UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL EM SISTEMA DE GESTÃO SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL EM SISTEMA DE GESTÃO SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUA NO CENTRO DE TREINAMENTO DE COMBATE A INCÊNDIO: ESTUDO DE CASO SAMPLING PLANEJAMENTO Niterói 2009
2 SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUA NO CENTRO DE TREINAMENTO DE COMBATE A INCÊNDIO: ESTUDO DE CASO SAMPLING PLANEJAMENTO Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre. Área de concentração: Meio Ambiente. Orientador: Prof.Fernando Benedicto Mainier, D.Sc Niterói 2009
3 SEVERINO JOAQUIM CORREIA NETO IMPORTÂNCIA DO REÚSO DE ÁGUA NO CENTRO DE TREINAMENTO DE COMBATE A INCÊNDIO: ESTUDO DE CASO SAMPLING PLANEJAMENTO Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre. Área de concentração: Meio Ambiente. Aprovado em : / / BANCA EXAMINADORA: Prof. Fernando Benedicto Mainier, D.Sc ( Orientador) Universidade Federal Fluminense Prof. Pedro Ivo Canesso Guimarães, D.Sc. Universidade Estadual do Rio de Janeiro Prof ª. Luciane Pimentel Costa Monteiro, D.Sc. Universidade Federal Fluminense
4 DEDICATÓRIA A Deus, pela vida e por propiciar tantas oportunidades de estudos e por colocar em meu caminho pessoas amigas, generosas e verdadeiras. A meus pais Josias Tavares e Maria José por ter me ensinado valores como honestidade, sinceridade, ética, legado indispensável na formação de um homem.
5 AGRADECIMENTOS A Deus, pela infinita misericórdia nos momentos de dúvidas e incertezas, foi e sempre será meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Aos meus pais Josias Tavares e Maria José que embora distante torcem por mim através de seu amor incondicional, não poderia deixar de citar meus irmãos Josineide, Josivan, Tavares, Nildo, Janete, Zilda, Lia, Josias, Josinete e Josina (Nô). A minha família em especial minha esposa Angela Silva e meus filhos Winter Darwin e Winnie Kise que nas horas mais críticas entenderam a importância desta dissertação. As minhas primas Lucia, Dina, Jô e Jorgina, que nas horas de maior turbulência sempre me apoiaram. Ao professor Fernando Benedicto Mainier, mostrou-se compreensivo nos momentos de desalento e principalmente, em indicar o caminho do início ao fim, não me deixando desistir, um exemplo de educador simplesmente inesquecível! As amigas inseparáveis Ana Felet, Renata Gouveia, Rosi Cafieiro, Eliane Marugeiro, Renata Barboza, Cristina Menezes, Wilma Terezinha, Shirlei Gonçalves, Danusa Zimermann, Isabella Caruso, Hulda Gouveia e Sonia Amaral. Aos professores do Latec UFF, em especial aos professores Gilson Brito e Cid Alled pela sabedoria e construção do conhecimento. Ao Ministério do pastor Gilson, obrigado pelas orações. Aos parceiros Philipe Araujo, Arthur Rosmaninho, Bruno Cavalcanti e Gabriel Costa pelo apoio técnico, na solicitude das informações da pesquisa. Aos Educadores Marques, Flávio, Luiz Costa, Jader, Balthazar, Gilberto Abreu, Urakitan, Alexandre Bueno, Almeida, José Carlos, Fábio, Paulo Albuquerque, Josmande, Barroco, Antonio Francisco e a Pedagoga Sheila de um grito de socorro atendido. A Sampling Planejamento na visão filosófica depositado no homem e sua ascenção profissional na valorização da vida como marco desta organização e a oportunidade de concluir o trabalho. Aos amigos, pela torcida e companheirismo. E a todos aqueles que de uma maneira ou de outra contribuíram para que eu pudesse concluir este objetivo. O meu muitíssimo obrigado!!!
6 Muito estudo; Muita dedicação; Muito trabalho; Muita perseverança; E uma forte dose de audácia; É isso que os outros chamam de sorte... (autor desconhecido)
7 A água é submissa, mas tudo conquista. A água extingue o fogo ou, diante de uma provável derrota, escapa como vapor e se refaz. A água carrega a terra macia, ou quando se defronta com rochedos, procura um caminho ao redor. A água corrói o ferro até que ele se desintegra em poeira; satura tanto a atmosfera que leva a morte ao vento. A água dá lugar aos obstáculos com aparente humildade, pois nenhuma força pode impedí-la de seguir seu traçado para o mar. A água conquista pela submissão; jamais ataca, mas sempre ganha a última batalha.
8 RESUMO O consumo de água doce no mundo tem crescido, vertiginosamente, em função do aumento da população nas áreas urbanas, da irrigação no agronegócio e do uso de água nos processamentos industriais, gerando, consequentemente efluentes sanitários e industriais. Isto remete à necessidade precípua de poupar, reduzir, reciclar e desenvolver processos de reúso que não venham na contramão da sociedade, ou seja, estejam baseadas nos princípios da precaução, considerando a possibilidade de ocorrências de contaminações de ordem química e microbiológica presentes nos efluentes. O presente trabalho avaliou numa visão crítica os processos de reúso de uma maneira geral e mais precisamente em Centros de Treinamento de Combate a Incêndio onde o treinamento consome considerado volume de água como agente extintor. As tecnologias simples e criativas desenvolvidas comprovam o sucesso do reúso da água no combate ao desperdício. Palavras chaves: reúso, contaminações, princípio da precaução, treinamento, incêndio.
9 ABSTRACT The consumption of freshwater in the world has grown dramatically, due to the increase of population in urban areas, irrigation of agri-business and the use of water in industrial processes, leading consequently municipal sewage and industrial. This evokes the need for major duty of saving, reduce, recycle and reuse to develop processes that do not come in the opposite direction of society, or are based on the precautionary principle, considering the possibility of contamination of a chemical and microbiological present the effluents. This study evaluated a critical processes for reuse in general and more specifically in Training Centers Fire Fighting training which consumes considered volume of water as the extinguishing agent. The technologies developed simple and creative prove the success of water reuse in the fight against waste. Key words: reuse, contamination, the precautionary principle, training of fire.
10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Componentes do ciclo hidrológico Figura 2 - O uso diversificado dos recursos hídricos desenvolvidos pelo homem Quadro1 - Exemplos de reúso de água Figura 3 - Falta de água no Iraque Figura 4 - Vista geral de um açude Figura 5 - Atividades de banho e de lavar roupa no próprio açude na Região Nordeste Figura 6 - Aspecto da seca ocorrida no açude Figura 7 - Transporte de água por crianças na Região Nordeste Figura 8 - Transporte de água em galões Figura 9 - Esquemas de possíveis utilizações de água de reúso Figura 10 -Modelo proposto para representar o reúso e o ciclo hidrológico da água Figura 11 -Tipos de reúso de água a partir de esgotos domésticos e industriais Figura 12 -Reúso indireto não planejado da água Figura 13 -Reúso direto planejado da água Figura 14 -Placa fixada avisando da qualidade da água usada na irrigação de jardim Figura 15 -Placa fixada avisando da qualidade da água de reúso usada na irrigação do gramado Figura 16 -Placa indicando a proibição de beber e de nadar em lago com recarga de água de reúso Quadro 2 -Principais parâmetros de qualidade da água Quadro 3 -Classificação das águas doces, salobras e salinas do país Figura 17 -Fluxograma do estudo visando a dissertação Figura 18 -Vista da área de instalação do CTCI de Cabiúnas Figura 19 -Fluxograma das instalações operadas pela Sampling Planejamento Figura 20 - Lagoa de Jurubatiba (Cabiúnas) Figura 21 - Vista da Lagoa de Jurubatiba(Cabiúnas) Figura 22 - Vista do areal da Lagoa de Jurubatiba (Cabiúnas) Figura 23 - Ponto de captação da Lagoa de Jutubatiba(Cabiúnas) Figura 24 -Reservação de água bruta proveniente da Lagoa de Jurubatiba (Cabiúnas) 81 Figura 25 - Aspecto de combate ao fogo no obstáculo Maracanã Figura 26 - Aspecto da operação na casa de máquinas... 82
11 Figura 27 - Aspecto do treinamento na casa de máquinas Figura 28 - Visão do combate ao fogo na árvore de natal Figura 29 - Visão do combate ao fogo no flange Figura 30 -Fluxograma da instalação de combate a incêndio de Rio das Ostras Figura 31 -Visão do centro de treinamento com destaque o castelo d água e as canaletas para recolhimento de água Figura 32 - Aspecto do campo de treinamento de combate a incêndio Figura 33 -Aspecto do inicio do treinamento de combate ao fogo no obstáculo Maracanã Figura 34 -Treinamento de combate ao fogo no obstáculo Maracanã Figura 35 - Visão do obstáculo na casa de máquinas Figura 36 - Fogo na casa de máquinas Figura 37 - Aspecto da operação na casa de máquinas Figura 38 - Aspecto da operação no sistema de processo e flange Figura 39 - Visão do combate ao fogo no flange Figura 40 - Visão do combate ao fogo no vaso Figura 41 - Visão do obstáculo helicóptero Figura 42 - Visão do combate ao fogo no helicóptero Figura 43 - Canaletas por onde vazam a água de combate ao incêndio Figura 44 - Esquema do SAO Figura 45 - Esquema de torre de refrigeração com água de reúso
12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Projeções dos principais reservatórios de água da Terra Tabela 2 - Classes de água de reúso pela NBR Tabela 3 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 4 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 5 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 6 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 7 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 8 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 9 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 10 - Análise do castelo d água Tabela 11 - Análise do ponto de captação do poço artesiano Tabela 12 - Análise da água de reúso Tabela 13 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 14 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 15 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de Tabela 16 - Quantidade de treinando e consumo de água no ano de
13 LISTA DE SIGLAS ANA Agencia Nacional das Águas ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária AWWA American Water Works Association BC Bacia de Campos BCI Brigade Fire Fighting BSI Básico de Segurança Industrial BST Basic Safety Training CACI Course Advanced Fire Fighting CACIS Centro de Adestramento de Combate a Incêndio e Salvatagem CBSP Curso Básico de Segurança em Plataforma CBSN Basic Course Ship Security CBINC Basic Course of fire Fighting CEE European Economic Community CIA Advanced Fire Fighting CI Fire Fighting CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CIRRA Centro Internacional de Referência em Reúso de Água CTCI Centro de treinamento de Combate a Incêndio CSDLAC County Sanitation Districts of Los Angeles DPC Diretoria de Portos e Costa DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca EMCIA - Equipe de Manobra de Combate a Incêndio em Aeronaves EPI Equipamento de Proteção Individual EPR - Equipamento de Proteção Respiratória EUA United States of America ETE Estação de Tratamento de Esgoto EPA Environmental Protection Agency FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente GLP - Gás Liquefeito de Petróleo
14 IHP International Hydrological Programme IMO International Maritime Organization INEA Instituto Estadual do Ambiente MENA Mdle East and North Africa MMA Ministério do Meio Ambiente MM Ministério da Marinha MS Ministério da Saúde NBR Norma Brasileira NCSWS National Center for Sustainable Water Supply NORMAM Norma da Autoridade Marítima NRCWSTB National Research Council s Water Science and Technology Board NUPEM Núcleo Pesquisa Ecológica Macaé OMS Organização Mundial de Saúde OG Óleos e Graxas OGM Orgão Geneticamente Modificado ONU Organização das Nações Unidas ph Potencial Hidrogeniônico PNRH Programa Nacional de Recursos Hídricos PSV - Pressure Safety Valve PVC - Poli (cloreto de vinila) REDUC Refinaria Duque de Caxias UE União Européia UNBC Unidade de Negócio Bacia de Campos UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura. UNDP - United Nations Development Programme UN Unidade de Negócios UKWIR - United Kingdom Water Industry Research Limited SAO Separador de Água e Óleo SP Sampling Planejamento SMS Segurança Meio Ambiente e Saúde ZEN Zona Especial de Negócios WHO World Health Organization
15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO PANORAMA GLOBAL OBJETIVOS DELIMITAÇÃO DO ESTUDO IMPORTÂNCIA DO ESTUDO ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO REVISÃO DA LITERATURA ASPECTOS HISTÓRICOS DEFINIÇÕES, CLASSIFICAÇÕES E FORMAS DE REÚSO DE ÁGUA AVALIAÇÃO CRÍTICA DE ALGUMAS PRÁTICAS DE REÚSO DE ÁGUA Irrigação de gramados, jardins e suplementação de água em lagos ornamentais Recarga de aquíferos Lavagem de veículos e ruas Descarga de vasos sanitários Represamento de água para fins de reserva de incêndio Utilização industrial PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO APLICADA AO REÚSO DA ÁGUA LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO APLICADA À RECURSOS HÍDRICOS Levantamento das legislações aplicadas ao reúso Legislação de reúso de água no mundo Legislação de reúso de água no Brasil METODOLOGIA AVALIAÇÃO BIBLIOGRÁFICA ESTUDOS DE CASO ETAPAS DA METODOLOGIA ESTUDO DE CASO APRESENTAÇÃO DA EMPRESA DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DE CABIÚNAS (MACAÉ) OPERADA PELA SAMPLING PLANEJAMENTO DO PERÍODO DE 2000 A
16 5.3 DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DA SAMPLING PLANEJAMENTO (ZEN ZONA ESPECIAL DE NEGÓCIOS), RIO DAS OSTRAS Sistema de reúso de água no Centro de Treinamento de Rio das Ostras Análise e monitoramento da água do Centro de Treinamento (CTCI-ZEN) Quantidade de treinandos e consumo de água no CTCI-ZEN CONSIDERAÇÕES GERAIS CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS CONCLUSÕES SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS 110 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 112
17 17 1. INTRODUÇÃO 1.1 PANORAMA GLOBAL De acordo com a opinião de conceituados especialistas em questões ambientais, a água deverá tornar-se, ao longo do século XXI, um recurso natural tão importante e disputado do ponto de vista econômico, social, ambiental e político, quanto foi o carvão e o petróleo para economia mundial ao longo dos últimos 150 anos (MACHADO et al. 2004). O ciclo hidrológico apresentado na Figura 1 é dos modelos propostos para identificar o ciclo de água do planeta, nele é representado a interdependência e o movimento contínuo das águas nas fases sólida, líquida e gasosa. Evidentemente, a fase de maior interesse é a líquida, o que é fundamental para o uso e para satisfazer as necessidades do homem e de todos os outros organismos, sejam animais e vegetais. Figura 1 - Componentes do ciclo hidrológico. Fonte: Tundisi (2003)
18 Os componentes do ciclo hidrológico segundo Speidel et al. (1988), apud Tundisi, (2005, p.05) são: Precipitação: água adicionada à superfície da terra a partir da atmosfera. Pode ser líquida (chuva) ou sólida (neve ou gelo). Evaporação: processo de transformação da água líquida para fase gasosa (vapor d água). A maior parte da evaporação se dá a partir dos oceanos; nos lagos, rios e represas também ocorre à evaporação. Transpiração: processo de perda de vapor d água pelas plantas, o qual entra na atmosfera. Infiltração: processo pelo qual a água é absorvida pelo solo. Percolação: processo pelo qual a água entra no solo e nas formações rochosas até o lençol freático. Drenagem: movimento de deslocamento da água nas superfícies, durante a precipitação. 18 Até o final dos anos 80, acreditava-se que o ciclo hidrológico no planeta era fechado, ou seja, que a quantidade total de água permanecerá sempre a mesma desde o início da terra. Nenhuma água entraria no planeta Terra a partir do espaço exterior, e nenhuma água o deixaria. Descobertas recentes, entretanto, sugerem que bolas de neve de 20 a 40 toneladas, denominada pelos cientistas de pequenos cometas, provenientes de outras regiões do sistema solar podem atingir a atmosfera da terra. As chuvas de bolas de neve vaporizam-se quando se aproximam da atmosfera e podem ter acrescentado 3 trilhões de toneladas (volume= 3x106 km 3 ) de água em anos (FRANK, 1990; PIELOU, 1998 apud TUNDISI, 2005, p.06). A velocidade do ciclo hidrológico varia de uma era geológica para outra, assim com a soma total de águas doces e marinhas. De acordo com Pielou (1998 apud TUNDISI, 2005, P.06) o ciclo hidrológico pode ser considerado o ciclo da vida e, consequentemente, a história natural da água no planeta está relacionada aos ciclos de vida e à história da vida. A Tabela 1 mostra a distribuição da água e dos principais reservatórios de água da Terra.
19 19 Tabela 1 Projeções dos principais reservatórios de água da Terra. Reservatório Volume de Área Volume Volume água doce (10³ km²) (10³ km³) total (%) (%) Oceanos , Água subterrânea , Água doce ,76 30,1 Umidade do solo ,001 0,05 Calotas polares ,74 68,7 Antártica ,56 61,7 Groelândia ,17 6,68 Ártico ,5 0,006 0,24 Geleiras ,6 0,003 0,12 Solos gelados ,022 0,86 Lagos 2.058,7 176,4 0, Água doce 1.236,4 91 0,007 0,26 Água salgada 822,3 85,4 0, Pântanos 2.682,6 11,47 0,0008 0,03 Fluxo dos rios ,12 0,0002 0,006 Água na biomassa ,12 0,0001 0,003 Água na atmosfera ,9 0,001 0,04 Totais Total de reserva de água doce , Fonte: Shiklomanov in IHP/Unesco (1998) A oferta de água no mundo tem relação estreita com a segurança alimentar, o estilo de vida das pessoas, o crescimento industrial e agrícola e a sustentabilidade ambiental. Por outro lado, é um recurso que se encontra mal distribuído. Em termos de sua disponibilidade, poucos países, dentre eles o Brasil, Rússia, Estados Unidos, Canadá, China, Índia, Indonésia, Colômbia, Peru, Zaire e Papua Nova Guiné, estão agraciados, pelo menos por ora, da posse de uma substância verdadeiramente estratégica, fator de estabilidade social interna e da balança de poder na arena
20 internacional. A água tornou-se, inequivocamente, um recurso sobre o qual incidem com força cada vez maior as atenções do poder, e a disputa por ela, fonte de toda sorte de conflitos em curso ou potenciais (RAFFESTIN, 1993 apud WALDMAN, 2002). De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) um terço da população mundial enfrenta a escassez de água em razão de falhas de gerenciamento das fontes e o aumento no uso de água principalmente pela agricultura. A falta de água está aumentando mais rápido do que se esperava, com a agricultura sendo responsável por 80% do consumo mundial (ONU, 2006). O uso global de água cresceu seis vezes nos últimos cem anos e deve dobrar até 2050 em razão principalmente da cultura de irrigação. Das espécies existentes na Terra, o ser humano é quem mais utiliza água doce disponível, chegando aos dias atuais à cerca de 54% do total acessível e, seguindo a tendência atual nos próximos 25 anos a humanidade absorverá 90% da água doce disponível, restando somente 10% para os demais habitantes do nosso planeta. (PLANETA ORGÂNICO, 2006). Segundo Machado et al. (2004), a água tornar-se-á, com efeito, um recurso estratégico central para o desenvolvimento e a qualidade de vida de grande parte dos países, em especial para o Brasil. Na ótica de Braga et al. (2007), os recursos hídricos podem ser utilizados de várias maneiras, atendendo as diversas atividades industriais, sociais, agrícolas, etc. desenvolvidas pelo homem como mostra o esquema apresentado, a seguir, na Figura 2. O Brasil dispõe de grande quantidade de água, pois possui uma ampla diversificação climática, predominando os tipos equatorial úmido, tropical e subtropical úmidos, e semi-árido sobre menos de 10% do território. Em termos pluviométricos, mais de 90% do território brasileiro recebe abundantes chuvas entre 1000 e 3000 mm/ano (REBOUÇAS, 2006). 20
21 21 Figura 2 O uso diversificado dos recursos hídricos desenvolvido pelo homem. Fonte: Braga et al. (2007). Porém, um aspecto relevante é que a população brasileira vem cada vez mais se concentrando em áreas urbanas. O crescimento das cidades não se deu de forma planejada e os serviços de coleta e tratamento de esgoto são insuficientes, mesmo nas grandes capitais, atingindo apenas 15% de cobertura. O progressivo aumento da demanda de água doce é função do aumento da população, das áreas de agriculturas irrigadas e do uso da água nos diversos segmentos industriais. Por outro lado, também devem ser somados a este cenário, o mau uso, o desperdício e as contaminações de todos os tipos acabam gerando, consequentemente, a redução e a deterioração gradual da qualidade da água. Tais fatos ou fenômenos resultam em disputas acerca dos usos, conflitos, divergências de opiniões e de interesses, dissensões entre os mais diversos atores sociais, falta de acordo e vontade política, além de consideráveis polêmicas a respeito da definição mais adequada para o termo recursos hídricos.
22 Em relação ao Brasil, na ótica de Rebouças et al. (2006), o que falta não é propriamente a água, mas sim um padrão cultural que agregue ética e melhore a eficiência de desempenho político dos governos, da sociedade organizada lato sensu, das ações públicas e privadas, promotoras do desenvolvimento econômico, em geral da sua água doce, em particular. Para muitas pessoas, no Brasil, a escassez de água não é vista como uma ameaça, pelo fato do país dispor de uma das maiores bacias hidrográficas do Planeta. Porém, deve-se considerar que as principais reservas de água doce estão nos rios da Bacia Amazônica, muito longe dos grandes centros urbanos e a qualidade de água que efetivamente abastece as maiores cidades do país estão se degradando com muita rapidez. Segundo Mainier (1999) é comum ver algumas cidades onde a qualidade da água é questionável, pois não existem tratamentos de água potável e nem de esgotos, não há distribuição de água encanada e, consequentemente, as valas negras afloram e proliferam por toda parte. A população local fica a deriva, obrigando-a a procura de água em poços rasos, riachos e açudes que de certa forma, acabam recebendo cargas poluidoras. E ainda, completa, que a água não tratada tem sido apontada como responsável, direta e indiretamente, pelas altas taxas de ocupação dos leitos dos hospitais públicos, embora a ignorância, a pobreza, a desnutrição e a falta de saneamento básico estejam associadas a este cenário. Nas regiões áridas onde a água é um fator limitante para o desenvolvimento da agricultura por irrigação, para os segmentos industriais e as atividades urbanosociais, o reúso da água torna-se uma perspectiva atraente do ponto de vista técnico, econômico e de uma política pública de sustentabilidade. O reúso de água já vem sendo amplamente empregado na indústria, principalmente em torres de resfriamento, caldeiras, construção civil, irrigação de áreas verdes e em alguns processos industriais onde a utilização de água com menor padrão de qualidade não ocasione maiores problemas. Desta forma, o reúso de água para fins não potáveis deve ser considerado como a primeira opção para o reúso (MIERZWA; HESPANHOL, 2002). 22
23 Uma das alternativas para integrar as atividades de reúso que pode ser considerada é a utilização da água de rejeito de um processo produtivo, que necessita de uma água com maior qualidade, em outro processo que possa utilizar uma água com menor qualidade. Esta alternativa se mostra ambientalmente correta, entretanto, continua incorporando impurezas aos corpos receptores de água. A alternativa mais interessante é o reúso da água em um ciclo fechado; isto é, após o uso da água em uma atividade qualquer, que resulta na incorporação de impurezas, tornar a obter uma água com qualidade inicial, utilizando um processo de tratamento adequado. (FRANCO, 2007) Do ponto de vista ambiental a água de reúso é uma opção correta, já que contribui para diminuição da captação e consequente redução nas vazões de lançamento de efluentes. Entretanto, para que possa ser utilizada deve-se levar em conta a questão da saúde pública. Existem padrões para reúso em alguns países do mundo que fazem do reúso de água para fins não potáveis, uma prática habitual. Entretanto, no Brasil, estas práticas são ainda incipientes. O Brasil tem a sua disposição um grande trunfo, porém, medidas concretas e coerentes precisam ser adotadas, evidenciando não só a soberania sobre os recursos hídricos nacionais como igualmente o estabelecimento de políticas públicas e privadas que beneficiem o conjunto da população brasileira. 1.2 OBJETIVOS O presente trabalho tem por objetivo pesquisar, avaliar e tecer considerações críticas sobre o tema reúso de água, destacando-o como uma importante alternativa de gestão integrada dos recursos hídricos, sob o ponto de vista da utilização racional de mananciais. Como exemplo prático para o tema, é apresentada e analisada, uma proposta de reúso de água para fins não potáveis em um centro de treinamento de combate a incêndio visando instalações onshore e offshore. Neste sentido, como objetivos complementares destacam-se: 23 A revisão das principais utilizações de reúso de água não potável. Chamar atenção de profissionais, consultores de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde), gestores públicos e privados (tomadores de decisão e formadores de opinião), para a necessidade de integrar o reúso da água à prática nacional.
24 Estudar o processo de tratamento simplificado de água de reúso para centros de treinamento de combate a incêndio que não implique em manutenção sofisticada e onerosa. Demonstrar a viabilidade da aplicação da prática de reúso em centros de treinamento de combate a incêndio e da necessidade do reúso dos recursos hídricos como fator de sustentabilidade. 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O estudo está baseado no levantamento das principais tecnologias de reúso de água e sua utilização na questão dos recursos hídricos de um centro de treinamento de combate a incêndio. O estudo não visa enumerar e analisar, criticamente, todos os possíveis arranjos que possibilitem a reutilização de água, e nem descrever tecnicamente os modelos já existentes, mas ilustrar através de exemplos, com dados reais, a necessidade de análise mais ampla das questões técnicas, econômicas, políticas, legais e socioambientais para tomada de decisão em uma proposta dessa natureza. A pesquisa proposta buscou atender às expectativas de profissionais atuantes na área de engenharia, bem como profissionais da área de saúde, meio ambiente e segurança, por ser um trabalho acadêmico, que relacione as variáveis relevantes envolvidas no processo. 1.4 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO Este trabalho ganha um cunho de real importância em nível científico nacional uma vez que a oferta de água de qualidade vem se tornando cada vez mais diminuta, à medida que a população, a indústria e a agricultura se expandem. Nos centros de treinamentos de combate a incêndio, objeto central deste trabalho, as possibilidades e formas potenciais de reúso dependem das características, condições e fatores locais, tais como, decisão e vontade política e disponibilidade de recursos financeiros. 24
25 No estudo de caso, em particular, os Centros de Treinamento de Combate a Incêndio (CTCI), a estratégia de gestão de recursos hídricos equacionará a sua melhor utilização, com uma política criteriosa de reúso, transformando a situação problema, desperdício de recursos naturais, em um recurso econômico e ambientalmente sustentável com a proposta de reúso de água não potável. 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO O trabalho desenvolve-se em sete capítulos, onde neste primeiro capítulo são apresentados os aspectos introdutórios sobre o assunto abordado, delineandose os objetivos da pesquisa, suas delimitações e importância estabelecida pela associação do fundamento teórico com a aplicação prática. Este capítulo cita, ainda, como foi desenvolvido o trabalho que será detalhado nos capítulos subsequentes. No segundo capítulo buscou-se apresentar, uma fundamentação teórica sobre os conceitos e as diversas aplicações práticas sobre o reúso de água não potável para diversos segmentos, bem como, as preocupações a respeito do reúso de água. No terceiro capítulo são apresentadas as legislações pertinentes ao objeto do estudo. O quarto capítulo apresenta a metodologia da pesquisa, as principais etapas e a coleta de dados que ajudaram na estruturação da sequência lógica da pesquisa. No quinto capítulo, a pesquisa procura consolidar uma sistemática da proposta de reúso de água não potável a partir de um estudo de caso utilizando uma instalação de treinamento de combate a incêndio em instalações onshore e offshore. No sexto capítulo são apresentadas as considerações gerais de toda pesquisa e o no sétimo capítulo engloba as conclusões e as propostas de trabalhos futuros. E após o término dos capítulos são apresentadas as referências bibliográficas. 25
26 26 2. REVISÃO DA LITERATURA O crescente consumo de água doce decorre, direta e indiretamente, do aumento da população nas cidades, do aumento das áreas de agricultura irrigadas e do uso de água nos processamentos industriais. Por outro lado, considerando o ciclo da água, verifica-se que a oferta não é constante, ou seja, a capacidade de produção de água limpa é cada vez mais reduzida, em função das atividades humanas, seja ela, urbana, industrial ou rural. Isto remete à necessidade precípua de poupar, reduzir, reciclar e desenvolver processos de reúso que não venham na contramão da sociedade. Visando aclarar os conceitos, gerais e específicos, do termo reúso de águas para diversos fins é apresentado, a seguir, um levantamento na literatura especializada, procurando identificar os aspectos históricos, os processos, as vantagens, as desvantagens e os riscos inerentes envolvidos. 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS Segundo Rocha et al. (2009), a irrigação e a drenagem dos canais das regiões pantanosas da Mesopotâmia (rios Tigre e Eufrates) e do Egito (delta do Nilo) datam de aproximadamente cerca de anos a.c. Com base nos trabalhos arqueológicos, pode-se afirmar que o reúso de água já era praticado há cerca de a.c., como mostram as evidências da utilização de esgotos na agricultura praticadas pela civilização de Minoam, na Grécia Antiga (CHARTZOULAKIS et al. 2001; ANGELAKIS; KOUTSOYIANNIS, 2003; 2005). Outra evidência de preocupação com a qualidade da água para usos mais nobres remonta da Roma Antiga (97 d.c.), onde os operadores dos aquedutos romanos classificavam as águas transpostas em função de sua qualidade e abundância, atribuindo usos diferenciados para cada uma delas (SILVA et al. 2003). Segundo Rocha et al. (2007), os aquedutos foram construídos pelos romanos para transportar por gravidade a água das fontes das montanhas para as vilas e cidades. A utilização de água para beber e cozinhar limitava-se às pessoas que podiam transportá-la de um poço ou de um riacho até seus domicílios, usando jarras, ânforas ou outros utensílios.
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