Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Apelação desafiada em face da sentença de fls. 69/76, que julgou procedente o pedido de concessão de aposentadoria especial em favor do Autor, a partir da data do requerimento administrativo ( ), com o pagamento das prestações vencidas, acrescidas de atualização monetária e de juros de mora, nos termos da Lei nº /09. Condenou-se a Autarquia previdenciária a pagar os honorários advocatícios -fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. No Apelo fls. 79/82-, o INSS alegou, em suma, que a sentença contrariou o disposto no art. 57, 3º e seguintes, da Lei nº 8.213/91, bem como a prova dos autos e a jurisprudência dos tribunais. Afirmou que os documentos colacionados aos autos não comprovam a efetiva exposição do Autor aos agentes agressivos à saúde ou à integridade física, de modo permanente, não ocasional nem intermitente, por meio de laudo técnico. Por fim, pediu a reforma da sentença recursada, para que seja julgado improcedente o pedido. Contrarrazões apresentadas pela parte Autora às fls. 85/89. Sentença submetida ao reexame necessário. Dispensada a revisão. É o relatório. 1

2 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): A pretensão do Autor-Apelado é a de obtenção do benefício de aposentadoria especial, após o reconhecimento do tempo trabalhado em condições especiais junto à Empresa Energisa Paraíba Distribuidora de Energia S.A., sob o regime celetista. A aposentadoria especial é devida ao segurado que tenha trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos, conforme o caso, em condições descritas pela lei como prejudiciais a sua saúde ou integridade física. Cabem, aqui, algumas considerações a respeito da lei a ser aplicada ao presente caso. A comprovação do tempo de serviço especial deverá ser efetuada de acordo com a legislação vigente à época em que o serviço foi prestado, por aplicação do princípio tempvs regit actvm. Mas a aplicação da lei vigente à época da concessão do benefício não pode incidir para desrespeitar o direito adquirido ou desconsiderar o direito em aquisição. Até 28 de abril de 1995, a legislação previdenciária não exigia, para a concessão do benefício de aposentadoria especial, a prova da efetiva exposição aos agentes nocivos, bastando o enquadramento da situação fáctica nas atividades previstas nos quadros anexos aos Decretos n /64 e /79. O que importava para a caracterização do tempo de trabalho, como especial, era o grupo profissional abstratamente considerado, e não, as condições da atividade do trabalhador. Com a edição da Lei n 9.032, publicada na data já referida, abandonou-se o sistema de reconhecimento do tempo de serviço com base na categoria profissional do trabalhador, para exigir-se a prova efetiva da sujeição aos agentes nocivos, através do Formulário SB-40 ou DSS

3 Posteriormente, foi promulgada a Lei n 9.528/97, exigindo a apresentação de laudo técnico para a referida comprovação. Atualmente, a Lei n 8.213/91, no seu art. 58, 1, dispõe: A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista. Com o advento da Instrução Normativa n 95/03, a partir de 1º.01/2004, o segurado não necessita mais apresentar o laudo técnico, pois se passou a exigir efetivamente o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), apesar de aquele servir como base para o preenchimento desse. Cabe destacar ser possível a conversão de tempo especial em comum, nos termos da redação original do art. 57, 5º, da Lei nº 8.213/91, porque o art. 28, da MP , de , não foi convalidado, quando foi ela convertida em lei (a de nº 9.711, de ), bem como o Decreto nº 4.827, de , modificou o artigo 70, parágrafo único, do Decreto nº 3.048/99, que vedava a pleiteada conversão. Registro, ainda, a possibilidade de comprovação de tempo de serviço especial por meio de laudo pericial, mesmo que produzido em data posterior ao tempo da atividade, a teor da IN/INSS PRES nº 20/07, alterada pela IN/INSS nº 27/08. Em decisão recente, a Corte Especial do STJ, quando do julgamento do Resp nº /MG, julgado em 23/3/2011, de relatoria do Exmº. Sr. Min. Jorge Mussi, apreciou a questão como recurso repetitivo representativo de controvérsia (art. 543-C do CPC), restando sedimentado que É possível a conversão do tempo de serviço de forma majorada exercido em atividades especiais para fins de aposentadoria comum, mesmo que esse tempo diga respeito a período posterior a 28/5/1998, visto que a Lei n /1998 (convertida da MP n /1998) não mais reproduziu a revogação do 5º do art. 57 da Lei n /1991, permissivo da conversão. Também é assente nos tribunais que a caracterização e a comprovação do tempo de atividade especial regem-se pela legislação em vigor na época em que foi 3

4 exercido, tanto que esse entendimento foi incorporado ao Regulamento da Previdência pelo Dec. n /2003 (vide art. 70, 1º, do Dec. n /1999). Contudo, é consabido ser a obtenção do benefício submetida à legislação vigorante na data do requerimento administrativo. Daí o porquê de o art. 70, 2º, do referido regulamento (redação dada pelo Dec. n /2003) determinar a aplicação da tabela dele constante independentemente da época em que foi prestada a atividade especial. Então, ciente de que o fator de conversão é o resultado da divisão do número máximo de tempo comum (35 anos para o homem e 30 para a mulher) pelo número máximo de tempo especial (15, 20 e 25 anos), mesmo diante dos Decs. ns /1964 e /1979, há que aplicar, na hipótese, o multiplicador de 1.40 para a conversão do tempo de serviço especial correspondente a 25 anos prestado por homem (35/25), tal qual constante do art. 173 da IN n. 20/2007. Posto isso, descabe ao INSS combater, na via judicial, a orientação constante de seu próprio regulamento. Assim, trabalhadores expostos a agentes nocivos poderiam fazer a conversão dos anos trabalhados, a qualquer tempo. Examino, agora, a atividade referida na petição inicial, como tendo sido exercida em condição especial. No presente caso, o tempo de serviço cujo reconhecimento como especial se busca, refere-se a períodos em que o Apelado exerceu as atividades de auxiliar técnico I, técnico distribuição, técnico eletrotécnico e supervisor de projeto cadastro de distribuição", de a , junto à Empresa Energisa Paraíba. Assim, em relação ao período anterior à edição da Lei nº 9.032, de , penso que ficou comprovado o caráter especial das atividades exercidas (prestadas em condições prejudiciais à saúde), visto que as atividades desenvolvidas pelo Autor como de auxiliar técnico I, técnico distribuição, técnico eletrotécnico, consoante comprovado pelos docs. de fls. 18/21 e 22/25 PPP e LTCAT-, pode ser equiparada à de eletricista, por serem análogas a esta, estando em consonância com o item 1.1.8, do Decreto /64, estando a mesma enquadrada no item 1.1.8, do Decreto /64, prevalecendo a presunção legal decorrente do exercício da atividade profissional. 4

5 Em relação ao período trabalhado após a vigência da Lei nº 9.032, de , faz-se necessária a comprovação da efetiva exposição a agentes nocivos, para fins de comprovação do tempo de serviço especial. Assim, no período de até , o Autor/Apelado continuou a exercer a mesma atividade e, também, que constam dos autos o contrato lavrado na Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, (fl. 15); o Perfil Profissiográfico Previdenciário PPP (fls. 18/21) e o Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho - LTCAT acostados aos autos às fls.22/25, que dão mostras suficientes do fato da exposição a fatores de risco (acidentes por choque elétrico tensão superior a 250 volts), quando então empregado da Energisa Paraíba, no citado período; são, portanto, documentos hábeis à comprovação do exercício de atividade insalubre pelo ora Apelado. O fato de o agente agressivo eletricidade (tensão superior a 250 volts), ter sido excluído do rol dos agentes nocivos, a partir de 05/03/97, data da edição do Decreto 2.172/97, não afasta o direito do Autor ao benefício pleiteado, pois houve a comprovação da efetiva exposição do Demandante a agentes nocivos, por meio do PPP e do laudo técnico, no citado período. Ademais, em se tratando de periculosidade por sujeição a altas tensões elétricas, não é necessário o requisito da permanência, já que o tempo de exposição não é um fator condicionante para que ocorra um acidente ou choque elétrico. Em reforça desta tese, trago à colação o seguinte aresto: PREVIDENCIÁRIO - RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL - EXPOSIÇÃO A AGENTES INSALUBRES OU PERIGOSOS- CONVERSÃO DO TEMPO ESPECIAL EM COMUM - ATIVIDADE QUE ENVOLVE ELETRICIDADE - DECRETO Nº /64 - POSSIBILIDADE. JUROS MORATÓRIOS. CORREÇÃO MONETÁRIA E HONORÁRIOS DE ADVOGADO. (...) 4. Em se tratando de periculosidade por sujeição a altas tensões elétricas, não é necessário o requisito da permanência, já que o tempo de exposição não é um fator condicionante para que ocorra um acidente ou choque elétrico. Precedentes das Egrégias Quinta e 5

6 Sexta Turmas do STJ. (AC , 5ª Turma do Eg. TRF/4ª Região, DJU de ). 5. A teor do enunciado nº 20 do CEJ/CJF, "A taxa de juros de mora a que se refere o art. 406 é a do art. 161, 1º, do Código Tributário Nacional, ou seja, 1% ao mês", a contar da citação, no tocante às prestações a ela anteriores e, da data do vencimento, para as posteriores. (Orientação da 1ª Seção desta Corte e do Superior Tribunal de Justiça).(...). (TRF 1ª REGIÃO, AC , SEGUNDA TURMA, Decisão: 11/04/2007, DJU: 26/04/2007 PAGINA:12, Relator Arnaldo Esteves Lima).- destaquei Sendo assim, a Apelado faz jus à contagem do tempo de serviço (de a ) como especial, tendo em vista a existência do Perfil Profissiográfico Previdenciário PPP e do Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho - LTCAT, comprobatórios do exercício profissional sujeito a agentes agressivo, de modo contínuo e permanente, na forma já referida no tópico antecedente, ao longo do dito período, o que lhe assegura o direito à aposentadoria especial, já que foram preenchidos os requisitos necessários ao deferimento do pleito, eis que, na data do requerimento administrativo, contava com mais de 25 vinte e cinco- anos de serviço especial. No que toca ao termo inicial para a concessão do benefício, deve ser a partir da data do requerimento administrativo , como determinado pelo MM. Juiz sentenciante. Os juros de mora, a correção monetária e os honorários advocatícios devem ser mantidos, como fixados na sentença, nos termos que dispôs a Lei nº , de , uma vez que a ação foi ajuizada após a edição deste diploma legal, e em 10% (dez por cento) do valor da condenação, respeitados, no entanto, os limites da Súmula 111/STJ. Ante o exposto, nego provimento à Apelação e dou provimento, em parte, à Remessa Necessária, para excluir do cálculo dos honorários advocatícios de sucumbência as prestações vincendas. É como voto É como voto. 6

7 APELANTE : INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE APELADO : JOSÉ CARLOS DOS SANTOS ADV/PROC : MARCOS ANTONIO INÁCIO DA SILVA e outros REMTE : JUÍZO DA 3ª VARA FEDERAL DA PARAÍBA (JOÃO PESSOA) - COMPETENTE P/ EXEC. PENAIS RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO EMENTA PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. CELETISTA. APOSENTADORIA ESPECIAL. ATIVIDADE EXERCIDA SOB CONDIÇÕES ESPECIAIS. EXPOSIÇÃO À ELETRICIDADE. PRESUNÇÃO LEGAL. PPP E LTCAT. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. A comprovação do tempo de serviço especial deverá ser efetuada de acordo com a legislação vigente à época em que o serviço foi prestado, por aplicação do princípio tempus regit actum. 2. Antes da edição da Lei nº 9.032, de , que alterou os artigos 57 e 58 da Lei nº 8.213/91, estabelecia-se que a comprovação do exercício de atividades em condições insalubres dar-se-ia mediante os formulários DSS 8030 (SB-40); outrossim, bastava que a atividade exercida pelo trabalhador, ou que a substância fosse prejudicial à sua saúde, estivesse contida no rol do Decreto nº /64 ou de nº /79, dispensando-se, inclusive, a apresentação de laudo técnico. 3. Prova do caráter especial das atividades de auxiliar técnico I, técnico distribuição, técnico eletrotécnico e supervisor de projeto cadastro de distribuição", que podem ser equiparadas à de eletricista, por serem análogas a esta, estando em consonância com o item 1.1.8, do Decreto /64, prevalecendo a presunção legal decorrente do exercício da atividade profissional, e pela existência do contrato lavrado na Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, (fl. 15); isso, e mais o Perfil Profissiográfico Previdenciário PPP (fls. 18/21) e Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho - LTCAT acostados aos autos às fls.22/25, que são suficientes do fato da exposição a fatores de risco (acidentes por choque elétrico tensão superior a 250 volts), de modo contínuo e 7

8 permanente, no período de a , quando então empregada da Empresa Energisa Paraíba. 4. Tempo de serviço que o Autor demonstra ter exercido, que é suficiente -mais de 25 anos-, para a concessão de aposentadoria pleiteada. A data do início do benefício da aposentadoria DIB é a do requerimento administrativo. 5. Critérios de atualização monetária, remuneração da mora e honorários advocatícios mantidos, como fixados na sentença, pelos índices oficiais da caderneta de poupança, uma vez que a ação foi ajuizada após a edição da Lei nº /09, e em 10%, do valor da condenação, observados, no entanto, os limites da Súmula nº 111, do STJ. 6. Apelação improvida e Remessa Necessária provida, em parte, apenas para que sejam excluídas do cálculo dos honorários advocatícios de sucumbência as prestações vincendas. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à Apelação e dar provimento, em parte, à Remessa Necessária, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife (PE), 25 de outubro de 2012 (data do julgamento). Desembargador Federal Geraldo Apoliano Relator 8