QUALITTAS INSTITUTO DE PÓS GRADUAÇÃO MEDICINA VETERINÁRIA CURSO DE CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS
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1 QUALITTAS INSTITUTO DE PÓS GRADUAÇÃO MEDICINA VETERINÁRIA CURSO DE CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS ERLIQUIOSE CANINA Luciana de Azevedo Chaves Renata de Ângelly Cruz Leite Shirlange Araújo Naveca Manaus, nov. 2007
2 LUCIANA DE AZEVEDO CHAVES RENATA DE ÂNGELLY CRUZ LEITE SHIRLANGE ARAÚJO NAVECA Alunas do curso de Clinica e Cirurgia de Pequenos Animais ERLIQUIOSE CANINA Trabalho monográfico de conclusão do Curso de Clinica e Cirurgia de Pequenos Animais (TCC), apresentando ao Qualittas Instituto de Pós- Graduação, como requisito parcial pra obtenção do título de Especialista em Clinica Cirúrgica de Pequenos Animais, sob a orientação do Prof. Carlos Jordão da Paz Júnior. Manaus, nov. 2007
3 ERLIQUIOSE CANINA Elaborado por Luciana de Azevedo Chaves, Renata de Ângelly Cruz Leite e Shirlange Araújo Naveca do Curso de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais do Qualittas Instituto de Pós-graduação Foi analisado e aprovado com Grau: Manaus, 26 de Novembro de Luciana de Azevedo Chaves Renata de Ângelly Cruz Leite Shirlange Araújo Naveca Carlos Jordão da Paz Junior Professor Orientador Manaus, nov ii
4 Aos nossos pais que sempre acreditaram no nosso potencial. À nossa amiga Kátia Tubino por ser muito prestativa e nos ajudar. Ao professor Antônio Marcos que sempre será um exemplo de profissional. iii
5 Agradecimentos Agradecemos a todos que nos ajudaram no curso, principalmente nossos familiares que nos deram apoio em tão árdua jornada. iv
6 O que importa não é a vitória, mas o esforço, não é o talento, mas a vontade, não é quem você é, mas quem você quer ser. (William Douglas) v
7 RESUMO CHAVES, Luciana de Azevedo; LEITE, Renata de Ângelly Cruz.; NAVECA, Shirlange de Araújo; Erliquiose Canina A erliquiose canina é uma doença cosmopolita de grande importância na clínica médica veterinária. Ela é causada pela Ehrlichia canis e tem como vetor o carrapato. Também conhecida como cão rastreador, pancitopenia canina tropical, febre hemorrágica canina e tifo canino, esta enfermidade tem grande morbidade e mortalidade por se tratar de uma infecção dessa rickettsia, no sistema hematológico. Os sinais clínicos mais comuns são petéquias pelo corpo, hemorragias, sinais de imunossupressão, hipertermia, dispnéia, alterações comportamentais, secreção nasal, e alterações hematológicas. O sucesso do tratamento depende da precocidade do diagnostico, do controle do carrapato e de uma terapia eficaz. A doxiciclina é o tratamento de eleição, por sua praticidade de administração e baixa toxicidade. vi
8 ABSTRACT CHAVES, Luciana de Azevedo; LEITE, Renata de Ângelly Cruz.; NAVECA, Shirlange de Araújo; Canine erlichiosis The canine ehrlichiosis ís a cosmopolitan disease of great matter on the veterinarian clinic. It is caused by Ehrlichia canis and has as the vector the tick. Also known as dog crawler, tropical canine pancytopenia, haemorrhagic fever and typhus canine, this disease has major morbidity and mortality because it is an infection of rickettsia in the blood system. The most common clinical signs are petechiae on the body, bleeding, immunosuppression signs, hyperthermia, dyspnea, behavioral changes, nasal secretion, and haematological disorders. The success of the treatment depends on the early diagnosis, the control of ticks and an effective therapy. The doxycycline is the treatment of choice, for its easy administration and low toxicity. vii
9 SUMÁRIO Epígrafe...v Resumo...vi Abstract...vii 1. Introdução Definição Etiopatogenia Epidemiologia Sinais Clínicos Fase Aguda Fase Sub-clínica Fase Crônica Diagnóstico Diagnóstico diferencial Achados de necrópsia Tratamento Prevenção Conclusão Referencias Bibliográficas...21
10 1 INTRODUÇÃO A erliquiose é uma das mais importantes enfermidades infecciosas, devido ao aumento da sua prevalência entre os cães. É transmitida pelo carrapato Rhiphicephalus sanguineus e tem como agente etiológico a Ehrlichia canis (BANDEIRA, 2003). Esta doença foi descrita pela primeira vez em um cão Pastor Alemão, na Argélia, por Donatien e Lestoquard, em 1935, porém classificada como Ehrlichia canis, em 1945, por Mashkovsky. No Brasil, o primeiro relato de erliquiose canina ocorreu em Belo Horizonte (Minas Gerais) em 1973 (MACHADO, 2004). Os sinais clínicos observados são resultado da resposta imunológica do cão por conseqüência da infecção. Esta doença é dividida em três fases: aguda, subaguda e cronica. Seu tratamento depende essencialmente de uma diagnostico precoce, pois a doença debilita o animal gradativamente. Varias drogas são utilizadas, sendo a doxiciclina o antibiótico de escolha dos clínicos veterinários de pequenos animais no tratamento desta infecção (DAGNONE, 2001). Este trabalho tem como objetivo revisar a literatura sobre Erliquiose canina existente, discorrendo de maneira abrangente sobre seus aspectos epidemiológicos, os sinais clínicos, formas de diagnóstico, etiopatogenia e tratamento desta doença.
11 2 DEFINIÇÃO A erliquiose canina é uma doença riquetsial oriunda de carrapatos. Relativamente comum em cães (BIRCHARD & SHERDING, 2003). Caracterizada por redução nos elementos sangüíneos celulares (ETTINGER, 1992). Ehrlichia canis é uma bactéria intracitoplasmática, pertencente à Ordem Rickettisiales, família Anaplasmataceae. É transmitida aos cães pelo Rhipicephalus sanguineus, vulgarmente conhecido como carrapato marrom, sendo transmitida em todos os estágios de desenvolvimento do carrapato (BRITO, 2006). Fig. 01 Rhipicephalus sanguineus Fonte:
12 Os sinônimos usados na literatura para esse distúrbio incluem doença do cão rastreador, pancitopenia canina tropical, febre hemorrágica canina e tifo canino (BIRCHARD & SHERDING, 2003). 3 ETIOPATOGENIA A erliquiose canina pode ser causada pelas rickettsias Ehrlichia canis, e Ehrlichia chaffensis ou por meio de transfusão sanguínea (ETTINGER,1992). A infeccção por E. canis possui importância epidemiológica, por levar a um quadro clínico mais severo (WARNER, et al., 1995). O gênero Ehrlichia, pertencente à família das Rickettsiaceae, constitui bactérias intracelulares obrigatórias dos leucócitos (monócitos e polimorfonucleares) ou trombócitos. Estas rickettsias infectam essencialmente os animais, existindo espécies que acometem naturalmente os canídeos, eqüídeos, ruminantes, e o homem (VIGNARD, 2003). As rickettsias são bactérias com parasitismo intracelular obrigatório. São estruturalmente semelhantes a bactérias gram-negativas, tem formato de cocos, extremamente pequenas, aproximadamente 0,25mm de diâmetro, mas, podem variar de tamanho no transcorrer de seu ciclo de desenvolvimento. São coradas com Giemsa e fracamente corados por Gram. Podem estar agrupados em cadeias ou isoladas (BANDEIRA, 2003).
13 O vetor de maior importância na transmissão da enfermidade é o carrapato, mais especificamente, o Rhipicephalus sanguineus (BIRCHARD & SHERDING, 2003). Essa espécie exige para sua completa evolução, três hospedeiros e todas as mudas ocorrem fora do corpo do hospedeiro. As fêmeas põem aproximadamente até 4000 ovos (BICALHO, 2006). Nos carrapatos a E. canis tem transmissão transestadial. As larvas e ninfas se infectam quando se alimentam em um cão com a fase aguda da doença, pela ingestão de leucócitos infectados (DAGNONE, 2001). E, estas ricketsias se disseminam pelos organismo do carrapato através dos hemócitos do intestino, indo para a glândula salivar (TILLEY e SMITH, 2003). Os carrapatos sobrevivem como adultos sem se alimentar de 155 a 568 dias, e podem transmitir a infecção por até 155 dias após se tornarem infectados (DAGNONE, 2001). A infecção canina ocorre quando as secreções salivares do carrapato (Rhiphicephalus sanguíneus) (fig. 01) contaminam o ponto de fixação durante a ingestão de um repasto sanguíneo. Todos os três estágios podem transmitir a doença (larva, ninfa e adulto) (ETTINGER, 1992). A transmissão entre animais se faz pela inoculação de sangue proveniente de um cão contaminado para um cão sadio, pelo intermédio do carrapato (BIRCHARD & SHERDING, 2003).
14 A ehrlichia infecta preferencialmente os leucócitos. Ela penetra na parede celular por fagocitose e uma vez dentro da célula hospedeira, inibe a formação do fagolisossoma. O organismo cresce dentro do fagossoma e é liberado pela lise da célula. O corpo de inclusão contendo o organismo é chamado mórula (Fig. 02) (BANDEIRA, 2003). Fig. 02 Mórula de E. canis A E. canis passa por um período de incubação de uma a três semanas levando aos três estágios da doença (TILLEY e SMITH, 2003). A fase aguda (início da infecção), subclínica (geralmente assintomática) e crônica (nas infecções persistentes) (STADES, 1999). O cão infectado entra na fase aguda, que dura de duas a quatro semanas. Ocorrendo nesse período, a multiplicação dentro das células mononucleares circulantes e dos tecidos fagocitários mononucleares do fígado, baço e linfonodos através de fissão binária.
15 Isso leva a linfoadenomegalia e à hiperplasia linforreticular do fígado e baço (BIRCHARD e SHERDING, 2003). As células infectadas são transportadas pelo sangue para outros órgãos do corpo, especialmente pulmões, rins e meninges, e aderem-se ao endotélio vascular, induzindo vasculite e infecção tecidual subendotelial. O consumo, o seqüestro e a destruição das plaquetas parecem contribuir para a trombocitopenia durante a fase aguda. As contagens de leucócitos são variáveis, e a anemia, relacionada à supressão da produção de eritrócitos e a destruição acelerada dessas células, desenvolve-se progressivamente durante a fase aguda (ETTINGER, 1992). A plaquetopenia pode estar associada a um defeito adquirido da membrana plaquetária associado a elevações acentuadas em concentrações séricas de globulina (HOSKINS, 1997). Após a fase aguda o animal pode curar- se, ou entrar na fase subclínica, onde os sinais clínicos desaparecem, mas a riquétsia se mantém no organismo. Esta fase pode persistir por anos (DAGNONE, 2001). Com a persistência da E. canis no hospedeiro, ocorre a promoção de altos títulos de anticorpos (hiperglobulinemia), e a trombocitopenia persiste (TILLEY e SMITH, 2003). Os cães incapazes de montar uma resposta imune eficaz contra o microorganismo são cronicamente infectados. A hiperglobulinemia está tipicamente
16 associada com a doença crônica. O mecanismo responsável pela supressão da medula óssea na erliquiose crônica ainda não está compreendido (ETTINGER, 1992). 4 EPIDEMIOLOGIA Erliquiose monocítica canina (E. canis) tem sido comunicada em todo o mundo, especialmente em áreas tropicais e subtropicais, causando extensiva morbidade e mortalidade (BIRCHARD e SHERDING, 2003). A incidência da doença é mais comum nos meses mais quentes onde há um maior desenvolvimento do carrapato, podendo ser diagnosticada todo o ano. Alem disso, não existe uma predileção etária para a erliquiose(takahira, 2004). A erliquiose monocítica canina (EMC) vem ocorrendo em, aproximadamente, 20% dos cães atendidos em hospitais e clínicas veterinárias em vários estados do Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil (MACHADO, 2004). A maior prevalência observada é na região Nordeste (43%) e a menor na região Sul do país (1,70%) (BRITO 2006). Como mostra o gráfico abaixo (fig. 02):
17 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 43% Região Nordeste Região Sul Fig. 02 Comparação dos casos de erliquiose entre as regiões Nordeste e Sul ( ) (BRITO 2006). 5 SINAIS CLÍNICOS Na anamnese quando o proprietário do animal descrever alteração comportamental, perda de peso, e histórico de carrapatos deve-se suspeitar de Erliquiose. No exame físico é comum serem descritas hemorragias, petéquias pelo corpo do animal, alterações neurológicas, sinais de insuficiência renal, sinais de imunossupressão, claudicação devido a poliartrite, esplenomegalia, alterações oftálmicas (principalmente uveíte) (MORAIS, 2004). Os sinais clínicos podem ser divididos em três fases: aguda, subclínica e crônica (STADES, 1999).
18 5.1 Fase Aguda Os sinais clínicos e os achados do exame físico resultam principalmente da hiperplasia linforreticular disseminada e das anormalidades hematológicas. Portanto, hipertermia, linfoadenopatia generalizada, esplenomegalia, hepatomegalia, dispnéia, sinais neurológicos causados por meningoencefalite, uveíte anterior, coriorretinite, petéquias e equimoses (Fig. 03) devidas à trombocitopenia (BIRCHARD e SHERDING, 2003). Fig. 03 Equimoses e Petéquias A erliquiose é caracterizada principalmente por hipertermia (39,5 41,5 C), anorexia, perda de peso (fig. 09) e astenia. Menos freqüentemente observam-se outros sinais inespecíficos como secreção nasal, depressão, petéquias hemorrágicas, epistaxes, exatoria, ou
19 ainda, edema de membros, vômitos, sinais pulmonares e insuficiência hepato-renal (VIGNARD, 2003). A inflamação da úvea pode causar hiperemia, edema e lesões vasculares. Na uveíte (Fig. 04), há usualmente exsudato, no qual as células sangüíneas estão misturadas, levando à turvação do material hemorrágico na câmara anterior (STADES, 1999). A B D Fig. 04. Uveíte: A Congestão é hiperemia. B-Uveíte anterior com conjuntivite, miose e edema de córnea. C-Hemorragia conjuntival e edema de córnea. D-Uveíte com glaucoma secundaria, hipervascularização e bulftalmia. (Oriá, 2004).
20 5.2 Fase Sub-clínica A fase sub-clínica é geralmente assintomática, podendo ocorrer algumas complicações como depressão, hemorragias, edema de membros, perda de apetite e palidez de mucosas (WOODY, 1991). Alguns cães que se recuperam da fase aguda da moléstia sofrem episódios de febre, anemia e trombocitopenia (BOJRAB, 1996). 5.3 Fase Crônica Os cães com resposta imunológica insuficiente entrarão na fase crônica (DAGNONE, 2001).Os sinais clínicos associados com esta fase da doença são discretos e ausentes em alguns cães, e graves em outros (ETTINGER, 1992). Desenvolvem-se de um a quatro meses após a inoculação do organismo e refletem hiperplasia linforreticular e anormalidades hematológicas (BIRCHARD e SHERDING, 2003). Pode-se observar qualquer das alterações seguintes: sangramento espontâneo, anemia, linfoadenopatia generalizada, edema escrotal e de membros, esplenomegalia, hepatomegalia, uveíte, hifema, hemorragias e deslocamento retiniano com cegueira, edema corneano, artrite e ataques convulsivos (TILLEY e SMITH, 2003).
21 Devido à imunossupressão, infecções secundárias podem ser comprovadas (ETTINGER, 1992). Cães com poliartrite associada à erliquiose se apresentam com febre, dor e debilidade em um ou mais membros. Os animais têm derrames em mais de uma articulação. O liquido sinovial apresenta elevado conteúdo de proteínas (BOJRAB, 1996). 6. DIAGNÓSTICO O diagnóstico pode ser feito pela pesquisa do parasita ou de anticorpos contra erliquia na circulação. A pesquisa de parasitas em esfregaços sangüíneos corados tem baixa sensibilidade, sendo negativa na maioria dos casos de erliquiose. Anticorpos contra E. canis podem ser detectados por imunoflurescência ou dot-elisa (MORAIS et al., 2004). Uma identificação dos organismos (mórulas) em citologia de aspiração com agulha fina do baço, dos linfonodos e dos pulmões, em leucócitos nos líquidos cerebrospinhal
22 e articular, ou em leucócitos no sangue periférico, é confirmatória, mas é demorada e difícil (BIRCHARD & SHERDING, 2003). As mórulas de E. canis poucas vezes são detectadas no citoplasma de vários leucócitos de esfregaços de sangue periférico corados pelo método de Wright ou Giemsa, esfregaços de pelagem cor de couro, ou aspirados de medula óssea. As mórulas coram em púrpura azulada e, em geral, são encontradas transitoriamente e em pequenas quantidades no início de infecções por Ehrlichia (HOSKINS, 1997). Teste que detectam anticorpos não diferenciam entre doença, exposição prévia ao organismo ou infecção latente. Os testes rápidos de dot-elisa (Fig. 15) que podem ser realizados na clínica são práticos e de baixo custo, e tendem a tornar-se o exame de rotina para o diagnóstico de erliquiose. A sensibilidade desses testes varia de 80 a 100% (MORAIS et al., 2004). Fig. 05 Kit de Diagnóstico para a detecção de antígenos da Dirofilaria immitis, anticorpos contra a E. canis e anticorpos contra a B. bugdorferi (Doença de Lyme) em um único teste. Fonte: O teste de anticorpos fluorescentes indiretos (AIFs) quanto à E. canis são altamente sensíveis e constituem o método de diagnóstico normal da erliquiose canina.
23 Títulos maiores que 1:10 são considerados como diagnóstico. Pode-se não detectar títulos diagnósticos em até 2-3 semanas pós-inoculação (BIRCHARD & SHERDING, 2003). As alterações hematológicas, incluindo pancitopenia, anemia aplástica, neutropenia ou trombocitopenia, seriam compatíveis com a infecção pela E. Canis, juntamente com os sinais clínicos presentes no animal (ETTINGER,1992). Durante a fase aguda o hemograma pode apresentar trombocitopenia, antes mesmo do início dos sinais clínicos. Anemia, leucopenia decorrente de linfopenia e eosinopenia, leucocitose e monocitose ocorrem à medida que a doença cronifica (TILLEY & SMITH,2003). A trombocitopenia é a alteração hematológica mais consistente tanto na fase aguda como na fase crônica. Linfocitose intensa, acompanhada de linfócitos atípicos ou relativos, foi associada com erliquiose. A anemia, se presente, varia em gravidade entre os cães acometidos (ETTINGER,1992). Na fase crônica ocorre pancitopenia típica, podem também estar presentes monocitose e linfocitose, hiperglobulinemia (relacionada a duração da infecção), hipoalbuminemia, uréia e creatinina elevadas decorrentes de nefropatia primária devida à glomerulonefrite e plasmocitose intersticial renal (TILLEY & SMITH, 2003). 6.1 Diagnóstico Diferencial
24 O diagnóstico diferencial para babesiose deve ser feito para excluir a possibilidade desta infecção. Pois a mesma tem semelhança clínica com a Erliquiose, sendo que a babesiose, é causada pela Babesia canis, um hemoparasita. Essa diferença pode ser constatada pelo exame hematológico, com evidenciação da Babesia nos glóbulos vermelhos (MORAILLON, 2004). A Febre Maculosa das Montanhas Rochosas é causada por outra espécie de ricketsia, pode ser diagnosticada pelo teste sorológico, porém responde ao mesmo tratamento que a erliquiose (TILLEY e SMITH, 2003). A leishmaniose pode causar confusão nos casos crônicos pela epistaxe. Pesquisam-se as leishmanias em um esfregaço efetuado a partir de uma punção ganglionar ou de medula óssea (MORAILLON, 2004). Também devem ser excluídas as parasitoses por vermes e as doenças carenciais. A forma cutânea da erliquiose é semelhante à forma exantemática da cinomose canina (MORAILLON, 2004). 6.2 Achados de Necropsia De acordo com Almosny (2006) foram descritas hemorragias petequiais e equimoses nas superfícies serosas e mucosas de numerosos órgãos e tecido subcutâneo. Os achados macroscópicos mais comuns consistem de hemorragias no tecido subcutâneo e na maioria dos órgãos (sendo que a distribuição, número e severidade de hemorragias é variável, com pulmões, coração, sistema gastrintestinal e urogenital sendo os
25 mais afetados), linfadenopatia generalizada com linfonodos mesentéricos mais severamente aumentados e edema dos membros. (ALMOSNY, 2006 apud HIDEBRANDT et al 1973). Em vários animais observam-se hemorragias difusas ou petequiais em conjuntivas, dermatites (principalmente nos membros), emaciação, pele apresentando áreas roxas, áreas edemaciadas, hemorragias nas articulações do carpo, esplenomegalia discreta, amídalas ocasionalmente aumentadas, hemorragia petequial na próstata, testículos, epidídimo e pênis. Também são descritos edema pulmonar, ascite, hidrotórax, ulcerações e erosões bucais (TILLEY e SMITH, 2003). Os rins podem apresentar hemorragias subcapsulares e focais perto da junção córtico-medular. Nos pulmões e no coração, e na cavidade torácica podem ser observadas áreas de hemorragias focais. Alguns cães apresentam hemorragia meningeana espinhal e craniana (MORAILLON, 2004). 7 TRATAMENTO O tratamento de cães com erliquiose pode ser feito com tetraciclinas ou imidocarb. A doxiciclina é a tetraciclina mais usada pela praticidade de administração e baixa toxicidade. Doxiciclina (10mg/kg SID) via oral, durante 28 dias, é o tratamento de eleição,
26 embora o dipropionato de imidocarb (5mg/kg) via subcutânea, em duas aplicações com intervalo de 15 dias também seja eficaz (MORAES et al., 2004). A doxiciclina é um derivado das tetraciclinas, que são classificadas como antibiótico de largo espectro de ação antimicrobiana. As tetraciclinas atuam sobre bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, clamídias, riquétsias e até sobre alguns protozoários (SPINOSA, 1996). A doxiciclina tem nas fezes a sua principal via de excreção, conferindo a esse antibiótico elevada taxa de segurança em terapia de cães com insuficiência renal ou idosos (NETO, 1989). As tetraciclinas causam irritação tecidual. Este efeito pode provocar manifestações gastrintestinais (náuseas, vômito, diarréia), quando administrada por via oral, e quando administrada por vias intramuscular ou subcutânea, dor no local da injeção (SPINOSA,1996). O imidocarb, por sua vez, é uma carbanilida, cuja ação baseia-se na alteração morfológica e funcional do núcleo e do citoplasma do parasito. E altamente efetivo em cães com erliquiose refratária e cães com infecções mistas com E. canis e B. canis (SOUZA, 2004). A terapia de suporte, incluindo fluidos, transfusão sangüínea (fig. 15), vitaminas e esteróides anabólicos, é necessária em alguns cães (ETTINGER, 1992). Quando se realiza uma transfusão de sangue completo, é necessário o uso de filtros e kits de administração apropriados para reter o sangue coagulado ou resíduos. O
27 sangue deve ser aquecido antes da administração e nos primeiros 30 minutos de administração deve-se manter a velocidade lenta (0,25ml/kg) para observar qualquer reação de incompatibilidade. A velocidade de infusão depende do estado de hidratação do paciente (BIRCHARD & SHERDING, 2003). Os tipos sangüíneo caninos são designados pela sigla DEA (dog erythrocyte antigen antígeno eritrocitário canino). Atualmente o cão apresenta cinco sistemas de grupos sangüíneos compostos por sete determinantes antigênicos, ou seja, DEAs 1 subgrupos 1.1, 1.2 e 1.3), 3, 4, 5, 7 (ANDRADE, 1997). Nos cães com necessidade de transfusão, esta é melhor realizada utilizando-se animais negativos quanto aos tipos sangüíneos DEA-1 e DEA- 7 (BIRCHARD & SHERDING, 2003). A transfusão sangüínea está indicada quando há carência de algum componente do sangue. A indicação clínica para a transfusão se baseia no exame clínico acompanhado da determinação do hematócrito ou volume globular (VG), da dosagem de hemoglobina e da contagem do número de hemácias. Os valores de hematócrito (Ht) e proteínas totais (Pt) orientam a necessidade de transfusão (ANDRADE, 1997): Ht inferior a 28% e Pt inferior a 5,0g/dl = sangue total, Ht inferior a 28% e Pt acima de 5,0g/dl = papa de hemácias, Ht entre 20 e 50% e Pt inferior a 5,0g/dl = sangue total. 8 PREVENÇÃO
28 A prevenção da doença é muito importante nos canis e nos locais de grande concentração de animais. Devido à inexistência de vacina contra esta enfermidade, a prevenção é realizada através do tratamento dos animais doentes e do controle do vetor da doença: o carrapato. Para tanto, produtos carrapaticidas ambientais e de uso tópico são bastante eficazes. (WOODY, 1991). Como prevenção contra a erliquiose pode-se usar doses baixas de doxiciclinas (2mg/kg, Vo, a cada 24h) ou tetraciclina (6,6mg/kg, Vo, a cada 24h) nas áreas endêmicas durante a estação de carrapatos (BIRCHARD e SHERDING, 2003). O controle da infestação por carrapato pode ser feito através de banhos de imersão ou spray que contenham diclorvós, clorfenvinfós, dioxationa, propoxur ou carbaril, amitraz e piretróides. Ainda existem coleiras anti-pulga e anti-carrapatos que podem reduzir a reinfestação, mas ainda não se comprovou sua confiabilidade (TILLEY e SMITH, 2003). Quando o animal é submetido a banhos de imersão, deve-se repetir a cada 15 dias, em casos de grandes infestações. Um dos produtos mais utilizados para banhos é o Amitraz. Ele possui alta segurança, pois é pouco absorvido pela pele do animal a menos que aja algum tipo de ferida. Possui como mecanismo de ação a depressão do sistema nervoso do parasito. Ele pode ser usado no ambiente ou como banho nos animais (Schering-Plough, 2007).
29 Outro produto utilizado no banho são os piretróides. Eles causam a inibição do transporte de sódio e potássio no sistema nervoso do parasito. Possuem efeito residual prolongado. Possuem pouca toxidade (VIANA, 2001). Animais de pêlos longos devem ser tosados no verão, época em que o calor e umidade fazem com que a incidência de carrapatos aumente muito. Produtos carrapaticidas de longa duração, em gotas para aplicação tópica (local) ou spray, podem ser aplicados, a critério do veterinário (PARISI, 1998). Um dos grandes avanços nos últimos anos na prevenção da infestação por carrapatos é a utilização do Fipronil. Ele pode ser usado de forma tópica aplicando na linha do dorso ou como spray no corpo todo do animal. O fabricante garante proteção contra carrapatos durante 35 dias na forma spray e de 30 dias na forma tópica (Merial Brasil, 2007). Ele pode ser usado em filhotes a partir de oito semanas de idade, em cadelas prenhas ou em lactação e animais idosos. O combate ao carrapato deve ser intensivo e durante um longo período de tempo. Nos meses mais quentes, a infestação pode voltar e os cuidados devem ser redobrados. Nas áreas em que há carrapatos em qualquer época do ano, o tratamento deve ser constante (PARISI, 1998).
30 9 CONCLUSÃO A erliquiose canina é uma doença cosmopolita de grande importância na clínica medica veterinária. Ela é causada pela Ehrlichia canis e tem como vetor o carrapato Rhipicephalus sanguineus, um vetor de difícil controle. O sucesso do tratamento depende da precocidade do diagnostico, do controle do carrapato e de uma terapia eficaz. A infecção por E. canis não pressupõe a imunidade protetora; portanto, a exposição subseqüente a carrapatos infectados após o tratamento resulta na recidiva da doença.
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