ANEXO I. Inscrição. Instituição: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Acre.

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1 ANEXO I Inscrição Instituição: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Acre. Endereço: Avenida Nações Unidas, 2.604, 7º BEC, Rio Branco-Acre. Executora da Chamada Pública de ATER ( ) Sim ( x ) Não Dados do Agente de ATER: Nome: Dinah Rodrigues Borges Endereço: Conjunto Mascarenhas de Morais, Q.3 C.5, Floresta, Rio Branco-Acre. Telefone: (68) dinah.borges@gmail.com Dados do Pesquisador Embrapa - Acre Nome: Moacir Haverroth Endereço: Avenida Cerejeira, 83. Quadra 25, Casa 31. Loteamento Novo Horizonte Rio Branco - AC Telefone: (68) moacir.haverroth@embrapa.br Dados que identifiquem a prática: Organização da agricultura familiar: Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda Comunidade: Povo Huni kuin (Kaxinawá). dinah.borges@gmail.com (referência) Categoria de boa prática de ATER: Eixo IV. ATER para públicos específicos. Letra b. Povos e Comunidades Tradicionais. 1

2 Idesio Luis Franke Presidente Maria do Socorro Ribeiro da Silva Diretora Técnica Diogo de Lima Sobreira Diretor de Produção Familiar Dinah Rodrigues Borges Chefe da Divisão de Extensão Indígena Parcerias: Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar - Seaprof Secretaria de Estado de Meio Ambiente Instituto Estadual de Mudanças Climáticas Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre AMAAIAC Associação dos Seringueiros, Agricultores e Artesãos dos Kaxinawá de Nova Olinda ASPAKNO. Comissão Pró-Índio do Acre. 2

3 ATER E PESQUISA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO ÂMBITO DO PLANO DE GESTÃO TERRITORIAL E AMBIENTAL DA TERRA INDÍGENA KAXINAWÁ DE NOVA OLINDA Fomento às ações de produção sustentável, valorização cultural e fortalecimento institucional. Execução: Por: Dinah Rodrigues Borges (SEAPROF) e Moacir Haverroth (Embrapa Acre) CONTEXTUALIZAÇÃO Plano de Gestão Territorial e Ambiental: Um Plano de Vida, os Planos de Gestão Territorial e Ambiental consistem em realizar oficinas, in loco, contando com a participação de equipes interinstitucionais, governamentais e não governamentais, com o objetivo de fazer, junto com as comunidades, um levantamento das iniciativas presentes nas Terras Indígenas, indicando os anseios, a vocação produtiva de cada povo e as áreas destinadas a cada uma das atividades exercidas na Terra Indígena. Nessas oficinas itinerantes, discute-se com as comunidades as ações realizadas na Terra Indígena, são abordadas as fragilidades, potencialidades, objetivos a serem alcançados em curto, médio e longo prazo, bem como identificadas e delegadas competências a cada um dos envolvidos na execução das ações. Os planos de Gestão Territorial e Ambiental desempenham duplo papel. De um lado, buscam dialogar com as comunidades indígenas, visando dimensionar seus planejamentos com a realidade das comunidades, o que os ajuda a identificar as suas próprias responsabilidades e a buscar outras parcerias. Deu outro lado, instrumentaliza os entes governamentais com informações precisas de tudo aquilo que consta nas aldeias e 3

4 do que pretendem realizar em conjunto ou, até mesmo, se existem ações exclusivamente de âmbito interno da comunidade. Dessa maneira, os recursos financeiros e humanos são melhor aproveitados, além do amparo legal que tais documentos proporcionam aos técnicos de campo que visitam as aldeias, pois há um estudo prévio dos Planos, o que ajuda a ter uma visão abrangente do que vem sendo trabalhado nas aldeias e, no momento das demandas, compreendê-las e posicionar-se consoante aos Planos de Gestão construídos. Atualmente, os Planos de Gestão fazem parte das políticas públicas do Estado do Acre e, como tal, estarão sendo dialogados e construídos em todas as Terras Indígenas do Estado. Estão previstas ações de monitoramento e avaliação da efetiva execução das propostas existentes nos planos e a definição de ações pontuais onde o Governo do Estado possa atuar como parceiro, como, por exemplo, os recursos financiados no âmbito do BIRD, BNDES e MDA, principais financiadores dos planos de trabalho construídos com as associações e famílias indígenas nas comunidades. Até 2011, a comunidade da TI Kaxinawá de Nova Olinda tinha pouca visibilidade no contexto estadual. A formação dos Agentes Agroflorestais Indígenas, que vem ocorrendo no Acre desde o ano de 1996, não contemplava esse território do Rio Envira e, portanto, não havia Agente Agroflorestal com formação na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda. A produção de alimentos nas aldeias era bastante limitada e restrita à sobrevivência da comunidade, com diversas limitações em quantidade e diversidade, o que comprometia a segurança alimentar da comunidade. Ao final de 2008, iniciou-se uma diálogo entre algumas lideranças da TI Kaxinawá de Nova Olinda e um pesquisador da Embrapa Acre, o qual foi procurado a fim de discutir sobre possíveis soluções visando ao cultivo de duas espécies utilizadas na preparação da bebida ayahuasca, cujo uso estava sendo revitalizado nessa comunidade. A partir dessa demanda inicial, diversas reuniões foram realizadas entre o pesquisador e os moradores da comunidade, tanto na cidade de Feijó quanto nas próprias aldeias, a fim de estruturar um projeto mais amplo que contemplasse diversas outras demandas locais, tendo, como foco, a segurança alimentar, mas também buscando o estudo sobre as 4

5 espécies medicinais e rituais, reforçando a cultura e a medicina consideradas mais tradicionais. Na mesma época, o Governo do Estado do Acre iniciava oficinas de etnozoneamento, nas diversas Terras Indígenas do Estado, incluindo todo o Rio Envira, onde habitam quatro povos indígenas (Shanenawa, Kaxinawá, Kulina e Ashaninka), visando embasar a parte indígena do Zoneamento Ecológico Econômico do Estado que vinha sendo elaborado e implantado no Acre. A partir das oficinas de etnozoneamento nas aldeias, começaram a ser estruturados os Planos de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas do estado, onde constam os chamados planos de vida das comunidades, que procuram organizar as demandas locais indígenas às condições de seus respectivos territórios. Assim, as comunidades passariam a produzir e a praticar atividades extrativistas, entre outras, de acordo com seus próprios planos e amparados por políticas públicas, sempre tendo, como base, os Planos de Gestão das comunidades. Dessa forma, o projeto aqui apresentado foi elaborado de forma participativa, atendendo as principais demandas da comunidade e em parceria entre Embrapa Acre e Governo do Estado do Acre, através de diversas Secretarias. O Objetivo da prática Fomentar a segurança alimentar, potencializar os sistemas agroflorestais, inserir a cadeia produtiva da mandioca e seus derivados, com enfoque no trabalho das mulheres e agentes agroflorestais indígenas, valorizar a organização comunitária e, ao mesmo tempo, apoiar a valorização de conhecimentos locais para a gestão territorial e ambiental das Terras Indígenas (TI). Os Agentes Agroflorestais Indígenas e a importância para o trabalho de ATER 5

6 Os agentes Agroflorestais Indígenas (AAFI) são membros escolhidos pelas suas próprias comunidades para participarem de cursos de formação continuada de iniciativa da organização não governamental Comissão Pró Índio do Acre (CPI-AC) e pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Emater-Acre, onde são capacitados em diversas técnicas de manejo agroflorestal. Só esses agentes têm condições de prestar uma efetiva e eficiente assistência técnica em suas comunidades, pois eles conseguem dialogar mais facilmente com os anciãos indígenas que ainda conhecem sementes, formas ancestrais de cultivo e coleta de produtos florestais. Os AAFI superam uma dificuldade regional de deslocamento e longas distâncias percorridas pelos técnicos da EMATER, o que demanda mais tempo entre os escritórios regionais e as aldeias, além da logística que se emprega nas viagens. Hoje, os AAFI representam o elo das ações de ATER e fomento em Terras Indígenas, são as pessoas de referência no quesito produção sustentável, sendo envolvidos nos mais variados cursos, encontros e oficinas que são ofertados em âmbito estadual e nacional. Por também trabalharem como formadores de opinião dentro de suas comunidades, os AAFI transmitem às novas gerações a real importância de sua cultura, do seu papel perante o Estado, seus deveres e direitos contidos nos instrumentos jurídicos, fomentando a autogestão de suas terras, tornando-os protagonistas de sua própria história. Atividades desenvolvidas pelos AAFI, junto a Extensão Agroflorestal: Aquisição e multiplicação de sementes da tradição nos roçados de terra firme e praia; Produção de mudas para implantação de Sistemas Agroflorestais; Manejo de tracajás; Manejo natural de animais silvestres, com enfoque nas abelhas melíponas; Manejo de caça e pesca, com enfoque no pirarucu; Tratamento do lixo inorgânico; Vigilância e fiscalização do entorno da Terra Indígena; Construção de barragens para criação de peixes e tracajás; 6

7 Nesse sentido, desde 2011, vem sendo implementado um projeto intitulado Etnoconhecimento e Agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda, projeto esse que vem sendo executado, pela Embrapa Acre, em parceria com a EMATER, a fim de fomentar as ações de produção sustentável, voltadas à segurança alimentar na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, valorizando os conhecimentos tradicionais através de ações de intercâmbio e troca de saberes, estudar a agrobiodiversidade e desenvolver ações de melhoria e diversificação da produção agrícola aliando conhecimento tradicional e técnico-científico. TERRA INDÍGENA KAXINAWÁ DE NOVA OLINDA A Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda (TIKNO) foi criada pelo decreto Nº 294, de 29 de outubro de 1991, com superfície de há (vinte e sete mil, quinhentos e trinta e três hectares) e perímetro de m (noventa e nove mil, trezentos e quarenta e oito metros). A vegetação da área é de Floresta Ombrófila Aberta (54.62%) e Floresta Ombrófila Densa (45.38%) (ISA,2010: Atualmente, há quatro aldeias: Nova Olinda, Formoso, Boa Vista e Novo Segredo, com população de 500 pessoas. Está localizada no médio Rio Envira, município de Feijó-AC, Os Kaxinawá de Nova Olinda possuem sua própria organização, através da Associação dos Seringueiros, Agricultores e Artesãos dos Kaxinawá de Nova Olinda ASPAKNO, que tem sido parceira de diversos projetos ligados a instituições públicas, como a EMATER, Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE), Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), Universidade Federal do Acre (UFAC) e EMBRAPA Acre, através do projeto primeiro projeto voltado especificamente aos Kaxinawá (Etnoconhecimento e Agrobiodiversidade entre os Kaxinawá de Nova Olinda). A comunidade Kaxinawá de Nova Olinda vem procurando se organizar, via Associação, nos últimos anos, em busca de maior visibilidade e reforço de sua identidade cultural Huni Kuin (autodenominação dos Kaxinawá), já que a população dessa Terra Indígena se formou a partir de vários núcleos familiares outrora dispersos por antigos 7

8 seringais da região, Seringais Porto Rubim e Nova Olinda na época dos primeiros contatos pacíficos com os brancos na primeira década do século XX, bem como de famílias vindas de outros territórios Kaxinawá. DEPOIMENTOS: DIÁRIO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO DA TI KAXINAWÁ DE NOVA OLINDA, SETEMBRO DE 2015 Atualmente a TI Kaxinawá de Nova Olinda existem 05 aldeias somando aproximadamente 500 pessoas, onde 33 famílias estão cadastradas no Programa de Aquisição de Alimentos PAA. Desde o ano 2012 vem trabalhando com o objetivo de escoar a produção para o mercado do munícipio e hoje estamos realizando os nossos projetos. Isso devido a parceria e apoio que tivemos do governo estadual e federal através da EMATER e EMBRAPA que tem nos acompanhados constantemente através dos projetos, na pessoa de Dinah Borges e Moacir Haverroth. É importante ressaltar que os equipamentos disponibilizados para a Terra Indígena estão sendo útil para o desenvolvimento de nossos trabalhos, principalmente os kits de casa de farinha e o barco, em especial o barco de alumínio de 12 m, que está servindo para o escoamento no período do verão. A TI também agradece o empenho da Assessoria Indígena que vem acompanhando esse processo e avanço nas produções. No momento ainda não estamos distribuindo a produção nas escolas da TI, por motivo que ainda não foi criado o comitê executivo, mas, em 2016 vamos criar essa demanda. 8

9 Escoamento feito em junho de 2015 pelo agricultor Gilberto Fernandes de Matos Liderança da aldeia Nova Olinda. Produção agrícolas, sendo consumida nas brincadeiras tradicionais no período noturno, uma forma de incentivos nas práticas culturais onde é realizada toda quinta-feira pelos professores e alunos da escola Nova Olinda. 9

10 Casa de farinha da aldeia Nova Olinda sendo utilizado constantemente na produção de farinha e goma para serem entregue ao PAA. A esquerda casa de farinha da Boa Vista e a direita engenhoca sendo utilizado na Nova Olinda 10

11 Professor e Tesoureiro da Associação ASPAKNO Aldeni e o agricultor e Artesão Zé Albuquerque fazendo a entrega de produção ao programa PAA em 21/09/2015. Um grande incentivo que a aldeia Nova Olinda vem produzindo é a produção de Artesanatos de Encauchados de vegetais da Amazônia e tecelagem representada pelos seus representantes Zé Albuquerque e Maria Rosemeire Txira. 11

12 Essa produção está sendo a identidade da aldeia Nova Olinda, o seu Fortalecimento e a prática vem gerando e garantindo o desenvolvimento sustentável das famílias Huni Kui da TI, conforme previsto no projeto Prêmio e cultura Indígenas pela FEM. Esta imagem é o momento de Plantio do Amendoim, uma produção que é bastante cultivado na aldeia Nova Olinda, onde as 28 famílias plantam em grande quantidade, o qual serve tanto para a alimentação quanto para a venda. Essa ação vem sendo praticados desde os nossos ancestrais, um dos costumes que nunca foi esquecido pelos Huni Kui de Nova Olinda. 12

13 Resultados Ao longo das diversas atividades desenvolvidas, observou-se que houve o envolvimento direto e participativo dos Kaxinawá em todas as atividades. Entretanto, devido às características diferenciadas de algumas equipes, com maior sensibilidade ao diálogo, maior abertura à conversação ou maior treinamento prévio com metodologias participativas, verificou-se maior envolvimento, participação e integração entre os membros de algumas equipes em relação às demais. Essas diferenças se refletiram nos resultados ou produtos das atividades, onde se percebe que os diferentes pontos de vista (técnicos/pesquisadores e kaxinawá) estão presentes e de forma integrada de maneira mais evidente naquelas atividades em que a participação efetiva ocorreu mais claramente. Para ilustrar, temos, como produto final palpável, um mapa etnopedológico detalhado em alta resolução, onde aparecem dados da caracterização e classificação dos solos da TI do ponto de vista da ciência Pedologia (pesquisadores) e dos kaxinawá, na língua nativa, ou seja, na ciência Hãtxa Kuin (Kaxinawá), incluindo nomenclaturas específicas para relevo e ambientes específicos. Assim, a partir de metodologia participativa e diálogo de saberes, chegou-se a uma terceira visão e perspectiva de gestão, que considera ambas as matrizes de conhecimento, tendo como base um Plano de Gestão da TI dinâmico. Em cada área trabalhada, observou-se evidente melhoria nas práticas de produção de alimentos, buscando quantidade, diversidade e qualidade. Entretanto, o resultado mais importante, em termos gerais, foi a mudança de perspectiva do grupo em relação ao seu potencial, tendo, como referência, sua organização local e sua identidade Huni Kuin. Com isso, uma série de iniciativas passou a impulsionar novas ações em busca da melhoria das condições locais. Em cada aldeia da TI Kaxinawá de Nova Olinda, foi escolhido um representante para exercer a função de Agente Agroflorestal. Essa categoria, reconhecida pelo Governo do Estado do Acre no ano de 2002, é considerada uma ponte importante entre políticas públicas voltadas às Terras Indígenas e seus respectivos povos e as práticas locais baseadas nos costumes e tradições, tendo a facilidade de circular entre esses dois campos e buscando articular as atividades produtivas e extrativistas, aliando à tradição 13

14 conservacionista dos povos indígenas do Acre. Escolhidos os Agentes Agroflorestais das quatro aldeias (Formoso, Nova Olinda, Boa Vista e Novo Segredo), estes passaram a ser um dos principais pontos focais do projeto, tanto para ações da Embrapa Acre como aquelas oriundas de programas específicos do Governo do Estado, mas, que até então, não tinham tido reflexos nessa Terra Indígena. Uma das primeiras ações do projeto, tendo como foco os Agentes Agroflorestais, foi uma programação de visitas à Embrapa Acre, à Comissão Pró-Índio do Acre, onde ocorrem a maior parte dos cursos de formação de Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre, e à UFAC a fim de conhecer os principais trabalhos e pesquisas voltados aos Sistemas Agroflorestais e produção e extrativismo em geral. Em seguida, os quatro Agentes Agroflorestais permaneceram, durante uma semana, numa propriedade de um fruticultor e produtor de mudas de espécies frutíferas (viveirista), parceiro da Embrapa Acre, no município de Capixaba-AC, sob a supervisão de um pesquisador da Embrapa especialista em fruticultura. Nesse local, receberam treinamento intensivo em diversas práticas e tratos culturais ligados à fruticultura, além de técnicas de enxertia de citros, atendendo, assim, a uma demanda importante dos Kaxinawá de Nova Olinda e que daria início e um processo de mudanças nas práticas produtivas em suas aldeias. Durante a execução do projeto, nas viagens de trabalho de campo, diversas oficinas foram realizadas envolvendo jovens kaxinawá das diversas aldeias, mas tendo, sempre, os Agentes Agroflorestais como protagonistas nas atividades. Seguindo metodologia o mais participativa possível, como já descrito acima, foram realizadas oficinas de fitossanidade, visando o diagnóstico e controle das principais doenças e insetos que atingem a produção local, focando nas principais espécies produzidas (banana, macaxeira, amendoim, milho) e frutíferas em geral. Tais atividades foram realizadas em sala e em campo, com demonstrações sobre as diversas práticas de controle, sempre focando em técnicas agroecológicas. Foi feito levantamento conjunto de todas as frutíferas já existentes nas aldeias, analisando diversidade e quantidade, a fim de se planejar a implantação de sistemas agroflorestais (SAF s) didáticos, a partir dos quais os Kaxinawá pudessem planejar seus próprios SAF s. Com isso, foram realizas oficinas 14

15 participativas para implantação de SAF s em cada aldeia, os quais poderiam servir de referência para a implantação de outros. Complementando as ações acima, outras turmas participavam, paralelamente, dos levantamentos, mapeamento e classificação dos solos e cobertura da vegetação da Terra Indígena, a partir do que foram produzidos diversos mapas etnopedológicos e de cobertura de vegetação do tempo e no espaço. Essa base cartográfica é ferramenta importante para complementar os mapas mentais já realizados anteriormente nas oficinas de etnomapeamento/etnozoneamento, pondendo, assim, ser ferramenta fundamental na atualização dos Planos de Gestão pelas comunidades. Em determinados momentos do trabalho, ambas as turmas se juntavam a fim de trocar informações e conhecimentos que estavam sendo abordados, indicando a importância da complementaridade entre os atividades que estavam sendo realizadas. Para as culturas anuais, nesse primeiro momento, foi focado na produção de mandioca ou macaxeira e produção de farinha de mandioca. Foi feito um levantamento das casas de farinha então existentes, as quais eram bastante precárias e pouco usadas devido às condições em que se encontravam, distância dos roçados de mandioca e pouca produção de matéria-prima. A partir desse diagnóstico, foi planejada a implantação de três novas casas de farinha, indo ao encontro de um programa já existente no Governo do Estado, mas adaptando à realidade local. A partir do projeto, foram entregues os equipamentos e materiais de construção que necessitavam de aquisição fora das aldeias e os Kaxinawá construíram as casas utilizando madeira local. Um funcionário da Emater assessorou os kaxinawá na estruturação e montagem de todos os equipamentos. Com essa ação, houve uma decisão importantes entre eles, que seria a retirada de alguma cabeças de gado do entorno das aldeias, que comprometiam a implantação de roçados próximos das aldeias. Com isso, novos roçados foram implantados bem próximos e as casas de farinha construídas no entorno das moradias, aproximando a produção da matéria-prima e a produção da farinha. Novas variedades foram fornecidas pela Embrapa Acre a fim de ampliar a leque de opções e produzir algumas variedades específicas para produção de farinha. Essa alteração na dinâmica espacial dos roçados e das casas de farinha possibilitou um aumento significativo da produção de macaxeira e farinha. Atualmente, 15

16 a produção ocorre cotidianamente, havendo revezamento entre as famílias no uso das casas de farinha. Os quatro Agentes Agroflorestais também participaram de dois importantes intercâmbios. O primeiro foi entre parentes kaxinawá da TI Kaxinawá da Praia do Carapanã, localizada no município vizinho de Tarauacá, acompanhados por um técnico da Embrapa Acre e outro da Comissão Pró-Índio do Acre. Nesta, foram realizadas oficinas conjuntas e trocas de experiências em diversas áreas, como agroflorestas, produção de mel de abelhas sem-ferrão (outra atividades realizada pelo projeto na TI Kaxinawá de Nova Olinda), manejo de tracajás, troca de sementes de espécies tradicionais da cultura kaxinawá entre outras ações. Outro intercâmbio marcante para esses quatro Agentes Agroflorestais foi a viabilização de sua participação na Feira de Sementes dos Krahô, em Tocantins, organizada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, FUNAI e instituições locais. Para tanto, houve apoio direto da Emater, Embrapa Acre, Funai/Coordenação Regional Purus e MDA. Foram acompanhados por uma técnica da Embrapa Acre. Nessa Feira, em Tocantins, os Agentes Agroflorestais Kaxinawá de Nova Olinda se destacaram pela sua participação e forma, inclusive, premiados pela diversidade de sementes que levaram à feira. Essa experiência foi muito importante para suas visões sobre agrobiodiversidade, agroecologia e fortalecimento cultural. Como resultado direto, passaram a organizar um evento na TI Kaxinawá de Nova Olinda, que já ocorria nos meses de maio, tendo, como base, a experiência nessa Feira, ou seja, focando na troca de sementes, mostra da produção local e valorização cultural, onde a cadeia do artesanato também é parte importante. Com isso, passaram a envolver as comunidades das outras Terras Indígenas localizadas ao longo do Rio Envira, no Acre, as quais são convidadas a participar das atividades desse evento anual na aldeia Nova Olinda. A Emater, a partir das ações do projeto, iniciou o cadastramento de famílias das aldeias dentro do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), administrado por esta Secretaria no Acre. Com isso, trinta e três famílias das aldeias da TI Kaxinawá de Nova Olinda passaram a produzir também focando no PAA e, em 2015, iniciaram as primeiras entregas de produção junto ao escritório da Emater do município de Feijó-AC. Para o 16

17 transporte da produção, o Governo do Estado, através da Extensão Indígena da Emater, entregou diversas embarcações de pequeno e grande porte, para os padrões locais, para todas as aldeias. Todas essas ações em conjunto levaram ao aumento e diversificação da produção de alimentos nas aldeias, garantindo a segurança alimentar e ainda propiciando a comercialização de produtos tanto ao PAA quanto no próprio mercado do município de Feijó. A comparação entre as condições gerais de produção nas aldeias da TI Kaxinawá de Nova Olinda entre o início da elaboração do projeto e atualmente demonstram que o impacto foi extremamente positivo, melhorando muito a oferta de alimentos e, consequentemente, a qualidade de vida dos Kaxinawá de Nova Olinda. Entretanto, um resultado importante, mas difícil de ser traduzido, pode ser facilmente percebido por quem acompanhou diretamente a execução do projeto desde o início. Trata-se da autoestima e da organização dos Kaxinawá de Nova Olinda. As associações foram revitalizadas, conseguindo aprovar projetos próprios, já em execução, e renovando as perspectivas de vida na Terra Indígena, aliando produção à conservação da floresta, elemento fundamental à sobrevivência física e cultural dos Kaxinawá. 17

18 Recepção da comunidade por mulheres, aguardando o desembarque da equipe, momento de boas vindas. Casa de farinha das aldeias Boa Vista e Novo Segredo 18

19 Agentes Agroflorestais participando da coleta de mel de abelhas melíponas (sem ferrão) Comunidade participando de oficina sobre classificação de solos. 19

20 Agentes Agroflorestais Indígenas participando de oficinas de implantação de Sistemas Agroflorestais e fruticultura. Agentes Agroflorestais Indígenas participando de mutirão para construção de uma casa de farinha. 20