EDUCACIONAIS E SOFTWARES

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1 SOFTWARES EDUCACIONAIS E SOFTWARES DE APOIO PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA DISPONÍVEIS NA WEB: UMA ANÁLISE CRÍTICA EM RELAÇÃO ÀS FALHAS CONCEITUAIS E PEDAGÓGICAS João COELHO NETO FAFICOP Armando Paulo da SILVA UTFPR CP Resumo: Este artigo tem a finalidade de mostrar os erros cometidos em termos conceituais e pedagógicos com a inserção de softwares de apoio como softwares educacionais. A abordagem metodológica adotada neste artigo foi qualitativa de natureza interpretativa analisando os softwares educacionais disponíveis na web. Para fundamentar a pesquisa foi realizada uma revisão de literatura abrangendo a história da Introdução da Informática Educativa no Brasil, alguns pesquisadores de décadas diferentes e uma visão de sites e softwares educacionais disponíveis na world wide web, tomando como referência bibliografias disponíveis na área, referente à qualidade e aplicação de softwares educacionais em um contexto pedagógico. Concluiu-se que os softwares analisados que estão disponíveis na web não atendem os objetivos para os quais foram criados e que seus desenvolvedores estão cometendo um equívoco quando se propõe a desenvolver um software educacional e simplesmente desenvolvem um software apoio. INTRODUÇÃO A educação brasileira no contexto mundial apresenta a característica de formação geral do indivíduo, onde o desenvolvimento do educando tem de permear a concepção dos componentes científicos, tecnológicos, sócio-culturais e de linguagens. Além de que o indivíduo deve ter presente em todos os momentos de sua formação: o aprender a aprender e o aprender a fazer. A política educacional brasileira, a partir da homologação da Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, Decreto-lei nº , 1997) preocupou-se com a preparação do educando para enfrentar os desafios de economias globalizadas e competitivas oferecendo uma

2 educação geral e profissional com condições para superar esses obstáculos. A educação profissional transcende a fase do repetidor de processos para que promova a transição entre escola e o mundo do trabalho, capacitando jovens e adultos com conhecimentos e habilidades gerais e específicas para o exercício de atividades produtivas (BRASIL, Lei nº , 1996). Esse novo cenário educacional exige que o educador se atualize constantemente para tornar o processo ensino-aprendizagem mais agradável e estimulante. Para tanto, há a necessidade da inclusão digital, primeiramente, destes educadores, a fim de que acessem, avaliem e utilizem os recursos existentes nesta era da informação no ambiente pedagógico. Esses recursos se apresentam principalmente no formato eletrônico, muitas vezes, disponíveis na web por meio de softwares educacionais ou de apoio. Os softwares que foram desenvolvidos com intuito educacional tiveram uma evolução significativa nestes últimos anos e sua implantação tem a função de auxílio no processo ensino-aprendizagem, justificando a preocupação de uma inovação constante, pois os educadores precisam atender os anseios dos educandos em sua busca por respostas mais rápidas ao acessar os dados, bem como na transformação das informações em conhecimento. Desta maneira há a necessidade de apresentar um modelo de software educacional onde atenda as necessidades de focalizar esta tecnologia na transformação dos dados e informações em conhecimento, por isso precisam atender as necessidades de um instrumento pedagógico e ergonomicamente adequado ao ambiente de um processo educativo. Os softwares afetam, atualmente, quase todos os aspectos de nossas vidas, estando presente nos negócios, na cultura e nas atividades diárias (Pressman, 2000). Produzir softwares de qualidade torna-se, portanto, imprescindível. A engenharia de software integra processos, métodos e ferramentas para o desenvolvimento de softwares visando à melhoria de sua qualidade (Pressman, 2000). Os softwares educacionais também necessitam de avaliação e melhoria constante, quanto a sua qualidade e ambiente. Vários softwares são disponibilizados a educadores e educandos na Internet, porém precisa-se de uma análise rigorosa antes de aplicá-los no processo de ensino-aprendizagem. Neste artigo, apresenta-se um pouco da introdução da Informática na Educação no Brasil, abordando sua história e alguns autores que influenciaram a aplicação da mesma em três diferentes épocas, relacionando seus pensamentos, além que pretende-se analisar alguns softwares disponíveis na Internet avaliando se realmente são softwares educacionais ou funcionam simplesmente como softwares de apoio no processo ensino-aprendizagem.

3 HISTÓRICO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO NO BRASIL No Brasil, como em outros países a Informática na Educação, teve inicio no século passado, no princípio da década de setenta, mas em especial no Brasil, iniciou-se com o primeiro e segundo Seminário Nacional de Informática Educativa, a partir desses eventos surgiram projetos como o Educom, Formar e Proinfe. O Educom (Computadores na Educação) criado em 1983, tinha como objetivo criar centros pilotos em universidades brasileira para desenvolver pesquisas sobre diversas aplicações do computador na educação. As Universidades envolvidas com o Educom foram: Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Estadual de Campinas. O Projeto Formar foi criado para complementar o projeto do Educom, com intuito de formar recursos humanos para o trabalho na área de informática educativa, sendo esses recursos humanos ao final do curso, deveriam atuar como multiplicadores em sua região de origem. O Proinfe Programa Nacional de Informática na Educação foi lançado em 1989, contribuindo para a inserção de laboratórios e centro de capacitação de professores. Com os resultados dos programas anteriores originou-se o Proinfo Programa Nacional de Informática na Educação, onde seu objetivo é estimular e dar suporte a inserção da tecnologia de informação nas escolas do nível fundamental e médio de todo país. A proposta do Proinfo esta apoiada em três bases, as quais suprem as necessidades educacionais, uma vez que podemos qualificar e estruturar a formação de softwares educacionais de acordo com as normas vigentes pelo Ministério da Educação. Segue as bases e uma sucinta descrição de cada uma delas: Princípios educacionais favorece a construção do conhecimento a partir da ação-reflexão-ação, possibilita registro de ações desenvolvidas, possibilita múltiplas e alternativas soluções de problemas, linguagem acessível ao usuário, etc. Especificidades técnicas adequação a infra-estrutura de hardware-software disponíveis nos ambientes educacionais, facilidade de instalação e desinstalação, existência de interface amigável, possibilidade de inclusão/alteração de informações e/ou opções pelo usuário, existência de recursos multimídias, etc.

4 Integrações pedagógicas ter recursos de hipermídias (animações tridimensionais, hipertexto, multimídia), possibilitar interface de outros softwares, permitir acesso rápido e inteligente às informações. Dentre estas bases destaca-se o fato de favorecer a construção do conhecimento a partir da ação-reflexão-ação, na possibilidade de registro de ações desenvolvidas, permitindo sua depuração ou reelaboração e avaliação dos processos educacionais e também no favorecimento de múltiplas maneiras de solução de problemas e favorecendo a interdisciplinaridade, segundo (Kalinke, 2003, p.27): A introdução dos recursos tecnológicos nos processos educacionais precisa-se apoiar em fundamentos consistentes. Observa-se que em muitas escolas, especialmente ligadas à rede particular de ensino, esse processo de utilização esta mais fundamentado em necessidade de marketing do que em necessidades pedagógicas. Nas escolas da rede pública, por outro lado, esse processo nem sempre esta claro. Os professores, em muitas situações, são colocados em frente a computadores e outros equipamentos sem que tenham sido preparados ou capacitados para utilizá-los. Esse novo perfil da educação, nos últimos tempos, está evidente quando existem muitos educadores e pesquisadores que abordam a informática na educação. PESQUISADORES QUE ABORDAM A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO Dentre alguns autores, os que serão citados têm um grande referencial bibliográfico na área, em três diferentes décadas. Nos anos setenta o russo Oleg Tikhomirov, aborda uma relação entre tecnologia e cognição, apresentando três teorias que relacionam atividades humanas e computadores: substituição, suplementação e reorganização. Nos anos oitenta e noventa Pierre Lévy, um autor de grande circulação no Brasil, desenvolve pesquisas em tecnologias da inteligência e inteligência artificial, ele sustenta que uma tarefa exige cooperação não apenas de atores humanos, mas também de atores nãohumanos, tais como tecnologias da inteligência que usamos: escrita, oralidade, biblioteca, computadores e outras. Já nos anos noventa a atualidade, Marcelo de Carvalho Borba, coordenador do GPIMEM Grupo de Pesquisa em Informática, Outras Mídias e Educação Matemática, professor da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro, boa parte dos seus

5 trabalhos atuais se dá com o uso de calculadoras gráficas e não com o uso de computadores em si, ainda que eles estejam fortemente presentes. Para Kalinke, dentro dos vários aspectos positivos o uso da Internet nos processos educacionais, se destaca na interação direta que os alunos e professores têm com a possibilidade de se ter contato direto com pesquisadores e projetos de pesquisa. USO DA INTERNET E SOFTWARES NO PROCESSO EDUCATIVO A Internet como um veículo da globalização, trouxe todo um universo baseado na virtualidade. Convencionando, assim uma nova ordem a partir do relacionamento homemmáquina, o emprego desses recursos tecnológicos na educação não vem como substituto do educador, ele dever ser visto como um auxiliador no processo de aprendizagem, o professor não sendo mais apenas um propagador de informações, mas sim um pesquisador e propagador de novos recursos dentro da sala de aula, dando a possibilidade do educando conhecer diversos lugares, culturas, pessoas e costumes sem sair do recinto de aprendizagem. Um conceito básico em relação aos softwares educacionais é que devem possuir um ambiente educacional, ou seja, ser um modelo de aprendizagem que privilegie a pertinência em relação ao programa curricular, além disso, o software deve ser adequado e relacionado ao contexto educacional, apresentar aspectos didáticos que contribuíam para que o educando alcance o objetivo educacional e para isso deve ser amigável e de fácil utilização. Muitos softwares que se dizem educacionais acabam trazendo insegurança e ansiedade ao educando. É muito comum encontrar softwares que se intitula corrigir o educando, apresentando-lhe uma resposta que o desmotiva, essas ferramentas utilizadas como um instrumento para auxiliar o desenvolvimento integral da pessoa e não apenas como um depósito de informações disponíveis, sendo utilizado para ampliar seu potencial intelectual. Há várias maneiras de classificar softwares educacionais. Uma dessas maneiras, por exemplo, consiste em categorias de acordo com a natureza do aplicativo, a outra seria classificar pela finalidade para qual o software é utilizado no processo educacional, a forma mais comum constitui na divisão do software educativo em dois grandes grupos:

6 Software de apoio. Utilizável em qualquer disciplina, ou em outras atividades não educativas. São exemplos deste tipo de produtos, os processadores de texto, as folhas de cálculo, etc. Software específico. Como o nome indica, trata-se de um tipo de software concebido com a finalidade de ser usado no ensino, e nomeadamente na aprendizagem de tema concretos. Os softwares destinados ao ensino da matemática, por exemplo. METODOLOGIA A abordagem metodológica adotada neste artigo foi qualitativa de natureza interpretativa analisando os softwares educacionais disponíveis na web. Para a análise conceitual e pedagógica foram utilizados dois sites: e AVALIAÇÃO DOS SOFTWARES EDUCACIONAIS DISPONÍVEIS NA WEB A principio este artigo verificou dois sites disponíveis na web, no primeiro site, encontrado em: foi analisado uma das opções disponíveis na área de funções, o intuito foi analisar a ergonomia do software verificando se o programa se enquadra como um software educacional ou um software de apoio. O software escolhido foi o ADASTRA, que é um aplicativo freeware, que tem como finalidade o estudo de funções.

7 Figura 1. Layout do software Adastra Este software esta disponível na página como um software freeware, mas quando fazemos à instalação, ele mostra como uma versão sharewares, isto é muito comum encontrar nas páginas onde estão disponíveis os aplicativos educacionais, em seu âmbito educacional, é um aplicativo confuso e em língua inglesa, não possui um ambiente educacional que facilite o processo de aprendizagem. No site Só Matemática, disponível em: considerado como um site educacional, podemos sim encontrar uma variedade de materiais de apoio para o ensino da matemática dentre os materiais de apoio desde o ensino fundamental até o ensino superior, trabalhos de alunos, biografias matemáticas, história da matemática e softwares matemáticos, a maioria dos aplicativos disponíveis são softwares de apoio, que são aqueles que têm a finalidade de encontrar a resposta, mas que não possui nenhum ambiente pedagógico inserido nele. Neste site se encontra disponíveis diversos softwares freewares e softwares sharewares. Figura 2. Layout do site Só Matemática

8 CONCLUSÃO As avaliações dos softwares foram realizadas como proposta de colaborar para uma prática docente mais adequada nos dias atuais e incentivar uma postura consciente e critica na seleção de softwares educacionais, pois muitos sites disponibilizam os aplicativos, como softwares educacionais, mas na verdade são apenas softwares de apoio, pois os mesmos não apresentam nenhum ambiente pedagógico inserido neles. Outro erro bastante comum que se encontra nestes sites são nos tipos de softwares rotulados neles, softwares freewares são aqueles softwares que são disponibilizados gratuitamente para o uso, já os softwares sharewares são aqueles disponibilizados gratuitamente por um determinado período para análise e assim que expira o período de uso, o mesmo não pode mais ser acessado, necessitando da aquisição da licença para continuar a utilizar. Em função das adversidades que a era tecnológica trouxe é necessário uma atenção especial para a escolha de um software no ambiente educativo, pois após a inserção do software no ambiente pedagógico para auxiliar o processo ensino-aprendizagem dificulta a sua exclusão em qualquer momento deste processo, sendo que os softwares educacionais são considerados quando o educando é motivado a participar do processo e interagir com o mesmo. A finalidade de mostrar estes sites e softwares é orientar os usuários, principalmente os educadores quanto à erroniedade conceituais. Esses aplicativos e sites disponíveis, muitas vezes apresentados como educacionais simplesmente se interagem mais como apoio ao processo ensino e aprendizagem, precavendo-os na hora de tomar uma decisão de inseri-los em um processo pedagógico. É importante que os educadores tenham a compreensão correta em termos conceituais dos tipos de softwares, além de que sejam críticos na escolha destes para que execute a função de auxiliar o processo ensino-aprendizagem e não seja uma simples ferramenta qualquer sem função pedagógica. O software de apoio é importante para o educador, mas a função pedagógica tem resultado mais efetivo quando o software educacional é explorado de forma criteriosa e utilizado os seus recursos para motivar o educando no processo ensino-aprendizagem. Conclui-se que os softwares analisados que estão disponíveis na web não atendem os objetivos para os quais foram criados e que seus desenvolvedores estão cometendo um equívoco quando se propõe a desenvolver um software educacional e simplesmente desenvolver um software apoio.

9 REFERÊNCIAS ADASTRA. Disponível em:< Acesso em: 02 abr BORBA, M. de C., PENTEADO, M. G. Informática e Educação Matemática. 3. ed., Belo Horizonte: Autentica, Brasil. Decreto-lei nº , de 17 de abril de 1997.Regulamenta o 2º do art. 36 e os arts. 39 a 42 da Lei nº , de 20 dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília, 18 abr Lei nº , de 20 dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília, 23 dez GRAVINA, M. A. e Santarosa, L. M. A aprendizagem da Matemática em Ambiente Informatizados. In: Congresso RIBIE, 4. Anais..., Brasília, KALINKE, M. A. Internet na Educação. Curitiba : Chain, MORAES, M. C. Informática Educativa no Brasil: Uma História Vivida, Algumas Lições Aprendidas. Disponível em:< Acesso em: 02 abr PRESSMAN, R. S. Software Engineering: a Practitioner s Approach. 5. ed. New York: McGraw-Hill, 2002 RAMOS, E. M. F. MENDONÇA, I. O Fundamental na Avaliação da Qualidade do Software Educacional, 1991.Disponível em: < >. Acesso em: 01 abr SÓ MATEMÁTICA.Disponível em:< Acesso em: 03 abr Tikhomirov, O. K. The psychological Consequences of Computarization. In Wertsch, J. V Ed. The Concept of Activity in Soviet Psychology. New York: M.E Sharpe Inc, 1981.

10 VALENTE, J. A. ALMEIDA, F. J. de.visão Analítica da Informática na Educação no Brasil: a questão da formação do professor, Disponível em: Acesso em: 03 fev