Proposição de um conceito de PSS (Sistema Produto + Serviço) para o setor de produtos de limpeza multiuso
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- Maria Laura Azevedo Valverde
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1 Proposição de um conceito de PSS (Sistema Produto + Serviço) para o setor de produtos de limpeza multiuso Proposal of a PSS concept applied on the sector of multipurpose cleaning products Aguinaldo dos Santos I Ivana Marques da Rosa II Jucélia Giacomini III Sistemas Produto-Serviço; Sustentabilidade; Dimensões do Design Desde que o tema da sustentabilidade emergiu nos debates internacionais tem se observado o surgimento de conceitos e teorias associadas aos processos do design e à necessidade de reconhecer os limites ambientais no projeto de produtos e serviços. Neste contexto, o design agrega em sua práxis o desenvolvimento contínuo de novas dimensões voltadas para os requisitos sustentáveis, sendo o conceito de Sistemas Produto-Serviço (PSS) uma das concepções mais inovadoras do design para a sustentabilidade. De acordo com esses pressupostos, o presente estudo apresenta possíveis cenários para a questão do descarte de embalagens plásticas de produtos de limpeza multiuso, utilizando o estudo de caso como método de pesquisa e o MEPSS (Methodology for Product Service System), como ferramenta complementar para a análise dos dados. Os resultados da pesquisa referem-se principalmente à dimensão ambiental do PSS para embalagens, apresentando proposições de transição para modelos de produção e consumo mais ecoeficientes e inovadores. Product service system; Sustainability; Design dimensions Since the sustainability theme emerged in international discussions, concepts and theories related to the processes of design and the need to recognize the environmental limits in product design and services have emerged. In this context, Design have added to its praxis the continuous development of new dimensions towards sustainable requirements. The concept of Product-Service Systems (PSS) is taken as one of the most innovative concepts of design for sustainability. Under this assumption, the present study has investigated possible scenarios for the issue of disposal of plastic packaging products for multipurpose cleaning, using the case study as research method and MEPSS (Methodology for Product Service System), as complementary tool for data analysis. The research results focused primarily on the environmental dimension of PSS, presenting proposals for transition to more innovative and more ecoefficient production and consumption patterns. 1. Introdução Observa-se que, apesar dos graves problemas sócio-econômicos e ambientais enfrentados pela nossa sociedade, estes fenômenos não tem resultado na redução do consumo de bens e serviços, pois estes índices têm se mantido constantes nas nações industrializadas e aumentado rapidamente em muitos países em desenvolvimento (World Watch Institute, 2004). No Brasil, a elevação do salário mínimo e da renda das famílias mais pobres, maior estabilidade monetária, aumento do número de trabalhadores formais e ampliação de crédito, além da distribuição de recursos por programas do governo têm repercutido em impulso nos índices de consumo nesta faixa da população (Bastos, 2008). Neste contexto, entende-se como urgente a necessidade de formulação de soluções que possibilitem o leapfrog, ou seja, o salto dos padrões de consumo desta população para níveis sustentáveis, evitando a emulação dos níveis de consumo da população mais abastada. Não se trata de reduzir o grau de satisfação desta população ou de não permitir que a mesma tenha acesso a melhor qualidade
2 de vida. Trata-se de prover esta satisfação, porém com um nível de utilização de recursos materiais radicalmente menor. A presente pesquisa teve como foco os produtos de limpeza. Tal ênfase deve-se ao fato do reconhecimento dos mesmos como extremamente danosos ao meio ambiente e, muito importante, presentes no dia-a-dia das habitações de todos os brasileiros. Dormer (1995) afirma que a limpeza atingiu a dimensão de uma neurose e, como tal, proporciona uma sempre renovada oportunidade de lançamento de novos produtos neste setor. Um levantamento da LatinPanel, apresentado pela Super Varejo (2006), apontou que em todo o estado de São Paulo mais pessoas estão comprando produtos de limpeza e, em maior quantidade. Em função disso, a seção de produtos de limpeza merece atenção especial nas lojas, uma vez que esta categoria apresenta um alto índice de compras por impulso. Atentos a isso, os fabricantes não poupam esforços nem investimentos na expansão de produtos, no desenvolvimento de embalagens e merchandising. Portanto, há necessidade de soluções mais criativas do Design afim de tratar deste paradoxo entre a busca pela higiene e o respeito pelo meio ambiente. Obviamente somente a atuação do designer não é suficiente para o provimento de soluções duradouras para o setor. É necessário que exista um interrelacionamento articulado entre as esferas de decisão, sejam elas políticas, empresariais ou sociais, para que assim, obtenha-se uma educação pautada em um consumo consciente e serviços e sistemas compatíveis com o novo conceito de qualidade de vida menos pautado no consumo material (Kazazian, 2005; Manzini, 2006). Neste caso, cabe aos designers, através das necessidades das empresas, apresentar soluções viáveis que atendam às solicitações dos consumidores e, ao mesmo tempo, sejam compatíveis com as limitações do sistema produtivo que envolvem o consumo de embalagens plásticas. As embalagens para produtos de limpeza estão entre as que demonstram maior crescimento de utilização segundo a ABIPLA (2006). Este fato as coloca no centro das atenções quanto à questão ambiental, pois o plástico (material com o qual são feitas a grande maioria das embalagens de produtos de limpeza) compõe, de acordo com o CEMPRE (2008), 77% das embalagens plásticas no Brasil, não havendo espaço físico para comportar o lixo gerado em função dessa demanda. No Brasil, aproximadamente um quinto do lixo doméstico é composto por embalagens que, em geral, são utilizadas e imediatamente descartadas. Por isso, o Instituto AKATU (2008) aponta o uso consciente como um resultado positivo na gestão dos resíduos sólidos. Ao optar por um modelo durável de produtos e ao avaliar a compra considerando o impacto de sua embalagem, o consumidor contribui para diminuir o custo geral de investimentos e gastos públicos na gestão de resíduos sólidos e ajuda a liberar dinheiro que poderá ser mais bem investido e utilizado em outras áreas. Desta forma, o presente estudo busca investigar nas questões relativas ao design de sistemas produto-serviço proposições que minimizem os impactos ambientais advindos das práticas de consumo no setor de embalagens de produtos de higiene Esta pesquisa também visa contribuir com a disseminação e consolidação das ferramentas do PSS como uma alternativa viável para o desenvolvimento de produtos e serviços que atendam às demandas específicas dos usuários e, ao mesmo tempo resultem em maior ecoeficiência quando comparadas ao resultado convencional da atividade de Design. O presente estudo apresenta-se como um dos resultados do trabalho de pesquisa sobre sistemas produto-serviço, realizado na parceria entre pesquisadores da Universidade Federal do Paraná UFPR e da Universidade Positivo UP. 2. O design e a sustentabilidade Níveis de atuação do design para a sustentabilidade Desde que o tema da sustentabilidade emergiu nos debates internacionais tem se observado o surgimento de conceitos e teorias associadas aos processos do design e à necessidade de reconhecer os limites ambientais no projeto de produtos e serviços, tendo em vista uma maior contribuição para o meio ambiente e para a sociedade (Sherwin, 2004).
3 Para a articulação entre as atividades projetuais do design e a preservação socioambiental em seus diversos desdobramentos(santos, 2009) faz referência a cinco níveis fundamentais de interferência no projeto (vide Figura 1) e concluem que a prática atual tem sido focada nas categorias mais usuais (nível a e b ). a) Melhoria ambiental dos fluxos de processos e operações; b) Redesign ambiental de produtos existentes; c) Design de novos produtos/serviços intrinsecamente sustentáveis; d) Sistemas produto-serviço c) implementação de estilos de vida orientados ao consumo suficiente. Figura 1: Níveis do design para a sustentabilidade dos mais usuais aos mais estratégicos Fonte: Baseado em Manzini e Vezzoli (2002), Vezzoli (2007) e Santos (2009) NÍVEIS MAIS ESTRATÉGICOS Níveis de sustentabilidade Sistemas produtoserviço e a implementação de estilos de vida orientados ao consumo suficiente Projeto de novos produtos e serviços intrinsecamente sustentáveis Consumo sustentável Níveis de interferência no projeto Redesign ambiental de produtos existentes NÍVEIS MAIS USUAIS Melhoria dos fluxos de processos e operações Produção sustentável Segundo Vezzoli (2007) essas classificações não representam necessariamente uma evolução cronológica e também não definem precisamente as fronteiras entre um e outro nível, no entanto podem ser úteis para o entendimento esquemático das contribuições do design para a sustentabilidade. O mesmo autor observa que a transição para uma sociedade mais sustentável requer um longo e complexo processo coletivo de aprendizagem, no qual (além do designer) cada ator social terá de desempenhar um importante papel, adquirindo novas capacidades e assumindo novas responsabilidades de atuação. O design de sistemas produto-serviço O design de sistemas produto-serviço pode ser considerado como uma das intervenções de destaque que abrange os níveis mais estratégicos do projeto. Conforme defende Tischner e Verkuijl (2006), a maior diferenciação de um modelo de inovação baseado em PSS é uma efetiva transformação do comportamento sócio-cultural e dos padrões de utilização, visto que combina diversos elementos heterogêneos como: aspectos culturais, pessoas, artefatos tecnológicos, transformações organizacionais e novas tecnologias. O PSS é uma proposição sistêmica que amplia a tradicional funcionalidade de um produto, incorporando serviços adicionais, no qual a ênfase é focada na utilização do serviço em vez da aquisição do produto (Baines et al. 2007). Neste caso o cliente paga a utilização de um produto
4 e não a sua compra, sendo assim o PSS pode proporcionar uma reestruturação dos riscos, responsabilidades e custos tradicionalmente associados à propriedade do produto. Do mesmo modo, o fornecedor/fabricante pode aumentar sua competitividade, uma vez que estas soluções podem ser claramente diferenciadas do produto tradicional, pois ampliam a utilização, a confiança, as características do design e a proteção ao consumidor (BAINES et al., 2007). De acordo com as definições encontradas na literatura (por exemplo: Mont, 2001; Brandsotter, 2003; Manzini &Vezzoli, 2003; UNEP, 2004) o PSS é interpretado como uma estratégia de inovação que agrega produtos e serviços em um sistema, incluindo uma rede de infraestrutura e de suporte. Associados a esses aspectos também se encontram o interrelacionamento com os stakeholders, a satisfação do usuário agregando valor de uso, o desenvolvimento da auto-aprendizagem, da competitividade e do desempenho empresarial e a redução do impacto ambiental quando comparado aos modelos tradicionais de negócios. As abordagens mais comuns sobre o conceito do PSS defendem que quando este sistema é implantado ocorre uma mudança nas tradicionais funções entre produtores e consumidores, pois a unidade funcional deixa de ser o produto e passa a ser a função do produto. Neste caso o fornecedor/fabricante mantém-se responsável pelo produto durante sua fase de utilização e torna-se necessário criar incentivos para reduzir os custos associados a essa fase, incluindo os custos de consumíveis e produtos auxiliares, bem como os custos de manutenção e modernização de serviços. Por conseguinte, o custo da fase de utilização torna-se a principal preocupação, em contraponto com os modelos tradicionais que enfatizam o custo da aquisição do produto (Mont, 2004). Com a implantação de um modelo de negócio baseado em sistemas produto-serviço, os produtos tornam-se capitais dignos de manutenção, assim como os equipamentos de produção e a companhia torna-se responsável pela gestão do ciclo de vida do produto. Deste modo, torna-se vantajoso para o setor produtivo assegurar as funções de utilização do produto dentro do maior tempo possível e introduzir incentivos nos sistema para ampliar a durabilidade do produto, a adaptação, a reutilização e a renovação (Mont, 2004). Neste sentido, quando os produtos são partilhados ou utilizados em conjunto, pode-se minimizar o número total de produtos fabricados e ampliar a capacidade de utilização, resultando em maior eficiência dos recursos e menor impacto ambiental. Por outro lado, o design pode colaborar projetando produtos que apresentem maior eficiência durante seu uso, incentivando os produtores no aumento da reutilização e reciclagem de produtos e agregando ao serviço produtos novos, usados ou remanufaturados (Mont, 2000). De acordo com esses princípios, o PSS baseia-se no pressuposto que a otimização do uso do produto pode reduzir consideravelmente o impacto ambiental que ocorre com a apropriação efetiva do produto, durante a fase de consumo. Entretanto Mont (2000) afirma que para se atingir este propósito faz-se necessário comparar os custos ambientais da fase de uso com os custos da fase de produção (incluindo atividades de pós-produção, coleta, reutilização e remanufatura). No entanto, para uma avaliação precisa dos benefícios ambientais propostos por meio da implantação de sistemas produto-serviço faz-se necessário desenvolver critérios e metodologias que avaliem, entre outros aspectos, a vida útil de um produto, o seu potencial de melhoria, a eficiência do uso e dos recursos utilizados em ciclo fechado (Mont, 2000). Até o presente momento as ferramentas e métodos de avaliação existentes, bem como os estudos de aplicação reportados na literatura, ainda possuem diversas lacunas e não abrangem o sistema em sua totalidade. Porém, em linhas gerais verificam-se que as soluções em PSS objetivam a obtenção de resultados coerentes com os requisitos sustentáveis, visto que além dos aspectos ambientais apresentados também podem ser incluídos no sistema os aspectos socioculturais e econômicos. 3. Método de pesquisa O método de pesquisa compreendeu na sua fase inicial a revisão da literatura acerca da situação atual do setor de produtos de limpeza multiuso. Foram revisados os aspectos ambiental, econômico e social,que compreendem o modo de produção e consumo destes
5 produtos. Esta revisão permitiu caracterizar o estilo de vida e o perfil dos consumidores brasileiros; sua consciência ambiental; o que o consumidor espera das empresas; dados de mercado do setor de produtos de limpeza e a conseqüência da concentração do varejo nesse setor. As principais fontes da análise foram o Instituto AKATU (2008); ABRE Associação Brasileira de Embalagens (2008); CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem; CETEA Centro de Tecnologia de Embalagem, IBGE Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (2009) e UNILEVER (2008). A metodologia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso, realizado em 4 supermercados da região metropolitana de Curitiba/PR, os quais serão denominados de empresa A, B, C e D, pois não foi obtida autorização para a divulgação de seus nomes. Foram utilizadas as ferramentas de coleta de dados que incluem: observação direta com registro fotográfico, system map e caracterização do contexto de uso bem como a análise comparativa de case considerado como referência neste setor (benchmarks). Através do estudo de caso gerou-se a proposição de um conceito cujo foco foi, principalmente, na dimensão ambiental, visto que as pesquisas apresentaram o descarte desenfreado de embalagens plásticas como um sério impacto negativo ao meio ambiente. Para o desenvolvimento do conceito do sistema proposto, o MEPSS foi utilizado como método complementar, onde foram utilizadas as suas ferramentas (análise swot; matrizes de priorização e participação dos atores; matriz de impactos e SDO (Sustainability Design Orienting Toolkit) para a avaliação da proposição. Tal aplicação partiu da experiência do Núcleo de Design & Sustentabilidade da UFPR em projetos anteriores (Sampaio, 2008). Desta forma, a aplicação do MEPSS tem como principais resultados esperados: 1) Design e implementação de PSS; 2) Avaliação de impactos econômicos em nível micro (empresa), meso (setor) e macro (economia nacional); 3) Avaliação de impactos sociais e ambientais e assuntos relacionados à aceitação, cultura e ética do consumidor. A estrutura metodológica do MEPSS consiste de cinco fases principais, descritas a seguir: Análise estratégica: nesta fase buscou-se compreender o sistema original utilizado pela empresa para atender as necessidades dos clientes; Exploração de oportunidades: procurou-se explorar novos possíveis cenários para o sistema; Desenvolvimento do conceito de PSS: buscou-se descobrir como as oportunidades detectadas na análise e nos cenários podem ser utilizados com sucesso; Desenvolvimento do PSS escolhido: esta fase buscou identificar qual o parâmetro de Design com maior chance de sucesso, e desenvolvê-lo; Preparo para a implementação: procurou-se identificar quais são os instrumentos condutores do processo de implementação e como controlar o comportamento do sistema proposto. Vale ressaltar que o escopo deste projeto abrange apenas o desenvolvimento e análise do sistema proposto, e não eventuais equipamentos de venda dos produtos e, ainda, trata-se de uma análise sob os aspectos conceituais. 4. Resultados & Análise A partir das ferramentas de coleta de dados utilizadas no estudo de caso (entrevista direta com os consumidores; levantamento de pesquisas já realizadas; registros fotográficos; dados fornecidos pelas empresas A, B, C e D durante a entrevista realizada), foi possível identificar os impactos negativos resultantes do consumo de produtos de limpeza multiuso apresentados na introdução. Desta forma, gerou-se um conceito com o intuito de reduzir o gasto de materiais e energia conseqüentes do sistema atual e, com base nas ferramentas do MEPSS foi efetuada a avaliação do mesmo. No Brasil, aproximadamente um quinto do lixo é composto por embalagens que, em geral, serão pagas e imediatamente descartadas. Por isso, o Instituto AKATU (2008) aponta o uso consciente como um impacto positivo na gestão dos resíduos sólidos. Ao optar por um modelo durável de produtos e ao avaliar a compra considerando o impacto de sua embalagem, o consumidor contribui para diminuir o custo geral de investimentos e gastos públicos na gestão de resíduos sólidos e ajuda a liberar dinheiro que poderá ser mais bem investido e utilizado em outras áreas.
6 Assim, foi determinado um conceito a partir do estudo da geração de 4 alternativas de sistema. A escolha da melhor alternativa se deu por uma análise sob seus pontos positivos e negativos, levando-se em conta, principalmente a viabilidade para o consumidor; a otimização do ciclo de vida das embalagens plásticas e as emissões resultantes do transporte.considerando-se os dados obtidos, foi proposto um novo conceito para o sistema, aplicável em médio prazo, pois a relação entre os aspectos ambientais e o custo benefício ao consumidor facilitam a implantação do sistema, conforme dados colhidos das empresas A, B, C e D (2008). O conceito do sistema prevê o uso de uma máquina self-service, implantada em um supermercado, onde o consumidor poderá reabastecer sua embalagem, pagando somente pelo produto recarregado na mesma. O ciclo de recarga pode ser repetido até que a embalagem não tenha mais condições de uso, ou até que o consumidor opte por uma nova embalagem. O sistema prevê um setor específico do supermercado para o destino final das embalagens descartadas pelo consumidor, encaminhando-as à reciclagem ou ao reuso. Esta proposição também conta com a função de educar o consumidor, informando seu caráter sustentável e inspirando confiança e segurança, porém respeitando a decisão do consumidor de ser, ou não, um cidadão responsável ambientalmente. Além disso, enfatiza a sua vantagem econômica, induzindo a sua utilização. Para adequado entendimento do sistema de proposto (vide Figura 2), interpreta-se da seguinte forma: a fábrica de produtos de limpeza tem como fornecedores a indústria química, a fábrica de embalagens e a fábrica de maquinários. A primeira fornece os componentes químicos necessários para a fabricação do produto concentrado (gel base); a segunda fornece as embalagens de consumo (parisons) e logística que servem para a reposição da máquina; a última fornece os equipamentos necessários: soprador e molde para a conformação da embalagem de consumo e envasador. Figura 2: Mapa do sistema proposto
7 Além do system map, uma das ferramentas do Mepss é o storyboard e storysport. Na figura 3 apresenta-se o storyboard, representando os principais aspectos da relação dos stakeholders apresentados no system map. Figura 3: Storyspot do sistema proposto Uma vez que as embalagens de consumo e de logística estejam devidamente envasadas, são enviadas ao supermercado por meio de transporte rodoviário. O gel base, por sua vez, é misturado pela máquina com a fragrância determinada pelo consumidor no momento da compra. Com isso, não há desperdício de gel base com fragrâncias que tenham pouca demanda. Isto reduz o número de etapas de transporte. Quando for necessário fazer a reposição do produto, a fábrica de produtos de limpeza troca a embalagem logística vazia por uma cheia. A necessidade da recarga é informada à fábrica de produtos de limpeza, automaticamente, via internet por um dispositivo contido na máquina selfservice. Na primeira compra, o consumidor adquire a embalagem contendo o produto concentrado, adiciona a água e faz a utilização. Na nova compra, ele retorna ao mercado com a embalagem vazia para reabastecê-la na máquina. Depois de confirmar a compra, a máquina imprime um adesivo com código de barras para que o produto possa ser pago no caixa junto com os demais itens a serem comprados. A partir desse momento, ele paga somente pelo produto, e não mais pela embalagem. Esse ciclo pode ser repetido até a embalagem não ter mais condições de uso, ou até que o consumidor opte por uma nova embalagem. A embalagem a ser descartada pode ser retornada ao mercado, no setor específico de descarte, que dá o fim adequado reciclagem ou reuso. Este possibilitará empregos a pessoas carentes e portadoras de deficiências. Para que o projeto possa ser levado a diante, é preciso considerar, além dos parceiros citados até o momento, um financiador que promova, apóie e incentive projetos de caráter ambiental, social e econômico. Este agente pode ser o fabricante de materiais de higiene ou o próprio supermercado. Por meio das ferramentas de avaliação do sistema (ferramentas do MEPSS: análise SWOT; matrizes de priorização e participação dos atores; matriz de impacto e SDO), foi possível
8 avaliar o conceito proposto em relação aos aspectos mais relevantes no que tange aos preceitos da sustentabilidade. Devido aos atuais índices de consumo de produtos de limpeza identificados durante a pesquisa bibliográfica, o presente projeto fundamentou-se principalmente nas proposições para a dimensão ambiental da sustentabilidade. Desta forma, a ênfase do sistema proposto é redução das embalagens plásticas provenientes do consumo de produtos de limpeza multiuso. Conforme constatação da pesquisa de casos similares no case Alegrini (UNEP, 2002), o qual consiste em um sistema de recarga a domicílio de produtos de limpeza, o consumidor pode reutilizar a mesma embalagem, sem que ela perca suas características de qualidade, durante um ano, apenas fazendo a recarga da mesma. Assim, por analogia, o resultado provável seria de uma redução significativa do lixo plástico gerado pelo consumo de limpadores multiuso. Esta relação pode também ser estendida a todos os produtos de consumo que utilizem embalagens passíveis de serem reutilizadas. Além da redução do consumo, a previsão do setor específico de descarte das embalagens é mais uma vantagem ambiental do sistema proposto. As embalagens entregues ao setor podem ser destinadas a reciclagem e reenviadas ao processo produtivo. A reciclagem, apesar de ser uma das soluções mais viáveis (CEMPRE, 2008), consome energia nos seus processos. Por isso, o reuso adotado pelo sistema reduz a necessidade desses processos, economizando energia. Além disso, o sistema PSS permite a redução do transporte, emitindo menos poluentes no meio ambiente e gastando menos combustível. O produto concentrado resulta na diminuição da necessidade de reabastecimento nos pontos de venda, a exemplo do case Confort (Unilever, 2008), que adotou o uso de produtos concentrados. Somado a isso, o menor peso, comparado aos produtos transportados prontos para o consumo (adição de água), contribui para a conservação das estradas. Pode-se considerar, ainda, a redução do gasto com papelão e pallets, necessários na distribuição dos produtos. Portanto, a proposição apresentada tem, além de benefícios sócio-ambientais, também benefícios econômicos, visto que a redução do transporte e da adição de água, possibilitadas pelo produto concentrado reflete-se no custo final do limpador multiuso. Desta forma, a empresa de produtos de limpeza consegue oferecer um produto mais competitivo aos seus clientes, sendo que a empresa também se beneficiaria dessas vantagens. O sistema proposto atua de forma a contribuir para a coesão social, pois estende sua atuação, por meio do setor específico de coleta de embalagens, aos portadores de deficiências e pessoas carentes, oferecendo-lhes funções que as reaproximem ao convívio social. Tem ainda o objetivo de informar, influenciando, de modo positivo, nos hábitos do consumidor, mudando comportamentos em busca de uma sociedade responsável ambientalmente e sustentável. É também finalidade do sistema, servir de exemplo às empresas que comercializam produtos que comprometem, de alguma forma, o meio ambiente. Além disso, na escolha de seus parceiros comerciais, o sistema tem como premissa básica, a responsabilidade ambiental das empresas parceiras. A concentração do varejo, de acordo com a revista Veja (2008), também é um fator relevante para o sucesso da implantação do sistema, já que compreende variadas classes sociais consumindo num mesmo lugar. As grandes redes varejistas detêm os consumidores, oferecendo-lhes os melhores e variados produtos e serviços, além de melhores condições de pagamento. Desta forma, se torna viável o investimento em novas proposições nesses centros varejistas. Por fim, a implantação do conceito de sistema produto-serviço proposto tem condições de atender questões de suma importância para a sociedade e o meio ambiente, entre elas se apresentam a redução do lixo urbano, vantagens competitiva para empresas e consumidores e oportunidade de integração de pessoas carentes e deficientes ao convívio social.
9 5. Considerações finais Baseando-se nos preceitos de PSS o presente estudo apresenta uma proposta de um conceito de PSS voltado aos produtos de limpeza. O conceito proposto é focado na otimização do ciclo de vidas embalagens, ocorrendo tanto nas etapas de produção, quanto na etapa do consumo, ambas com foco na redução de emissões e gasto de matéria e energia. A validação do conceito restringe-se no presente artigo apenas ao âmbito dos preceitos teóricos do PSS. Obviamente, sua validação externa requer estudos subseqüentes de aplicação ou estudos comparativos com sistemas existentes. Através da contribuição para o conhecimento e entendimento dos métodos e ferramentas passíveis de serem aplicadas na busca por produtos e serviços sustentáveis, a pesquisa contribui para a formulação de novas proposições em diversos setores além do setor de produtos de limpeza. Desta forma, busca contribuir para a disseminação das possibilidades que tem o designer na tomada de decisões no momento de projetar novos produtos e serviços. A revisão da literatura permitiu os autores inferir que, para que ocorra um maior envolvimento do design na expansão das soluções sistêmicas, torna-se necessário uma ampliação das habilidades do designer. Estas incluem a análise do potencial tecnológico, a investigação do comportamento e atitudes dos usuários, a interpretação dos modelos sociais emergentes e a tradução destes modelos em um conjunto consistente e palpável de requisitos que direcionem as aplicações futuras do PSS. Portando, a ampliação do escopo de atuação do design depende da ampliação das suas competências. Referências ABIPLA. Disponível em: < 22/03/2008. ABRINQ. Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http: //www. fundabrinq.org.br/> 25/12/2008. Alcott, B The sufficiency strategy: Would rich world frugality lower environmental impact? Ecological Economics. p AKATU. Disponível em: < 22/04/2008. Baines et al State-of-the-art in product-service systems. In: Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers, Part B: Journal of Engineering Manufacture. Volume 221, Number 10 / Professional Engineering Publishing. London, UK. Bastos, C Consumo de bens duráveis aumenta por causa do Bolsa Família. In: < 08/04/2008. Brandstotter, M (Austrian Society for Syst. Eng. & Autom., Austria), Haberl, M., Knoth, R., Kopacek, B., Kopacek, P. IT on demand towards an environmental conscious service system for Vienna (AT). In Third International Symposium on Environmentally conscious design and inverse manufacturing EcoDesign 03 (IEEE Cat. No.03EX895), pp CEMPRE. Disponível em: < 30/ Charter, M.; Belmane, I Integrated Product Policy (IPP) and eco-product development (EPD). The Journal of Sustainable Product Design 10: Kluwer Academic Publishers. Holanda. Diaz, A.C.; Pires, R. I. S Produção mais limpa: integrando o meio ambiente e produtividade. Racre. Rev Adm. CREUPI, Esp. Sto. do Pinhal, São Paulo, v.05. nº 09. Dormer, P Os significados do design: a caminho do século XXI. Bloco Gráfico. Porto. Ehrenfeld, J Designing sustainable product service systems. In Proceedings of the Second International Symposium on Environmentally conscious design and inverse manufacturing, pp Epelbaum, M A influência da gestão ambiental na competitividade e no sucesso empresarial. São Paulo, 190f. Dissertação (Mestrado) Departamento de Engenharia de Produção, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
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