PREVALÊNCIA DO TTV EM DOADORES DE SANGUE, NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PARÁ

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1 PREVALÊNCIA DO TTV EM DOADORES DE SANGUE, NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PARÁ Prevalence of the TTV in blood donors, in the metropolitan region of the Belém-Pará Walber Victor de Moraes Pinto 1, Maria de Fátima Lima de Assis 2, José Alexandre Rodrigues de Lemos 3 RESUMO O vírus transmitido por transfusão sangüínea (TTV), primeiramente relatado por Nishizawa et al. (1997), teve sua etiologia associada a casos de hepatites pós-transfusionais não esclarecidas ocorridas na China. Este vírus possui uma molécula de DNA de fita simples e características moleculares que o classifica como membro da família Circoviridae. Nosso estudo avaliou a prevalência do TTV em pacientes com risco de exposição parenteral como doadores de sangue, em 186 amostras. Os participantes foram submetidos a questionário socioepidemiológico e assinaram termo de consentimento. Foram realizadas extrações de DNA das alíquotas de soro das amostras coletadas e amplificadas por PCR em tempo real, com a finalidade de se analisar o genoma viral. Após amplificação, foi observada a freqüência do TTV em cerca de 60% dos doadores (111/186). Não foram observadas relações estatisticamente significantes entre a infecção pelo TTV e o gênero dos doadores (p = 0,670), uso de drogas endovenosas (p = 0,476), presença de tatuagem (p = 0,887), promiscuidade (p= 0,291) e uso de preservativos (p= 0,644). Nossos resultados nos levam a concluir que a freqüência de TTV não foi representativa como responsável por quadro de hepatite em nossa amostra. Isto está de acordo com a ausência de referência clínica de hepatites virais em nossa amostra. PALAVRAS-CHAVE Transfusão de sangue, hepatite, doadores de tecidos sangue ABSTRACT The virus transmitted by blood transfusion (TTV), firstly reported by Nishizawa et al. (1997), had its etiology related to cases of not known hepatitis posttransfusions occurred in China. The genome of TTV is a circular single-stranded DNA molecule. The TTV can be grouped into Circoviridae family. Our study evaluated the prevalence 1 Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Técnico em Ciência e Tecnologia Nível I do Instituto Evandro Chagas. Consultor da UNESCO/IEC/SVS/MS. End: Jardim Tropical, Travessa We 10 n 10 - BR 316, km 3, bairro Guanabara, Ananindeua - Pará - CEP: walbervictor@iec.pa.gov.br 2 Citogeneticista. Pesquisadora do Instituto Evandro Chagas. Consultora da UNESCO/IEC/SVS/MS. 3 Doutor em Genética. Professor Adjunto da Universidade Federal do Pará. Pesquisador do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Pará. C AD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 15 (3): ,

2 W ALBER VICTOR DE MORAES PINTO, MARIA DE FÁTIMA LIMA DE ASSIS, JOSÉ ALEXANDRE RODRIGUES DE LEMOS of the TTV in patients with risk of parenteral exposure as blood donors, in 186 samples. The participants answered a socioepidemiologic questionnaire and we obtained the informed consent. We extracted the DNA from the serum aliquot of the samples collected and we amplified by real time PCR, aiming analyzing the viral genome. After amplification, we observed the TTV in 60% of the blood donors (111/186). It was not observed statistical significant relationship between the TTV infection and the gender of the blood donors (p = 0,670), use of intravenous drugs (p = 0,476), tattooing (p = 0,887), promiscuity (p= 0,291) and use of condoms (p= 0,644). We conclude that the TTV frequency was not responsible for picture of hepatitis in our sample. This is in accordance with the absence of clinical reference of viral hepatitis in our sample. KEY WORDS Blood transfusion, hepatitis, tissue donors 1. INTRODUÇÃO O TTV está entre os vírus causadores de hepatites virais inespecíficas, originalmente descrito no Japão por Nishizawa et al. (1997) em pacientes com história de hepatite fulminante. Saéz-Alquezar et al. (2001) relacionaram a presença do vírus a doenças crônicas do fígado de etiologia desconhecida. O TTV possui nm de diâmetro, um genoma constituído de uma molécula circular de ácido desoxirribonucléico (DNA), de fita simples, de polaridade negativa, com aproximadamente 3,8 kb, com características das famílias Parvoviridae ou Circoviridae, dada as semelhanças genômicas (Mushahwar et al., 1999). Ainda são desconhecidos os mecanismos de replicação do TTV. De acordo com Saéz- Alquezar et al. (2001), o TTV pode ser transmitido pelas seguintes vias: sangüínea; vertical (parto normal ou cesariano; aleitamento materno); fecal oral; e sexual (Saéz-Alquezar et al., 2001). A ocorrência da infecção pelo TTV pode ser observada nas diversas faixas etárias, inclusive em adolescentes e crianças (Bendinelli et al., 2001). O TTV é prevalente em diversos países, em grupos de indivíduos com risco de exposição parenteral: na China, 53,3% em doadores de sangue (Zhong et al., 2001); no Egito, 66% em hemodializados (Gad et al., 2002); na Alemanha, 18,8% em hemodializados (Schröter et al., 2001). No Brasil, Pinho et al. (1998) observaram prevalência do TTV em pacientes com história de doença hepática nos Estados de São Paulo (20%) e Pará (45%). Em transplantados e pacientes atendidos em procedimentos de rotina em hospitais públicos, foi observada prevalência do TTV de 53,8% em São Paulo (Yokosuka et al., 2000); de 52% em Santa Catarina (Vasconcelos et al., 2001); de 79,5% (Saback et al., 2001) e de 85,3% (Bassit et al., 2002) no Rio de Janeiro. 350 CAD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 15 (3): , 2007

3 P REVALÊNCIA DO TTV EM DOADORES DE SANGUE, NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PARÁ O objetivo desta pesquisa é verificar a prevalência do TTV em doadores de sangue e se existe associação entre a infecção pelo vírus e as características apresentadas pelos indivíduos. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Foram coletadas amostras de 186 doadores de sangue que se apresentaram espontaneamente no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Pará (HEMOPA), no período compreendido entre o primeiro semestre de 2002 até o segundo semestre de Após a separação dos soros, estes se mantiveram estocados a -70 C até o momento da reação. Por ocasião da coleta, os indivíduos responderam a um questionário sobre hábitos e comportamento de risco, como também ao aceite do termo de consentimento para participação no estudo. O DNA viral foi extraído do soro dos pacientes, através do kit comercial para extração de DNA (QIamp Blood MIni Kit cód , fabricante Quiagen ), e amplificado em aparelho ABI 7000 (Applied Biosystems ) utilizando-se a técnica de PCR em tempo real com sonda de seqüência 5 GGGCTATGGGCAAGG 3 e dois iniciadores: o de orientação tipo Reverso, composto pela seqüência 5 GACAGCGCCCTTTTCTTTCTG 3 e o iniciador Foward, com seqüência 5 CACTCAAATGTGTGGCTTC 3. Os resultados foram tratados estatisticamente utilizando-se o programa BIOESTAT 3.0 (Ayres et al., 2003). Para analisar a associação entre características e hábitos dos doadores com o resultado dos exames, foram empregados o teste χ 2 e o teste exato de Fisher, a um nível de significância α = 0, RESULTADOS Nossos resultados mostraram que cerca de 60% das amostras foram positivas para a infecção pelo TTV (Tabela 1). A prevalência de TTV positivo em usuários de drogas endovenosas foi superior à de não-usuários (75,0% e 58,8%, respectivamente), mas a diferença não foi estatisticamente significante (p = 0,476). O mesmo ocorreu para número de parceiros, mas ao contrário do esperado: maior prevalência de TTV positivo para os com até 10 parceiros (61,5%) em comparação com os com mais de 10 parceiros (51,5%), mas sem significância estatística para a associação (p = 0,291). Já as prevalências de TTV positivo não foram muito diferentes entre os tatuados e não-tatuados (61,5% e 59,5%, respectivamente), assim como entre os que fazem uso e os que não fazem uso de preservativos (45,6% e 50,0%, respectivamente), e essas diferenças não foram, também, estatisticamente significantes (p = 0,887 e 0,644, respectivamente). C AD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 15 (3): ,

4 W ALBER VICTOR DE MORAES PINTO, MARIA DE FÁTIMA LIMA DE ASSIS, JOSÉ ALEXANDRE RODRIGUES DE LEMOS Tabela 1 Distribuição da freqüência de TTV em relação a característica, hábitos e comportamento de risco dos doadores de sangue. * χ 2 ; ** teste exato de Fisher. Testes realizados desconsiderando os sem informação. 4. DISCUSSÃO Nossos resultados a respeito da prevalência do TTV em doadores de sangue, na região metropolitana de Belém foram de cerca de 60%, resultado que pode ser considerado elevado em uma população de indivíduos assintomáticos. Os dados observados nas regiões Sul e Sudeste do Brasil mostram que a freqüência do TTV corresponde ao encontrado em nosso estudo, visto que em nossa amostra de 186 doadores de sangue, sem clínica sugestiva de hepatite, 60% eram portadores da partícula viral, dado correspondente ao encontrado em São Paulo e no Rio de Janeiro em doadores também sem história clínica (Niel, et al., 1999; 2001; Saback & Ganes, 2001; 2002; Devalle & Niel, 2004; Lyra, et al., 2005; De Castro Amarante et al., 2007). Este fato nos leva a supor que a adaptabilidade do vírus pode estar relacionada às condições climáticas e socioeconômicas de cada população. Esta conclusão prende-se ao fato de nossa amostra ser selecionada por um renomado banco de doadores de sangue no Pará. 352 CAD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 15 (3): , 2007

5 P REVALÊNCIA DO TTV EM DOADORES DE SANGUE, NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PARÁ Os resultados referidos por Pinho et al. (1998) no Pará, de freqüência de TTV em 45% da amostra, foram somente em pacientes que apresentaram história de doença hepática; deste modo, não podemos compará-los com nossos dados. Apesar da diversidade de vias de transmissão do TTV, nossos resultados e análises estatísticas não coadunam com nenhuma rota de transmissão específica (Tabela 1), portanto não podemos relacionar qual das vias estudadas pode proporcionar aumento da infecção viral, como observado por Huang et al. (2000), que mostraram a ocorrência de indivíduos infectados pelo TTV e que possuíam múltiplos parceiros sexuais. Nossa amostra não permitiu sugestão da via de transmissão do TTV em vista de nenhuma via pesquisada ter sido estatisticamente significativa. 5. CONCLUSÕES O TTV é prevalente em uma população de doadores de sangue em Belém do Pará, com freqüência de 60%. Não foi possível estabelecer relações entre a prevalência do TTV e os quesitos: hábitos e comportamentos de risco dos doadores de sangue. Nossas considerações finais a respeito da infecção pelo TTV é uma suposta influência do genoma híbrido para que seja desencadeada a infecção pelo TTV, pois, em 60% de portadores da partícula viral, nenhum apresentou qualquer sintoma clínico, o que os classificou como doadores de sangue em potencial. R EFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AYRES, M.; AYRES JR., M.; AYRES, D. L.; SANTOS, A. A. S. BIOESTAT - Aplicações Estatísticas nas Áreas das Ciências Bio-Médicas. Belém: IDSM/MCT/CNPq p. BASSIT, L.; TAKEI, K.; HOSHINO-SHIMIZU, S.; NISHIYA, A. S.; SABINO, E. C.; BASSITT, R. P.; FOCACCIA, R.; D AMICO, E.; CHAMONE, D. F.; RIBEIRO-DOS-SANTOS, G. New prevalence estimate of TT virus (TTV) infection in low-and high-risk population from São Paulo, Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical. São Paulo, v. 44, n. 4, p , BENDINELLI, M.; PISTELLO, M.; MAGGI, F.; FORNA, C.; FREER, G.; VATTERONI, M. L. Molecular properties, biology, and clinical implications of TT Virus, a recently identified widespread infectious agent of humans. Clinical Microbiology Reviews. v. 14, n. 1, p , DE CASTRO AMARANTE, M. F.; KASHIMA, S.; COVAS, D. T. TT virus (TTV) genotyping in blood donors and multiple transfused patients in Brazil. Virus Genes. v. 35, n. 3, p , C AD. SAÚDE COLET., RIO DE JANEIRO, 15 (3): ,

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