ANÁLISE DAS PRINCIPAIS PUBLICAÇÕES SOBRE INCLUSÃO SOCIAL E FAMILIAR NO AUTISMO INFANTIL RESUMO

Transcrição

1 ANÁLISE DAS PRINCIPAIS PUBLICAÇÕES SOBRE INCLUSÃO SOCIAL E FAMILIAR NO AUTISMO INFANTIL VÂNIA DA SILVA FERREIRA 1 ; MAINARA PEREIRA DOS SANTOS 1 ; SANDRA MAURA ESCOBAR DE MATOS 2 EIXO TEMÁTICO: Deficiência e sociedade. RESUMO No contexto de avanços em relação ao diagnóstico e inclusão social de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), tem se observado a família como principal mediadora pois é através dessas experiências familiares que se torna possível construir vínculos e desenvolver novos comportamentos cada vez mais adaptativos ao sujeito. O objetivo do estudo foi analisar as pesquisas que vem sendo publicadas nos últimos 10 anos (2007 a 2017) relacionadas ao processo de inclusão social e familiar de crianças diagnosticas com o TEA no Brasil. Trata-se de uma revisão sistemática realizada a partir da análise de 32 artigos científicos selecionados dentre 504 trabalhos encontrados nas bases de dados: Lilacs e Scielo, incluindo os seguintes descritores autista, autismo sendo o segundo combinado com família. A conclusão aponta a importância de ampliar os estudos sobre as questões psicológicas e emocionais que afetam famílias de indivíduos com autismo. Palavras-chave: autismo infantil; família; inclusão social. 1 Acadêmica em Psicologia, 8º semestre, Bolsista PIBIC na Faculdade São Francisco de Barreiras - FASB, Barreiras/BA. .vaniadsf@bol.com.br 2 Pós-Graduada em Educação Especial e Inclusiva. Graduação em Psicologia - FASB. Experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Escolar e Educacional. Docente da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB) Barreiras/BA.

2 2 INTRODUÇÃO O conceito sobre Autismo Infantil começou a ser descrito por Léo Kanner por volta do ano de 1943, através da publicação de sua pesquisa na Revista Nervous Child, a qual propunha a inserção de uma nova patologia psiquiátrica, que a princípio foi denominada Distúrbio Autístico do Contato Afetivo, como uma categoria que tem início precoce e incidência predominante no sexo masculino (Kanner, 1943). O Distúrbio Autístico do Contato Afetivo foi estudado devido possuir características comportamentais bem peculiares, tais como: inabilidade no uso da linguagem, perturbações das relações afetivas com o meio, solidão autística extrema, presença de boas potencialidades cognitivas, aspecto físico aparentemente normal e comportamentos ritualísticos (Kanner, 1943; Aspeger, 1944; American Psychiatric Association, 1980; Lima, 2014). Os transtornos do espectro autístico, aos quais eram listados o autismo e a síndrome de Asperger, foram caracterizados por uma tríade de impedimentos graves e crônicos que afetavam as áreas de interação social, comunicação verbal/não verbal e interesses (Tamanaha; Perissinoto; Chiari, 2008; American Psychiatric Association, 1994), entretanto, com a atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM V, os indivíduos que apresentassem características diagnósticas correspondentes ao transtorno de Asperger passaram a ser diagnosticados como Transtorno do Espectro Autista (TEA) em gravidade de nível 1 (American Psychiatric Association, 2014). É no contexto de avanços em relação ao diagnóstico e inclusão social desses indivíduos, que a família tem um papel imprescindível, sendo vista como o principal meio de socialização subsidiando e orientando de forma primária as relações afetivas dos indivíduos, pois são a partir das experiências familiares que se torna possível construir vínculos e desenvolver novos comportamentos (Serra, 2010). Ademais, conhecer o funcionamento da dinâmica familiar, que possui um membro com autismo, auxilia no enfrentamento e na busca de outras redes de apoio disponíveis (Hamer; Manente; Capellini, 2014).

3 3 O TEA tem características que podem levar a criança ao processo de isolamento e dificultar ainda mais sua comunicação (Nunes; Azevedo; Schmidt, 2013). Por essa razão, o processo de socialização através da inclusão dessas crianças em ambiente escolar também é um passo favorável, tanto para o desenvolvimento daqueles que apresentam o diagnóstico, quanto as outras crianças, uma vez que a partir desta interação é possível aprender com as diferenças (Camargo; Bosa, 2012; Hamer; Manente ;Capellini, 2014). Com base no referencial teórico analisado, se pode verificar a importância das pesquisas científicas e descobertas referentes à síndrome de Asperger e ao Transtorno do Espectro Autista (American Psychiatric Association, 2014). No entanto, vale ressaltar que o diagnóstico é apenas um dos passos diante de tantos outros relacionados a necessidade de uma psicoeducação social em relação ao autismo, pois assim a inserção social desses indivíduos ocorreria de forma adequada, não sendo esta somente realizada e resguardada por imposição legislativa, mas sim pelo aprendizado de conviver com as diferenças, pois todos indivíduos possuem idiossincrasias independentemente de terem ou não algum tipo de transtorno. METODOLOGIA Na realização do levantamento de publicações, para fins de revisão bibliográfica, foram utilizadas duas bases de pesquisa nacionais (LILACS e SCIELO), sendo estabelecido um período de dez anos na busca relacionada aos avanços em publicações sobre o Transtorno do Espectro Autista em crianças. Este teve intuito de mapear, através de uma pesquisa bibliográfica sistemática, os estudos em relação a inclusão social e familiar no país (Gil, 2002). Para coleta de dados, foram utilizados como filtragem os termos autismo, autista e família, sendo o primeiro termo cruzado com o último. Foram criados alguns critérios necessários para selecionar os artigos analisados neste levantamento bibliográfico. Entre eles, os critérios de inclusão, delimitando os artigos que possuíssem títulos e resumos que satisfizessem os objetivos propostos e tivessem ligação com os temas psicologia, inclusão social e família. Como critérios de exclusão foram delimitados que seriam excluídas desse estudo as publicações relacionadas com áreas das ciências

4 4 médicas e genéticas com o tema autismo ou as que tivessem o autismo em comorbidade com outros tipos de transtornos que não fazem parte do foco deste estudo. A análise dos dados foi realizada a partir dos resultados apresentados nas duas bases de dados, sendo estes comparados com o intuito de identificar a quantidade de publicações de artigos e a sua divulgação social e científica produzida. Os dados coletados durante o levantamento foram agrupados em três categorias, de acordo com o conteúdo: sinais precoces, relações familiares e rede de apoio. RESULTADOS E DISCUSSÃO No levantamento bibliográfico realizado nas bases de dados LILACS e SCIELO foram encontrados um total de 504 artigos, utilizando seus respectivos descritores, sendo: 296 com Autista, 175 Autismo e 33 ao cruzar Autismo e família. Na análise do conteúdo desses artigos, apenas 32 foram selecionados por atenderem aos critérios de inclusão descritos anteriormente e por fazerem parte de pesquisa nacional, conforme será apresentado na Tabela 1 a seguir. Tabela 1. Publicações encontradas, descartadas e selecionadas Período Base de dados Palavras-chave 2006 a 2017 LILACS Publicações encontradas Publicações descartadas Publicações selecionadas LILACS x SCIELO* Autista ,85% ,69% 8 30,77% 25,00% Autismo 28 8,56% 13 4,32% 15 57,69% 46,88% Autismo; Família 15 4,59% 12 3,99% 3 11,54% 9,38% ,00% ,00% ,00% 81,25% Autista 12 6,78% 11 6,43% 1 16,67% 3,13% SCIELO Autismo ,05% ,80% 2 33,33% 6,25% Autismo; Família 18 10,17% 15 8,77% 3 50,00% 9,38% ,00% ,00% 6 100,00% 18,75% Totais ,00% * Comparativo realizado em relação ao número de total de Publicações Selecionadas na pesquisa (32 publicações). Considerando exclusivamente a base de dados LILACS, dos 327 artigos encontrados, 284 (86,85%) referiam-se ao descritor autista, 28 (8,56%) relacionados ao autismo e 15 (4,59%) na relação entre os descritores família e autismo. Em função

5 5 dos critérios de exclusão, nem todos os artigos atendiam às condições delimitadas na pesquisa, sendo que foram selecionados apenas 26 do total dos 327 artigos encontrados através dos três descritores utilizados. Com relação ao descritor autista, foram selecionadas 8 (30,77%) publicações, outras 15 (57,69%) estavam relacionadas ao descritor autismo e 3 (11,54%) à relação entre autismo e família. Ao analisar os resultados encontrados exclusivamente na base de dados SCIELO, pode-se observar que, do universo de 177 artigos encontrados, 12 (4,59%) se referiam ao descritor autista, 147 (83,05%) ao termo autismo e 18 (10,17%) à relação apresentada através do cruzamento entre os descritores autismo e família. Em função dos critérios de exclusão, nem todos os artigos atendiam às condições delimitadas na pesquisa, sendo que foram selecionados apenas 6 do total dos 177 artigos encontrados através dos três descritores utilizados. Com relação ao descritor autista, foi selecionada apenas 1 publicação (16,67%), outras 2 (33,33%) publicações foram encontradas através do uso do descritor autismo e 3 (50,00%) com relação ao cruzamento dos descritores autismo e família. Considerando que dos 32 artigos selecionados, 26 (81,25%) estavam na base LILACS e apenas 6 (18,75%) na SCIELO, fica evidente que a plataforma LILACS possui uma maior relevância quanto à discussão da temática do autismo com relação aos descritores e critérios aplicados nesse levantamento bibliográfico. Considerando que apenas 18,75% de todo conteúdo, filtrado pelos critérios de pesquisa, foram encontrados na SCIELO, e que esse percentual foi igualmente baixo para todos os descritores, a base LILACS demonstrou ser a mais completa segundo os parâmetros utilizados nesta pesquisa. Os resultados apresentados nessa pesquisa, permitiram verificar aspectos referentes às publicações de artigos sobre o autismo infantil nos últimos dez anos, entretanto, ao considerar a quantidade de artigos relacionados ao processo de inclusão social e familiar (Tabela 1.), nota -se uma carência de produções científicas nessa temática pois, de acordo com os números de artigos descartados, pode ser observado o alto índice de publicações voltadas às áreas das ciências médicas e genéticas, sendo, portanto, mais escassas as publicações relacionadas às questões de inclusão social desses indivíduos (Schmidt; Bosa, 2003; Hamer; Manente; Capellini, 2014). Esse levantamento bibliográfico se configura num alerta sobre a necessidade de se realizar mais pesquisas sobre autismo, abordando não só características diagnósticas, como a maioria dos artigos examinados discutiam, mas também temas relacionados as

6 6 questões socioafetivas que dispõe de dispositivos proeminentes para que o processo de inclusão social aconteça (Serra, 2010). CONCLUSÃO Essa revisão bibliográfica, permitiu verificar que, embora exista uma quantidade razoável de publicações de artigos sobre o autismo nesses últimos anos nas duas bases de dados, ainda existe uma escassez de publicações que relacionem essa temática à família e a inserção social. Este fato merece atenção especial considerando a importância das relações sociais na vida da pessoa com o Transtorno do Espectro Autista. A literatura deixa claro que a família de uma criança com TEA tem papel fundamental no desenvolvimento integral desses indivíduos, contribuindo para a socialização e estimulação dos mesmos. Além disso, observa-se que, apesar de existir uma relação de dependência entre a criança diagnosticada com autismo e seus familiares, isso não a impede de ser estimulada para um ganho de autonomia. Nesse sentido faz-se necessário um maior investimento no número de pesquisas científicas acerca desta temática, tendo em vista que as pesquisas podem melhorar a rede de apoio que é essencial no sentido de mediar as relações sociais desta criança em outros contextos, beneficiando o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo desses indivíduos. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION APA. (1980).Diagnostic and statistical manual of mental disorders. (3. ed.) American Psychiatric Association. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION- APA. (1994). Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais. (5. ed.) American Psychiatric Association. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION- APA. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora. ASPERGER, H. D. (1944). Autistischen Psychopathen im Kindesalter. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, v. 117, n. 1, p

7 7 CAMARGO, S. H.; BOSA, C. A.(2012). Competência social, inclusão escolar e autismo: um estudo de caso comparativo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 28, n. 3, p KANNER, L. (1943). Autistic disturbances of affective contact. Revista Nervous Child, Baltimore, v. 2, p , GIL, A. C. (2014). Métodos e técnicas de pesquisa social. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.LIMA, R. C. Dossiê Saúde Mental: A construção histórica do autismo ( ). Ciência Humana e Sociedade em Revista. RJ, EDUR, vol. 36, 1, jul / dez, p NUNES, D. R. P.; AZEVEDO, M. Q. O.; SCHMIDT, C. (2013). Inclusão educacional de pessoas com Autismo no Brasil: uma revisão da literatura. Revista Educação Especial, v. 26, n. 47, p SERRA, D. C. G. (2004). A inclusão de uma criança com autismo na escola regular: desafios e processos. Programa de pós-graduação em Educação. Centro de Ciências e Humanidades. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. TAMANAHA, A. C.; PERISSINOTO, J.; CHIARI, B. M. (2008). Uma breve revisão histórica sobre a construção dos conceitos do Autismo Infantil e da síndrome de Asperger A brief historic review of the conceptions of Autism and Asperger syndrome. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 13, n. 3, p SERRA, D. C. G. (2010). Autismo, família e inclusão. Polêmica, Rio de Janeiro, v.9, n.1, p. 40,56,Jan./Mar.Disponívelem:< a/article/view/2693 >. Acesso em: 30 de mar HAMER, B. L.; MANENTE, M. V.; CAPELLINI, V. L. M. F. (2014). Autismo e família: revisão bibliográfica em base de dados nacionais. Revista de Psicopedagogia, São Paulo, v.31, n.95, p SCHMIDT, C.; BOSA, C. (2003). A investigação do impacto do autismo na família: revisão crítica de literatura e proposta de um novo modelo. Interação em Psicologia, Rio Grande do Sul; v.7, n.2, p