especial: alega violação dos artigos: 53, IV, a, e V, 55, 1º, 286, I, e do CPC/15; 100, V, "a", e parágrafo único, 103 e 253, I, do CPC/73. Além de apontar negativa de prestação jurisdicional, defende a competência do foro da Comarca de Farroupilha - RS para processamento e julgamento da presente ação, pois foi o local onde a recorrida adquiriu e comercializou os produtos supostamente contrafeitos. É o relatório. Documento: RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 1 de 5

2 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2017/ ) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : GRENDENE S A ADVOGADO : FABIANO DE BEM DA ROCHA E OUTRO(S) - RS RECORRIDO : RB CALCADOS INDUSTRIA E COMERCIO LTDA - ME ADVOGADOS : PAULA BIANCA DIAS - RS SABRINA DE OLIVEIRA ARAUJO - RS CAROLINNE COELHO DE CASTRO COUTINHO - CE CARLA NAYALI DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - CE VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): O propósito recursal é definir o juízo competente para processar e julgar ação cominatória e de reparação por danos fundamentada em violação de desenho industrial da sandália Ipanema Charme, de titularidade da recorrente. 1- SÍNTESE PROCESSUAL A recorrente, GRENDENE S/A (domiciliada em Sobral - CE), ajuizou a presente ação na Comarca de Farroupilha - RS (distribuída ao Juízo da 2ª Vara Cível), com o objetivo de coibir a recorrida de continuar utilizando desenho industrial de sua titularidade, bem como de obter a correspondente reparação pelos danos experimentados. A recorrida, RB CALÇADOS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., apresentou exceção de incompetência, defendendo a tese de que o foro competente é o da Comarca de Juazeiro do Norte - CE, por ser o local de sua sede. Os juízos de primeiro e segundo graus, ao apreciarem a controvérsia, acolheram a exceção apresentada, reconhecendo a competência do Juízo do local da sede da pessoa jurídica demandada (aplicação dos arts. 94 e 100, IV, a, do CPC/73), tendo ficado assentado, expressamente, que nenhuma das partes tem Documento: RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 2 de 5

3 domicílio em Farroupilha RS e que o fato jurídico apontado como causa do pleito encetado ocorreu na sede da empresa demandada (e-stj Fl.132/3). Irresignada, a recorrente postula a aplicação do disposto no art. 100, V, a, do CPC/73, que estabelece, segundo alega, que se tratando de ação de indenização por infração a direito de propriedade industrial, o foro competente é o do lugar onde ocorreu o ato ou fato, ainda que a ré seja pessoa jurídica com sede em outro lugar. Afirma, ainda, que os produtos contrafeitos fabricados pela recorrida foram adquiridos no Município de Farroupilha RS, de modo que este seria o foro competente para processar e julgar a ação. 2- DA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO DE JURISDICIONAL Da análise do acórdão impugnado, verifica-se que a prestação jurisdicional dada corresponde àquela efetivamente objetivada pelas partes, sem vício a ser sanado. O TJ/RS pronunciou-se de maneira a abordar todos os aspectos fundamentais da controvérsia, dentro dos limites que lhe são impostos por lei. 3- DA AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO O acórdão impugnado, apesar da interposição de embargos de declaração, não decidiu acerca dos arts. 103 e 253, I, do CPC/73 (arts. 55 e 286, I, do CPC/15), o que inviabiliza o julgamento quanto às normas neles contidas. Incide, na hipótese, o entendimento consolidado na Súmula 211/STJ. 4- DO FORO COMPETENTE Os dispositivos legais que regem a matéria (arts. 94 e 100 do Documento: RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 3 de 5

4 CPC/73) estabelecem, como regra geral, que as pretensões deduzidas em face de pessoa jurídica devem ser ajuizadas no foro de seu domicílio, ou seja, do local de sua sede. Todavia, o art. 100, parágrafo único, do CPC/1973 estabelece que nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato, sendo certo que o STJ firmou entendimento no sentido de que a expressão delito contida na norma precitada possui sentido abrangente, alcançando tanto os ilícitos de natureza civil quanto aqueles de cunho penal. Nesse sentido, a título ilustrativo, confira-se o EAg /RS (Segunda Seção, DJe 19/4/2012). Diante disso, verificado que a causa de pedir da pretensão deduzida pela recorrente alicerça-se na ocorrência de contrafação de desenho industrial de sua titularidade, consubstanciada na fabricação, pela recorrida, de calçados semelhantes (e-stj Fl. 162), é certo que se está diante de hipótese de reparação de dano sofrido em razão de delito, a atrair a aplicação da norma precitada. A faculdade de escolha do foro para propositura da ação concedida ao autor, vítima do ilícito, visa facilitar o exercício de seu direito de obter a justa reparação pelos danos sofridos, indo ao encontro dos princípios do devido processo legal e da ampla defesa. Ocorre que, no particular, a ação não foi ajuizada pela recorrente em qualquer dos foros precitados (domicílio do autor ou local do fato), mas em comarca onde, segundo alega, o produto contrafeito foi exposto à venda por terceiro que não integra a lide. É importante ressaltar que, tendo o Tribunal de origem assentado como premissa que o fato apontado como causa de pedir da presente ação ocorreu no local da sede da recorrida (Juazeiro do Norte - CE), e não na comarca em que ajuizada a ação (e-stj Fl.133), é inviável a esta Corte proceder à sua alteração, haja vista o óbice contido na Súmula 7/STJ. Documento: RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 4 de 5

5 Destarte, incidindo à espécie a regra do art. 100, parágrafo único, do CPC/73 e constatado que os danos cuja reparação se postula ocorreram no local da sede da recorrida, Juazeiro do Norte - CE, local onde os calçados supostamente contrafeitos foram fabricados, afigura-se correto o entendimento dos juízos de origem. Forte nessas razões, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial. Documento: RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 5 de 5