Faculdade de Formação de Professores UERJ.
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- Victorio Madeira Sousa
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1 Luiz Rafael Gomes Faculdade de Formação de Professores UERJ ÁFRICA, NOVAS VISÕES: REORDENADO AS VISÕES SOBRE O CONTINENTE PARA UM ENSINO CONSCIENTE E CONTUNDENTE. Resumo: Este trabalho tem como base dois textos propostos pelo Professor Doutor Denílson de Araujo no decorre do curso de Organização do Espaço Geográfico Mundial II ministrado na graduação em Geografia da Faculdade de formação de Professores. Os textos são Novas base para o ensino da história da África no Brasil de Carlos Moore e Da Aethiopia à África: as ideias de África, do medievo europeu a idade moderna de Anderson Ribeiro e também o texto de um grupo de estudantes de Goiânia chamado Representações da África e da população negra nos livros didáticos de Geografia. A partir da abordagem dos autores será estabelecido um apanhado de suas principais ideias e uma analise critica de suas divergências e convergências e seus pensamentos a respeito da África e de seu ensino na escola básica. Palavras-chaves: África, Ensino, Imaginário. Começarmos com o texto publicado na Revista de História e Estudos Culturais de numero quatro, cuja autoria é de Anderson Ribeiro Oliveira. O texto de Anderson tem como objetivo nos mostrar as principais representações elaboradas no período medieval na Europa sobre a África, até a era moderna. Demonstrando as singularidades e conexões dessas construções no imaginário, estabelecidas pelos europeus. As características que mais evidenciam esses olhares e construções subjetivas são baseadas em um etnocentrismo que se
2 apóia muitas vezes em um sentido de superioridade, sobre as organizações sócio/cultural encontradas no continente africano. Dessa forma os conjuntos de representações visualizados existem dentro de um grupo de sínteses de valores e imagens, que dialogam oram bem hora não com os elementos presente entre todos os tempos. Os textos europeus mais antigos a respeito da África só fazem referencia a uma região do continente, determinada hoje como África subsaariana, localizada na região setentrional. Para os Romanos, de conceitos ideológicos e sociais totalmente militar/expansionista, a África era apenas mais uma de suas províncias, seus habitantes chamados de africane eram passiveis de serem escravizados. Os termos romanos afri e africane podem ter dado origem ao termo empregado atualmente. Entretanto existem outras origens, uma faz referencia a uma possível explicação da tonalidade diferenciada de seus habitantes, pois em latim a palavra África significa lugar ensolarado. As idéias de uma região de calor intenso, e as possíveis influências causadas pelo clima nas dimensões físicas das sociedades, o que abaixo da linha do equador somente criaturas não humanas poderiam sobreviver, são um dos elementos chave para se compreender as explicações dos teólogos e geógrafos medievais europeus e viajantes sobre o continente ao sul da Europa. Próximo d ano mil as referencias sobre a Aethiopia, como era conhecida a África na Europa nesse presente histórico, estavam totalmente impregnadas pelo imaginário da cristandade. Com o nascimento das interpretações teológico cristãs e a difusão das teorias camita estabelecia uma explicação sobre a origem das populações negro-africanas, associando a imagem de que a cor negra representaria a maldade em seu estágio demoníaco. Isso ajudou a afirmar o desprestigio cultural e geográfico atribuído pela
3 tradição greco-romana. O autor nos da um breve resumo dos aspectos principais da teoria camita: De acordo com o Livro Bíblico do Gênesis, Cam, o mais novo dos filhos de Noé, flagrou seu pai nu e embriagado após uma colheita de uvas, já na era pós-diluviana. Como não poderia ser punido pela sua descompostura, pois era abençoada por Deus, sua imperícia ao profanar a nudez do pai e ao denunciá-la aos irmãos. Jafet e Sem, resultou em um destino de servidão para Cannaã, um de seus filhos. Este deveria se tornar servo de Jafet e Sem. (OLIVA; 2008; p.4). Ainda segundo Anderson: os efeitos interpretativos da sentença proferida por Noé tiveram prolongamentos que, no mundo imaginário do medievo, lançaram os africanos para um dos mais nocivos espaços de entendimento do Outro construído no Ocidente. Com a queda de Cam as conseqüências de sua imperícia foram prolongadas por todas as suas gerações, para alguns estudiosos do cristianismo, a partir do século IV, os descendentes de Cam teriam ido povoar a região ao sul da Síria, originando os povos da região. Assim os moradores da África seriam todos descendentes de Cam e por conseqüência levariam sua marca de servidão, uma parte dessas interpretações também foram compartilhadas ente mulçumanos e judeus, que juntamente com europeus se apropriaram dessa idéia para escravizar os povos do continente africano, estabelecendo o primeiro grande período de escravidão. Dessa maneira a África é o único lugar do plante onde seres humanos foram submetidos a sistêmicas experiências de escravidão racial e do tráfico em grande escala em uma articulação transoceânica Moore nos diz que: As deportações violentas de africanos foram metodicamente organizadas, primeiro, pelos árabes do Oriente Médio, desde o século VIII até o século XIX D.C., com ampla participação dos iranianos, persas e turcos, A partir de 1500 até a segunda metade do século XIX, foram os povos da Europa Ocidental
4 que protagonizaram o tráfico negreiro, através do oceano Atlântico. (MOORE; 2008; p. 167) A escravidão dos povos africanos se inicia dessa forma por volta do século VIII, ficando na mão dos povos árabes, até o inicio dó período das grandes navegações e do uso de mão de obra escravizada nas colônias européias nas Américas. Que se estendeu até meados do século XIX, com o inicio das revoltas abolicionistas que deu fim a escravidão legitimada pelos estados das metrópoles. Ou seja, os povos africanos permaneceram cerca de 1100 anos sob a submissão de outras nações, servindo de forma perversa como bem entendi a seus bem feitores. Mas também a África, no decorre de sua trajetória de estruturação de seus povos e respectivas sociedades, recorreu a diversos modelos de produção baseados no trabalho escravo, principalmente no período pré-islâmico, ou seja, antes do séc. VIII, e do período pré-colonial já em meados do século XIX. Caracterizando um quadro de escravidão local entre duas épocas de grande escravização por via de atores externos. As formas de escravidão africana são complexas e variadas, quase sempre o que ocorria era o trabalho escravo serviçal, o que não chegava a uma situação de escravidão econômica generalizada sem nunca se estabelecer uma escravidão racial uma vez que os componentes sociais que partilham do mesmo fenótipo. Para Moore: A menos que possa demonstrar o contrário, com base numa análise rigorosamente fincada nas estruturas nas estruturas concertas a África não conheceu um modelo único, perene, e muito menos dominante, de estruturas baseadas na escravidão. Não parece haver surgido um modo de produção dominante sobre o qual tivesse repousado o conjunto da sociedade, como foi o caso da Europa greco-romana, no Oriente Médio e nas Américas baseado no trabalho escravo. (MOORE; 2008; p.197)
5 Outro aspecto citado das ideologias eurocentricas a respeito dos povos provenientes da África era a associação teológica do mal à cor negra, fazendo com que os aethiops termo que entra em declínio no início do século XV com o inicio das expedições européias ao continente - fossem visto como a total inversão dos preceitos cristãos, símbolos da maldade e do pecado. Tal associação vem de uma equivocada interpretação dos ensinos cristãos onde o que representa o mal é a ausência de luz e não a cor negra. Outra associação um tanto com habitual da época relacionava-se com o clima da região, extremamente árido e seco, o que descrevia o Inferno, que seria um lugar de intenso calor e habitada por criaturas monstruosas de pele escura. Ao longo dos séculos esse estranhamento com a cor da pele dessas pessoas foi se dissipando com o aumento do contato e do alargamento das relações entre estes e os outros povos do mundo. O estudo da África e de seus respectivos processos de estruturação social/histórico tem de levar em conta algumas particularidades como: o fato de o continente africano corresponder a 22% da superfície sólida da terra, o que lhe garante uma grande gama de domínios morfoclimaticos; com isso uma variedade topográfica que abarca de grandes savanas, passando por regiões desérticas e incluindo imensas florestas; a complexa estrutura social do continente que chega a contar com mais de 2000 povos de diferentes modos de organização econômico social e expressões tecnológicas diferenciadas; além de ser o berço da humanidade, pois é onde se encontra a mais longa ocupação que se tem noticia de cerca de 2 a 3 milhões de anos até o presente. Dessa forma a historia da humanidade começa exatamente com os primeiros africanos dotados de consciência e sensibilidade, exatamente o oposto da imagem criada pelos europeus de povos animalescos e sem a capacidade da razão por não serem humanos,
6 status só atribuído ao homem branco europeu. Uma das portas de entrada para o ensino da África nas escolas é a apresentação do continente africano como berço da humanidade de vieram as primeiras civilizações, demonstrando para os alunos a importância desse continente para toda a humanidade. A partir de um estudo feito por um grupo de estudantes de Goiânia sobre as representações da África e da população negra nos livros didáticos de geografia, foram constatadas algumas similaridades com os antigos pensamentos europeus e respectivamente algumas heranças da trajetória escravista que têm no nosso país, os estudantes viram que (...) imagens encontradas em obras de Visentini, Vlach e Adas contêm vários estereótipos. (RATTS at all; 2006; p. 51). Onde a África seria representada como: miserável, pobre e selvagem, imagens ligando o negro e a negra à miséria, representação de negros e negros em funções sociais inferiores (RATTS at all; 2006; p. 51.). Além de haver, ainda, diversas representações de negros e negras como escravos. O que mostra claramente como o olhar, até dos intelectuais responsáveis por etapa tão importante na construção do conhecimento que é a produção do material didático utilizado nas escolas, estão completamente associados ao olhar do colonizador. Outro aspecto interessante observada nos livros didáticos analisados, que nos leva a crer no projeto de invisibilização da verdadeira historia africana, é o de que simplesmente não aparecem nos livros à questão da escravização de negros e negros africanos nas Américas, o que apaga fato importante na historia tanto de construção de nosso país, bem como de desmantelamento demográfico/social na África. O ensino da história da África não pode fugir das praticas aplicadas para o ensino da história de outras partes do mundo, entretanto a historia do continente e dos povos africanos é altamente complexa e com diversas
7 singularidades, dessa forma é fundamental uma abordagem transversal, transdisciplinar e de longa duração baseada em uma diacronicidade dupla: que relacione uma diacronicidade intercontinental, que se ocupe dos acontecimentos e dos fluxos de influencias sócio espaciais internos ao continente e outra diacronicidade extracontinental, que estabelece o esclarecimento das relações entre os outros países do mundo com a África. Permitindo dar conta de períodos e fenômenos que até hoje ainda se mantêm na escuridão, como lacunas do conhecimento mundial. De certa forma pela visão negativa da África que predominou em nosso país por tanto tempo, a partir dos fortes legados deixados pelas fontes bibliográficas erudita, que valorizavam o imaginário cristão e a visão do colonizador sobre as feições e capacidades do continente. O que nos causa problemas com o ensino da África contemporânea, uma vez que existam tantos pré-conceitos formados a partir de imaginários que se apegam aos aspectos dos conflitos e da escassez, vistos como panorama geral que serve de interpretação para toda extensão do continente africano. O que marca não só o imaginário de nossos alunos como também impregna argumentos que ganham uma roupagem acadêmica em que a maioria das obras sobra África estão imbuídas sorrateiramente de extremos preconceitos contra civilizações e povos africanos. Moore nos coloca uma evidencia a respeito da verdade quanto à inscrição na historia dos povos africanos, nos dizendo que devemos nos nortear tanto na pesquisa quanto no ensino: Levando em conta tudo o que precede, os estudos sobre a história da África, especificamente no Brasil, deverão ser conduzidos na conjunção de três fatores essenciais: uma alta sensibilidade empática para com a historia dos povos africanos; uma constante preocupação pela atualização e renovação do conhecimento baseado nas novas descobertas cientificas; e uma interdisciplinaridade capaz de entrecruzar os dados mais
8 variados dos diferentes horizontes do conhecimento atual, para se chegar a conclusões que sejam rigorosamente compatíveis com a verdade. (MOORE; 2008; p. 208 a 209) Isso nos da conta que existe a emergência de um novo olhar sobre a África tanto nos preceitos acadêmicos como nos educacionais. Temos de nos desprender do mito da igualdade racial que impregna o imaginário das pessoas invisibilizando todo o processo de escravidão e de luta pelos povos afrodescendentes pelo fim dessa perversidade pratica no Brasil durante quase quatro séculos. Nesse sentido que o professor tem o papel de transformar a verdadeira historia da África e dos povos africanos em um fator democratizante do conhecimento livre dos grilhões do imaginário colonial que a muito serve para a manutenção de formas de pensar equivocadas quando se refere ao olhar sobre o Outro. A educação no Brasil, apesar dos de seus diversos problemas estruturais repleto de intencionalidade por parte das elites gestoras, que tem por pelo menos 20 anos posto em prática o projeto neoliberal de total sucateamento das condições educacionais dos países periféricos, com o objetivo de formar mão de obra dócil e facilmente manipulável por seu sistema de coisas, que dita o ritmo do cotidiano por todo o mundo ainda pode ser compreendida como um, se não o único, mecanismo de transformação social, tendo a possibilidade de desconstruir as ideologias que impõe a inferioridade de negros e negras. Referências Bibliográficas: RATTS, Alecsandro J. P.; RODRIGUES, Ana P. C.; VILELA, Benjamim P.; CIRQUEIRA, Diogo M.: Representações da África e da
9 população negra nos livros didáticos de Geografia, Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral, v.8/9, n. 1, p 45-59, 2207/ OLIVA, Anderson R.: Da Aethiopia à África: As ideias de áfrica, do medievo europeu à idade moderna. Revista de História e Estudos Culturais, v. 5, n 4, AnoV. Outubro, Novembro e Dezembro de MOORE, Carlos: A África que incomoda: sobre a problematização do legado africano no cotidiano brasileiro, cap. 5.Novas bases para o ensino da História da África no Brasil. Belo Horizonte: Nadyala, 2008 FREIRE, Paulo: Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários a Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, FREIRE, Paulo: Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
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