PESSOA JURÍDICA MATERIAL EXTRA APOIO CRISTIANO SOBRAL

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1 PESSOA JURÍDICA MATERIAL EXTRA APOIO CRISTIANO SOBRAL 1. DEFINIÇÃO Também inttulada de ente moral, a pessoa jurídica não tem existência concreta, todavia, como o nome indica, é uma pessoa para o direito. Isso signifca que ela nada mais é do que um ente abstrato que pode ter direitos e deveres próprios. Se duas pessoas criam uma sociedade e, em nome dela, um dos sócios contrai uma dívida, devedora é a sociedade e não os sócios, pois ela é uma pessoa jurídica. Do mesmo modo, se um policial em exercício da função causar um dano a alguém, a indenização poderá ser cobrada do Estado, pois ele também é uma pessoa jurídica. Logo, pessoa jurídica é um ente abstrato formado por um conjunto de pessoas naturais ou de bens reunidos para um determinado fm, a quem a lei reconhece personalidade jurídica, ou seja, aptdão para ter direitos e deveres próprios. Constate que a pessoa jurídica pode ser formada não só por pessoas naturais, entretanto também por um conjunto de bens. Por ser dotado de personalidade jurídica, o ente moral tem a proteção dos direitos da personalidade, contudo não de todos, pois alguns são incompatveis com sua natureza abstrata. Como exemplo, ele tem direito de imagem, porém não tem direito à vida. Por isso, o artgo 52 da Legislação Civilista diz que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. Nos termos da Súmula n. 227 do STJ, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Há uma corrente que defende que não, pois dano moral é uma ofensa à honra e a pessoa jurídica e, em razão de sua abstratvidade, não teria honra. Na verdade, a honra pode ser de dois tpos: subjetva (o que eu penso de mim, isto é, minha autoestma) e objetva (o que as pessoas pensam de mim). Por ser um ente abstrato, a pessoa jurídica não tem honra subjetva, no entanto tem honra objetva, podendo, portanto, sofrer dano moral. Ainda em razão da natureza abstrata da pessoa jurídica, alguém tem de ser a sua voz, falar em nome dela, papel que cabe ao administrador. Por isso, quando ele assume uma obrigação, não obriga a si próprio, mas sim à pessoa jurídica. Atenção! Ao criar a pessoa jurídica, os membros podem colocar no ato consttutvo limitações à sua atuação. Caso ele pratque algum ato excedendo seus poderes defnidos no ato consttutvo, excepcionalmente obrigarão a si próprio e não à pessoa jurídica (art. 47 do CC).

2 2. ESPÉCIES (arts. 40 a 44, CC) A pessoa jurídica pode ser de três espécies: de direito público interno, de direito público externo ou de direito privado. Importante destacar quem são as pessoas jurídicas que se inserem em cada uma dessas classifcações. a) Pessoas jurídicas de direito público interno: entes federatvos (União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios), autarquias, associações públicas (entes federatvos que se associam para realizar alguma atvidade conjuntamente) e demais entdades de caráter público criadas por lei (ex.: agências reguladoras). b) Pessoas jurídicas de direito público externo: são as pessoas jurídicas que têm representatvidade internacional, que são reconhecidas no cenário internacional. Exemplo: Estados estrangeiros, organismos internacionais (ONU) e a República Federatva do Brasil. c) Pessoas jurídicas de direito privado: sociedades, associações, fundações, partdos polítcos, organizações religiosas e a empresa individual de responsabilidade limitada. A rigor, é correto afrmar que são as sociedades, as associações e as fundações, pois partdos polítcos e organizações religiosas são espécies de associações e a empresa individual de responsabilidade limitada nada mais é do que uma sociedade que só tem um único sócio. Com efeito, até o início de 2011, não se admita como regra a sociedade unipessoal, ou melhor, com um único sócio, razão pela qual era preciso negociar com pelo menos uma pessoa caso tvesse a vontade de consttuir uma sociedade. Assim, usava-se muito a fgura do laranja, tendo uma pessoa 99% do capital social e o outro apenas 1% do mesmo, simulando uma sociedade com apenas um sócio. Por isso, a partr do início de 2011, com a alteração da Lei Civil, que incluiu como pessoa jurídica de direito privado a empresa individual de responsabilidade limitada, permite a lei agora a consttuição de sociedade limitada com um único sócio. A vantagem, como se aprofunda no estudo do direito empresarial, é limitar a responsabilidade enquanto sócio pelas dívidas contraídas no exercício da empresa, pois quem responde é a sociedade enquanto pessoa jurídica e não o único sócio dessa sociedade. Assim, só responde com o patrimônio levado para sociedade ao contribuir para o capital social. Vale ressaltar que os sindicatos também são pessoas jurídicas de direito privado, pois têm natureza associatva, bem como as cooperatvas, que, de acordo com os termos do parágrafo único do artgo 982 do Código Civil, são sociedades simples. Qual a diferença entre sociedade, associação e fundação? Sociedade tem fnalidade lucratva; a associação e a fundação não visam ao lucro. Diferenciando as entdades não lucratvas, a associação é formada por um conjunto de pessoas (universitas personarum); por sua vez, a fundação é formada por um conjunto de bens (universitas bonorum). Assim sendo, se pessoas se organizam para a venda de algum produto para lucro pessoal, criam uma sociedade. Por outro lado, se essas pessoas se organizam para dar aulas gratuitas para crianças carentes, consttuem uma associação. Se, todavia, uma pessoa destna alguns bens do seu patrimônio para exercício de

3 uma fnalidade não lucratva, cria uma fundação. Repare que associações e fundações não são espécies de sociedades, mas também, como ela, pessoas jurídicas de direito privado. O que são entes despersonalizados? É o ente que não tem personalidade jurídica, entretanto possui capacidade para ser parte em um processo judicial, quer dizer, embora não possa ter direitos e deveres, pode ser autor ou réu em demandas judiciais por expressa previsão legal (art. 12 do CPC). Exemplos: condomínio edilício, espólio, herança jacente, herança vacante, massa falida, pessoa jurídica sem registro do ato consttutvo. 3. AQUISIÇÃO E TÉRMINO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (arts. 45 a 51, CC) A pessoa jurídica adquire a personalidade jurídica com o registro de seu ato consttutvo em cartório, averbando-se todas as modifcações pelas quais passar. Contudo, algumas pessoas jurídicas necessitam de uma prévia autorização do governo para funcionarem. Por exemplo, os bancos pelo Banco Central e as faculdades pelo MEC. No entanto, a perda da personalidade jurídica só poderá ocorrer depois que todos os credores forem pagos, pois a partr daí ela não pode mais ter deveres. Esse pagamento se dá na chamada fase de liquidação, na qual é nomeado um liquidante, que tem a função de arrecadar os bens da pessoa jurídica e negociá-los para o pagamento dos seus credores. Por isso, o artgo 51 da Norma Civilista prevê que a pessoa jurídica subsistrá para fns de liquidação, até que esta se conclua. Note em sua redação que o mesmo se dá na chamada dissolução administratva, que ocorre quando cassada a autorização de funcionamento, nos casos em que esta é exigida. Assim sendo, se o MEC cassar a autorização de funcionamento de uma faculdade em razão da má qualidade do ensino, ela também só perderá sua personalidade jurídica após o encerramento da fase de liquidação. 4. ASSOCIAÇÕES (arts. 53 a 61, CC) Associação é a pessoa jurídica formada por um conjunto de pessoas naturais que se reúnem para pratcar atvidade não econômica. A associação até pode cobrar ou receber valores, o que não retra sua natureza associatva, desde que investdos na própria associação. A associação não visa ao lucro, porém deve buscar superávit, ou seja, dinheiro para pagar suas contas. Não ter fns econômicos signifca que não visa ao lucro de seus membros, que são os associados. Assim, o parágrafo único do artgo 53 do Diploma Civil estabelece não haver direitos e deveres entre os associados. Em se tratando de associação que reclame aporte de recursos dos associados, tal obrigação não é para com os demais associados, e sim para com a associação, uma vez que ela não visa ao lucro de seus membros. Seu ato consttutvo é o Estatuto. Em regra todos os associados devem ter iguais direitos, visto que a associação não visa ao lucro. No entanto, o estatuto pode insttuir categorias de associados com vantagens especiais, por exemplo, associados beneméritos, enquanto grupo composto por associados que contribuíram de alguma forma mais efetva para a associação.

4 A atual Legislação Civilista conferiu, como regra, caráter personalíssimo às associações. Nos termos do seu artgo 56, salvo previsão em contrário no estatuto, a qualidade de associado é intransmissível. Um associado pode ser excluído da associação, todavia isso exige dois requisitos: justa causa (condutas previstas no estatuto que legitmam sua exclusão) e procedimento próprio que garanta ao associado o direito de contraditório e de ampla defesa. Diante da fnalidade não lucratva, na dissolução da associação o seu patrimônio não é partlhado entre os associados, entretanto é destnado a outra entdade sem fns lucratvos defnida no seu estatuto. Se omisso, será escolhida por deliberação dos associados, insttuição municipal, estadual ou federal de fns idêntcos ou semelhantes. Em não havendo essa insttuição no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território em que a associação tver sede, será destnado à Fazenda do Estado ou do Distrito Federal, ou ainda à Fazenda da União, caso situada em um Território. 5. FUNDAÇÕES (arts. 62 a 69, CC) Fundação é a pessoa jurídica de direito privado formada por um conjunto de bens reunidos para a prátca de atvidade não econômica. Sua consttuição é mais complexa, sendo um processo composto de quatro fases: dotação, estatuto, aprovação e registro. O ato consttutvo da fundação é um Estatuto. Mas, como ela é formada por um conjunto de bens, antes da elaboração do estatuto, o seu insttuidor deve destnar bens de seu patrimônio para sua consttuição. É o ato de dotação, isto é, afetação de bens livres para a criação da fundação. A lei exige forma especial para o ato de dotação, devendo ser por escritura pública ou até por testamento, pois uma pessoa pode testar destnando bens para criação de uma fundação com a sua morte. O ato de dotação deve indicar obrigatoriamente a fnalidade da fundação, que, nos termos do parágrafo único do artgo 62 da Lei Civil deve ser religiosa, moral, cultural ou de assistência, ou melhor, não lucratva. A fnalidade da fundação é imutável, isto é, ela não pode ser alterada, nem tampouco os bens poderão retornar ao insttuidor, pois uma vez dotados, não lhe retornam. A solução está no artgo 63 do Código Civil, que prevê sua incorporação em outra fundação de fm igual ou semelhante. Após o ato de dotação, será elaborado o estatuto, que pode ser feito pelo próprio insttuidor ou quem por ele indicado. O prazo para a elaboração do estatuto será indicado pelo insttuidor no ato de dotação. Se não for indicado o prazo, este será de 180 dias. Se não elaborado no prazo indicado, ou, não havendo, em 180 dias, a incumbência caberá ao Ministério Público. Fiscalizar as fundações é função insttucional do Ministério Público. Por isso, o estatuto da fundação deverá ser aprovado pelo MP, com possibilidade de recurso ao juiz diante de

5 inconformismo com eventual recusa, para posterior registro, quando a fundação adquire sua personalidade jurídica, completando o processo de sua formação. O estatuto da fundação pode ser alterado, contudo a lei impõe três requisitos: aprovação de 2/3 dos integrantes do órgão de administração, não modifcando o propósito da fundação, e do Ministério Público com recurso ao juiz diante de eventual recusa. Se não houver aprovação unânime, a minoria vencida deve ser comunicada, para, se quiser, impugnar junto ao MP, no prazo de dez dias. A extnção da fundação poderá será requerida pelo Ministério Público ou por qualquer interessado quando a fnalidade se tornar ilícita, impossível ou inútl, ou ainda no caso de uma fundação criada por prazo determinado, quando completar o prazo de sua existência. Uma vez que o patrimônio da fundação não pode retornar ao seu insttuidor, ele será destnado a outra entdade sem fns lucratvos, tal como ocorre com as associações. Essa entdade será defnida no estatuto da fundação. Se omisso, como não há associados para deliberar, caberá ao juiz escolher outra fundação de fns iguais ou semelhantes. RESUMO Este capítulo traz a defnição, espécies, aquisição e término da personalidade jurídica da pessoa jurídica. Trata ainda das associações e fundações. A pessoa jurídica é um ente abstrato, moral. Consttui-se através de um conjunto de pessoas naturais ou de bens reunidos para um objetvo defnido, dotada de personalidade jurídica. Estão classifcadas em de direito público interno, entes federatvos, autarquias, associações públicas e demais entdades de caráter público criadas por lei; direito público externo, entdades que possuem representatvidade internacional; e, as de direito privado, compreendidas as sociedades, associações, fundações, partdos polítcos, organizações religiosas e a empresa individual de responsabilidade limitada. As associações e fundações serão objeto de análise mais aprofundada neste capítulo. A pessoa jurídica adquire a personalidade jurídica com o registro de seu ato consttutvo em cartório. Quando da sua dissolução ou cassada a autorização para seu funcionamento, terá contnuidade até que se conclua a liquidação. São ainda aplicadas às pessoas jurídicas, no que couber, os direitos da personalidade.