DESAFIOS E PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEOS IMPOSTOS A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA NO BRASIL
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- Felipe Quintão Canto
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1 1 DESAFIOS E PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEOS IMPOSTOS A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA NO BRASIL Jaqueline Aparecida Souza 1 Juliano Aparecido de Almeida 2 Suênya Thatiane Souza de Almeida 3 RESUMO A dimensão da formação e da identidade profissional tem sido objeto de estudos no Serviço Social desde a década de 80 com as novas diretrizes curriculares para a formação profissional. Faz-se necessária uma reflexão crítica sobre os novos desafios impostos à profissão numa perspectiva ampla de atuação e enfrentamento das questões impostas para uma prática consciente e eficaz, em que o assistente social deve pautar sua atuação em preceitos éticos de acordo com o projeto profissional. Em tempos de SUAS faz-se necessário estender esta reflexão para todos os condicionantes e imperativos que a prática profissional contemporânea nos impõe. Palavras chave: Formação Profissional; Sistema Único de Assistência Social; Sociedade Capitalista. 1 Graduada em Serviço Social Social pelo Centro Universitário de Formiga/MG. Mestranda em Serviço Social UNESP Franca / SP. Coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social de Formiga/MG. 2 Graduado em Serviço Social Social pelo Centro Universitário do Sul de Minas - Unis/MG. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Facinter. Mestre em Adolescente em Conflito com a Lei pela UNIBAN São Paulo/SP. Docente do Curso de Serviço Social do Centro Universitário de Formiga / MG e da Faculdade Novos Horizontes de Belo Horizonte. Assistente Social do Núcleo de Atendimento Social da Faculdade Novos Horizontes. 3 Graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Especialista em Intervenção Social junto as Famílias Faculdade Santo Agostinho de Montes Claros / MG. Mestranda em Serviço Social UNESP Franca / SP (Conclusão em Abril/2013). Coordenadora do Curso de Serviço Social da Faculdade Novos Horizontes de BH. Docente do Curso de Serviço Social do Centro Universitário de Formiga / MG. Assistente Social do Núcleo de Práticas Jurídicas do Unifor Formiga / MG. Membro Grupo de Estudos e Pesquisa de Formação Profissional em Serviço Social - GEFORMSS UNESP Franca / SP.
2 2 I - INTRODUÇÃO Pensar a política de assistência social a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 nos leva a firmar que pelo menos em termos de legislação, a Política de Assistência Social passa a ser vista como uma política pública não contributiva, direito do cidadão e dever do Estado. Tais dissertivas são reafirmadas na Lei Orgânica da Assistência Social já em seu artigo 1º: A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (LOAS, 1993). O processo de implantação da LOAS, é revelador de mudanças institucionais e políticas indispensáveis para demarcação da política de assistência social como um direito no âmbito do sistema protetivo brasileiro pois, a partir do ano de 2003, a política de assistência social ganha novos rumos afim de ser aprimorada. Diante disto, surge como principal deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social realizada no ano de 2003, a construção de um Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que tem a finalidade de reafirmar as diretivas da Constituição Federal e da LOAS, que versam sobre uma nova forma de organização e gestão da política de assistência social, tendo como diretriz primordial o fortalecimento de processos democratizantes que ampliem e universalizem o acesso a serviços relacionados aos direitos sócioassistenciais. Assim o SUAS, aprovado em 2005, constitui-se em um sistema público descentralizado e participativo que tem como função a gestão do campo da política social brasileira. Percebe-se a implantação do SUAS, como revelador de uma conquista para a categoria profissional, mas em contra partida permeado por limites no que diz respeito a sua real efetivação, pois tal análise parte da premissa que tal proposta, se materializa em uma sociedade regida pelas leis do capital e por suas determinações.
3 Há que se pensar no significado de duas terminologias na Política de Assistência Social: Mínimos sociais e necessidades básicas, sobre isso Pereira coloca: 3 [...] Mínimo e básico, ao contrário do que tem sido apressada e mecanicamente inferido no texto da LOAS, são noções assimétricas, que não guardam do ponto de vista, empírico, conceitual e político compatibilidades entre si. [...] a provisão social prevista na LOAS seja compatível com os requerimentos das necessidades que lhe dão origem, ela têm que deixar de ser mínima para ser básica. (2011, p. 27). O mínimo a ser garantido aos necessitados, não é um conceito explícito no texto da LOAS, (Lei Orgânica da Assistência Social), sendo assim, pode ser alvo de inúmeras interpretações. Partindo da premissa defendida por Pereira (2011), onde a provisão de mínimos tem a conotação de menor, menos, o estritamente necessário, percebe-se que tal postura está intimamente ligada à postura a crítica assumida pelo ideário Neoliberal, onde o fenômeno da desigualdade social e pobreza são tratados como sinônimos quando na verdade não são. Nota-se que há certa predominância do nível de apreensão da realidade sobre a lógica da razão formal abstrata, na análise de Guerra: Na medida em que suas concepções teóricas e metodológicas encerram a pretensão, não apenas de estabelecer uma explicação totalizadora da sociedade, mas sobretudo, de orientar uma programática ação sobre a sociedade(2011, p.57). Tornando-se assim funcional a lógica burguesa. (Grifos meus) Na concepção critico dialética, como um nível mais alto de apreensão do real que tem na realidade concreta apenas seu ponto de partida e de chegada a pobreza, deve ser entendida como resultante do fenômeno da desigualdade social, que tem suas raízes no modo de se produzir a riqueza no sistema de produção capitalista, onde sabe-se que a riqueza socialmente produzida por meio do trabalho é apropriada de forma privada pelo capital, para esse o importante é ter indivíduos que tenham prontidão laboral, e garantam a perpetuação do modo de produção capitalista. E é justamente pelo fato de existir essa separação entre trabalhador, meios de produção e proprietários destes meios de produção, que o indivíduo torna-se pobre, porque apartado de toda a riqueza socialmente produzida; dotado apenas de sua força de trabalho, como explica Iamamoto:
4 Como capacidade de trabalho é mera potência o indivíduo só pode realizá-la se encontra lugar no mercado de trabalho, quando demandado pelos empresários capitalistas. Assim, a obtenção dos meios de vida depende de um conjunto de mediações que são sociais, passando pelo intercambio de mercadorias, cujo controle é inteiramente alheio, aos indivíduos produtores. (2007, p.159). 4 O que se quer afirmar, é que nessa concepção o fenômeno da pobreza não é compreendido como somente da falta de renda ou da distribuição desta, o que nos leva a questionar dois pontos na caracterização dos princípios a serem garantidos pela Política de Assistência Social, a Política Nacional assim descreve: I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; (2004, p. 32). Estes princípios são importantes, no entanto, o que ocorre é que a política de assistência social que temos (programas, benefícios, serviços) não o efetivam. Assim, o que ainda ocorre é que: A pobreza é comumente qualificada e reduzida à ausência ou insuficiência de renda para satisfação de mínimos sociais necessários à sobrevivência. Esta é uma definição simplista e reducionista em dois aspectos: 1) reduz pobreza à ausência ou insuficiência de renda, não considerando outros aspectos necessários da vida humana; 2) relaciona o padrão de pobreza ao mínimo necessário à sobrevida (BOSCHETTI, 2003, p. 114). Contudo, o fenômeno da pobreza, está intimamente ligado ao modo de produção capitalista, e a forma que se dá a relação entre as classes, então a partir disso, para entender como são construídas a necessidades humanas deve se partir das determinações concretas da sociedade capitalista. II DESENVOLVIMENTO A importância da visão de totalidade como forma de apreender os fenômenos sociais no cotidiano de trabalho dos assistentes sociais.
5 5 A partir de todo esse contexto descrito em linhas anteriores, sobre o cenário que possibilita a gênese das expressões da questão social, que se tornam objeto de trabalho dos assistentes sociais, nos diversos espaços de trabalho, o grande desafio a ser refletivo é a partir de que viés essas determinações serão analisadas e compreendidas pelos profissionais. Deve-se garantir os mínimos sociais reduzindo as necessidades a mera questão de sobrevivência e em contrapartida força ativa que garanta a perpetuação do sistema capitalista? Ou fazer uma leitura crítica da realidade que parta da premissa do indivíduo como parte constituinte de uma legalidade social mais ampla, e contraditória onde são gestadas e cerceadas suas capacidades e suas necessidades humanas como resultante da práxis: O trabalho, como forma de práxis, desenvolve todos os sentidos como diz Marx: o tato, a visão, o gosto, a percepção, o amor, a vontade, enfim todas as formas de manifestação do homem como ser sensível.isso porque sua humanização ocorre em suas relações em respostas as suas necessidades. (BARROCO, 2010, p.35-36). Em contrapartida, tais necessidades humanas são reduzidas ao mínimo necessário a sobrevivência, neste contexto as expressões da questão social, que se torna objeto de intervenção de trabalho do assistente social, são apenas singularidades que precisam ser apreendidas a partir das determinações universais: Na singularidade, as mediações, as determinações históricas, a própria legalidade social são inteiramente ocultas. Assim, para descortinar a singularidade social é preciso apreender as determinações ontológicas e reflexivas da realidade, o que não se trata de nenhuma busca transcendente ao objeto, mas de um movimento de apreensão da essência universal presente no singular, a partir dos fatos concretos. (ALVES, 2007, p.241), Isso se torna possível a partir de aproximações sucessivas as determinações históricas concretas mais amplas: o mundo do trabalho, o Neoliberalismo, a relação Estado sociedade da qual o assistente social na condição de trabalhador assalariado também é parte:
6 [...] O assistente social como trabalhador só se realiza quando sua força de trabalho é vendida no mercado por intermédio de determinadas condições e relações de trabalho, meios e mediações tais como: um contrato (formal ou informal) que define as bases nas quais se dará o exercício profissional do assistente social (em termos de: jornada de trabalho, funções, atribuições etc.) além de normas, rotinas, enfim, pela legislação trabalhista vigente. (GUERRA, 2007, p. 6). 6 Como parte de um contexto mediado pela lógica do mercado, baseado em princípios da lucratividade e da produtividade, a profissão perde o caráter de profissão liberal, pois, os assistentes sociais têm no cotidiano de trabalho uma relativa autonomia, cerceada por condições objetivas nas instituições de trabalho: [...] Na análise dessas condições depreende-se que há uma interferência da lógica do capital, na forma, no modus operandi, no conteúdo e no resultado do exercício profissional, que se limita em muitos casos, ao cumprimento de rotinas e metas institucionais, influenciando nas funções, qualidade e competência do trabalho profissional. [...] (GUERRA, 2007, p.8). Talvez, se encontre aí a questão central, como exercer o trabalho profissional em tal contexto adverso? O grande desafio está na articulação a um projeto profissional crítico, que questione as determinações a partir das quais se desenvolve as práticas profissionais nos diversos espaços de trabalho. Faz-se necessário ultrapassar o plano do singular, onde as demandas aparecem como fatos que precisam ser problematizados, articulados e compreendidos a partir de um referencial heurístico crítico-dialético. A resultante de tal percepção é a possibilidade de reconstrução das demandas a partir das determinações reais que a justificam: A luta de classes e a apropriação da riqueza de forma privada pelo capital, neste contexto apreende-se as demandas individuais, ou as diversas expressões da questão social, como fruto de determinações universais, e as políticas sociais implementadas pelo Estado em respostas a tais demandas como sendo: Eis porque a política social passou a ser vista nas melhores análises marxistas como um fenômeno contraditório, porque ao mesmo tempo em que responde positivamente aos interesses dos representantes do trabalho, proporcionandolhes ganhos reivindicativos na sua luta constante contra o capital, também atende positivamente interesses dos representantes do capital, preservando o
7 potencial produtivo da mão-de-obra e, em alguns casos [...] desmobilizando a classe trabalhadora. (PEREIRA, 1999, p. 54). Eis, pois, o caráter contraditório que justifica a implementação de políticas sociais, acabam por serem frutos de reivindicações, mas surgem justamente para atenuar os conflitos entre a sociedade e os interesses do capital, e para a garantia da perpetuação do sistema capitalista, garantem os mínimos sociais para se ter consumidores e trabalhadores ativos, já que o salário pago pela venda da força de trabalho, não consegue suprir as necessidades dos trabalhadores que se tornam usuários das políticas sociais que aparecem como concessões, e não como direito do cidadão sobre isso Iamamoto e Carvalho expõe sobre as finalidades da implantação das políticas sociais: 7 [...] um meio não só de manter a força de trabalho em condições de ser explorada produtivamente, evitando alterações substanciais na política salarial que afetem a lucratividade dos empresários, como, e principalmente, um instrumento de controlar e prevenir possíveis insubordinações dos trabalhadores que escapem ao domínio do capital. (2004, p.93). Diante de tais considerações vale ressaltar que o significado das políticas sociais no atual contexto, deve ser analisado a partir de sua relação ontológica com o sistema econômico e suas determinações, ultrapassando seu sentido singular de atenuar situações imediatas e emergenciais, limitadas a questão de sobrevivência. Em contrapartida, a partir de uma visão mais crítica, os espaços onde são concretizadas tais políticas podem ser espaços que possibilitem a construção do protagonismo da classe que vive do trabalho, enquanto representante dos seus interesses e melhoria da sua qualidade de vida. Neste ponto, está o papel do profissional assistente social enquanto trabalhador direto com tais políticas, duas posturas podem ser destacadas: O executor terminal de políticas públicas, vinculado a um projeto profissional conservador, ou um outro profissional que consegue refletir tais políticas a partir de conexões com o contexto sobre o qual tais políticas são implementadas, imprimido qualidade e competência em seus serviços, ultrapassando o plano do imediato, vale ressaltar, que não estamos falando que as situações singulares trazidas pelos sujeitos nos diversos espaços de trabalho do assistente social, não devam ser atendidas, mas, só esse atendimento não é a nosso ver, e
8 na direção analítica escolhida, suficiente é preciso ultrapassar o plano do imediato ou da singularidade diz Lukács: Em toda sociedade ricamente articulada, ela a [imediaticidade] é tão somente o modo pelo qual aparecem mediações largamente absorvidas, as quais o pensamento e análise vem descobrir na realidade, superando assim a imediaticidade no plano conceitual. (1968, p. 97). 8 O que se quer afirmar é a necessidade real da apreensão do cotidiano a partir da tríade singularidade, universalidade, tendo a particularidade como função mediadora: A particularidade é o espaço reflexivo-ontológico onde a legalidade social se singulariza e a imediaticidade do singular se universaliza. È nesse espaço privilegiado de síntese de determinações, que a razão cognoscente, tendo negado a imediaticidade (aparência), vai processar o nível do concreto pensado, penetrando em um campo de mediações, onde se entrecruzam vários sistemas de mediação, sistemas estes responsáveis, pelas articulações, passagens e conversões histórico- ontológicas entre os complexos componentes do real. (PONTES, 2010, p. 16). Esse tipo de intervenção possibilita ao profissional uma visão mais clara, e profunda da realidade a partir da qual incide sua prática profissional, em contrapartida, evidencia-se uma prática prepositiva comprometida com os interesses da classe trabalhadora, e ainda permite a compreensão de certas terminologias contidas nas legislações que se tornam instrumentos de trabalho do assistente social, interpretadas a partir de um referencial teórico crítico, associado a partir da essência que foram construídas tais terminologias: A sociedade burguesa e suas determinações A mediação como instrumento da atuação profissional cotidiana. Como nos aponta Pontes (2010), antes de tudo é preciso se ter bem claro que o temo aqui tratado, enquanto mediação, não se trata puro e simplesmente de mediação de conflitos. O termo tem a função de abarcar um conceito mais amplificado do contexto de interpretação da singularidade, passando pelo caráter da universalidade carregado de conceitos de direitos e legalidades, para que então se possam realizar analogias envoltas de particularidades.
9 9 É importante ressaltar que em se tratando de atuação profissional cotidiana, o Assistente Social, além de inúmeras funções que exerce em suas atribuições diárias, não se afasta da perspectiva da pesquisa. Dentro do contexto da atuação profissional, em qualquer que seja a vertente, há a necessidade da utilização da mediação como parte indispensável do processo de construção de um real, que não se configure em um real simplório. Para que não haja a incidência ou até a miniminização de acometimento de erros, se faz de suma importância que se faça a utilização de um arcabouço instrumental composto de preceitos ontológicos e epistemológicos que devem ser convertidos em ferramentas que convergem para a interpretação do real. Como nos aponta Pontes (2010): A principal lente, através da qual se pretende abordar a questão teóticometodológica da categoria de mediação e seu rebatimento no Serviço Social, é a construção do último Luckács: a concepção da teoria de Marx como uma Ontologia do Ser Social. considera-se esta formulação uma concepção fundante desta nossa argumentação, mas nem única, nem exclusiva; por isso dialogar-se-á com outras formulações, dentro e fora da tradição marxista, sempre que julgar necessário. A presente aproximação ao estudo da categoria de mediação no âmbito da dialética marxiana se pretende um construto teórico-filosófico que propicie bases mínimas para as ligações resultantes da pesquisa encetada no presente estudo acerca da mediação no Serviço Social (PONTES, 2010, p. 39 a 40). Esta mediação é crucial para que se possa superar a percepção inicial do fato que se apresenta como verdade absoluta. É preciso que se busquem subsídios que vão para alem do que está posto em uma visão que se atenha na superficialidade material e passageira dos acontecimentos, dos atos e das coisas. Pontes (2010) sinaliza para que se absorva e se utilize o máximo do processo de mediação, não é possível fazê-lo desassociado do método dialético de Marx, que situa em três fazes retilíneas e concernentes que permitem a construção, maturação e entendimento do objeto de estudo, trabalho ou de intervenção. A manutenção da fidelidade ao pensamento marxiano, especialmente ao seu método, implica a necessidade de que sejam distinguidos, dentro da sua concepção, os resultados da pesquisa da sociedade burguesa de seu tempo, suas tendências gerais e o método da economia política. os primeiros sofrem a
10 corrosão do movimento das categorias sociais que vão assumindo novas formas de ser o que historicamente conduz à caducidade algumas tendências na legitimidade do ser social, além, evidentemente das visões e provisões e prognósticos calcados na observação destas legalidades ultrapassadas no plano real. Por outro lado o método propõe a máxima fidelidade na reprodução ideal do objeto de análise mantém inalterada sua validade teórica - pratica, na medida em que este processo máxima fidelidade significa a própria auto-verificação de suas categorias em fase do movimento do real (PONTES, 2010, P 29 a 30). 10 É nesta perspectiva que se faz importante que se faça uma analogia do real entendendo que como já sinalizava Marx em suas interpretações do contexto do real, que o todo é mais que a soma das partes. E para a atuação profissional, em qualquer que seja o ramo, não é possível ter obtenção de totalidade se não se lançar do método dialético que é o ir e vir ao objeto num processo de reflexão, ação reflexão e novamente retornando a reflexão munida da técnica da mediação que visualiza o fato, o universaliza e depois o retoma dentro de particularidades inerentes ao ser para que se possa atuar assertivamente em tal prognóstico. Pensando no método dialético materialista histórico, a negação da singularidade que visa a contradição está intimamente ligada à crítica ao sistema capitalista. Esta constatação é importante e remete pensar no modo que o trabalho é realizado neste tipo de sociabilidade, sendo que este é o eixo fundante do ser social e, segundo a tradição marxista acontece de forma alienada, estranhada e dessa maneira limita a potencialidade do desenvolvimento humano. Portanto, é complexo pensar numa atividade profissional. No entanto, uma proposta seria trabalhar no sentido de ampliação da visão de homem e de mundo para a construção da ciência do ser social como sujeito protagonista do seu tempo. Cabe também a esta atividade profissional, tanto quanto atender imediaticidades, evidenciar as responsabilidades do Estado e não tratar as refrações da questão social com medidas paliativas que amenizem as tensões intrínsecas da realidade do capital. III - CONSIDERAÇÕES FINAIS
11 11 O presente artigo teve como premissa discutir um pouco a formação profissional do assistente social desde a implantação da profissão no Brasil até os dias atuais. Verificase uma busca da categoria pela qualidade na formação de novos profissionais bem como a defesa pela implantação do projeto profissional que visa antes de tudo a emancipação humana e a defesa intransigente dos Direitos Humanos defendidos no Código de Ética. Portanto, o que nota-se hoje é cada vez mais uma formação desqualificada visando atender às necessidades imediatas do capital, o que vem contribuir com o sucateamento da profissão e a mercantilização do ensino. Em contrapartida, há um grande avanço para a categoria no sentido das conquistas alcançadas e da expansão da profissão na era do SUAS, sendo este outro ponto de discussão deste artigo. Tais avanços contribuíram para a política de assistência social, na concretização como direito do cidadão e dever do Estado, porém, não deixando de apresentar alguns desafios para a categoria profissional. Um dos primeiros desafios, constitui-se em compreender o contexto em que se dá a implantação do SUAS, como espaço de efetivação de programas, projetos e políticas sociais, um contexto contraditório permeado por propostas neoliberais. Diante disto, o que pretendemos afirmar é que apenas as diretrizes e os princípios, preconizados pelos SUAS, não bastam para uma significativa mudança para a política de assistência social, depende do compromisso do protagonismo e do posicionamento ético assumidos pelos profissionais envolvidos com tal política.
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