Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

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1 1 Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, O PRONA preocupado com as questões da soberania nacional e segurança, traz como reflexão e denúncia, a aquisição dos caças franceses Mirages pelo governo brasileiro, numa decisão mais política do que técnica. As nossas Forças Aéreas, como uma das últimas Instituições Nacionais que goza do respeito da sociedade, não podem ficar expostas diante de tais indícios de negociações escusas, como veremos a seguir. Chamamos a atenção do Comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno, do Ministro da Defesa José Alencar e do Sr. Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, sobre tais negociações, para que não haja, posteriormente, mais alegações de que não tinha conhecimento, como vem ocorrendo com frequência.

2 2 Entre os especialistas em assuntos estratégicos e militares, causou surpresa a decisão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de voltar dos festejos do 14 de julho na França com um contrato assinado para a compra de 12 caças Dassault Mirage , destinados ao 1º. Grupo de Defesa Aérea (GDA) de Anápolis (GO). O valor do negócio foi de 80 milhões de euros (cerca de R$ 225 milhões de reais), que deverão ser pagos em seis parcelas anuais até O preço não inclui o pacote de armamentos. Parece ao Presidente que, o avião é novinho em folha, tem recursos técnicos, ultramoderno e com poder de alcance adequado e máxima segurança. Assim pode cumprir sua missão. Para nossos militares, pilotos combatentes, é um avião velho, monomotor, alcance inadequado, com recursos técnicos antigos e armas inferiores, ou seja, sem nenhuma segurança. Não podendo cumprir a missão de defesa do território nacional.

3 3 Para alguns, a aquisição dos aviões usados, da França, configura um fiasco para o Projeto FX, o malogrado esforço de mais de uma década da Força Aérea Brasileira (FAB) para dispor de aeronaves interceptadoras de ponta. Porém, um exame mais detalhado dos fatos sugere que o caso pode acabar se desdobrando em mais um dos múltiplos escândalos nos quais o Governo Lula vai submergindo. Para começar, os Caças Mirages que estão sendo adquiridos e que serão retirados de unidades ativas da Força Aérea Francesa, deverão ser entregues em três lotes de quatro caças: em dezembro de 2006, dezembro de 2007 e dezembro de Porém, como os Dassault Mirage III EBR/DBR que atualmente equipam o Grupo de Defesa Aérea- (GDA) serão desativados impreterivelmente, no final de 2005, quando a FAB será obrigada a destacar aviões F-5BR (versão modernizada pelo consórcio israelense-brasileiro Elbit-Embraer) de outro esquadrão, para cobrir a lacuna até a chegada dos aviões adquiridos.

4 4 Além desse adicional não estar computado no custo de aquisição dos caças franceses, a logística completamente diferente das duas aeronaves acarretará problemas, o que seria aceitável em uma solução definitiva, mas se torna disparatado para uma situação provisória. Ademais, tanto os equipamentos eletrônicos como os armamentos dos caças adquiridos, são incompatíveis com os que serão utilizados pelos aviões de combate modernizados da FAB, os F5-BR e A1-M (AMX). No caso dos instrumentos aviônicos, até mesmo os dos aviões de treinamento avançado A- 29 Supertucano, lhes serão amplamente superiores. Com isto, apresentar-se-á a esdrúxula situação em que um aspirante a piloto de caça treinado em um A-29, que é dotado de equipamentos digitais de última geração, passe depois para um Mirage , equipado com instrumentos analógicos de uma geração tecnológica superada.

5 5 O absurdo chega ao ponto de não virem sequer equipados com sistemas de enlace de dados (datalink), que permitem comunicações e transmissões de dados entre aeronaves e os controles de terra por meio de pulsos digitais, sem o uso de radiofonia, facilmente detectável ou passível de interferência por eventuais oponentes. Num cenário de guerra aérea moderna, aviões de combate sem tal recurso são inúteis para missões reais. Serviriam somente para demonstrações em eventos festivos. Outro avião o Mig-29, foi oferecido como alternativa, com a ressalva de que o aparelho precisa trocar todo o barramento e o míssil ainda operaria sem total eficiência. Diante de tantos disparates, fica no ar a suspeita de que por trás do negócio estariam interesses alheios aos militares. De fato, a Tribuna da Imprensa de 8 de agosto afirma que o lobby, em favor dos aviões franceses,

6 6 teve o importante reforço do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como "Kakay". Segundo matéria veiculada no mesmo jornal, em artigo de Almino Corrêa, coincidentemente, na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à França, nas comemorações do Ano do Brasil, o desenvolto advogado Almeida, também estava em Paris. Almeida Castro é um dos mais conhecidos e caros advogados de Brasília, tendo entre seus clientes a fina flor do poder político nacional, além de pesos pesados do empresariado, como o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. Foi um dos advogados do Sr. Marcos Valério, isto para não mencionar o fato de ser considerado por alguns o "primeiro-amigo" do ex-ministro José Dirceu. Como a decisão ainda terá que ser submetida ao crivo da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, ao confirmar que os interesses da segurança nacional foram deslocados por

7 7 negociatas promovidas por lobistas, caberá à Câmara Alta impedir mais um prejuízo para o País. Concebido para ser uma forma de trazer concorrentes que oferecessem não só aviões, mas tecnologia ao país, o F-X virou pó. Houve pressões políticas de todos os tipos nos governos FHC e Lula, mas o projeto acabou morrendo por uma inépcia decisória curiosa para um governo que desembolsou quase 60 milhões de dólares por um novo avião presidencial. Adotando a compra direta, ainda que ela possa encerrar alguma contrapartida, fica enterrada a possibilidade de um acordo de transferência tecnológica e abertura de mercados. Além disso, os aviões serão adaptados pelos franceses antes de serem entregues, ou seja, todos os sistemas mais sensíveis do ponto de vista tecnológico devem ser extirpados. No futuro, quando a Força Aérea optar por um modelo realmente de combate, essas aeronaves não poderão ser devolvidas e não terão lugar no

8 8 mercado, estarão destinadas a museus ou vendidas por quinquilharias. Os russos, por outro lado, nunca entenderam a relutância do Brasil em adquirir o caça Sukhoi-35, um magnífico aparelho capaz de manobras impossíveis a caças ocidentais, apto a transportar, por inacreditáveis 4 mil quilômetros, sua vasta gama de armamentos, claramente superiores aos análogos norte-americanos. A singular aeronave, projetada originalmente para defender os céus do extinto gigante soviético, encaixa como uma luva às necessidades brasileiras, principalmente devido ao seu longo alcance, sendo indispensável à construção de uma estratégia de defesa séria. A estranha alegação de que bastam bons radares e mísseis, está longe de corresponder à realidade. Um caça que se pretende transformar em espinha dorsal da Força Aérea, de um paíscontinente que aspira tornar-se potência, precisa ser algo mais do que uma plataforma com bons radares e mísseis. Se assim fosse, bastaria incorporar o

9 9 equipamento aos velhos F-5 que ainda voam e o problema seria plenamente resolvido. Nuvens adensam no horizonte das relações internacionais e prenunciam tormentas em um futuro não muito distante. Pensar o futuro de um país que abriga o maior reservatório de recursos naturais de um mundo tenso pela escassez crescente, sem tratar a defesa como assunto da mais alta relevância, é de criminosa irresponsabilidade. É preciso que se fiscalize o processo a fim de evitar que altos interesses nacionais sejam mais uma vez preteridos em benefícios de interesses políticos menores e favorecimentos pessoais. Obviamente, isto também seria determinante para a construção de uma capacidade de defesa compatível com as necessidades de um País que pretende se inserir soberanamente no conceito global. Porém, para que se concretizem propostas que coloquem os interesses nacionais acima de tudo,

10 10 será preciso que não apenas as classes dirigentes, mas também amplos setores da sociedade se conscientizem de que Defesa Nacional e Forças Armadas capazes, não são luxo de países desenvolvidos, principalmente nesse conturbado e imprevisível início de milênio. Uma capacidade de dissuasão militar efetiva não se improvisa ou se constrói da noite para o dia. Requer longos prazos de planejamento e implementação ao longo de vários governos, mandatos e comandos. Nessa área, as decisões costumam repercutir muito tempo depois que seus tomadores tenham deixado a vida pública/profissional e até mesmo a própria vida terrena. Para solucionar a questão, foi assinado em Paris, no dia 14 de julho passado, pelo Presidente da República, o memorando de intenção, mas a solução Mirage é temporária, pois os aviões estão sendo comprados e aqui ficarão ad eternum.

11 11 Corremos o risco de adquirir material fora de linha, pois se não houver estoque terá que ser fabricado e, em pequena quantidade. Além disso, continuaríamos a sangrar os recursos públicos do pagamento da revisão de turbinas usadas, ao custo de 1 milhão/800 mil dólares cada. Por que estender tal pagamento por 30 anos? O negócio com a França, carece de maior transparência. Não vimos as altas patentes da aeronáutica debaterem sobre o assunto. Nada noticiado sobre a participação do Conselho Nacional de Defesa sobre essa operação feita de maneira abrupta com que se pretendeu liquidar a concorrência do FX-BR. A concorrência do FX-BR foi entendida como descartada por simples correspondência recebida em 22 de fevereiro de 2005, após um ano de dúvidas, postergações e declarações contraditórias. Foi assinada pelo Brigadeiro Aprígio Eduardo de Moura Azevedo, presidente da Comissão de Seleção do Projeto FX-BR. Em declaração posterior,

12 12 conforme notícia veiculada na Gazeta Mercantil de 07 de julho de 2005, o Comandante da Aeronáutica informa que o processo foi simplesmente adiado. Destaca-se, ainda, a exigência de Offset, motivo de muito orgulho da FAB. De modo que se houvesse Offset nesta operação, estaria sendo alardeado aos quatro ventos. Na verdade, o que houve foi o melindroso fato de um grupo comercial francês ter desembolsado 300 mil dólares para custear a turnê do Presidente da República, com a esquadrilha da fumaça e cadetes das Agulhas Negras, para a festa de 14 de julho passado. De fato, uma grande festa para os franceses: vamos vender raras antiguidades, sem projeções para o futuro. Poderíamos comparar dizendo ser imprescindível adquirir um Chevete 85 se comparado a um Fiat 147 do ano 74. Sr. Presidente, estamos diante de um crime de lesa-pátria. Atualmente, o mais importante produto tecnológico aeronáutico brasileiro, do qual a FAB

13 13 possui 5 unidades, se destinam ao policiamento do nosso território, da Amazônia tão cobiçada. Eles não poderão ser utilizados em conjunto aos Mirages , ou seja, a FAB tem opções melhores, mais modernas e com menores custos. O impasse abriu espaço para que os americanos, cujo caça F-16 estava fora de cogitação, voltassem à carga, desta vez com uma proposta insidiosa para restabelecer a primazia da venda de material bélico americano ao Brasil. Como se não bastasse o contrato assinado com a França, há rumores sobre a compra de 16 caças F-16 usados, tipo MLU, montados sob licença na Holanda pela ex-fokker, ao preço de 12 milhões de dólares cada um, totalizando 192 milhões de dólares. A proposta foi apresentada pela Lockheed do Brasil, através de seus representantes no País coincidentemente, dois oficiais da reserva da FAB; pela Power Pack do Brasil, que tem interesse na manutenção dos motores Pratt & Whitney, que

14 14 equipam essa versão do F-16; e pela Varig Engenharia e Manutenção - VEM. A proposta tem o respaldo do Comando Geral de Apoio da FAB, o COMGAP e teria a vantagem de parecer a melhor solução para o impasse. No entanto, além de não transferir tecnologia para a indústria aeronáutica brasileira, a compra de caças F-16 usados ou novos traria uma dor de cabeça adicional para os pilotos da FAB e para a defesa do espaço aéreo brasileiro. Veja-se o exemplo do Chile, que há alguns anos comprou dez F-16 com mísseis ao custo de 700 milhões de dólares e ficou a ver navios. Os EUA alegaram que esse tipo de armamento era ofensivo e sua venda deveria ser restringida, caso contrário poderia incentivar uma corrida armamentista no Cone Sul. Há rumores de que, a União Européia convidará oficialmente o Brasil para ingressar no Projeto Galileu, um sistema de posicionamento por satélite equivalente ao Global Positioning System-GPS estadunidense.

15 15 Não obstante, para que tais perspectivas se concretizem, será preciso que os interesses maiores da Nação sejam colocados acima dos interesses corporativos e da mentalidade estreita da tecnocracia fazendária obcecada com a rigidez orçamentária. Portanto, para o Brasil, a solução ideal seria abandonar o FX em sua forma atual e aderir a um dos projetos em desenvolvimento ou planejamento no mundo. O Governo russo está em busca de parcerias internacionais para o seu projeto, aparentemente já acertadas com a Índia e a França. Os primeiros protótipos deverão voar em e o avião deverá entrar em produção em série a partir de O custo do programa está estimado na casa dos 6 bilhões de dólares, no qual uma participação em torno de 20% do total, com investimentos distribuídos ao longo de 6-7 anos, e que estaria perfeitamente ao alcance do Brasil. O financiamento poderia provir do BNDES, com

16 16 empréstimos ao consórcio de empresas nacionais que teria que ser formado para a empreitada, aí incluídas a Embraer e a Avibrás, entre várias outras. Posteriormente, a Aeronáutica ressarciria as empresas pelos investimentos em desenvolvimento tecnológico, como fazem os países mais avançados na área de defesa prática que o Brasil precisa adotar. Sr. Presidente, diante de fato tão grave, apresentaremos Requerimento de Informações ao Ministro da Defesa e aguardaremos explicações do Comandante da Aeronáutica na Comissão de Relações Exteriores de Defesa Nacional, já que há uma quase unanimidade nos meios militares sobre a malfadada aquisição. Solicitaremos ainda, explicações, em virtude do expediente EM 00156/2005-MP, assinado pelo Ministro do Planejamento Sr. Paulo Bernardo, de 02 de agosto de 2005 que requer, em favor do Ministério da Defesa, recursos para pagamento da primeira parcela do memorando de entendimento para a cessão onerosa de 12 aeronaves da Força

17 17 Aérea Francesa. Urge, Sr. Presidente, que o Ministro da Defesa, o Comandante da Aeronáutica e o Presidente da República, dêem explicações convincentes à sociedade, sobre mais esse ato grave aos cofres públicos, a fim de que não sejam surpreendidos com uma nova CPI. Era o que tinha a dizer. Dep. ELIMAR MÁXIMO DAMASCENO PRONA - SP