O Objecto Etnográfico e a Medicina Tradicional em África. Manuela Cantinho
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- Isaque de Sousa Palhares
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1 O Objecto Etnográfico e a Medicina Tradicional em África Manuela Cantinho
2 Medicina Tradicional na África Subsaariana Grande diversidade cultural Sistemas muito antigos transmitidos oralmente
3 As práticas terapêuticas em África são muito diversas: 1. Arte da adivinhação 2. Arte da cura 3. Arte da protecção Todas elas associadas à manipulação de diversos objectos
4 A elaboração e manipulação destes utensílios envolve a doença e o infortúnio numa trama que atravessa: 1. O corpo e a pessoa que o habita 2. A família 3. A aldeia 4. Os antepassados 5. O mundo dos espíritos e das divindades
5 Grande diversidade de utensílios terapêuticos 1. Utensílios para questionar a sorte 2. Amuletos protectores 3. Representações dos antepassados 4. Representações da doença 5. Máscaras 6. Objectos para curar, ritualmente cobertos de substâncias mágicas (sangue, saliva, diversos ingredientes naturais) 7. Medicamentos onde a farmacopeia ocidental encontra muitas substâncias activas 8..
6 Etapas terapêuticas que se misturam social e simbolicamente: 1. Concepção da saúde / doença 2. Harmonia entre os mundos 3. Ler a desordem 4. Adivinhação / Arte do diagnóstico 5. Arte da cura 6. Arte da protecção
7 Saúde - Doença Harmonia entre dois mundos Concepção de doença Concepção de saúde
8 Concepção de saúde: 1. Respeito pelas regras sociais 2. Respeito pelos antepassados 3. Respeito pelos espíritos Sinais de saúde: 1. Maternidade 2. Fecundidade 3. Prosperidade do grupo
9 Concepção de doença: 1. Desrespeito pelas regras sociais, 2. Desrespeito pelos antepassados 3. Desrespeito pelos espíritos Sinais de doença: 1. Infecundidade 2. Não prosperidade do grupo 3. Doença física = desordem social
10 Representação da doença e da esperança na cura (preto/branco) Máscara que apresenta uma deformação resultante de uma paralisia facial. Representa a doença ou o infortúnio de quem transgrediu, que teve um comportamento impróprio. Utilizada com uma função didáctica em danças nas cerimónias de iniciação. Máscara Mbangu, Pende (Congo)
11 Arte da adivinhação Arte da cura
12 Processo de adivinhação Ngombo Antes de começar o processo de adivinhação procede-se ao rito da pemba
13 Processo de adivinhação Ngombo Cesto de adivinhação Ngombo ya cisuka Mutopa Adivinho (Tahi) aspirando o fumo da Mutopa durante o processo de adivinhação
14 Processo de adivinhação Ngombo Chokwe (Angola) Museu da SGL Cesto de adivinhação Ngombo ya cisuka Microcosmos da vida dos Chokwe Mutopa (cachimbo de água) Cachimbo de água utilizado pelo thai (adivinho) durante a leitura do cesto de adivinhação. O fumo que este vai soprando sobre o ngoombo (conjunto do cesto e dos pequenos objectos que este contem) é uma oferta do adivinho que potencia o processo de adivinhação. Museu da SGL
15 Processo de adivinhação Ngombo Almofariz p/ triturar remédios Recipiente (cimangu) p/ guardar remédios Ventosa Kabongo ya Ngombo (cesto onde se guardam todos os objectos da adivinhação)
16 Processo de adivinhação Ngombo Após o processo de adivinhação procede-se novamente ao rito da pemba
17 Museu da SGL Misambu (chocalho) Lunda-Chokwe, Angola Utilizado pelo adivinho para afastar os espíritos maléficos, durante o processo de adivinhação
18 Opon ifa Yoruba (Nigéria) Adivinho com a tábua de adivinhação (opon ifa) coberta com caulino e o recipiente (agere ifa) com as nozes de palma sagradas (19 p/ homem ou 17 p/ Agere ifa
19 Oráculo de fricção (itombwa) Wongo (RDC)
20 Mukanda Circuncisão dos rapazes (fase pré-operatória) Lwalu (bandeja onde foram colocadas folhas trituradas) O operador chefe rega os rapazes com uma mistura de água e folhas trituradas (purificação)
21 Mukanda Circuncisão dos rapazes Almofariz onde foram trituradas as folhas durante a fase pré-operatória da Mukanda
22 Museu da SGL Facas de circuncisão
23 Após a circuncisão o sangue é estancado com: Lodo (colocado na cabeça do paciente) Pó proveniente da trituração de plantas hemostáticas (interrompem o sangramento). Farinha de mandioca cozida e quente Processo de cicatrização: Vão colocando sobre o pénis casca de raiz de lupunga. Rapazes circuncizados com a vareta lupaci Seiva de algumas árvores (ex: Burkea africana HOOK/Família das Leguminosas)
24 Minkisi (Kongo) (Medicamentos de Deus) Figura em postura real telama lwimbanganga, indicativa da sua capacidade de clarividência. Embora seja o escultor que executa estes objectos, é o ngaanga (especialista do ritual) que providencia o bilongo, através das substâncias mágicas que lhe confere a força sobrenatural. Museu da SGL
25 Minkisi (Kongo) (Medicamentos de Deus) 1. Vigilantes da moral e da saúde 2. Cura / destrói 3. Protege / ataca 4. Essência do Nkisi: conter uma alma e dizer-lhe o que fazer 5. Assume diversas formas: vaso cerâmico; saco. cesto; estatueta 6. Receptáculo que contem medicamentos que activam os espíritos. 7. Só a partir desse momento o Nkisi tem alma (mooyo) e pode exercer a sua função 8. Medicamentos que dão vida e despertam o Nkisi: nomeadamente terras de cemitério, caulino, pó de giz
26 A Tshol (Medicamento) Baga (Guiné-Bissau) Peça de santuário e toucado de dança utilizado para curar e proteger a comunidade. Colocadas algumas substâncias com poderes sobrenaturais dentro dos orifícios Museu da SGL
27 Tambor amuleto Recipiente para medicamento Yaka/Nkanu Angola Museu da SGL
28 Tambor de fenda (mukoko ou n-kooku) Embora as suas funções possam ser diversas, é usado exclusivamente pelos adivinhos-curandeiros yaka/nkanu. Quando serve de recipiente, o ngaanga ngoongo (adivinho curandeiro) mistura nele as substâncias mágicas com que prepara os medicamentos para administrar aos doentes.
29 Receptáculo / Figura de chefe Chokwe (Angola) Revela as competências regenerativas dos chefes (antepassados) Receptáculo utilizado para conter substâncias rituais /medicinais. Ajuda a activar os poderes sobrenaturais dos chefes (antepassados) Ligação ao mundo dos espíritos Tampa
30 Arte da protecção Amuletos: individuais, da família e da comunidade
31 Escultor borrifa, com vinho de palma, a árvore que escolheu para esculpir um Iran Museu da SGL Dois Irans Bijagó
32 Amuleto Ndembo (Angola) Museu da SGL Utilizado com funções mágico religiosas. Saquinhos com substâncias medicinais. Amuleto Kongo (Angola) Museu da SGL Utilizado com funções mágico religiosas. Recipiente com substâncias medicinais.
33 Barrete Mandinga, Guiné-Bissau Utilizado pelo adivinho/curandeiro. As bolsas em couro contêm pedaços de papel com inscrições de passagens do Corão, destinadas a proteger ou a curar. Normalmente o adivinho diagnostica as causas do mal que afligem o consulente e confecciona um amuleto/talismã composto a partir de passagens do livro sagrado, que se crê produzirem efeito imediato. Museu da SGL
34 Tábuas corânicas Guiné-Bissau Inscrição de passagens do Corão alusivas ao problema de saúde do paciente. A inscrição é lavada com água onde estiveram imersas diversas raízes. O paciente ingere o líquido resultante da lavagem. (A tinta é normalmente constituída por: carvão, argila, água e goma arábica) Museu da SGL
35 Função Social da Medicina Tradicional O adivinho/psicoterapeuta O curandeiro/ervanário Saúde e reinserção social Sistemas alternativos Usos sociais da doença em África
36 Agradecimentos Agradece-se à Sociedade de Geografia de Lisboa a cedência das imagens do seu Museu Etnográfico, devidamente assinaladas.. SGL - Imagens
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