6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE JATAÍ
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- Nathalie Penha Almada
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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE JATAÍ-GOIÁS. URGENTE O MINISTÉRIO PÚBLICO DE ESTADO DE GOIÁS, por meio do Promotor de Justiça abaixo assinado, com atribuições na Curadoria do Idoso, atendendo as suas funções constitucionais e legais e na qualidade de substituto processual dos idosos..., brasileiro, casado, fazendeiro, atualmente com 76 (setenta e seis) anos, nascido em.../1934, portador da Carteira de Identidade Registro Geral nº ªVia-SPT/GO, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº..., e..., brasileira, casada, fazendeira, atualmente com 77 (setenta e sete) anos, nascida em.../1933, portadora da Carteira de Identidade Registro Geral nº... -DGPC/GO, inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº..., ambos residentes e domiciliados na Fazenda Três Barras Campo Redondo, sentido Serranópolis, estrada do Ponto Chique, após o aviário, segunda entrada à esquerda, atravessa o Córrego, primeira à direita, nesta cidade de Jataí/GO, vem, perante V. Exa., propor a: AÇÃO DE DESCONSTITUIÇÃO DE PROCURAÇÃO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA em face de..., brasileiro, casado, fazendeiro, portador da Carteira de Identidade Registro Geral nº.../sp e inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº...,
2 residente e domiciliado na Fazenda Três Barras Campo Redondo, sentido Serranópolis, estrada do Ponto Chique, após o aviário, segunda entrada à esquerda, atravessa o Córrego, primeira à direita, nesta cidade de Jataí/GO, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. I Dos fatos Consta do procedimento nº.../2009, em curso nesta 6ª Promotoria de Justiça da Comarca de Jataí, que os idosos... e sua esposa..., desde o mês de outubro do ano de 2009, vêm sendo vítimas de maus-tratos e de dilapidação de seu patrimônio pelo réu... e sua esposa..., encontrando-se na chamada situação de risco. No decorrer deste período, apurou-se que o réu, por volta do ano de 2004, passou a conviver com os idosos, na propriedade destes. Em 2008, foi lavrada uma procuração (documento anexado), no Primeiro Serviço Notarial de Jataí, registrada no Livro..., à fls....-verso, na qual os idosos conferiram amplos poderes para..., sendo que a partir de então este passou a controlar todos os recursos financeiros daqueles. Por meio de relatórios do Conselho Municipal do Idoso obteve-se dados a respeito de inúmeras transações comerciais envolvendo o patrimônio dos idosos, realizadas antes da existência do instrumento procuratório como também depois, sendo que a maior parte delas apresentam-se como absurdas, ou, no mínimo, suspeitas, fato que contribuiu para a crença de que os idosos não são capazes civilmente há um certo tempo, não tendo condições e discernimento para sós praticarem atos da vida civil e financeira. Cita-se por exemplo: doaram a pessoa de... aproximadamente 6,5 alqueires de terras, para que aquele construísse uma pequena casa para eles e lhes desse alimentos (ora, trata-se de uma contraprestação baixíssima, considerando o valor do imóvel rural); trocaram
3 3,5 alqueires de terras em uma camioneta F4000 (daria para ter comprado três iguais ou até mesmo melhores!); arrendaram cerca de 15 alqueires para o Sr...., pelo prazo de 15 anos, recebendo a pequena quantia anual de R$ 5.200,00 (cinco mil e duzentos reais), a serem pagos somente a partir do momento em que a fazenda começar a produzir, sem previsão de qualquer reajuste (veja só, preço baixo, sem qualquer reajuste ao longo do tempo e começando a pagar somente após conseguir lucro, isso sim é um bom negócio!) Assim, verifica-se que o réu está agindo de má-fé, aproveitando-se da procuração a ele outorgada para dilapidar os bens pertencentes ao casal de idosos e obter proveitos para si. Fatos relatados por parentes dos idosos em fichas de atendimentos desta curadoria de idosos anexadas. Diante disso, foi realizada pelo Centro de Atenção Psicossocial uma consulta médica, por meio do profissional Dr...., ocasião em que aquele concluiu que o Sr.... e a Sra.... revelam-se desorientados no tempo, com dificuldade de entendimento e de discernimento, tendo, inclusive, sugerido que fossem interditados, consoante documento (ofício CAPS n.../2010) que segue anexado. Por conseguinte, na tentativa de frear as atitudes do réu, a Sra...., sobrinha dos idosos, ingressou em Juízo com a competente ação de interdição e curatela (protocolo n...), expondo que os bens do casal de idosos estão sendo administrados por pessoa estranha à família e em benefício próprio. Ressaltou, inclusive, que os idosos estão sofrendo maus-tratos por parte do réu. No mesmo sentido, considerando-se a gravidade dos fatos narrados e seu possível enquadramento como infração penal, foi requisitada a abertura de Inquérito Policial, para melhor apuração, conforme cópia do ofício anexada.
4 Ademais, oportuno mencionar que, objetivando resguardar o patrimônio dos idosos, esta curadoria retirou os cartões de recebimento do seguro social em nome dos idosos, que estavam na posse da Sra...., esposa do réu, e, imediatamente, os repassou ao Conselho Municipal do Idoso, na tentativa de evitar-se o enriquecimento ilícito do réu e possibilitar o resguardo da administração dos recursos financeiros recebidos em prol do casal de idosos, até o momento em que os parentes providenciem a necessária interdição, com a nomeação de curador. II Dos fundamentos A revogação do mandato outorgado pelos idosos é medida que se impõe, isto porque referidas pessoas são incapazes civilmente, conforme faz prova o atestado médico anexo. Embora o referido atestado faça menção somente ao tempo presente, é forçoso concluir que a incapacidade existe há tempos, em virtude dos elementos existentes nos autos e os inúmeros negócios absurdos relatados pelo Conselho Municipal do Idoso. Entretanto, caso seja necessário, tal (in)capacidade anterior será comprovada por meio de perícia médica, a ser designada. Deste modo, sendo os idosos outorgantes incapazes, tem-se que não ocorreu a livre e correta manifestação de vontade, requisito indispensável para a concretização e validade de qualquer negócio jurídico, incluindo a concessão de uma procuração, consoante inteligência do artigo 104 do Código Civil: Art A validade do negócio jurídico requer: I agente capaz; II objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III forma prescrita ou não defesa em lei. (grifo nosso). De posse de poderes a ele outorgados, o réu (mandatário) vem se utilizando de má-fé para auferir benefícios próprios em razão da parca instrução e da deficiência mental dos idosos, ao realizar negócios jurídicos absurdos, como por exemplo, a troca de alqueires de terras por reles objetos.
5 Observa-se, do exposto, que os idosos estão em situação de risco, tendo seu patrimônio dilapidado por terceiros e pelo mandatário/réu, Sr...., o qual, em face dos amplíssimos poderes de representação que possui, regula todas as finanças daqueles, fazendo o que bem entender. Ressalte-se que os idosos não entendem o que está acontecendo, haja vista se apresentarem desorientados no tempo, com dificuldade de entendimento e de discernimento, conforme esclarecido pelo médico psiquiatra Dr....(documento em anexo). III - Legitimidade do Ministério Público O Sr.... e a Srª...., encontram-se, respectivamente, com 76 (setenta e seis) e 77 (setenta e sete) anos, além de estarem, como dito acima, em evidente situação de risco, razões pelas quais incide o artigo 74, incisos III e IV, da Lei Federal nº (Estatuto do Idoso), que dispõe: tem a seguinte redação: Art. 74. Compete ao Ministério Público: ( ) III atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme art. 43 desta Lei; IV promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público o justificar. O artigo 43 do mencionado diploma legal, por sua vez, Art. 43. As medidas de proteção aos idosos são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; III em razão de sua condição especial. No caso em tela, objetiva-se a revogação do instrumento procuratório em face dos inúmeros elementos que comprovam que o outorgado vem se utilizando do documento, bem como da condição de incapacidade dos idosos, para obter benefício próprio, dilapidando o
6 patrimônio daqueles, que por esse motivo se encontram em verdadeira situação de risco. Neste sentido, é a doutrina: Outra consequência dessa situação de risco está prevista no inc. IV do mencionado art. 74, que dispõe sobre a possibilidade do Ministério Público promover judicialmente a revogação de instrumento procuratório do idoso, quando necessário ou quando o interesse público justificar. O procurador do idoso pode ter causado ou permitido a situação de risco, até mesmo por omissão, sendo necessária a revogação da representação concedida, ficando o Ministério Público legitimado a realizá-la. 1 Assim, imperativa é a atuação do Ministério Público, a fim de resguardar os interesses dos idosos, não havendo dúvidas quanto a sua legitimidade para propor a presente ação. IV Da tutela antecipada Convém, neste ponto, transcrever o artigo 83, caput, e seu 1º, da Lei Federal nº /2003 (Estatuto do Idoso): Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento. 1º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, na forma do art. 273 do Código de Processo Civil. O artigo 273 do Código de Processo Civil, dispositivo que trata detalhadamente acerca do instituto da tutela antecipada, possui o seguinte teor: Art O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou 1 JESUS, Damásio de (Coordenador). Estatuto do idoso anotado: Lei nº /2003 aspectos civis e administrativos. São Paulo: Damásio de Jesus, p. 188.
7 II fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. Depreende-se, por meio de uma análise conjunta dos mandamentos citados, que os requisitos para a concessão desta medida de urgência, em casos envolvendo idosos, são os seguintes: a) fundamento relevante, traduzido na existência de provas inequívocas (claras, evidentes) que permitam o convencimento do magistrado quanto a verossimilhança das alegações (aparência de verdade, provável); e b) justificado receio de ineficácia do provimento final, consubstanciado na provável ocorrência de dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora) ou mesmo no caso de abuso do direito de defesa ou intuito procrastinatório do réu, visando acarretar, através do transcurso de tempo, a inutilidade de eventual decisão, por exemplo, perda do objeto. Ora, verifica-se que a hipótese dos autos preenche perfeitamente os requisitos elencados. Da documentação anexada, aflora que os idosos são pessoas desprovidas do necessário discernimento para a prática dos atos civis (incapazes), podendo serem enganadas facilmente por terceiros mal intencionados, o que de fato já ocorreu inúmeras vezes, já que, conforme exposto em linhas anteriores, foram realizados diversos negócios jurídicos absurdos, situação esta que pode resultar no completo desfazimento dos bens e recursos pertencentes aos idosos, acarretando-lhes uma vida sofrida e infeliz. Assim, o fundamento relevante e o justificado receio de ineficácia do provimento final se fazem presentes, sendo providência necessária a concessão de tutela antecipada para o fim de revogar a procuração pública registrada no Cartório do 1º Tabelionato de Notas desta cidade de Jataí-GO, Protocolo nº..., Livro..., Fls....-verso na qual figuram como outorgantes os idosos... e..., e como outorgado a pessoa de...
8 Frise-se, por fim, que a medida ora requerida, a título de antecipação de tutela, pode ser revista ou revogada a qualquer momento, consoante inteligência do 4º, do artigo 273, do Código de Processo Civil 2, não havendo perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. V Dos pedidos requer: Ante o exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás 1 que seja deferida, inaudita altera parte, o pedido de tutela antecipada, com fulcro no art. 83, inciso I, do Estatuto do Idoso combinado com o art. 273 do Código de Processo Civil, para que seja realizada a revogação da procuração registrada no Primeiro Serviço Notarial desta cidade de Jataí-GO, Protocolo nº..., Livro..., Fls....-verso, na qual figuram como outorgantes os idosos... e..., e como outorgado a pessoa de...; 2 que, em seguida, aplicando-se o procedimento sumário previsto no Código de Processo Civil, por força do artigo 69 da Lei Federal nº /2003 (Estatuto do Idoso), seja designada audiência, citando-se o réu para comparecer e, caso deseje, contestar o pedido feito nesta inicial, sob pena de confissão; 3 que, ao final, seja julgado procedente o pedido de revogação da procuração registrada no Cartório do 1º Tabelionato de Notas desta cidade de Jataí-GO, Protocolo nº..., Livro..., Fls...., na qual figuram como outorgantes os idosos... e...; 4 que seja aplicado o disposto no artigo 71 da Lei nº /2003 (Estatuto do Idoso), dando-se prioridade na tramitação deste processo, considerando nele figurar pessoas maiores de 60 (sessenta) anos; 2 Art º. CPC. A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada.
9 5 que a intimação do Ministério Público acerca de atos e fatos havidos no processo seja realiza sempre de forma pessoal, conforme preceitua o artigo 76 da Lei nº /2003 (Estatuto do Idoso); e 5 que seja dispensado o pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, com base no art. 88 da Lei Federal nº /2003 (Estatuto do Idoso). Provar-se-á o alegado por todos os meios em direito admitidos, em especial: por documentos, tanto os que instruem a presente, quanto eventuais documentos novos, pugnando-se, desde já, pela sua juntada nos autos; pelas testemunhas abaixo arroladas; pela oitiva pessoal dos idosos; pelo depoimento pessoal do réu, sob pena de confissão; e por perícia médica acerca da capacidade ou incapacidade dos idosos, porventura entendida como necessária pelo Juízo. Dá-se a causa o valor de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais), para efeitos legais. Jataí, 05 de abril de Eduardo Silva Prego Promotor de Justiça Rol de Testemunhas: (...)
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO.
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO...., brasileiro, casado, médico, portador da Cédula de Identidade RG nº... - SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob nº... com
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