PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA

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1 AC Nº PE ( ) APELANTE : BACEN BANCO CENTRAL DO BRASIL REPTE : PROCURADORIA REGIONAL DA ENTIDADE APELANTE : UNIÃO APELADA : ODETE FERNANDES SILVA ADV/PROC : MARLENE ZULEIDE BISPO MONTEIRO ORIGEM : JUÍZO FEDERAL DA 4ª VARA - PE RELATOR : DES. FEDERAL LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA EMENTA CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. BACEN E UNIÃO. CONTAS DE DEPÓSITOS NÃO RECADASTRADAS. LEI Nº 9.526/97. RESTITUIÇÃO DOS VALORES. PRORROGAÇÃO DE PRAZO PELA LEI Nº 9.814/99. DIREITO. EXISTÊNCIA. 1. A legitimidade passiva do Banco Central do Brasil e da União, para figurar em demanda em que se busca a restituição do saldo de conta de depósitos não recadastrada, resulta da Lei nº 9.526/97, em cujos termos à autarquia federal incumbe o recolhimento deste e o seu repasse ao Tesouro Nacional, como receita orçamentária, sendo eventual devolução ao titular operada pelo BACEN, mediante débito à custa do erário. 2. O advento, no curso da presente ação, da Lei nº 9.814/99, que prorrogou para 31 de dezembro de 2002 o prazo estabelecido para reclamação, junto às instituições financeiras, dos valores existentes em contas cujos cadastros não foram objeto de atualização, torna indiscutível o direito da promovente à restituição dos mesmos. 3. Para que a liberação dos recursos objetivados pela autora se concretize mister se faz, todavia, que sejam satisfeitas as exigências estabelecidas pelo art. 1º, I e II, da Resolução nº 2.025/93, do Conselho Monetário Nacional, como requer o art. 4º-A, 1º, da Lei nº 9.526/ Remessa oficial e apelos parcialmente providos. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos em que figuram como partes as acima identificadas,

2 DECIDE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à remessa oficial e às apelações, nos termos do Relatório, do Voto do Relator e das Notas Taquigráficas constantes dos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife, 04 de março de 2008 (data de julgamento). LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA Desembargador Federal Relator vpf02-ac pe 2

3 AC Nº PE RELATÓRIO DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA (RELATOR): Cuida-se de remessa oficial e de apelações interpostas contra sentença da lavra do MM. Juiz Federal da 12ª Vara/PE, que julgou procedente o pedido inicial, condenando os réus a restituírem à autora o saldo da conta-poupança nº , mantida por ela na agência 007 do Bandepe Banco do Estado de Pernambuco S/A, acrescido de correção monetária nos moldes do Manual de Cálculos da Justiça Federal. O Banco Central do Brasil, ao apelar, suscita as preliminares de ilegitimidade passiva ad causam e impossibilidade jurídica do pedido, bem como opõe a prejudicial de prescrição do direito de ação. No mérito propriamente dito, assevera que razão não pode assistir à promovente, haja vista que descumpridora da determinação legal de recadastrar sua conta bancária, estando as medidas adotadas em seu desfavor (extinção do contrato de depósito, recolhimento dos respectivos valores e transferência ao domínio da União) respaldadas na Lei nº 9.526/97. Ademais, afirma que o ajuizamento da presente demanda não dispensa a suplicante, para que possa obter liberação do pretendido numerário, de comprovar o efetivo atendimento das exigências estabelecidas pela Resolução nº 2.025/93, do Conselho Monetário Nacional, sob pena de este ato normativo, editado no afã de eliminar as contas bancárias fantasmas, perder seu motivo de existir. A União, a seu turno, argúi no recurso, prefacialmente, que é parte ilegítima para figurar no pólo passivo deste feito e, após, defende a legalidade do procedimento que importou em transferência ao BACEN do montante depositado pela poupadora. Intimada, a apelada apresentou as contra-razões de fls. 127/130, em que pleiteia a fixação da verba honorária em 20% do valor atualizado da causa. É o relatório. vpf02-ac pe 3

4 AC Nº PE VOTO DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA (RELATOR): A matéria devolvida para exame deste Colegiado diz respeito à devolução, ao respectivo titular, dos valores depositados em conta-poupança, de que foi privado em face da não atualização do cadastro desta, conforme o disposto na Lei nº 9.526/97. Inicialmente, impende rechaçar as preliminares de ilegitimidade passiva ad causam, suscitadas por ambos os apelantes. Isso porque, de acordo com o supra-referido ato normativo, foi o Banco Central do Brasil - BACEN responsável pelo recolhimento do saldo das contas de depósitos não recadastradas (art. 1º, 2º), incumbindo-lhe, ainda, efetuar a eventual restituição do mesmo. Por sua vez, a presença da União na lide justifica-se diante do art. 2º da Lei nº 9.526/97, que estabeleceu a transferência das importâncias depositadas para o seu domínio, mediante repasse ao Tesouro Nacional como receita orçamentária, sendo daí debitado o numerário em questão, na hipótese de haver de ser restituído. De outra banda, também é indigna de acolhimento a prefacial de impossibilidade jurídica do pleito inicial, oposta pelo BACEN. Ora, consoante doutrina gabaritada, a possibilidade jurídica do pedido deve ser aferida diante da "permissão, ou não, do direito positivo a que se instaure a relação processual em torno da pretensão do autor", sendo certo que inexiste norma expressa vedando a súplica aqui deduzida. Por outro lado, melhor sorte não assiste à autarquia recorrente quanto à alegação de prescrição, pois, ao contrário do que argumenta, a presente actio não foi ajuizada mais de cinco anos após o recolhimento dos valores ora reivindicados. Tecidas essas considerações e adentrando no mérito propriamente dito da demanda, observo que o Conselho Monetário Nacional assentou, por meio da Resolução nº 2.025/93, a exigência de recadastramento das contas de depósitos existentes, o qual deveria ser feito até 30 de junho de 1994, tendo esse prazo sido posteriormente ampliado para 31/12/94 (Res /94 CMN). vpf02-ac pe 4

5 Em seguida, veio a compor o ordenamento jurídico pátrio a já citada Lei nº 9.526/97 (fruto da conversão da Medida Provisória nº 1.597/97). Esse ato normativo previu, em seu art. 1º, que os recursos subsistentes nas contas de depósitos cujos cadastros não tivessem sido objeto de atualização, na forma determinada pelas mencionadas Resoluções, somente poderiam ser reclamados, junto às instituições financeiras, até 28 de novembro de 1997, ficando a liberação dos valores condicionada à satisfação das exigências constantes dos incisos I e II do art. 1º da Res /93 CMN. Transcorrido tal prazo, sem que fossem reclamadas, seriam as importâncias em foco submetidas a recolhimento ao BACEN e extintos os correspondentes contratos de depósito. Dessa medida caberia impugnação por parte dos titulares da contas bancárias, sendo as quantias recolhidas e não contestadas transferidas ao domínio da União, mediante repasse ao Tesouro Nacional como receita orçamentária, conforme exposto quando do exame das preliminares de ilegitimidade passiva. Em virtude da observância do procedimento acima, foi a demandante privada dos recursos financeiros que havia poupado. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, quando da análise do pleito liminar formulado na ADI-MC nº 1715-DF (julgamento ocorrido em 21/05/98), firmou convencimento no sentido de que a Lei nº 9.526/97 não violou o princípio constitucional do devido processo legal. Adotado esse posicionamento para o caso dos autos, ter-se-ia a improcedência da pretensão autoral. Conclusão diversa se impõe, todavia, na hipótese vertente, em que se tornam, aliás, desnecessárias considerações a respeito da constitucionalidade ou não do rito que culminou com o recolhimento das importâncias depositadas pela promovente em conta-poupança. Com efeito, a Lei nº 9.814/99 inseriu o art. 4º-A na Lei nº 9.526/97, assim redigido: Art. 4º-A. Os recursos existentes nas contas de depósito, de que trata o art. 1º desta Lei, ou que tenham sido repassados ao Tesouro Nacional, nos termos do seu art. 2º, poderão ser reclamados junto às instituições financeiras, nos termos dos respectivos contratos, até 31 de dezembro de (grifei) vpf02-ac pe 5

6 O fato de ter sido ampliado para data posterior ao ajuizamento da presente actio o termo final para solicitação da devolução das quantias que havia em conta de depósitos torna incontestável o direito da parte autora de tê-las de volta à esfera de sua disponibilidade. E não se venha argumentar que a recorrida haveria de ter requerido a restituição ora pleiteada na via administrativa, até 31 de dezembro de 2002, porquanto o BACEN, antes dessa data, já estava ciente da pretensão da demandante, tendo, inclusive, contestado a ação. Entretanto, para que a liberação dos recursos objetivados pela suplicante se concretize mister se faz que sejam satisfeitas as exigências instituídas pelo art. 1º, I e II, da Resolução nº 2.025/93, do Conselho Monetário Nacional, como requer o art. 4º-A, 1º, da Lei nº 9.526/97. Finamente, insta destacar que descabe o exame do pleito formulado pela apelada nas contra-razões, dirigido à majoração da verba honorária para 20% do valor atualizado da causa, porquanto não deduzido pela via processual adequada. Diante do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO às apelações e à remessa oficial, apenas para estabelecer como pressuposto da restituição dos valores objetivados pela autora a prévia atualização cadastral de sua contapoupança. É como voto. vpf02-ac pe 6