O SR. IVO JOSÉ (PT-MG) pronuncia o seguinte. discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, convido

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1 O SR. IVO JOSÉ (PT-MG) pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, convido os Ilustres Congressistas a partilharem comigo a preocupação de oferecer uma legislação adequada aos cidadãos que trabalham sob condições penosas e insalubres, em atividades a céu aberto, sob os efeitos nocivos das radiações solares, sobretudo o câncer de pele. Em 2003, foram três mil casos diagnosticados em um único dia, por ocasião da 5ª Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. De fato, os números são alarmantes: estima-se que ocorrerão 100 mil casos da doença a cada ano, representando um dos mais graves problemas de saúde pública! Afinal, o Brasil, com grande parte de sua superfície demográfica localizada entre o Trópico de Capricórnio e o Equador, é o país com maior área intertropical e um dos mais ensolarados do planeta, fato que se relaciona como

2 2 um dos principais responsáveis pelo aumento do número de pessoas com câncer de pele no país. De fato, as estatísticas dos serviços de saúde pública são eloqüentes e não deixam dúvidas quanto à exposição continuada à radiação solar como fator indicativo de ocorrência de câncer de pele entre trabalhadores que exercem suas atividades sob céu aberto, como os agricultores, os pescadores, os operários da construção civil, os carteiros etc. A Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança, considerando a importância de tratar do assunto em nosso tropicalíssimo Brasil, em artigo veiculado na Internet, chama a atenção para o Risco da exposição ao sol na construção civil, alertando para o fato de que Pessoas que trabalham a céu aberto, por três ou mais anos, ainda como adolescentes, têm três vezes maior risco do que a média de desenvolverem um melanoma, tipo mais perigoso de câncer, com alto potencial de produzir

3 3 metástase, podendo levar à morte se não houver diagnóstico precoce. O dano causado pela radiação ultravioleta é cumulativo durante a vida, podendo a doença aparecer mesmo vinte ou trinta anos após a exposição, sendo apontada como a primeira causa de cânceres de pele que não sejam melanomas. Porém até o cancro mais vulgar relacionado à exposição solar crônica pode tornar-se muito agressivo, invadindo os tecidos circundantes, podendo deixar o doente transfigurado para o resto da vida ao provocar grandes defeitos e mutilações. - (...) procure não se expor ao sol no final da manhã e no início da tarde, quando os raios são mais intensos, aconselha o artigo... Como? Os trabalhadores não tem a opção pessoal pelo horário de labor... Se não soubéssemos que a intenção de alertar é séria, pensaríamos tratar-se de pura ironia... Além da pele, os olhos também podem ser danificados pela radiação. Conforme estudos já realizados,

4 4 pescadores que permaneciam muito tempo na água, expostos não somente à luz direta mas também à luz refletida do sol, tiveram, em relação a outros fora desse fator de risco, mais de três vezes a incidência da forma mais comum de catarata. Mas, pasmem, Nobres Colegas: não importa que a comunidade médica e Engenheiros de Segurança do Trabalho sejam uníssonos quanto ao fato de a exposição crônica ao sol acarretar inúmeros prejuízos à saúde do trabalhador: Se não está na lei, não está no mundo... O entendimento do Tribunal Superior do Trabalho (TST), por exemplo, é no sentido de ser indevido adicional de insalubridade ao trabalhador em atividade a céu aberto, em face da ausência de previsão legal. Sustentam os tribunais que a Norma Regulamentadora (NR) 15 condiciona a existência jurídica da insalubridade a laudo de inspeção realizada no local de trabalho e, por outro lado, que seria impraticável a medição, dadas as contínuas variações, próprias da nebulosidade e das condições

5 5 meteorológicas em geral. E mesmo constatando a dificuldade na medição do risco, o que, praticamente, inviabilizaria a emissão de laudo, paradoxalmente, também é entendimento cediço entre os juristas que não é suficiente a simples constatação por laudo pericial, devendo as atividades insalubres serem classificadas como tal na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Como Pilatos, lavam-se as mãos e nossos trabalhadores ficam relegados da necessária proteção social que o caso exige. Ora, Nobres Colegas, já é hora de oferecermos à matéria o devido trato político. De minha parte, apresentei o Projeto de Lei nº 5.397/2005, com a pretensão de estabelecermos, em favor desses trabalhadores, uma jornada especial de seis horas diárias e a condição da insalubridade dessas atividades, quando exercidas sem a necessária e adequada proteção.

6 6 Mais do que incitar os Nobres Colegas ao debate, exorto-os a partilharem comigo a responsabilidade pela omissão da lei, a fim de que nossa vontade política, em prol desse objetivo, seja inteiramente renovada. Que nossos esforços pela aprovação da medida sejam conduzidos pela certeza de estarmos lutando por uma causa de justiça e de dignidade para os trabalhadores submetidos a penoso labor! Muito obrigado. 2005_7797_Ivo José_021