PRODUÇÃO TEXTUAL NUMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO ENSINO DA MATEMÁTICA
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- Mariana Bicalho Lage
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1 PRODUÇÃO TEXTUAL NUMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR NO ENSINO DA MATEMÁTICA Renata Barth Machado 1 Jerusa Dutra Schreiner 2 RESUMO: O presente artigo tem por objetivo apresentar uma prática de ensino interdisciplinar desenvolvida entre os componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática, na 1ª Série do Ensino Médio, da Escola de Educação Básica da URI de São Luiz Gonzaga. Com o intuito de sensibilizar os alunos para o ensino da linguagem matemática. Ressaltamos que, a Matemática possui uma linguagem específica, rígida e apresenta algumas verdades que são absolutas em termos contextuais, porém a forma de lidar com essas verdades é que acarreta a diferença. Na linguagem matemática, é necessário compreender seus símbolos, seu vocabulário, seus elementos de comunicação que representam pontos de vista, já na Língua Portuguesa, na produção de textos, a partir de períodos simples ou compostos, as palavras podem apresentar-se significações distintas, de acordo com a ordem, progressão de ideias e sinais de pontuação empregados ao longo do texto. PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa. Linguagem Matemática. Produção Textual. Introdução Nos últimos anos muito se têm refletido, discutido e pesquisado sobre a questão das dificuldades do aprendizado em matemática, pode-se afirmar, que a atenção para esta questão foi provocada pelo crescente índice de reprovação na disciplina, pois durante alguns anos, professores estiveram imobilizados pela convicção de que o problema era exclusivamente causado por anos anteriores. Os profissionais de ensino médio atribuíam esse despreparo ao ensino fundamental, o que se pode ser inferido pela frase, então corrente, os alunos estão ingressando no ensino médio cada vez mais despreparados. 1 Professora de Matemática da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI de São Luiz Gonzaga/RS Brasil. Mestre em Ensino Científico e Tecnológico do PPGEnCT da URI - Santo Ângelo/RS e Aluna Especial do Doutorado em Educação nas Ciências UNIJUÍ-Ijuí/RS. E- mail:renatahmad@hotmail.com 2 Professora de Língua Portuguesa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI de São Luiz Gonzaga/RS Brasil. Pós-Graduada em Mídias em Educação pela UFSM e Aluna Especial do Curso PPGEnCT da URI Santo Ângelo/RS. jerusadutra@hotmail.com
2 Observou-se que esse quadro vem mudando, preponderando a convicção de que não só a ineficiência do ensino fundamental e médio se insere num amplo contexto social, político e cultural, no qual o ensino fundamental e médio têm um papel extremamente importante, mas, também, de que as questões referentes às dificuldades de aprendizado não se encerram no período pré-universitário. Assim, ao longo dos últimos anos, têm-se feito muitas contribuições, tanto no sentido de se encaminhar para uma melhor compreensão dos problemas do ensino-aprendizagem em todos os níveis, mas também, no que diz respeito a propostas de metodologias e ações que possam promover o aprendizado de formas cada vez mais eficientes. As reflexões sobre as possibilidades de mudança pedagógica com referência a Matemática indicam a necessidade de repensar estratégias. O não gosto de matemática acompanha muitos alunos desde os anos iniciais do ensino fundamental, e os professores percebem isso muitas vezes sem nada fazer para reverter tal situação, mesmo sabendo que o maior índice de reprovação nas escolas é na disciplina de Matemática. Os resultados finais são obtidos através da quantidade de informações e conteúdo que o aluno conseguiu assimilar, e nunca pela qualidade daquilo que aprendeu. Em geral, os professores de matemática ensinam a resolver exercícios, fazer contas, porém nesse método se o educando não associar este fazer contas a alguma prática do seu cotidiano, ou utilizar essas contas para algo que ele possa fazer alguma associação na sua vida social ou profissional, essas contas serão esquecidas. O ensino matemático, que compreende o cálculo, é claro, será levado aquém e além do cálculo. Deverá revelar a natureza intrinsecamente problemática das matemáticas. O cálculo é um instrumento do raciocínio matemático, que é exercido sobre o problem setting e o problem solving 3. No decorrer dos anos de aprendizagem, seria preciso valorizar, progressivamente, o diálogo entre o pensamento matemático e o desenvolvimento dos conhecimentos científicos, e finalmente, os limites da formalização e da quantificação (Morin, 2001, p.23). Ensinamos aos alunos fórmulas, algoritmos, macetes, artifícios, modelos, ou fixamos a aprendizagem no concreto, sem fazer nenhum esforço para desenvolver as competências básicas a serem desenvolvidas, que são: representação e comunicação, investigação e compreensão e contextualização sociocultural. Para cada uma dessas competências básicas, existem as habilidades, os valores e as atitudes que devem ser desenvolvidas no trabalho de sala de aula. 3 Em que se trata de exibir a prudência consumada e a lógica implacável
3 Habilidades são os conhecimentos prévios que o aluno deve ter para desenvolver uma determinada competência. Para sermos competentes, precisamos dominar conceitos, saber mobilizá-los e aplicá-los de modo pertinente à situação problema em questão. Acreditamos que dentre os indícios mais apontados pelos professores quanto ao despreparo dos alunos que ingressam na universidade está a incapacidade de se expressar, a incapacidade de utilização da linguagem escrita, visível na dificuldade de construir frases completas e consistentes que os alunos demonstram. No que diz respeito, começamos a nos questionarmos, quanto a obtenção de uma resposta correta de um problema matemático (que pode ser um número, um sim ou um não), sem a capacidade de expressar, de descrever de forma organizada (não estamos falando de demonstração) como se obteve a resposta, pode, de fato, significar a compreensão do conteúdo matemático que se pretende aferir com o problema. Língua Materna e Matemática: importância da relação para o ensino desta disciplina Quando mencionamos, língua materna ou linguagem natural estamos nos referindo ao português, língua que aprendemos desde cedo, seja no âmbito familiar, social ou escolar. O que os linguistas ou lógicos denominam linguagem natural é de fato a linguagem cultural (Morin, 2008, p.208). Ao longo da escolaridade básica, Matemática e Língua Materna andam juntas enquanto disciplina, ocupando lugares de destaque nos currículos. Em alguns momentos parecem estar entrelaçadas, já em outros parecem tomar direções contrárias, contudo é possível afirmar que durante este caminho em algum momento se relacionam. Relacionar a linguagem natural, a linguagem matemática é um valioso recurso para o processo de ensino e aprendizagem para se perceber um paralelismo nas funções que desempenham, enquanto sistemas de representação da realidade, a uma complementariedade nas metas que perseguem o que faz com que a tarefa de cada uma das componentes seja irredutível à da outra, e a uma imbricação nas questões básicas relativas ao ensino de ambas (Machado, 2011, p ). Ainda que a língua, enquanto instrumento multifacetado, possa ser utilizada de maneira extremamente variada, é possível indicar uma finalidade primária e única da língua à qual os outros usos a que é submetida sejam considerados incidentais, subordinados ou derivados (Black, 1968, p.148 apud Machado, 2011, p. 96). Tal finalidade, ainda segundo Black (1968, p.148), pode ser sintetizada através da fórmula: A língua é utilizada para expressar e comunicar o pensamento.
4 Para que o aluno obtenha a aprendizagem conceitual na matemática é necessário compreender, seus símbolos, seu vocabulário, seus elementos de comunicação que representam uma ideia. As três formas citadas acima expressam o mesmo conceito matemático, mas a representação isolada de apenas uma delas, não seria suficiente para o sucesso no processo de ensino e aprendizagem, como (Morin, 2008, p.210) bem registra: Assim, tudo se encontra contido na linguagem, mas ela própria é uma parte contida no todo que contém. É importante que os objetos matemáticos, como as palavras que utilizamos ordinariamente, sejam apreendidos prenhes de significações e não como meras formas vazias, destinadas a interpretações posteriores (Machado, 2011, p.142). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (9.394/96) abre caminhos para inovações. Não obriga nem garante, mas facilita as práticas inovadoras dos educadores mais preocupados com o alto nível de descolamento entre os currículos e a realidade dos alunos, os problemas de nosso país, do mundo e da própria existência. Inúmeros experimentos de inovações no ensino básico vêm sendo feitos em todo o país e em todos os níveis de ensino. Um dos problemas que ainda existe está no caráter abstrato da concepção da relação pedagógica como se ela fosse uma relação entre dois - aquele que ensina e aquele que aprende, abstraída do contexto institucional. No atual quadro histórico, de ascensão das massas a uma educação cada vez mais ampliada, não há lugar para essa visão elitista e petrificada da relação pedagógica. A mudança nos valores, na economia, e o uso das novas tecnologias exigem um novo perfil do profissional da educação. Para assumir novas tarefas e responsabilidades, como membro da comunidade e agente de mudança no sistema social, o professor deve possuir conhecimentos, comportamentos e atitudes. No sentido de que é necessário entender que quando concluímos a graduação de licenciatura não tínhamos acesso a tantos recursos que hoje estão disponíveis para nova geração de professores em formação. Para tanto é necessário que o professor esteja em permanente formação e segundo Nóvoa (2002, p.23) o aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente. Na sociedade atual, é importante que o cidadão possua a capacidade de interpretar e examinar criticamente informações, realizar estimativas e previsões, determinar relações e representar situações reais, fazendo a leitura do mundo em que está inserido. Diante disso, cada vez mais o professor e a escola são desafiados a tornarem o ensino da matemática mais significativo e atraente para o aluno.
5 Portanto, tornam-se importante as conversas entre os professores, nas quais ocorrem as trocas de experiências e as reuniões de estudos realizadas nas escolas, bem como outros cursos, palestras e formações e segundo Maldaner (1999), a formação continuada é uma prática que entende-se como necessidade fundante nas escolas, tendo em vista que é na troca com seus pares que é possível constituir novas práticas capazes de melhorar a educação. Teixeira (2002, p.41-2) destaca que: Todo e qualquer elemento que dinamize de alguma forma o processo de ensino-aprendizagem é valioso e deve não somente ser utilizado, mas reinventado constantemente [...]. Eis, a importância de pesquisas que possam apresentar reflexões a educadores matemáticos, principalmente relacionadas às possíveis implicações pedagógicas da utilização da linguagem para aprendizagem dessa área do conhecimento. A Matemática, embora alguns não a percebam, faz parte do nosso cotidiano assim como a linguagem e a comunicação também o fazem. Segundo o especialista em comunicação Reinaldo Passadori, professores que não sabem se comunicar desestimulam os alunos (apud Rupp, abril 2009). Ainda segundo Passadori (apud Rupp, 2009) uma boa comunicação em sala de aula facilita a aprendizagem, melhora a relação entre professor e aluno e, de quebra, ajuda o docente nas suas relações administrativas com a escola. Bem como, com a relação entre as demais áreas do conhecimento. Ressaltamos aqui Morin (2011) que reflete sobre a necessidade de uma reforma do pensamento, portanto de uma reforma no ensino, pois a fragmentação das disciplinas impede o desenvolvimento do que Morin (2011) chama de complexo e a religação dos saberes opera de forma que possamos integrar o erro, as incertezas nas concepções para que o conhecimento avance. Prática Interdisciplinar Analisando todas as colocações já mencionadas e a necessidade de apresentar o planejamento anual no início deste ano letivo, os docentes dos componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática propuseram uma atividade interdisciplinar desenvolvida na 1ª Série do Ensino Médio, da Escola de Educação Básica da URI de São Luiz Gonzaga. Com o intuito de sensibilizar os alunos para o ensino da linguagem matemática, em especial os símbolos, foi proposto a construção de produções textuais nas modalidades de carta aberta ou artigo de opinião, estabelecendo assim, uma ponte entre o entendimento dos conceitos matemáticos e a prática da escrita, em áreas que até então se apresentavam a eles tão opostas.
6 Com o desenvolvimento dessa prática foi possível uma construção significativa de conceitos, pois os mesmos foram abordados e integrados em períodos frasais com estrutura textuais, a partir de temas de interesse dos alunos. Ressaltamos que, a Matemática possui uma linguagem específica, rígida e apresenta algumas verdades que são absolutas em termos contextuais, porém a forma de lidar com essas verdades é que acarreta a diferença. Na linguagem matemática, é necessário compreender seus símbolos, seu vocabulário, seus elementos de comunicação que representam pontos de vista, já na Língua Portuguesa, na construção de textos, a partir de períodos simples ou compostos, as palavras podem apresentar-se significações distintas, de acordo com a ordem, progressão de ideias e sinais de pontuação empregados ao longo do texto. Considerações Finais A proposta da atividade interdisciplinar sugere uma prática educacional, responsável e mais humanizada, já que a matemática é vista como uma ciência exata com uma linguagem específica, rígida e apresenta algumas verdades que são absolutas em termos contextuais, porém a forma de lidar com essas verdades é que fará a diferença. Além disso, desenvolver a compreensão que tornou-se crucial para os humanos. E por este motivo, deve ser uma das finalidades da educação do futuro. Educar para compreender a matemática é uma coisa; educar para a compreensão humana é outra (Morin, 2011, p.81). Mas acreditamos que com determinadas ações do nosso fazer pedagógico, possamos iniciar a compreensão tanto da disciplina específica como das relações particulares entre próximos e demais componentes. Enfim, enquanto educadores, considerar todas as possibilidades e, sobretudo descartar a impossibilidade de compreensão de uma estrutura mental em relação a outra. Considerar como secundário, insignificante ou hostil tudo que é estranho ou distante. (Morin, 2011, p ). García (2001) apud Humberto Mariotti (2000) propõe cinco saberes que caracterizam muito bem o papel do educador e o pensamento complexo: saber ver; saber esperar; saber conversar; saber amar; saber abraçar. O problema fundamental é entender a relação entre o indivíduo e o seu comportamento, Isto é, entre o ser humano (substantivo) e ser humano (verbo) (5º Congresso da Escola Particular Gaúcha, 2000).
7 Referências BRASIL, PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF BRASIL, PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF MACHADO, Nilson José. Matemática e língua materna: análise de uma impregnação mútua. 6ª edição São Paulo: Cortez, MALDANER, Otávio Aloísio. A pesquisa como perspectiva de formação continuada do professor de química. Química Nova, São Paulo, v. 22, n. 2, p , mar./abr MARIOTTI, Humberto. As paixões do Ego. Complexidade, Política e Solidariedade. Palas Athena, São Paulo, MORIN, Edgar, Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão Técnica de Edgard de Assis Carvalho. 2ª edição rev. São Paulo: Cortez Editora, Brasília, DF: UNESCO, A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento; tradução Eloá Jacobina. 3ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, O método 4. Tradução de Juremir Machado da Silva. 4ª edição. Porto Alegre: Sulina, NÓVOA, A. (Org.). Vidas de professores. Porto: Editora Porto RUPP, Isadora. Aprender para fazer aprender. Profissão Mestre. Paraná: Humana Editorial, abril de p.4-5. TEIXEIRA, Adriano C. Internet e democratização do conhecimento: repensando o processo de exclusão social. Passo Fundo, UPF, Disponível: < Acesso em 13/06/2015 UNESP - Rio Claro, n.29, 2008, p Arquivo pdf.
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