III-007 RESÍDUOS INDUSTRIAIS E RISCOS ASSOCIADOS

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1 III-007 RESÍDUOS INDUSTRIAIS E RISCOS ASSOCIADOS Fátima Morosine (1) Química Sanitarista. Doutoranda em Riscos Naturais pela Universidade do Porto-PT.Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente - Universidade Federal da Paraíba. Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal da Paraíba. Especilaista em Gestão Ambiental pela ENAP- Escola Nacional de Administração Pública- Brasília-DF. Técnica da Superintendência de Administração do Meio Ambiente-SUDEMA. Rafael Moraes de Lima Estudante de Engenharia Civil pela UFPB - faelmoraes@hotmail.com Endereço (1) : Av Epitácio Pessoa 3883, Apto 602 C- Miramar, João Pessoa -PB-Brasil Fone , morosine@terra.com.br fátima_morosine@hotmail.com RESUMO Com o advento da industrialização, a visão de desenvolvimento voltou-se para a redução de custos e para o aumento da capacidade de produção, negligenciando as preocupações com a preservação dos recursos naturais e os impactos ao meio ambiente e à saúde. O presente trabalho tem como objetivo identificar as fontes geradoras de resíduos industriais que apresentam risco para a população e ao meio ambiente e associar os possíveis riscos que são provocados pela gestão inadequadas desses resíduos. A associação dos riscos ambientais a gestão dos resíduos industriais concretizou-se a partir da análise do INVENTÁRIO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS DO ESTADO DA PARAÍBA. Buscou-se identificar as situações e elementos que podem contribuir ou potencializar o risco de uma contaminação e ou degradação ambiental. Buscou-se caracterizar os fatores mais importantes que devem ser identificados para reduzir o risco de contaminação ambientala análise dos riscos foi efetuada levando em consideração a possibilidade de ocorrência.planejou-se uma fiscalização programada nas atividades com maior potencial de poluição objetivando identificar a ocorrência de contaminação.identificou-se através de fiscalização planejada os locais que estão sujeitos a uma contaminação ambiental por destinação inadequada. Foram pesquisadas cerca de 490 indústrias, de grande, médio e pequeno porte. Essas indústrias são responsáveis pela geração de cerca de ,69 toneladas de resíduos industriais por ano, num universo de 44 municípios inventariados, representando 19,73% dos 223 municípios que compõe o estado da Paraíba. Os resíduos da indústria de couro e de calçados comprometem o meio ambiente, principalmente, sob dois aspectos. O tempo considerável de degradação desses retalhos faz com que o solo fique sem uso por várias gerações. Pode-se concluir que, embora na maioria das vezes a probabilidade de ocorrer um acidente que comprometa o meio ambiente e a sociedade possa parecer insignificante, existe cada vez mais a necessidade de se investir em programa de gerenciamento de riscos. Panorama Atual: Caracterização Insuficiente da Situação,Insuficiência de Medidas de Minimização de Resíduos,Insuficiência da Quantidade e da Periculosidade dos Resíduos Gerados;Ausência de local destinação final dos resíduos; Passivo Ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Industriais, Riscos, Passivo Ambiental,Ciclo do Resíduo. INTRODUÇÃO Com o advento da industrialização, a visão de desenvolvimento voltou-se para a redução de custos e para o aumento da capacidade de produção, negligenciando as preocupações com a preservação dos recursos naturais e os impactos ao meio ambiente e à saúde. Assim surgiram as áreas contaminadas, locais onde há comprovadamente poluição ou contaminação causada pela introdução de quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados, de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

2 Nessas áreas, os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em subsuperfície nos diferentes compartimentos do ambiente, como por exemplo no solo e/ou nas águas subterrâneas, além de poderem concentrar-se nas paredes, nos pisos e nas estruturas de construções. Uma vez identificada a contaminação é necessário que seja realizado o gerenciamento da área contaminada, visando minimizar os riscos a que estão sujeitos a população e o meio ambiente através de ações de remediação ambiental. Grande parte das atividades destinadas a fazer frente aos riscos ambientais provocados pela contaminação ambiental foi iniciadas ou estimuladas pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano,em A Conferência teve como um dos objetivos a busca de uma estratégia internacional para a gestão ecologicamente racional dos produtos químicos tóxicos, destacando a necessidade de ampliar a colaboração entre governos, indústrias, sindicatos, consumidores, organizações internacionais, etc. Os riscos ambientais constituem uma nova preocupação no que se refere as questões ambientais uma vez que a atividade industrial, em termos de potencial poluidor, é uma das fontes mais representativas como causadora de impacto e riscos ambientais. O principio da precaução abrange o risco ou perigo do dano ambiental, mesmo quando houver incerteza cientifica, observando que o a idéia do princípio é agir anteriormente à manifestação do perigoe, assim, prevê uma política ambiental adequada a este principio( MORATO LEITE,2000,P.49) Os riscos não podem ser excluído, porque permaneça probabilidade de um dano menor(machado 2001) é justamente por haver sempre o risco de que ocorra um dano, é que o principio da precaução deve ser aplicado, uma vez que as agressões ao meio ambiente são de difícil reparação. Faz-se necessário dizer que o controle ou afastamento do risco ambiental, bem como do perigo ambiental, implicam necessariamente, para as futuras gerações a garantia de ambiente ecologicamente equilibrado, o que proporciona melhor qualidade de vida para coletividade. È verdade conforme afirma AYALA que utiliza-se da incapacidade econômica para postergar ou mesmo não adotar medidas orientadas à prevenção do patrimônio natural. Em que pese a preocupação do Brasil com a aplicação do principio da precaução, pode-se dizer que a Alemanha aborda o referido principio desde 1970, na declaração de Wingspread ( Quando uma atividade representa ameaças de danos ao meio ambiente ou a saúde humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se algumas relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente ) juntamente com o principio da cooperação e do poluidor pagador. Assim, o doutrinador alemão Kloespfer afirma que a política ambiental não se esgota na defesa contra ameaçadores perigos e na correção de danos existentes. A decisão de agir antecipadamente ao dano ambiental é premissa fundamental para garantir a eficácia da aplicação do principio da precaução, o que reforça o entendimento de que tanto os estados como as empresas não podem se eximir da responsabilidade de preservar o OBJETIVO O presente trabalho tem como objetivo identificar as fontes geradoras de resíduos industriais que apresentam risco para a população e ao meio ambiente e associar os possíveis riscos que são provocados pela gestão inadequadas desses resíduos. METODOLOGIA A associação dos riscos ambientais a gestão dos resíduos industriais concretizou-se a partir da análise do INVENTÁRIO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS DO ESTADO DA PARAÍBA. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

3 Buscou-se identificar as situações e elementos que podem contribuir ou potencializar o risco de uma contaminação e ou degradação ambiental; Buscou-se caracterizar os fatores mais importantes que devem ser identificados para reduzir o risco de contaminação ambiental; A análise dos riscos foi efetuada levando em consideração a possibilidade de ocorrência; Planejou-se uma fiscalização programada nas atividades com maior potencial de poluição objetivando identificar a ocorrência de contaminação; Identificou-se através de fiscalização planejada os locais que estão sujeitos a uma contaminação ambiental por destinação inadequada de resíduos; ESTUDOS DE RISCOS NO BRASIL No Brasil, amparado na lei n.º 6.938, de 31/08/81 e decreto n.º , de 06/06/90 (Política Nacional de Meio Ambiente) e, mais especificamente, a partir da Resolução CONAMA 001, de 23/01/86 (responsabilidade, critérios e diretrizes para a implantação das avaliações de impacto ambiental), os órgãos de controle ambiental passaram a requerer estudos ambientais de empreendimentos potencialmente impactantes. Além das informações contidas nos EIA s e, dependendo das características do ambiente onde se vai inserir os empreendimentos e do potencial de risco que a instalação possa representar, pode ser necessário, ou não, a quantificação daqueles riscos, havendo casos onde sua avaliação é somente qualitativa, através de estudos de riscos e probabilidade (Hazop), análise preliminar de riscos (APR), entre outros. Estas exigências podem, também, ser aplicadas para áreas já impactadas, visando conhecer o incremento do risco industrial e social de uma nova instalação, estabelecer ações de gerenciamento dos riscos, planos de emergência, etc., como forma de trazer os riscos a níveis considerados aceitáveis. A grande preocupação com riscos vem da experiência acumulada sobre os severos danos causados às populações em todo o mundo. BENEFÍCIOS DA ANÁLISE DE RISCOS Embora o estabelecimento de uma política de gerenciamento de riscos esteja voltado para a segurança da população e do meio ambiente, deve-se ressaltar sua importância quanto ao aspecto do controle de perdas e seguros, visando a administração dos riscos empresariais. Não existem dúvidas em relação à importância econômica do controle dos riscos, já que alguns custos aumentam devido a erros na escolha das medidas apropriadas para esse controle ou pela falta de informações na adoção de medidas desnecessárias e dispendiosas. Também é sabido que a prevenção dos riscos requer esforços consideráveis no gerenciamento geral, na pesquisa e identificação dos riscos no processo, nos procedimentos e nos equipamentos. Dessa forma, sendo os investimentos nesta área inevitáveis, o objetivo da análise de riscos é avaliar como devem ser direcionados estes recursos. No entanto, deve-se enfatizar que não é correto assumir que um aumento de segurança necessariamente envolve um aumento no investimento. É sem dúvida verdade que, despesas de segurança baseadas em respostas a acidentes, podem ser muito dispendiosas, mas a experiência tem demonstrado que boas práticas, normalmente, custam tanto quanto as práticas ruins e, ao mesmo tempo, aumentam a segurança, além de reduzir ou evitar custos futuros adicionais. Um fator importante, decorrente de uma adequada análise de riscos, está relacionado, por exemplo, com a economia de processo. Considerações em termos de segurança devem ser realizadas no desenvolvimento do processo, ou, seja, com relação às reações químicas básicas e na definição dos limites de operação quanto à pressão, temperatura, concentração, entre outros. Obviamente, esses fatores são fundamentais para a economia do processo. Além disso, a economia de processo é também muito afetada pela localização do empreendimento e do seu layout. A localização mais atrativa pode não ser a melhor em termos de segurança. Um layout que requeira grandes distâncias, por exemplo, pode tomar-se economicamente inviável. Em termos gerais, um adequado gerenciamento de riscos não só vem favorecer a segurança da comunidade e a preservação do meio ambiente, mas também, outros aspectos de interesse do empreendimento em áreas como ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

4 mercado, imagem, faturamento, controle de perdas, transferências de riscos, exigências legais, segurança patrimonial, segurança e higiene do trabalho e controle ambiental. RESULTADO E DISCUSSÃO Foram pesquisadas cerca de 490 indústrias, de grande, médio e pequeno porte. Essas indústrias são responsáveis pela geração de cerca de ,69 toneladas de resíduos industriais por ano, num universo de 44 municípios inventariados, representando 19,73% dos 223 municípios que compõe o estado da Paraíba. Os resíduos da indústria de couro e de calçados comprometem o meio ambiente, principalmente, sob dois aspectos. O tempo considerável de degradação desses retalhos faz com que o solo fique sem uso por várias gerações. Vale a pena lembrar que o processo de curtimento é feito justamente para retardar a putrefação do couro. Outro aspecto importante é o efeito de concentração do cromo no solo devido às grandes quantidades depositadas nos aterros de retalhos. Apenas um empreendimento com tratamento dos efluentes industriais que gera um resíduo sólido que é denominado de lodo e que contém cromo acondiciona o lodo em recipientes, ao abrigo de intempéries, insolação e outros agentes que possam romper o recipiente e espalhar o resíduo na natureza. Os demais curtumes lançam os resíduos a céu aberto. RECOMENDAÇÕES Medidas e Redução e Valorização dos Resíduos Implementação de um plano estadual de prevenção de resíduos industriais para a minimização da produção de resíduos na origem; promoção da separação dos resíduos na origem; Promoção da instalação de unidades de valorização; Criação de uma bolsa de resíduos. O que fazer Conhecer o que se produz Privilegiar as medidas de redução e valorização; Utilizar melhores tecnologias de tratamento e valorização disponíveis; Fiscalizar o ciclo de vida dos resíduos. Fiscalizar o CICLO DE VIDA dos resíduos Atualização do Inventário; Acompanhamento do movimento dos resíduos da produção ao destino ; Aplicação de um sistema geo--referenciado ; Coordenação das ações de fiscalização CONCLUSÕES Pode-se concluir que, embora na maioria das vezes a probabilidade de ocorrer um acidente que comprometa o meio ambiente e a sociedade possa parecer insignificante, existe cada vez mais a necessidade de se investir em programa de gerenciamento de riscos, com objetivo de garantir uma melhoria do nível de segurança, tanto para os empresários, como para os trabalhadores, para a comunidade e para o meio ambiente. Em caso de contaminação seja qual for a técnica empregada, a remediação é quase sempre uma atividade de alto custo, porém necessária. O passivo ambiental vem sendo considerado na hora da compra, incorporação e fusão de empresas e em alguns casos, torna-se fator determinante nas negociações, uma vez que pode chegar a inviabilizar financeiramente um negócio. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

5 Na realização do trabalho observou-se grandes agressões ambientais provocadas por lançamento de resíduos, alguns deles perigosos, e lançados a céu aberto; Os recursos hídricos superficiais e subterrâneos são intensamente utilizados, havendo já indícios de comprometimento, advindo da poluição por efluentes industriais e agro-industriais, esgotos domésticos, hospitalares, e deposição de lixo, além de outros tipos de poluição. As mudanças ainda são lentas na diminuição do potencial poluidor do parque industrial paraibano, principalmente no tocante às indústrias mais antigas, as de médio e pequeno porte,que continuam contribuindo com a maior parcela da carga poluidora gerada e elevando risco de contaminação ambientais sendo, portanto, necessário altos investimentos de controle ambiental e custos de despoluição para controlar a emissão de poluentes, do lançamento de efluentes. Os empresários, individualmente e participando de associações de classe, tem percebido que sem um meio ambiente sadio os negócios estão sob risco. A sobrevivência da empresa não é possível sem recursos naturais disponíveis. Os altos custos, decorrentes do manejo adequado e em alguns casos do armazenamento e/ou da incineração, induzem a comportamentos inadequados, como o descarte de resíduos em locais impróprios. Deve-se considerar, também, que nem todos os Estados possuem aparato com condições técnicas de aconselhar e vigiar o funcionamento de empresas que utilizam o cromo em seus processos. As empresas que geram menos riscos de poluição são aquelas que exportam seus produtos; Há um risco de poluição de corpos d água por lançamento de resíduos de curtume com presença de Cromo III; Há um risco de poluição do solo por lançamento de aparas de couro a céu aberto contendo Cromo III. Há um risco de poluição do solo por óxido de chumbo devido a destinação inadequada de sucatas de baterias. Observou-se o risco da população contaminarem-se por manusearem resíduos lançados a céu aberto em especial aparas de couro; Panorama Atual Caracterização Insuficiente da Situação Insuficiência de Medidas de Minimização de Resíduos Insuficiência da Quantidade e da Periculosidade dos Resíduos Gerados; Ausência de local destinação final dos resíduos; Passivo Ambiental REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AWAZU, L.A.M A gestão dos riscos de acidentes ambientais. Revista Engenharia Ambiental, São Paulo, 3, n. 9, jan/1990, p AYALA, F. J Introducción a los riegos geologicos. In: Riesgos geologicos. Madrid: Instituto Geologico Y Minero de España. P BRASIL. Presidência da República. O desafio do desenvolvimento sustentável: relatório do Brasil para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Brasília: CIMA, p COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE. Nossa Própria Agenda, [1991}. 241p 5. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, p. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

6 6. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Lei da vida: a lei dos crimes ambientais: lei nº 9.605/98 e Decreto nº 3.179/99. Brasília: MMA, p. 7. MIRRA, Alvaro. IN: MORATO LEITE, José Rubens(Org.). Inovações em direito ambiental. Florianópolis: Fundação Boiteux, MORATO LEITE, José Rubens(Org.). Inovações em Direito ambiental. Florianópolis: Fundação Boiteux, MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, PARK, C. C Environmental hazards; aspects of geography. 2 nd. Ed. London: Macmillan Education. 62p. 11. SEVÁ, O Urgente: combate ao risco tecnológico. Cadernos FUNDAP, São Paulo, v. 9, n. 16, p ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6