Novas Perspectivas de inclusão: uma experiência no ensino de história. Profª Drª Marcia Cristina Pinto Bandeira de Mello 1

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1 Novas Perspectivas de inclusão: uma experiência no ensino de história. Profª Drª Marcia Cristina Pinto Bandeira de Mello 1 Introdução: Como Professora do Colégio Pedro II (CPII), a mais de vinte anos, desenvolvi e experimentei diversas metodologias para ensino de História na Educação Básica. Acredito na sala de aula como um espaço de produção de conhecimento e, no cotidiano escolar como forma de formar cidadãos atuantes dentro dessa nossa sociedade informacional. Cidadãos críticos da sua realidade e atuantes dentro da sociedade, conscientes de serem sujeitos históricos do seu tempo. Compreendo a escola o papel de espaço de educação prática, onde novas propostas metodológicas de ensino surgem cotidianamente. O Colégio Pedro II, é visto como um espaço que vem se consolidando como um campo privilegiado de estágio supervisionado e de pesquisas orientadas sobre metodologias de ensino de História. Além do fato do Colégio Pedro II a partir da sua Pró-reitoria de Extensão e Ensino, oferecer o projeto de residência Docente, além do seu Mestrado Profissional. O Departamento de História, atualmente trabalha na construção do seu Mestrado em Ensino de História, com data prevista para Tais medidas elevam a relevância da expansão de espaços experimentais como o Laboratório de Ensino de História da CSCIII. Nasceu assim, o projeto de produção de material didático para alunos portadores de necessidades especiais que visa à melhoria das condições de atuação do Laboratório de Pesquisa Científica em Teorias e Métodos para o Ensino de História do Colégio Pedro II, da equipe de História do Campus São Cristóvão III. 1 Profª Drª Marcia Cristina Pinto Bandeira de Mello/Coordenadora pedagógica da equipe de história de CSCIII Coordenadora do Laboratório de Ensino de História do CSCIII/Adjunta do Dpto. História do Colégio Pedro II Professora Supervisora do Latu senso Residência Docente/ Coordenadora do projeto junto a FAPERJ (instituição financiadora do projeto durante o ano de 2013)

2 No senso realizado em 2000, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de geografia e Estatística), identificou-se que hoje no Brasil, possuímos 14,5% da população, portadores de necessidade especiais. 2 Dessa forma, a proposta de projeto elaborada pelo laboratório e a equipe de História de CSCIII, busca uma interação cada vez maior entre o corpo discente, docente e de estagiários presentes na comunidade escolar, além de se preocupar em solucionar problemas apresentados pela realidade vivenciada pelo Colégio Pedro II, possibilitando uma avaliação de novas metodologias para ensino de História, nesse caso específico atender aos portadores de necessidades especiais. Podemos assim coloca-lo como um projeto de caráter inclusivista, que além de proporcionar uma melhoria do ensino no cotidiano da sala de aula, e de fato um projeto preocupado com a questão da inclusão social. Desde 1992, quando entrei no Colégio Pedro II, lido com o desafio de atender alunos com necessidades especiais, como: deficiência visual, dislexia, entre outros. Hoje, já contamos com números bastante significativos nos quadros de nosso corpo discente, o que me fez pensar em unir a preocupação do Laboratório de Ensino de História do Campus São Cristóvão III, em buscar novas propostas de metodologia de Ensino em História, com as necessidades do nosso cotidiano escolar sobre o aspecto destacado pelo artigo. Para melhor atender as necessidades pedagógicas especiais e, sem dúvida, proceder de forma consciente em relação à tarefa da escola de ser um elemento facilitador de inclusão social e de formação de cidadãos críticos e conscientes, pensei em transformar o material do site do laboratório, a saber: apresentações virtuais do conteúdo programático de História do Ensino Médio em Aulas Virtuais. Tal projeto vem atender tanto aos alunos de deficiência visual como aos alunos outros tipos de Necessidade Pedagógica Especial. O projeto além das aulas virtuais, desenvolveu um 2 2 (

3 material sobre a autodescrição de imagens, além da confecção de mapas, imagens e material de apoio para as aulas especiais. Diante de um mundo visual onde o texto imagético passou a ser largamente utilizado em concursos de vestibulares e exames como ENEN e ENCEJA. Percebi que a adaptação dessa nova forma de texto se faz indispensável aos alunos possuidores de necessidades pedagógicas especiais. Contudo não excluímos a importância do projeto quanto a produção de um material didático que poderá ser usado por todo corpo discente, atuando como um material de apoio para todos os alunos da instituição. Contei para isso com o apoio da a equipe de história do CSCIII do Colégio Pedro II, formado por sete professores, alunos do curso técnico de informática do próprio colégio e campus e de estagiários do curso de Licenciatura em História. O projeto que recebeu o nome: Acessibilidade e Inclusão: Projeto Multidisciplinar para estudantes com necessidades especiais, foi colocado em prática a partir de 2013 e tem uma permanente construção, e contou com o financiamento da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), durante o seu primeiro ano, E o que busco a partir de agora é relatar a experiência: dificuldades e conquistas desse projeto. Um relato de experiência O Laboratório de ensino de História do Campus São Cristóvão III, do Colégio Pedro II, lançou o projeto: Acessibilidade e Inclusão: Projeto Multidisciplinar para estudantes com necessidades especiais. Este projeto tem como principal objetivo garantir uma qualidade de ensino para todo corpo discente do Colégio Pedro II (CPII), portanto, numa perspectiva inclusiva, o Laboratório de ensino de História da Unidade Escolar São Cristóvão III (UESCIII CP II) lançou um projeto, em 2013, que visa a

4 criação e adaptação de material pedagógico para os estudantes com deficiência visual (cegos e baixa visão) e outras necessidades especiais. Atualmente, segundo dados da Seção de Educação Especial, temos na UESCIII, 17 estudantes com deficiência visual (12 cegos e 5 com baixa visão) que participam do atendimento educacional especializado (AEE) oferecido no contra-turno na Sala de Recursos (SR) desta Unidade Escolar. Este setor também atende aos 3 estudantes com baixa visão da Unidade Escolar de São Cristóvão II. Para conseguir o material necessário para o seu desenvolvimento, entrei com um pedido de fomento para a FAPERJ, e, com a verba dada pela instituição consegui adquiri uma mesa tátil, uma impressora especial e ainda papel para confecção de mapas, imagens que são sonorizadas por computação e finalmente podem ser tateadas e ouvidas pelo aluno na mesa tátil. Tal tecnologia nos fez repensar uma série de ideias que possuíamos no início do projeto. Algumas questões foram levantadas: Como descrever uma imagem? Como imprimir charges que não estão escritas em braile? Como explicar cores, modelos de indumentária, símbolos de status e de caracterização de personagens históricos e do nosso próprio cotidiano? E, as tabelas como trabalhar com algarismos arábicos? As questões foram surgindo e algumas soluções nasceram de tentativas, de erros e acertos. O objetivo era dar acesso aos alunos de necessidades especiais, sobretudo aos cegos, a um material que era usado em sala de aula, em provas e concursos para alunos videntes. As aulas que são dadas sob a forma de Power Point, receberam voz, as apostilas presentes no site do Laboratório, são enviadas para o setor de atendimento a esses alunos, mas as imagens e tabelas tornaram-se o principal desafio. Para atender as demandas do projeto na área de informática, o laboratório passou a receber estagiários do curso técnico de informática do próprio Colégio Pedro II do CSCIII. Esses estagiários tornaram-se responsáveis por manusear os programas específicos da mesa tátil e da sonorização do material. Todos os professores

5 colaboraram na manutenção de pequenos textos explicativos que são incorporados as pranchas confeccionadas para uso na mesa tátil. No ano de 2013, algumas pranchas foram confeccionadas e sonorizadas, e hoje já estão sendo testadas por alunos do 3º ano do Ensino Médio. A temática privilegiadas foi Brasil. Mas o que foi o Projeto? O projeto apresentado buscou iniciar uma mudança no paradigma da inclusão social, para que a escola ou a sala de aula possa de fato se tornar um lugar para convivência entre todos os tipos de inteligência, para que possa de fato ter acesso a seus direitos, necessidades e desenvolver suas potencialidades. O projeto é de natureza inclusivista, atua na área da educação, para uma mudança na sociedade, desencadeando o florescimento de talentos futuros na área do trabalho, saúde e lazer. A proposta de inclusão social de alunos com necessidades especiais, atualmente é garantida pela legislação educacional brasileira. Buscamos, nós do Colégio Pedro II, então garantir tal inclusão dando um primeiro passo, no intuito de criar condições estruturais e pedagógicas, além de buscarmos uma maior capacitação dos professores, que cotidianamente lidam com situações em sala de aula. Justificamos ainda o projeto baseado no projeto de Lei 3638/00, do Sr. Paulo Paim que, "Institui o Estatuto do Portador de Necessidades Especiais e dá outras providências." no capitulo II: Do acesso à Educação, em atenção especial aos artigos: 24 e 25. Art. 24. O aluno portador de necessidades especiais matriculado ou egresso do ensino fundamental ou médio, de instituições públicas ou privadas, terá acesso à educação profissional, a fim de obter habilitação que lhe proporcione oportunidades de integração no mercado de trabalho. 1º. A educação profissional para a pessoa portadora de deficiência será oferecida nos níveis básico, técnico e tecnológico, em escola regular, em instituições especializadas e nos ambientes de trabalho. 2º. As instituições públicas e privadas que ministram educação profissional deverão, obrigatoriamente, oferecer cursos profissionais de nível básico à pessoa portadora de necessidades especiais, condicionando a matrícula à sua capacidade de aproveitamento e não a seu nível de escolaridade. 3º. Entende-se por habilitação profissional o processo

6 destinado a propiciar à pessoa portadora de necessidades especiais, em nível formal e sistematizado, aquisição de conhecimentos e habilidades especificamente associados a determinada profissão ou ocupação. 4º. Os diplomas e certificados de cursos de educação profissional expedidos por instituição credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente terão validade em todo o território nacional. Art. 25. As escolas e instituições de educação profissional oferecerão se necessário, serviços de apoio especializado para atender às peculiaridades da pessoa portadora de necessidades especiais, inclusive: I - adaptação dos recursos instrucionais; II - capacitação dos recursos humanos; III - adequação dos recursos físicos. 3 Produção de material didático para o ensino de História: acessibilidade à História. Aulas virtuais para alunos com necessidades especiais: Mapas e imagens. Como já descrito na introdução o Laboratório de Ensino de História, foi criado em 2010 com o objetivo de buscar nonas opções metodológicas para o ensino de História além de possuir a preocupação de buscar soluções através da pesquisa para problemas apresentados no cotidiano escolar. Desde os anos 90, o Colégio Pedro II, vem de forma crescente participando ativamente do projeto de inclusão social de pessoas com necessidades especiais. Já em 1992, parte dos professores que da equipe envolvida com o projeto, trabalha em seu cotidiano novas opções metodológicas para melhor atender os alunos com necessidades especiais. A necessidade de material complementar, o cotidiano desse aluno em sala de aula, das provas adaptadas, entre outras preocupações sempre foram pouco a pouco entrando na rotina da equipe de História do CSCIII. Sublinhamos que tal material não será de uso exclusivo para os portadores de necessidades especiais, mas, que sem dúvida, apesar desse grupo ser o que mais se 3

7 beneficiará com o novo recurso didático. Buscamos com isso permitir ao aluno, ser o sujeito do seu processo de aquisição e produção de conhecimento, romper as barreiras do conhecimento parcializado e construir, por leituras dialógicas e dialéticas, novos conhecimentos sobre o real (Bakhtin, 1982). Além de trabalharmos com a construção de aulas virtuais, também, temos como objetivo do projeto um material virtual para melhor elucidar questões que envolvam imagens, ou melhor, uma definição ou leitura de traços para imagens históricas. Imagens que hoje se tornaram um objeto de grande utilização em provas e concursos de vestibulares ou de avaliação de forma geral (ENEN, ENCEJA). Complementando o projeto desejamos produzir e/ou reproduzir mapas e imagens para tal público, com a aquisição de material específico. Definimos que para iniciarmos essa primeira parte do projeto será produzida aulas virtuais com as temáticas especificas: História do Brasil. Tanto as aulas como as imagens se reportaram a esse conteúdo programático do 3º ano do Ensino Médio. Justificamos tal opção por sermos uma unidade escolar de ensino médio e de ser essa temática, encontrada com grande frequência nas provas e concursos acima citados. Outra forma de justificar a opção pela temática e da mesma estar relacionada à questão da História do Tempo Presente uma das linhas de pesquisa do Laboratório, campo da História que nasceu da exigência da sociedade diante da necessidade de compreender seu tempo, e, também possibilita questões transversais sobre Patrimônio e Memória. A partir do momento da finalização das aulas, e traçados das imagens, deixamos claro que essas não ficarão restritas aos nossos alunos, pois todas serão incluídas em nosso site, hoje sob domínio: Um balanço dos resultados: Posso garantir que a experiência trouxe frutos benéficos, à relação ensino aprendizagem dos alunos com deficiência visual. Nos fez pensar em alguns aspectos ainda desapercebidos, apesar de sentidos na trajetória de docente: A necessidade desses alunos trabalharem com imagens, seja sob a forma de charge ou de mapa, é evidente diante dos processos avaliativos. A descrição das imagens foi um dos aspectos mais

8 problemáticos, passar o significado das charges, a ironia e o discurso subliminar contidos nelas passou a ser um desafio que ainda estamos vencendo. O trabalho com tabelas foi de grande dificuldade devido aos dados contidos nas mesmas não estarem em braile. O projeto não se findou e a cada dia ganha mais adeptos. O material já produzido causou grande impacto positivo nos alunos que os testaram, mas sem dúvida ainda precisam ser melhorados. Porém temos a consciência de que através da confecção desse material estamos dando condições para esses alunos de serem produtores do seu próprio conhecimento, dando um pouco mais de autonomia na construção dos seus saberes. E assim, podemos reafirmar a ideia de que cada vez mais a sala de aula é um espaço de produção de conhecimento.