UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ MARIA DE FÁTIMA DOMINGUES FREDERICO UNIDADE DIDÁTICA : CÉLULAS-TRONCO

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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ MARIA DE FÁTIMA DOMINGUES FREDERICO UNIDADE DIDÁTICA : CÉLULAS-TRONCO MARINGÁ DEZEMBRO 2008

2 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: PROFESSOR PDE: Maria de Fátima Domingues Frederico ÁREA PDE: Biologia NÚCLEO: Maringá PROFESSOR ORIENTADOR: Prof. Dr. José Ricardo Penteado Falco IES VINCULADA: Universidade Estadual de Maringá ESCOLA DE IMPLEMENTACÃO: Col. Est. Juscelino K. de Oliveira PÚBLICO DESTINATÁRIO: Alunos do Ensino Médio PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: Unidade temática sobre Células- Tronco. APRESENTAÇÃO Este material é parte integrante das atividades desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Educacional PDE/2008 e é dirigido a alunos do Ensino Médio. Apresenta alguns textos, fruto de pesquisas realizadas sobre a temática Células-Tronco com a intenção de, além do conteúdo específico, propor reflexões e debate acerca da produção e da dinâmica do conhecimento científico, da tecnologia, do impacto destes na sociedade e a importância da participação da sociedade nessas discussões procurando alcançar outros temas, visto que a biotecnologia tem representado uma verdadeira revolução tecnológica nos últimos anos e exigido da sociedade fundamentos e posicionamentos que convergem à administração de políticas públicas. Para iniciar o trabalho com o aluno, propomos a leitura de uma reportagem de Marco Antônio Soalheiro, repórter da agência Brasil, seguida de discussão orientada por questões previamente elaboradas com o objetivo de problematizar e levantar os conhecimentos que os alunos detêm sobre o tema que será abordado nesta unidade. Na seqüência propõe-se a leitura e análise dos textos que compõem esta unidade, procurando diversificar esse trabalho ora com o professor, ora em grupos ou em dupla. Após leitura e discussão de cada texto, os alunos deverão ser estimulados a, individualmente, interagir com o conteúdo, refletir conceitos e posicionamentos iniciais, respondendo de forma escrita as reflexões sugeridas no material ao final de cada texto.

3 Finalmente, após o trabalho com os textos, propomos um debate com toda turma, como estratégia para a socialização e interação dos conhecimentos, oportunizando aos alunos rever os conceitos e posicionamentos iniciais, bem como, elaborar, reelaborar, reforçar, ou somar novos conhecimentos. O debate será provocado inicialmente pelas questões sugeridas na reflexão individual e alimentado com novas questões pensadas para alcançar outros temas que tem se instalado na sociedade neste momento histórico, provocando discussões, em vista dos impactos causados pela biotecnologia. REPORTAGEM Liberação de pesquisa com células-tronco reforça esperança de menino que quer pilotar avião - 30/5/08 Alegria voltou à vida de João Vitor, que sofre de distrofia muscular. Agora ele tem esperança de um dia descobrirem um meio de cura via a pesquisa com células-tronco. Marco Antônio Soalheiro Repórter da Agência Brasil Brasília - João Vítor Freire tem 9 anos e sofre de distrofia muscular. Sorridente em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi levado pelos avós para acompanhar o julgamento que liberou as pesquisas com células-tronco embrionárias, o garoto franzino, sentado na Estátua da Justiça, diz já saber o que deseja caso os estudos lhe permitam a cura da doença degenerativa.

4 Quero ser piloto de avião. Esperançoso de que o neto terá condições de um futuro melhor com o progresso da ciência, a avô de João, Pedro Freire, disse que os ministros tomaram uma decisão favorável ao povo brasileiro. Toda família que passa por um problema desse está feliz e os cientistas brasileiros vêem lutando para nos oferecer uma alternativa. Só quem vive de perto sabe o que é isso. Reportagem disponível em: Acesso em 3 de out.de QUESTIONAMENTOS SUGERIDOS PARA TRABALHAR A REPORTAGEM Você já leu outras reportagens similares à reportagem apresentada? Você já leu ou ouviu sobre o julgamento de que fala a reportagem? Você conhece alguém que sofra de distrofia muscular? O que você sabe sobre esta doença? O que você sabe sobre células-tronco (CT)? O julgamento citado na reportagem se referia a qual tipo de CT? Você na época também torceu pela liberação das pesquisas com CTE ou conheceu alguém que estava torcendo por isso? Qual a sua opinião sobre a liberação das pesquisas com CTE? O garoto da reportagem diz querer ser piloto de avião, caso os estudos lhe permita a cura da doença degenerativa. O que o garoto quis dizer com isso? Você acha válida a esperança do garoto? Pedro Freire, o avô do menino, disse que os ministros tomaram uma decisão favorável ao povo brasileiro. Você concorda com isso? Justifique. Pela reportagem você acha que o autor era contra ou a favor da liberação das pesquisas com CTE? Justifique. Que intenção você acha que o repórter Marco Antônio Soalheiro teve ao escrever essa reportagem? Qual a sua posição frente a profissionais que usa a imprensa para outros fins que não a informação?

5 Como você vê o papel da imprensa frente a assuntos polêmicos como esse? TEXTO I DA FECUNDAÇÃO ÀS CÉLULAS-TRONCO Relembrando, o desenvolvimento embrionário humano consiste num desenrolar sucessivo de eventos que são didaticamente divididos em etapas. Inicia-se com a fecundação, momento que o espermatozóide penetra o ovócito e ocorre a fusão dos núcleos celulares, restabelecendo o número diplóide de cromossomos na célula formada, o zigoto. Com a formação do zigoto, após algumas horas, tem início as clivagens, que são repetidas divisões mitóticas. Primeiro o zigoto se divide em duas células que se dividem em quatro, oito e assim sucessivamente. As clivagens acontecem durante a passagem do zigoto, que continua dentro da zona pelúcida, pela tuba uterina em direção ao útero. As células originadas dessas divisões são chamadas blastômeros. Por volta do terceiro dia, forma-se a mórula, uma massa sólida, com mais ou menos dezesseis blastômeros. A mórula chega ao útero e líquidos, ali existentes, penetram entre suas células e começa aparecer espaços cheios de líquido. No quarto dia esses espaços fundem-se formando uma cavidade com líquido denominada blastocela ou cavidade blastocística, separando as células em duas porções: uma mais externa chamada trofoblasto, outra mais interna chamada embrioblasto. O trofoblasto originará parte da placenta e anexos embrionários, o embrioblasto que é a camada celular interna, dará origem a todos os tecidos embrionários, o embrião propriamente dito. Nesse momento, o embrião tem cerca de 64 células e alcança a fase de blastocisto. São essas as chamadas CTE, que são alvo de toda polêmica que tem levado estudiosos, juristas, políticos e cidadãos comuns a discutirem entorno da liberação de sua pesquisa, enfrentando questões éticas que surgiram nas discussões com os diferentes segmentos sociais. De acordo com a lei brasileira, é na fase de blastocisto que podem ser retiradas as célulastronco, em embriões congelados há mais de três anos em clínicas de reprodução assistida e com a permissão dos pais. Na seqüência, por volta do quinto ou sexto dia, ocorre a degeneração e desaparecimento da zona pelúcida e o blastocisto, até então livre nas secreções uterinas, estabelece contato com o epitélio endometrial através do trofoblasto que invade e penetra no endométrio uterino promovendo uma implantação superficial e então, o blastocisto passa a nutrir-se dos tecidos maternos. A implantação do blastocisto na parede uterina é um evento conhecido por nidação.

6 Na segunda semana, a implantação do blastocisto se completa e inicia-se a formação da cavidade amniótica, do saco vitelínico e do disco embrionário bilaminar. A partir daí inicia-se a gastrulação, a morfogênese, e o disco embrionário bilaminar é convertido em disco embrionário trilaminar. Cada uma dessas três camadas germinativas origina tecidos e órgãos específicos do embrião: * O ectoderma dará origem à epiderme e anexos, sistema nervoso central e periférico, aos epitélios sensoriais do olho, aparelho auditivo e nariz, às glândulas mamárias, hipófise e glândulas subcutâneas. * O mesoderma dará origem ao tecido conjuntivo, cartilagem, ossos, músculos lisos e estriados, coração, vasos sanguíneos e linfáticos, rins, ovários e testículos, membranas serosas, baço e córtex adrenal. * O endoderma dará origem ao revestimento epitelial do trato gastrintestinal e respiratório, tireóide, paratireóide, timo, fígado e pâncreas, revestimento epitelial da bexiga e grande parte da uretra e da cavidade timpânica. QUESTÃO PARA REFLETIR Revendo os eventos do desenvolvimento embrionário humano em que momento você entende o início da vida? BIBLIOGRAFIA CONSULTADA KAVALCO, Karine. Desenvolvimento Embrionário Humano. Unioeste Disponível em em 30 ago MOORE, Keith L; PERSAUD, T. V. N. Embriologia Clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A TEXTO II CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS (CTE)

7 Para entender melhor a CTE, vamos relembrar que o processo de divisão celular é essencial à vida e que num indivíduo adulto existem em média 75 trilhões de células, organizadas em mais de 200 tipos celulares diferentes, todas originadas das células-tronco embrionárias. As CTE são células que possuem a capacidade de, diferenciando-se, originar os diferentes tecidos que constituem o organismo e ainda gerarem cópias idênticas a si mesmas promovendo a sua auto-replicação. Não se tem conhecimentos ainda que assegure, aos cientistas, o real controle dos procedimentos que, pelo comando genético, encaminha uma CT a entrar em diferenciação e produzir células que vão formar os diferentes tecidos ou formar células que permanecem como CT. Sabe-se que quanto maior o tempo que uma célula pode se manter indiferenciada em laboratório, maior será a sua capacidade de se transformar em uma célula específica, útil para um tratamento de saúde. Essa versatilidade plena só existe no embrião, fruto das primeiras divisões até 64 células. As CTE são denominadas totipotentes quando resultantes das primeiras divisões do zigoto até pelo menos a fase de oito células e são capazes de originar todos os tecidos do embrião, a placenta e os anexos embrionários, enfim são capazes de originar um novo embrião; são denominadas pluripotentes quando capazes de originar os diferentes tecidos do embrião com funções específicas, com exceção da placenta e anexos embrionários e surgem a partir do quinto dia de desenvolvimento embrionário constituindo a massa celular interna do blastocisto. A retirada das células da camada interna do blastocisto inviabiliza o desenvolvimento do embrião, isto é, não tem como retirar parte dessas células e processar-se normalmente o desenvolvimento embrionário. É esta a situação problema que levou alguns segmentos da sociedade, através da imprensa, refletir e repensar algumas verdades exigindo da comunidade científica explicações que movimentou estudiosos de diferentes áreas a rediscutir conceitos. Estas células são conhecidas há muito, mas somente a pouco mais de duas décadas estudiosos conseguiram retirar CTE da camada interna do blastocisto de camundongos e desenvolvêlas em laboratório para estudos. Os cientistas perceberam que estas células, in vitro, podem se proliferar indeterminadamente sem se diferenciar ou, se alteradas as condições de cultivo podem também se diferenciar. Uma conquista a partir desses estudos foi definir condições essenciais na obtenção do controle para que as células do camundongo proliferassem ou continuassem indiferenciadas, mas, por outro lado controlar o ritmo com que as CT se proliferam ainda não foi conquistado e em ratos essa proliferação é grande e rápida e, sem controle, podem dar origem a tumores. O conhecimento para direcionar e controlar os processos de proliferação e diferenciação das CTE viabilizará avanços incalculáveis para a medicina e para a bioengenharia. Com relação as CTE humanas, cientistas da universidade de Wisconsin (EUA) conseguiram em 1998 isolar e cultivar as primeiras CTE humanas. Detentoras da capacidade de se diferenciar nos

8 diversos tipos de tecidos que formam o ser humano quando em cultura com estímulos apropriados, ou permanecer indiferenciadas indefinidamente quando cultivadas sobre camada de células alimentadoras formadas por fibroblastos embrionários murinos; essas células são a esperança para a cura de doenças ainda não contempladas pela medicina. Dez anos após esses cientistas dos EUA terem isolado e cultivado as primeiras célulastronco humanas e quatro meses após a liberação das pesquisas com CTE pela justiça brasileira, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) produziram as primeiras CTE humanas no Brasil. Essa pesquisa iniciou em 2006, depois da aprovação da Lei de Biossegurança em 2005, e apenas agora a pesquisadora responsável pelo grupo, Lygia da Veiga Pereira, diz poder afirmar que as células produzidas são realmente CTE e que também já conseguiram a partir delas, células musculares e neurônios. Por outro lado, muitas dificuldades terão ainda que ser vencidas pois segundo ZAGO: Embora as células-tronco embrionárias possuam considerável potencial terapêutico, vários obstáculos precisam ser superados antes de qualquer aplicação clínica. O mais importante é representado pela observação de que todos os métodos de diferenciação empregados até o momento não produzem populações com 100% de pureza em termos de maturação. Este fato, por si, impede a utilização clínica destas células visto que células indiferenciadas ou comprometidas com mais de uma linhagem celular podem originar a formação de teratomas (tumores embrionários). Outro obstáculo é representado pela imunorreatividade destas células que podem ser rejeitadas pelo hospedeiro, necessitando da utilização de terapias imunossupressoras concomitantes.. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Imagine-se trabalhando com CTE e reflita como deve ser a vida de um cientista relacionando alguns adjetivos que certamente ajudam a qualificar para você, esse profissional. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA CARVALHO,Antonio Carlos Campos de. Célula-tronco é promessa para medicina do futuro. In Com Ciência. 10 fev Disponível em: Acesso em: 15 maio ZAGO,Marco A; COVAS, Dimas T. Pesquisas com Células-tronco: Aspectos Científicos, Éticos e Sociais. São Paulo, Disponível em: %20c%C3%A9lulas%20tronco.pdf. Acesso em: 6 jun FERREIRA, Lilian. Primeiras células-tronco brasileiras são desenvolvidas pela USP. São Paulo Disponível em: Acesso em 30 set

9 TEXTO III CÉLULAS-TRONCO ADULTAS Células-tronco adultas (CTA), também conhecidas por células-tronco somáticas, são células encontradas em tecidos do indivíduo adulto, no sangue do cordão umbilical e da placenta. Possuem a capacidade de auto-renovação por longos períodos e podem se diferenciar em células com funções específicas desempenhando dessa forma, papel importante na manutenção e regeneração se necessário, dos tecidos onde estão situadas. A princípio, as CTA eram consideradas multipotentes, capazes de gerar células do tecido ou órgão onde se encontram, porém muitos experimentos mostram que essas células são também pluripotentes, geram células de outros tecidos e órgãos. A plasticidade da CTA ainda é questionada e vista com certo desalinho por alguns pesquisadores quando comparada com a plasticidade das CTE. Alguns pesquisadores defendem que a pluripotencialidade dessas células é fato restrito para alguns tipos de CTA sendo portanto limitada a aplicação médica. Desde 1940 já se tem conhecimento de que células indiferenciadas, presentes na medula óssea, fazem a reposição de células maduras do sangue que constantemente vão sendo eliminadas. Sabe-se que existem populações distintas de CTA na medula óssea e as mais estudadas e melhor caracterizadas são as CT hematopoéticas, progenitoras das células do sangue. Atualmente, fruto de muitas pesquisas e experimentações, está comprovado que numerosos tecidos humanos possuem uma reserva de CTA e que são utilizadas na manutenção e reparo dos tecidos onde se encontram como é o caso de CT da pele, da mucosa intestinal, cérebro, fígado, pâncreas, córnea, retina, músculos e sistema nervoso. Pesquisas recentes mostram também, que o sangue do cordão umbilical (SCU) e da placenta é rico em CTA e está sendo alvo de muitos estudos para conhecer e melhor explorar a potencialidade dessas células. A utilização dessas células tem sido largamente empregada no tratamento de doenças hematológicas neoplásicas como leucemias, linfomas e mielomas e algumas doenças benignas como talassemias e anemia falciforme. No caso de transplante autólogo, que não existe o risco de rejeição; já foi criado desde 2001 o primeiro Banco de Sangue de Cordão Umbilical Privado no Brasil, embora o primeiro transplante autólogo tenha ocorrido antes, em No caso de transplantes heterólogo onde é previstos problemas de compatibilidade entre as CT do SCU do doador e do receptor, já foram criados bancos públicos de cordão umbilical procurando estocar o maior número de amostras de SCU ampliando desta forma as condições para sanar as necessidades impostas pela questão da compatibilidade.

10 De todas as CTA estudadas as CT mesenquimais, derivadas de fontes diversas, são as células que possuem maior capacidade de diferenciação. Experimentos realizados em humanos, com células-tronco mesenquimais obtidas a partir da medula óssea mostrou que essas células in vitro, foram capazes de diferenciarem-se em adipócitos, condrócitos, osteoblastos e miócitos. Na atualidade, a indicação e utilização de terapias com CTA em algumas áreas da medicina como as aplicações em cardiologia e neurologia tem apresentado resultados positivos porém, muitos procedimentos tem que ser otimizados e os pesquisadores ainda tem muito trabalho pela frente que dentre outros, devem direcionar o uso de tipos celulares mais adequados para cada situação clínica, investigar formas mais práticas e eficientes na administração das células-tronco e buscar maior precisão do destino dessas células para segurança e eficácia dos tratamentos. QUESTÕES PARA REFLEXÃO Você acha que as pesquisas com células-tronco poderiam ser realizadas só com CTA, sem prejuízos na produção de conhecimentos que podem encaminhar procedimentos médicos capazes de salvar vidas? Se você fosse um dos votantes no congresso na questão da liberação das pesquisas com CTE, qual seria a justificativa para o seu voto? BIBLIOGRAFIA CONSULTADA OKAMOTO,Osvaldo Keith; CAMPOS Alexandre Holthausen. Perspectivas em terapia celular: células-tronco. São Paulo, Disponível em: ar.pdf. Acesso em: 4 set ZAGO,Marco A; COVAS, Dimas T. Pesquisas com Células-tronco: Aspectos Científicos, Éticos e Sociais. São Paulo, Disponível em: %20c%C3%A9lulas%20tronco.pdf. Acesso em: 6 jun AGUIAR, Regina A. L. Pessoa de. Células-tronco e o futuro da medicina do presente. Minas Gerais, Disponível em: Acesso em: 4 set SUGESTÕES DE LEITURAS

11 AMABIS, José Mariano; MARTHO Gilberto Rodrigues. Biologia Biologia das Células. 2 ed. Capítulo 14, p. 304 a 316. São Paulo: Editora Moderna, LEMES,Conceição. Nature: fabricação de coração em laboratório avança com pesquisas de células-tronco embrionárias. Santa Catarina, 2008.Disponível em: Acesso em 23 set TEXTO IV ENTENDENDO A POLÊMICA SOBRE CÉLULAS-TRONCO Em março de 2005, é aprovada a LEI N , Lei de Biossegurança, que no seu artigo 5. autoriza a utilização de CTE obtidas de embriões humanos oriundas de fertilização in vitro, desde que sejam embriões inviáveis ou que estejam congelados a pelo menos três anos. Nas duas situações é necessário o consentimento dos genitores. A lei ainda faz ressalvas às instituições que vão se ocupar da pesquisa ou terapia com CTE provenientes do ser humano, estas deverão submeter seus projetos à apreciação e avaliação dos comitês de ética em pesquisa e também veda a comercialização do citado material. Ainda em 2005, o Procurador Geral da República Claudio Fonteles entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade da Lei de Biossegurança, que veiculava a declaração de inconstitucionalidade da íntegra do artigo 5. da lei , alegando que a autorização prevista nesse artigo fere o direito à vida garantido também no artigo 5 da Constituição Federal. A partir desse momento, essa questão tomou grande espaço na mídia que, procurou retratála com freqüência, evidenciando a sua própria dificuldade em abordar este assunto altamente complexo por versar sobre temática que implica em valores éticos e morais, porém, sabe-se que é necessário o papel educativo da imprensa na busca de uma sociedade apta a conhecer, questionar e elaborar novas práticas e conceitos que a ciência tem nos proporcionado em ritmo acelerado, e que trazem em seu seio muitos conflitos bioéticos. A discussão sobre o uso de CT em pesquisas na busca por conhecimentos e procedimentos que venham encaminhar o tratamento e cura de algumas enfermidades até então inexistentes, não recaem no uso de CTA, mas no uso de CTE provenientes do embrião humano porque para isso, a retirada das CTE é feita com o sacrifício do embrião, momento em que se estabelece um dilema ético. Enquanto para muitos a retirada das CTE viola o direito à vida pois defendem a concepção de que a vida se inicia na fecundação e, portanto, o embrião já é um ser humano; para outros que não

12 vêem o momento da concepção como início da vida, a questão não transgride o direito à vida e portanto não fere a CF. Este é o ponto fundamental do embate que se instalou na luta para se liberar ou não liberar as pesquisas com CTE humanas e que encontra muitos impedimentos, seja de natureza ética, seja pelo fato das pesquisas com essas células estarem em uma fase inicial e ainda não serem convincentes quanto a sua necessidade. Desta forma tem-se de um lado, uma corrente favorável à liberação das pesquisas com CTE e do outro lado uma corrente contrária, representada não somente por religiosos, mas também por outros profissionais. Esta dualidade evidencia a dificuldade dos juristas frente à polêmica e diante disso o STF convoca especialistas em diferentes áreas do conhecimento para uma audiência pública no intuito de debater sobre o ponto central da problemática: o início da vida humana. Cientistas, religiosos, juristas, neurocientistas, sociólogos e outros profissionais afins defenderam suas posições alicerçadas no conhecimento científico que detém, integrada aos princípios éticos e morais inerentes a cada um, reforçando a complexidade e a dualidade que este embate institui. O processo de formação e desenvolvimento humano, segundo os biólogos, é contínuo, coordenado e progressivo desde a fecundação, momento que se dá a receita para a criação de um novo ser humano. Para católicos, alguns protestantes, alguns juristas, embriologistas, alguns filósofos e sociólogos predomina esta visão e portanto defendem a não liberação das CTEs às pesquisas. Parte dos geneticistas e fisiologistas consultados defendem que o início da vida corresponde ao momento da nidação e então, até aí, as CTEs poderiam ser utilizadas. Grande parte dos neurocientistas e juristas considerando o conceito de morte encefálica que diz que uma pessoa morre quando seu cérebro pára de funcionar, defendem que, por analogia, a vida só acontece quando o cérebro começa a ser formado, isso em torno de duas semanas. Outros neurocientistas vêem o início da vida humana somente com o início das sensações pelo feto, fato que ocorrerá por volta de 27 semanas quando o cérebro já está mais desenvolvido. Para alguns juristas, os direitos da criança são adquiridos apenas após o nascimento, idéia também defendida por alguns filósofos e parte significativa do pensamento judaico. Uma questão também explorada nesse embate diz respeito aos embriões excedentários, produzidos in vitro. De um lado surgem questionamentos sobre porque não usá-los se, em algum momento, eles não serão mais utilizados para seu fim primeiro ou serão descartados, do outro lado reforça-se o fato de que fecundadas as células sexuais, o zigoto já merece o direito de preservação a vida e a dignidade, levantando aqui outras polêmicas com relação a clínicas de fertilização assistida, destino de embriões excedentários e a criopreservação dos mesmos. Muitos cientistas favoráveis às pesquisas com CTE, além das perspectivas de futuros tratamentos e curas de algumas doenças vislumbram através desses estudos entendimento de como

13 essas células, naturalmente, se transformam nas centenas de células diferentes de que somos feitos para avançar nos estudos e entender de vez o câncer e alguns defeitos de nascença, patologias que ocorrem em alguma parte desse processo. Para eles, proibir pesquisa com CTE, seria adotar uma postura arbitrária que acabaria por violar o direito à pesquisa, que é também direito protegido pelo Estado, prejudicando desse modo, o avanço da ciência. Essa corrente, procura fazer algumas considerações, utilizando-se do fato de pessoas que sofrem de enfermidades letais ou condenadas a uma vida vegetativa. Defendem as pesquisas com CTE enfatizando assim respeito a vida e a dignidade de se viver com saúde em lugar de defender a vida de embriões in vitro que têm grandes possibilidades de com o tempo, serem descartados. Profissionais da corrente contrária fazem alusões ao patrimônio genético recebido no momento da fecundação reforçando que o genoma do novo ser vivo já contém programa completo para o embrião, não é um pré-embrião, mas sim, o estágio inicial de uma vida que já existe. Discutem, também, que muitos países se ocupam mais com pesquisas com CTA e que as mesmas têm produzido conhecimentos que se pensava ser possível somente com as CTE. Alguns colocam ainda, ser providencial e nada ético utilizar classificações didáticas para remanejar o marco inicial da vida e a partir daí executar atos contra o seu desenvolvimento. Como vimos, são muito diversificadas as opiniões, mesmo num meio onde os conhecimentos são cientificamente embasados por profissionais de diferentes especialidades demonstrando a dificuldade de englobar conceitos e definir limites quando a questão envolve valores éticos e morais. Ao mesmo tempo, temos claro que este momento exige, uma sociedade mais comprometida com a avaliação dos impactos das biotecnologias, que, nos últimos tempos, tem nos surpreendido e gerado mudanças na forma de pensar e atuar enquanto cidadão, nos cobrando a necessidade de estar constantemente buscando conhecimento e nos preparando para participar e argumentar com fundamento sobre outros conflitos bioéticos que estão por vir de forma a contribuir com discussões que podem encaminhar políticas públicas para pesquisa, ciência e tecnologia na perspectiva de uma sociedade mais justa e humana. Procuramos, através desta pesquisa, alertar para alguns conceitos, opiniões e estudos para que o leitor possa não apenas compreender, mas formar uma opinião embasada nos argumentos de especialistas no assunto visto que, principalmente no Brasil o pluralismo cultural gera diversas concepções de peso para a formação humanística considerando os valores, a ética e os princípios morais inerentes a cada um. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

14 RODRIGUES, Igor de Souza; RODRIGUES, Mariana de Souza. Um Questionamento dos avanços no campo medicinal: A utilização de células-tronco embrionárias sob uma perspectiva dialética Disponível em: oconst&id=388:umqpdf. Acesso em 4 set FILHO, Euclides Antonio dos Santos. O Supremo Tribunal Federal, Células-tronco e o início da vida humana. Rio Grande do Sul, Disponível em: Acesso em: 4 set SARAI, Leandro. Aplicação terapêutica das células-tronco embrionárias: reflexões sobre o direito à vida. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n.15, maio Disponível em: < Acesso em: 23 set SUGESTÃO DE LEITURA BRASIL. Audiência Pública do STF sobre começo da Vida Disponível em: Acesso em set PROPOSTA DE TRABALHO FINAL COM A UNIDADE DIDÁTICA Após a leitura individual, discutir em duplas as principais idéias apresentadas neste último texto. Na seqüência, contribua com as idéias construídas a partir das leituras e reflexões dos textos anteriores, participando ativamente do debate proposto como atividade final desta unidade buscando uma postura argumentativa, participativa e ao mesmo tempo aberta a mudanças de opiniões desde que oriundas de argumentos embasados cientificamente, convincentes e que respeitem os valores considerados éticos e morais por você. QUESTÕES SUGERIDAS PARA ORIENTAR O DEBATE FINAL - O blastocisto é um ser humano? - Qual o número de células que define um ser humano? - A partir de que momento se considera que o ser humano existe? - O sacrifício do embrião viola o direito à vida? - O óvulo fecundado in vitro é considerado como vida ou essa só ocorre com o implante no útero? - O que diferencia o espermatozóide separado do óvulo e o óvulo fecundado? - Se o óvulo fecundado é inviolável, por que o óvulo e o espermatozóide também não são?

15 - Se considerarmos que o homem pode dispor de seu esperma e a mulher de seu óvulo, por que ambos não podem dispor do zigoto que produziram? - Se podem impedir a concepção, por que não poderiam destruir o que foi produzido? - O fato de produzir embriões excedentários em clínicas de fertilização mesmo que criopreservados não seria anti-ético para nós? - Será que a resposta sobre o que seria a vida poderia ser simplesmente decisão da maioria? - A vontade da maioria valeria para qualquer tipo de questão? - Bastaria a vontade da maioria para impor qualquer regra ao grupo? - Você acha que a ciência pode promover a discriminação social? Justifique. - Na nossa sociedade a ciência está a serviço de quem? -Todas as tecnologias oriundas de pesquisas científicas alcançam toda população? Quais alcançam? Quais não alcançam? -Como você acha que deveria ser o acesso das tecnologias que promovem a saúde e bem estar social a toda sociedade? - Você tem conhecimento de outras audiências públicas que aconteceram a pedido do STF. Elas são importantes? Justifique. - Que outros conhecimentos e/ou técnicas tem levantado polêmicas calorosas nos últimos anos, fruto do desenvolvimento da biotecnologia? - A ciência consegue responder a todas as questões levantadas pela sociedade sobre um determinado assunto? - Por que os conceitos na ciência mudam com o passar do tempo? - Listem alguns impactos causados à sociedade e ao meio ambiente originados a partir biotecnologias recentes. LEMBRAR: Estas questões possuem respostas baseadas no conhecimento e na moral de modo que podem ser alteradas no decorrer da vida de cada um.