aware ANGOLAN DESK LEI DO INVESTIMENTO PRIVADO Junho 2011 N.3
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- Maria do Carmo Correia Duarte
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1 ANGOLAN DESK LEI DO INVESTIMENTO PRIVADO Junho 2011 N.3
2 ANGOLAN DESK EDITORIAL Finalmente e após meses de adiamento e gestação, a tão aguardada nova Lei do Investimento Privado em Angola foi publicada. Com alterações significativas em termos de montante mínimo de investimento e processo de aprovação, espera-se que este seja o novo instrumento de uma nova fase do investimento estrangeiro em Angola, que permita aos investidores estrangeiros rapidez na aprovação dos seus projectos, maior transparência e acrescida segurança jurídica, aliada a uma maior facilidade na movimentação de capitais, menor burocracia e rapidez na obtenção de vistos para os quadros e técnicos dos investidores que se desloquem para Angola ao serviço do investidor. Com todas as alterações introduzidas, aguardamos com expectativa qual vai ser a sua aplicação prática e qual vai ser a resposta das autoridades Angolanas ao novo regime, na certeza que muito há para fazer e que a economia Angolana continua a ser uma aposta com enorme potencial. Fernando Veiga Gomes f.veigagomes@abreuadvogados.com 1
3 Lei do Investimento Privado Foi publicada no passado dia 20 de Maio a Lei n.º 20/11, de 20 de Maio, a (nova) Lei do Investimento Privado (LIP). Sendo certo que a Agência Nacional para o Investimento Privado (ANIP) havia há muito suspendido todos os processos de investimento que se encontravam pendentes, a publicação da nova Lei vem finalmente impulsionar os investimentos que se encontravam parados. Porém, várias novas questões se levantam relativamente a tais processos, bem como ao novo regime agora em vigor. Efectivamente, uma das questões que mais preocupa os investidores é saber se os requisitos da LIP, nomeadamente, o novo limite mínimo de investimento, serão aplicados retroactivamente aos processos que deram entrada na ANIP antes da publicação da LIP. Teme-se que sim, ainda que sem certezas. A alteração ao regime do investimento privado em Angola que maior destaque tem recebido é o aumento do limite mínimo do investimento, que passa de USD ,00 para USD ,00. Não se julgue, porém que as alterações se ficaram pelo aumento do limite mínimo de investimento. Outras alterações importantes prendemse, nomeadamente, com: a) a eliminação do regime da declaração prévia, b) uma maior dificuldade na exportação de capitais, c) os novos conceitos de investimento interno e externo (relevando-se assim a nacionalidade e a residência dos investidores, passando a origem dos fundos a ser a pedra de toque na distinção dos conceitos), d) a nova figura do reinvestimento externo. A par destas alterações, que merecerão melhor atenção abaixo, outro traço notório da LIP é a grande discricionariedade na aprovação dos projectos e nos benefícios e incentivos a atribuir, que passam a ser sempre negociados entre os investidores e o Estado angolano. 2
4 Ãmbito do Investimento Conforme acima referido, para que qualquer projecto de investimento em Angola passe pelo crivo da ANIP e obtenha os esperados benefícios, tem de ter como montante mínimo USD ,00. Relativamente às sociedades a constituir ou a alterar no âmbito do investimento privado passam a dever ser, preferencialmente, sociedades de propósito único e de objecto social fechado, de acordo com o investimento privado autorizado. Não sendo tal possível, os incentivos e benefícios fiscais e aduaneiros autorizados limitar-se-ão à(s) actividade(s) constante(s) do contrato de investimento privado. Para que possa então ser alargado o escopo de aplicação dos benefícios fiscais e aduaneiros, deverá ser obtida prévia autorização. Outra inovação da LIP é a obrigação de «[O] capital das sociedades constituídas ao abrigo do investimento deve ser proporcional ao valor do investimento, sob pena de revogação do CRIP e resolução do contrato de investimento». Porém, o que na prática se entende ser esta proporcionalidade entre o capital social da sociedade a constituir e o valor do investimento privado, cremos que só a prática responderá. Na vigência da anterior Lei, Lei n.º 11/03, de 13 de Maio, Lei de Bases do Investimento Privado (LBIP), o capital social seguia o regime jurídico constante da Lei das Sociedades Comerciais (LSC), enquanto o investimento privado tinha de respeitar o regime da LBIP, não existindo esta exigência de proporcionalidade entre o investimento privado e o montante do capital social da sociedade a constituir ou a adquirir. Outra situação sobre a qual apenas a prática dará resposta, reside na obrigatoriedade de apresentação das licenças de importação de capitais (LICs) visadas pelo Banco Comercial receptor do capital a investir, no momento da outorga da escritura de constituição ou alteração de sociedade no âmbito do investimento privado. Ora, a exigência das LICs serem visadas à data da outorga da escritura de constituição ou alteração de sociedade pelo respectivo Banco Comercial é uma inovação da LIP, uma vez que este requisito não existia na LBIP. A questão que agora se coloca é saber como se aplicará esta exigência na prática, uma vez que, à data da escritura e em função do prazo de 90 dias para proceder à importação de capitais, as LICs nunca eram visadas aquando da outorga da escritura, mas sim muito mais tarde, quando os capitais relativos ao investimento privado eram depositados na conta bancária da sociedade constituída ou adquirida. Esta será, pois, outra questão pela qual aguardaremos resposta à medida que novos projectos forem sendo aprovados. Finalmente, é ainda de mencionar quais os requisitos económicos que a LIP refere para aceder aos benefícios do investimento privado: «(...) a) realizar o investimento nos seguintes sectores de actividade: i. agricultura e pecuária; ii. indústria transformadora, designadamente produção de embalagens, produção de máquinas, equipamentos, ferramentas e acessórios, reciclagem de materiais ferrosos e não ferrosos, produção têxtil, vestuário e calçado, transformação de madeira e seus derivados, produção de bens alimentares, materiais de construção, tecnologias de informação; 3
5 Âmbito do Investimento (continuação) iii. infra-estruturas ferroviárias, rodoviárias, portuárias e aeroportuárias; iv. telecomunicações e tecnologias de informação; v. indústria de pesca e derivados, incluindo a construção de embarcações e redes; vi. energia e águas; vii. habitação social; viii. saúde e educação; ix. hotelaria e turismo; b) realizar investimentos nos pólos de desenvolvimento e nas demais Zonas Económicas Especiais de investimento, aprovadas de acordo com os critérios e prioridades definidos pelo Executivo; c) realizar investimentos nas zonas francas a criar pelo Executivo, de acordo com lei própria sobre a matéria.» O regime processual único No âmbito da LBIP, coexistiam dois regimes: o regime contratual e o regime de declaração prévia. A LIP passa a prever apenas o regime processual único, equivalente (com algumas alterações) ao anterior regime contratual. O traço mais marcante desta alteração é que existirá sempre uma negociação entre o investidor e o Estado angolano, o que implica que os benefícios a atribuir sejam sempre casuisticamente avaliados. O novo regime processual único compreende as seguintes fases: 1) apresentação da proposta de investimento; 2) correcção da proposta (quando necessária); 3) aceitação da proposta; 4) apreciação e negociação da proposta entre o investidor e a Comissão de Negociação de Facilidades e Incentivos (CNFI) esta fase, nos termos da LIP, durará no máximo 30 dias; 4
6 O regime processual único (continuação) Repatriamento de capitais 5) parecer final da CNFI sobre a proposta de investimento apresentada no prazo máximo de 10 dias após o final da fase anterior; 6) remessa da proposta de investimento e do parecer final da CNFI para o Conselho de Administração da ANIP, no caso de se tratar de proposta de investimento até USD ,00, ou para o Presidente da República, no caso de propostas de investimento de montante superior a USD ,00; realça-se ainda que, no caso de propostas de investimento superiores a USD ,00, poderá ser constituída pelo Presidente da República uma CNFI ad hoc para novas negociações com o investidor e preparar a decisão final; 7) aprovação do investimento no prazo máximo de 15 dias nas situações de propostas de investimento entre USD ,00 e USD ,00, sendo que este prazo será de 30 dias no caso de propostas de investimento de montante superior a USD ,00; Assim, nos termos da LIP, uma proposta de investimento poderá demorar entre 60 a 135 dias, dependendo do curso das negociações, da necessidade de eventuais correcções à proposta apresentada e da entidade competente para a aprovação. Note-se, porém, que várias vicissitudes poderão ocorrer ao longo do processo de aprovação da proposta de investimento, pelo que não se deverá considerar como definitivos os prazos aqui indicados. Efectivamente, esta é uma alteração relevante em relação à LBIP, uma vez que, nos termos da LIP, não se prevê a aceitação ou deferimento tácito do investimento, ficando assim a proposta nas mãos da ANIP e do órgão competente para aprovação. Importa ainda referir que a desistência do investimento não justificada ou que seja considerada, em inquérito próprio, dolosa ou de má-fé, impede que a favor do desistente seja aprovado qualquer projecto de investimento em Angola durante o período máximo de dez anos. Nos termos da LIP, é notória a imposição de mais constrangimentos à exportação/ repatriamento de capitais, uma vez que o mesmo passa a depender directamente do volume de capital investido e da área geográfica onde o investimento terá lugar. C r i t é r i o s p a r a a p r o v a ç ã o d e projectos de investimento Conforme decorre de todo o exposto acima, a nova lei do investimento implica que cada projecto submetido à ANIP seja único, na medida em que os benefícios serão negociados caso a caso e há uma larga margem de discricionariedade do órgão competente para a aprovação da proposta de investimento. 8) devolução do processo à ANIP para assinatura, registo e publicação do contrato de investimento e para a emissão do Certificado de Registo de Investimento Privado (CRIP). 5
7 C r i t é r i o s p a r a a p r o v a ç ã o d e p r o j e c t o s d e i n v e s t i m e n t o (continuação) Porém, de acordo com o que vem sendo dito pelas autoridades angolanas, existirão limites à atribuição dos incentivos, que variarão consoante o volume de capitais investidos, o nível de criação de emprego, a área geográfica de implementação e o impacto económico do projecto (produção e exportação). R e i n v e s t i m e n t o e x t e r n o A LIP introduziu um novo conceito, o conceito de reinvestimento: «(...) aplicação em território nacional da totalidade ou de parte dos lucros gerados em virtude dum investimento externo e que, nos termos da presente lei, sejam passíveis de exportação, devendo o mesmo obedecer às mesmas regras a que está sujeito o investimento externo.» C o n c l u s ã o Qual será, de facto, o impacto na LIP, ainda é algo que ninguém sabe. Certo é que, em determinados aspectos, a LIP revela uma clara intenção do Governo angolano em estimular a sua economia, gerar riqueza, criar emprego e corrigir assimetrias regionais. Porém, a aplicação da LIP, nomeadamente, no que respeita aos projectos de investimento entretanto suspensos e diversas questões práticas, é ainda uma incerteza. Na sua essência, a introdução deste conceito parece resultar de uma clara intenção do Governo angolano em fazer submeter à ANIP o produto de prévios investimentos externos, permitindo assim um maior controlo dos investimentos realizados. 6
8 Novidades Legais Lei n.º 1/11, de 14 de Janeiro, que aprova a Lei de Bases do Regime Geral do Sistema Nacional de Planeamento. Lei n.º 2/11, de 14 de Janeiro, que aprova a Lei sobre as Parcerias Público- Privadas. Lei n.º 3/11, de 14 de Janeiro, que aprova a Lei do Sistema Estatístico Nacional. Lei n.º 4/11, de 14 de Janeiro, que aprova a Lei sobre os Tratados Internacionais. Lei n.º 5/11, de 21 de Janeiro, que aprova a Lei Sobre o Luto Nacional e Provincial. Decreto Executivo n.º 7/11, de 31 de Janeiro, que autoriza a emissão de Bilhetes do Tesouro para financiamento da execução financeira do Orçamento Geral do Estado 2011, até ao valor global de ,00 kwanzas. Decreto Presidencial n.º 28/11, de 2 de Fevereiro, que aprova o Regulamento das Sociedades de Micro-Crédito. Lei n.º 6/11, 8 de Fevereiro, que aprova o Orçamento Geral do Estado para Decreto Presidencial n.º 36/11, de 15 de Fevereiro, que autoriza o Ministro das Finanças a recorrer à emissão de Títulos da Dívida Pública de Curto Prazo, designados Bilhetes do Tesouro, até ao valor global de ,00 kwanzas. Lei n.º 10/11, de 16 de Fevereiro, que aprova a Lei dos Feriados Nacionais e Locais e Datas de Celebração Nacional. Lei n.º 11/11, de 16 de Fevereiro, que altera os Códigos de Registo Predial e do Notariado. Lei n.º 12/11, de 16 de Fevereiro, que aprova a Lei das Transgressões Administrativas. Lei n.º 7/11, de 16 de Fevereiro, que aprova a Lei sobre o Regime Geral das Taxas. Lei n.º 8/11, de 16 de Fevereiro, que aprova a Lei sobre o Regime Jurídico do Notariado e altera o Código do Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho. Lei n.º 9/11, de 16 de Fevereiro, que alterou o Código Civil na parte que respeita à hipoteca voluntária sobre imóvel, alienação de imóvel, contrato de mútuo e propriedade horizontal. Decreto Executivo n.º 28/11, de 24 de Fevereiro, que aprova as instruções para a elaboração da Conta Geral do Estado. Decreto Presidencial n.º 38/11, de 4 de Março, que aprova a redução para metade de todos os emolumentos devidos pelo registo da transmissão onerosa de imóveis. Decreto Presidencial n.º 43/11, de 7 de Março, que aprova as Medidas de Gestão das Pescarias Marinhas, da Pesca Continental e da Aquicultura para o ano de Decreto Presidencial n.º 48/11, de 9 de Março, que cria o Fundo Petrolífero (FP). Decreto Presidencial n.º 49/11, de 9 de Março, que aprova o Regime Jurídico da Zona Económica Especial Luanda-Bengo (ZEE Luanda-Bengo). Despacho n.º 174/11, de 11 de Março, que fixa do valor da Unidade de Correcção Fiscal (UCF) em 88,00 kwanzas. Decreto Executivo n.º 30/11, de 11 de Março, que aprova os Procedimentos sobre a Abertura, Operação e Encerramento das Contas Bancárias de Instituições do Sector Público Administrativo. Decreto Presidencial n.º 50/11, de 15 de Março, que aprova as Linhas Gerais do Executivo para a Reforma Tributária. 7
9 Novidades Legais (continuação) Lei n.º 13/11, de 18 de Março, que aprova a Lei Orgânica do Tribunal Supremo. Lei n.º 14/11, de 18 de Março, que aprova a Lei do Conselho Superior da Magistratura Judicial. Lei n.º 15 /11, de 18 de Março, que aprova a Lei do Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público. Resolução n.º 9/11, de 21 de Março, que aprova o Orçamento da Assembleia Nacional. Decreto Presidencial n.º 51/11, de 23 de Março, que aprova o Regime Jurídico do Notariado. Decreto Executivo n.º 62/11, de 14 de Abril, que aprova o Regulamento sobre a Biossegurança. Decreto Presidencial n.º 61/11, de 15 de Abril, que autoriza o Ministro das Finanças a recorrer à emissão especial de O- brigações do Tesouro em moeda nacional. Decreto Presidencial n.º 66/11, de 18 de Abril, que aprova medidas excepcionais de controlo de contribuintes em circunstância de irregularidade reiterada e derroga o Decreto n.º 61/04, de 28 de Setembro, que instituiu o Número de Identificação Fiscal (NIF). Lei n.º 16/11, de 21 de Abril, que altera o Regulamento para Liquidação e Cobrança do Imposto Sobre as Sucessões e Doações e Sisa Sobre as Transmissões de Imobiliários por Título Oneroso, o Regulamento de Imposto do Selo e a Tabela Geral de Imposto do Selo. Lei n.º 18/11, de 21 de Abril, que altera o Código do Imposto Predial Urbano e ao Código do Imposto Industrial. Decreto Presidencial n.º 82/11, de 25 de Abril, que altera o Decreto n.º 10/09, de 13 de Julho, que criou o Fundo de Garantia Automóvel. Decreto Presidencial n.º 83/11, de 25 de Abril, que altera o Decreto n.º 35/09, de 11 de Agosto que regulamenta o Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel. Decreto Presidencial n.º 95/11, de 28 de Abril, que aprova o Regulamento da Actividade das Sociedades de Cessão Financeira, ou Factoring. Esta Aware contém informação e opiniões de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para esclarecimentos adicionais contacte Angolan Desk: angola@abreuadvogados.com Visite o nosso site ABREU ADVOGADOS 2011 ( * ) LISBOA PORTO MADEIRA ANGOLA (EM PARCERIA) MOÇAMBIQUE (EM PARCERIA) 5 LISBOA SEDE * PORTO * MADEIRA * Av. das Forças Armadas, º Rua S. João de Brito, 605 E - 4º Rua Dr. Brito da Câmara, Lisboa, Portugal Porto Funchal Tel.: (+351) Tel.: (+351) Tel.: (+351) Fax.: (+351) Fax.: (+351) Fax.: (+351) lisboa@abreuadvogados.com porto@abreuadvogados.com madeira@abreuadvogados.com ( * ) Actividade certificada nos locais indicados.
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