IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE RISCOS COMO SUBSÍDIO À ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA

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1 ISSN IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE RISCOS COMO SUBSÍDIO À ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA Tatiana Valencia Montero (UTFPR) Cezar Augusto Romano (UTFPR) Débora Marques de Lara (UTFPR) Rodrigo Eduardo Catai (UTFPR) Resumo A identificação e análise de riscos são fundamentais para prevenção de acidentes em qualquer área de trabalho, assim como a gestão e aplicação destes conhecimentos através do Programa de Gerenciamento de Riscos. O presente estudo tem como oobjetivo contribuir para a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais no ambiente de trabalho. O ramo escolhido foi o da geração de energia, mais especificamente o das Pequenas Centrais Hidrelétricas, por apresentar um crescimento significativo nos últimos anos e boas perspectivas futuras para atender as demandas energéticas do País. O trabalho foi realizado por meio de visitas técnicas a Usinas Hidrelétricas e entrevistas com os trabalhadores. Foram identificados os riscos comuns às usinas, e estes foram analisados e avaliados pelo método de análise preliminar de risco, sugerindo-se recomendações para a prevenção dos mesmos. Para a aplicação dos conhecimentos na prática, apresenta-se a estrutura de referência de um Programa de Gerenciamento de Riscos. Os resultados do estudo indicam que não é a identificação dos riscos que necessita ser aprimorada, e sim o gerenciamento destes, de maneira que os trabalhadores sejam melhor informados e capacitados, diminuindo os acidentes nas Usinas. Palavras-chaves: Pequena Central Hidrelétrica, Programa de Gerenciamento de Riscos, Acidentes.

2 1. INTRODUÇÃO A energia, em todas suas formas, é indispensável à sobrevivência da espécie humana. E além de sobreviver, a humanidade busca evoluir, descobrindo novas fontes e maneiras de adaptação ao ambiente em que vive e ao suprimento de suas necessidades. Assim, a exaustão ou escassez de determinado recurso tende a ser compensado por outro(s). Em termos de suprimento energético, a eletricidade se tornou uma das formas mais versáteis e convenientes de energia, transformando-se em recurso indispensável e estratégico para o desenvolvimento socioeconômico de muitos países e regiões (ANEEL, 2008). A energia elétrica pode ser obtida a partir de diferentes fontes fósseis. No Brasil, a energia hidráulica é a principal fonte, uma vez que o país dispõe de uma das maiores redes hidrográficas do mundo. As usinas de geração de energia proliferaram a partir da década de 50, dando sustentação ao forte impulso do país rumo à industrialização e ao desenvolvimento e respondendo por quase 90% do total da energia gerada. As usinas existentes no Brasil podem ser do tipo: Eólicas (EOL), Hidrelétricas (UHE), Termelétricas (UTE), Termonucleares (UTN), Solar (SOL), Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) e Central Geradora Hidrelétrica (CGH) (EPE, 2011). A vantagem das PCHs sobre os outros empreendimentos hidrelétricos é que são menos impactantes, devido a sua pequena área de alagamento. Como todo empreendimento, as PCHs são passíveis de Licenciamento Ambiental. Primeiramente são realizados diversos estudos até que seja obtida a Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI), e finalmente a Licença de Operação (LO). Um desses estudos é o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), parte integrante do Plano Básico Ambiental. O PGR deve considerar as condições de segurança do empreendimento, fazendo com que o Concessionário seja responsável pela segurança da barragem em todas as fases, desde o seu projeto até o seu período de operação comercial, isto é, durante toda a vida útil do empreendimento (DRAGONI, 2005). Desta forma o PGR deve visar à gestão dos riscos sociais e ambientais decorrentes das fases de construção e operação do empreendimento, através da identificação de possíveis cenários acidentais e do estabelecimento de estratégias para atuação, caso esses cenários se concretizem. 2

3 Portanto o objetivo deste artigo foi identificar e analisar possíveis riscos em Pequenas Centrais Hidrelétricas de maneira a contribuir com a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais nesta atividade. E, para que o objetivo fosse cumprido foi analisado os principais riscos a que os trabalhadores estavam expostos durante a operação de uma usina hidrelétrica e sugeriu-se medidas de prevenção, redução e controle dos principais riscos identificados as quais serviram de subsídio para a elaboração de PGRs específicos para diferentes usinas hidrelétricas. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Perspectivas do Setor Energético e Matriz Energética Brasileira Segundo Ernst e Young (2008), em 2030 o Brasil terá um consumo de aproximadamente 468,7 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), o que o posicionará como sétimo maior mercado consumidor de energia. Até 2007 o país estava em 11ª posição, com consumo de 223,20 milhões de tep. O estudo indica também que a demanda energética no Brasil deverá crescer na ordem de 3,3% ao ano nas próximas duas décadas, exigindo investimentos na ordem de US$ 750 bilhões até Assim sendo, estima-se que 3,8% dos investimentos mundiais em energia serão realizados no Brasil. Para melhor comparação entre os maiores consumidores de energia no mundo pode-se analisar o Gráfico 1, com dados de 2007, e o Gráfico 2, com as projeções para 2030 (ERNST e YOUNG, 2008) Gráfico 1 - Os maiores consumidores energia em 2007 (em milhões de tep) Fonte: ERNST e YOUNG (2008). 3

4 A energia elétrica no Brasil deve ter um crescimento na sua demanda na ordem de 4,4% ao ano até 2030, como pode ser observado no Gráfico 3. Essa evolução da oferta de energia acarretará também na elevação dos custos da eletricidade, projetando-se um aumento de 31,2% no preço da energia até 2030, em razão do aumento dos custos de investimentos e ambientais (ERNST e YOUNG, 2008). Gráfico 2 - Os maiores consumidores de energia em 2030 (em milhões de tep) Fonte: ERNST e YOUNG (2008) Gráfico 3 - O consumo da energia em 2007 e em 2030 Fonte: ERNST e YOUNG (2008) Como a previsão é de um aumento expressivo do consumo de energia elétrica no mundo e em especial no Brasil, a única forma de atender esse aumento é por meio de investimentos na geração, distribuição e transmissão de energia, tornando esses segmentos muito atrativos em longo prazo. 4

5 O Brasil é o país que detém maior quantidade de água no planeta. Na Tabela 1 é possível observar os países com maiores recursos hídricos. Analisando a tabela nota-se a importância do Brasil no mundo quando se trata de recursos hídricos. País Tabela 1 - Recursos Hídricos por país Recursos hídricos interno ao território (km³/ano) Recursos hídricos de origem externa (km³/ano) Total (km³/ano) % do total Brasil ,81% Rússia 4312,7 194,6 4507,3 10,30% Canadá ,63% Indonésia ,48% China ,2 2829,2 6,46% Estados Unidos ,73% Peru ,37% Índia 1260,5 636,1 1896,6 4,33% Congo ,93% Venezuela 722,5 510,7 1233,2 2,82% Mundo % Fonte: FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (2003) Todo o potencial hídrico do Brasil contribuiu para que a energia hidráulica fosse a mais representativa na oferta de energia elétrica interna do País, atingindo 74% em 2010, o que representa uma elevação em 3,7% em relação a 2009 (MME, 2010). No gráfico 4 pode-se analisar a estrutura da oferta interna de eletricidade no Brasil. Gráfico 4 - Oferta Interna de Energia Elétrica por Fonte (2010) Fonte: Balanço Energético Nacional MME, Pequenas Centrais Hidrelétricas 5

6 As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) são empreendimentos geralmente instalados em rios de pequeno ou médio porte, com desníveis suficientes para gerar potência hidráulica sem a necessidade de grandes volumes de água, que acarretariam em áreas alagadas maiores (ELETROBRÀS, 2000). Geralmente uma PCH opera a fio da água, ou seja, o reservatório não possibilita a regularização do fluxo da água. Dessa forma, em épocas de estiagem a vazão disponível pode ficar menor que a capacidade das turbinas, o que leva a ociosidade. Em outras circunstâncias as vazões são maiores, o que leva a passagem da água pelo vertedouro (ANEEL, 2003). Isso faz com que o custo da energia elétrica gerada pelas PCHs seja maior que de uma usina de grande porte, onde o reservatório pode ser operado de forma a contornar a ociosidade ou os desperdícios de água. Porém as PCHs são usinas que trazem um menor impacto ambiental e ajudam na geração de energia (ANEEL, 2003) Classificação dos Riscos Ambientais A NR 9 considera a presença dos seguintes riscos no ambiente de trabalho: agentes físicos, agentes químicos e biológicos. Eles são capazes de produzir danos à saúde quando superados os limites de tolerância esses limites são fixados em razão da concentração, natureza e tempo de exposição. Entretanto cada trabalhador tem o seu limite de tolerância em virtude da sua suscetibilidade individual, ou seja, o que pode causar danos a alguém pode ser indiferente a outro trabalhador. Portanto, os limites de tolerância definidos pelas normas devem ser usados como valores de referência e nunca como valores fixos (BRASIL, 2012). Os riscos ambientais são classificados em três categorias (BRASIL, 2012): Riscos físicos; Riscos químicos; Riscos biológicos. Além destes podem-se considerar mais duas categorias de risco: os riscos ergonômicos, que são as situações em que o trabalhador está exposto e que podem gerar lesões osteomusculares relacionadas ao trabalho de forma crônica; e os riscos de acidente, que compreendem situações em que o trabalhador está exposto e que podem lhe trazer injúrias ou perda da sua integridade física Análise Preliminar de Riscos (APR) No campo da saúde e segurança do trabalho, a análise de risco compreende uma abordagem planejada e sistemática, aplicada de modo formal e compreensível, que a partir de informações passadas, presentes e futuras pode identificar origens de perigo potencial, ou situações para causar prejuízos, à saúde e segurança do indivíduo, bem como avaliar a 6

7 combinação de severidade e probabilidade associadas a cada uma das origens e/ou situações de perigo identificadas (BARBOSA FILHO, 2010). A análise preliminar de risco, segundo De Cicco e Fantazzini (2003), consiste em uma revisão, geralmente, superficial de problemas gerais de segurança, que são identificados pelo estudo, durante a fase de concepção ou desenvolvimento prematuro de um novo projeto, com a finalidade de avaliar se os riscos identificados serão aceitos na fase operacional. Os princípios e metodologia da APR consistem em realizar-se uma revisão geral dos aspectos de segurança de forma padronizada. Inicia-se descrevendo os perigos e sua caracterização, a partir destes, são identificados as causas (agentes) e efeitos (consequências) dos mesmos, o que permitirá buscar soluções para as possíveis falhas. A prioridade das ações é determinada pela caracterização do risco (BARBOSA FILHO, 2010). O risco é consequência da presença do perigo, e pode ser minimizado pela adoção de ações, medidas ou sistemas que visam prevenir um acidente ou minimizar as suas consequências (BARBOSA FILHO, 2010). De Cicco (1996) considera o gerenciamento de riscos como ferramenta de fundamental importância, pois tem como função auxiliar a tomada de decisões na área de saúde e segurança do trabalho e permitir uma melhor distribuição dos recursos, além de dar base para o processo de definição de medidas de controle. Para o cálculo do Índice de Risco, inicia-se com a graduação da severidade de cada perigo, de acordo com o Quadro 1. Segue-se com a classificação do grau de probabilidade conforme o Quadro 2, e finalmente, multiplica-se os graus obtidos e são obtidos os índices de risco e os níveis de ação necessários, como visualizado no Quadro 3 (FARIA, 2011). SEVERIDADE GRAU EFEITO DESCRIÇÃO AFASTAMENTO 01 Leve Acidentes que não provocam lesões (batidas leves, arranhões). Sem afastamento. 02 Moderado Acidentes com afastamento e lesões não incapacitantes (pequenos cortes, torções leves). Afastamento de 01 a 30 dias. 03 Grande 04 Severo Acidentes com afastamentos e lesões incapacitantes, sem perdas de substâncias ou membros (fraturas, cortes profundos) Acidentes com afastamentos e lesões incapacitantes, com perdas de substâncias ou membros (perda de parte do dedo). 05 Catastrófico Morte ou invalidez permanente. Quadro 1 Graus de Severidade Fonte: Adaptado de Faria, 2011 Afastamento de 31 a 60 dias. Afastamento de 61 a 90 dias. Não há retorno à atividade laboral. FREQUÊNCIA OU PROBABILIDADE 7

8 GRAU OCORRÊNCIA DESCRIÇÃO FREQUÊNCIA 01 Improvável Baixíssima probabilidade de ocorrer o dano Uma vez a cada 02 anos 02 Possível Baixa probabilidade de ocorrer o dano Uma vez a cada 01 ano 03 Ocasional Moderada probabilidade de ocorrer o dano Uma vez a cada semestre 04 Regular Elevada probabilidade de ocorrer o dano Uma vez a cada 03 meses 05 Certa Elevadíssima probabilidade de ocorrer o dano Uma vez por mês Quadro 2 Graus de Frequência ou Probabilidade Fonte: Adaptado de Faria, 2011 INDICE DE RISCO E GERENCIAMENTO DAS AÇÕES INDICE DE RISCO TIPO DE RISCO NÍVEL DE AÇÕES até 03 (severidade < 03) Riscos Triviais Não necessitam ações especiais, nem preventivas, nem de detecção. de 04 a 06 (severidade < 04) de 08 a 10 (severidade < 05) de 12 a 20 > 20 Riscos Toleráveis Riscos Moderados Riscos Relevantes Riscos Intoleráveis Não requerem ações imediatas. Poderão ser implementadas em ocasião oportuna, em função das disponibilidades de mão de obra e recursos financeiros. Requer previsão e definição de prazo (curto prazo) e responsabilidade para a implementação das ações. Exige a implementação imediata das ações (preventivas e de detecção) e definição de responsabilidades. O trabalho pode ser liberado p/ execução somente c/ acompanhamento e monitoramento contínuo. A interrupção do trabalho pode acontecer quando as condições apresentarem algum descontrole. Os trabalhos não poderão ser iniciados e se estiver em curso, deverão ser interrompidos de imediato e somente poderão ser reiniciados após implementação de ações de contenção. Quadro 3 Índice de Risco e Gerenciamento das Ações Fonte: Adaptado de Faria, METODOLOGIA Para a realização do presente estudo foram visitadas 20 usinas hidrelétricas de diferentes portes e concepções de projeto, distribuídas por diversos estados do país. 3.1 Identificação de Perigos Para identificar os perigos a que os trabalhadores de uma PCH estão expostos foram realizadas visitas a todos os locais de trabalho das diferentes usinas, sempre acompanhada por 8

9 funcionários e conduzindo conversas informais com os mesmos, desde os com função operacional até os cargos de supervisão. Nas usinas que já possuíam riscos identificados em Mapas de Risco, estes foram analisados, comparando as informações com as anteriormente obtidas através da inspeção visual e contato com os funcionários. Foram também consultados os registros de acidentes de trabalho e bibliografia referente ao tema. 3.2 Análise, Avaliação e Tratamento dos Riscos Utilizou-se a Análise Preliminar de Risco para associar a cada perigo suas causas, consequências e recomendações. Com os perigos já listados, e com suas causas e consequências associadas, atribui-se um grau de severidade para cada um. Após a severidade, foi determinado o grau de probabilidade dos riscos de acordo com o obtido em campo e com auxilio a bibliografia, e finalmente, multiplicando-se o grau de severidade pelo grau de probabilidade, obtém-se o índice de risco, que, comparado à severidade, gera o tipo de risco, que pode ser classificado como trivial, tolerável, moderado, substancial e intolerável, definindo os níveis de ação a serem tomados. 3.3 Modelo de Entrevista Realizada com o Funcionários Foi realizada a entrevista com um funcionário de cada uma das 20 usinas, para que as informações fossem mais abrangentes possíveis, independentemente do tipo da usina. Como essas usinas já possuíam algum conhecimento difundido acerca dos riscos e perigos procurou-se um funcionário para responder ao questionário que detivesse amplo conhecimento do funcionamento da mesma, assim como dos programas e treinamentos existentes em cada uma delas. Os trabalhadores que responderam ao questionário ocupavam prioritariamente cargos de Gerente de Meio Ambiente, Engenheiro ou Técnico de Segurança do Trabalho. Na inexistência de algum desses, o questionário foi aplicado a alguém indicado. 9

10 Esse questionário, apresentado no quadro 4, foi elaborado com o intuito de analisar os métodos de prevenção de riscos existentes, participação da alta gerencia, existência de treinamentos, etc. Também foram realizadas entrevistas de caráter complementar e informais com outros funcionários, a fim de possivelmente obter complementações ao respondido no questionário formal. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Depois de realizadas as entrevistas nas 20 usinas, os dados foram tabelados e traduzidos em gráficos para uma melhor análise das perguntas. Para a avaliação dos dados também foram utilizadas as informações obtidas informalmente durante as visitas técnicas. A Figura 5 apresenta a ocupação dos entrevistados. 10

11 INFORMAÇÕES PESSOAIS Ocupação Atual: Idade: Tempo na Ocupação Atual: RISCOS E ACIDENTES SIM NÃO Os trabalhadores recebem informações sobre os riscos a que estão expostos em suas tarefas? Existe algum tipo de sinalização dos riscos? Existem medidas de proteção coletiva? Quais? Quanto tempo a usina está sem acidentes? Qual foi o ultimo acidente? Quanto tempo sem acidentes com afastamento? Qual o último acidente com afastamento EPIs SIM NÃO São fornecidos EPIs aos trabalhadores? Os EPIs são adequados aos riscos? São realizados treinamentos para o uso correto dos EPIs? Quadro 4 Modelo da entrevista aplicada aos funcionários Gráfico 5 Ocupação Atual do Entrevistado 11

12 Pela análise do Gráfico 5, nota-se que em 85% das usinas visitadas existe um profissional específico para a área de segurança. Isso significa que em apenas três usinas o responsável por essa área é o gerente de meio ambiente, sendo evidenciado o foco e preocupação das usinas com a segurança dos trabalhadores. Também foi realizado um comparativo das idades dos entrevistados e tempo de serviço no cargo e observou-se que a maior parcela dos responsáveis pela segurança estão na faixa dos 25 aos 35 anos de idade, e com até 3 anos na ocupação atual. Durante as entrevistas, constatou-se que o próprio cargo na área de segurança é relativamente novo nas usinas, e ainda não está bem estabelecida a gestão dessa área, havendo pouco contato e intercambio desta área com todas as demais do empreendimento. O Gráfico 6 apresenta as respostas obtidas para se o trabalhador recebe informações sobre os riscos a que estão expostos. Já o Gráfico 7 apresenta a resposta para a pergunta se existe sinalização dos riscos e o Gráfico 8 a resposta se existem medidas de proteção coletiva. Gráfico 6 Os trabalhadores recebem informações sobre os riscos a que estão expostos? Gráfico 7 Existe algum tipo de sinalização dos riscos? Gráfico 8 - Existem medidas de proteção coletiva? De acordo com os Gráficos 6, 7 e 8, percebeu-se que em 75% das usinas já existem medidas de proteção coletiva, como proteção das partes móveis de equipamentos e máquinas, vidros e portas anti-ruído, fitas antiderrapante nas escadas, o que evidencia que mesmo que apenas 60% fornecem sinalização dos riscos, uma porcentagem maior já possui conhecimento para tentar diminuir os riscos aos que os trabalhadores estão expostos. Sendo assim, é necessária uma melhoria na comunicação e divulgação de informações, pois não basta os responsáveis estarem cientes dos riscos, e sim todos os envolvidos, e, no entanto, apenas 35% das usinas informam os trabalhadores. 12

13 Essa falta de informação dos trabalhadores evidencia uma falha na comunicação dentro das usinas, ou seja, não existe ainda um programa de gerenciamento de riscos definido, que parta da alta gerência e seja direcionado aos funcionários, integrando as diretrizes do mesmo às ações de prevenção de acidentes. Na análise de acidentes, notou-se que esses não são frequentes neste ramo, seja pelo pequeno número de trabalhadores envolvidos ou pela consciência dos riscos e medidas de prevenção instaladas pela alta gerência. Os últimos acidentes envolveram queimaduras de sol, quedas de baixa altura e dores musculares. Os acidentes com afastamento são muito raros, sendo que o último ocorreu há dois anos. Entretanto, deve-se prestar atenção nesses, pois geralmente resultam em morte. Os últimos registros de morte em acidentes de trabalho nessas usinas foram consequência de choque elétrico, queda de grandes alturas e queda de material sobre o trabalhador. Para evitar acidentes, além das medidas coletivas que devem sempre ser prioritárias, é imprescindível a utilização de Equipamentos de Proteção Individual adequados aos riscos oferecidos pela atividade exercida. Em relação aos EPIs também se diagnosticou a falta de transmissão de informação e treinamentos. Embora todas as 20 usinas forneçam os EPIs aos trabalhadores somente 75% são totalmente adequados aos riscos oferecidos pela função. Embora tenha sido notada a preocupação da gerência com o fornecimento de EPIs, ainda são necessárias melhorias na realização de treinamentos para a correta utilização dos EPIs, pois como se pode visualizar, somente 35% das empresas realizam esses treinamentos. As entrevistas forneceram dados que comprovam que embora existam esforços para a prevenção de acidentes, como identificação de riscos, adoção de medidas coletivas e fornecimento de EPIs, ainda não existe uma maneira eficiente de transmitir essas informações aos trabalhadores. O quadro 5 a seguir, mostra uma análise preliminar de riscos, no qual faz-se algumas recomendações de acordo com o perigo e causas, bem como, consequências. 13

14 PERIGO CAUSA CONSEQUÊNCIAS SEV. FREQ. RISCO RECOMENDAÇÕES Exposição a níveis de ruído excessivos Ruído nas Unidades geradoras e nos sistemas de ventilação Redução da sensibilidade da auditiva Perda da audição Distúrbios do Sistema Nervoso Promover a eliminação, redução ou controle das fontes geradoras de ruído através de manutenção, substituição ou isolamento acústico e/ou introduzir e disciplinar através de treinamento o uso consciente dos Equipamentos Individuais de Proteção (Protetor Auricular), ou reduzir o tempo de exposição. Exposição ao calor Trabalho em ambiente externo com carga solar ou em ambiente interno com temperatura elevada Fadiga Desidratação Queimaduras na pele Insolação Em áreas externas: Uso de protetor solar; proteção para a cabeça; evitar horários de pico do sol. Em áreas internas: solicitar o isolamento térmico das fontes geradoras de calor; inserir sistema de exaustão, ventilação e/ou refrigeração forçada; facilitar a entrada e a circulação de ar no ambiente. Níveis baixos de iluminamento ou Iluminação abaixo do limite de conforto Quantidade insuficiente de iluminação natural ou artificial; defeitos no sistema de iluminação artificial.. Fadiga Visual, sensações de cansaço nos olhos, dolorimento, Adoção de posturas e movimentos inadequados, visando maior conforto visual Aumentar a frequência de manutenção no sistema de iluminação artificial com a introdução de mais lâmpadas fluorescentes e/ou aumento de janelas, lanternins e telhas translúcidas para propiciar o aumento da iluminação natural. Acidentes em virtude da baixa iluminação Quadro 5 Análise Preliminar de Riscos.

15 PERIGO CAUSA CONSEQUÊNCIAS SEV. FREQ. RISCO RECOMENDAÇÕES Exposição à umidade excessiva Trabalhos em galerias de drenagem e poços de inspeção Queda da imunidade, facilitando a ocorrência de doenças infecciosas e reumatismo. Queda do trabalhador devido ao chão escorregadio Utilização de roupas adequadas; utilizar calçados com solados antiderrapantes e substituir o piso por um antiderrapante. Inalação de gases Contato ou ingestão de substancias líquidas Picada de animais peçonhentos Exposição a fumos de soldagem e de corte Manuseio de produtos químicos Trabalhos em áreas externas, galerias. Intoxicação Danos nas vias respiratórias, pneumonia, bronquites Morte Introdução de um sistema de exaustão dos gases, introdução de EPI, tais como máscaras. Alergias Utilização de EPI (luvas, roupas adequadas); Intoxicações identificação dos produtos; controle ao acesso dos produtos. Queimaduras na pele Necrose de membros Utilização de perneiras, conhecimento dos tipos de animais peçonhentos comuns do local para facilitar o Morte reconhecimento do correto antídoto a ser administrado. Quadro 5 Análise Preliminar de Riscos (continuação)

16 PERIGO CAUSA CONSEQUÊNCIAS SEV. FREQ. RISCO RECOMENDAÇÕES Ergonômico Incendio, explosão Movimentos repetitivos Postura inadequada, esforços no transporte manual de carga pesada. Trabalhos com chama aberta, corrente elétrica e gases comprimidos. Dor e/ou Fadiga muscular Dores lombares, sobrecarga muscular Reprojetar os postos de trabalho para a fim de evitar posturas inadequadas ou movimentos repetitivos; utilizar carro de mão e empilhadeiras manuais na realização da movimentação de carga; disciplinar através de treinamento o uso de postura adequadas na realização das tarefas, bem como realizar a ginástica laboral. Problemas respiratórios devido a fumaça A principal forma de prevenção é a inspeção das instalações, fusíveis, ferramentas, aterramentos e Queimaduras condições que possam causar um curto circuito próximo a materiais combustíveis e inflamáveis. Morte Choque Elétrico Descuidado durante as instalações e manutenções nos sistemas elétricos. Queimaduras Fibrilação ventricular do coração Morte Utilização de EPIs (luvas e roupas anti ), realizar a desenergização e aterramentos antes de trabalhar em áreas elétricas, utilização de bloqueios e impedimentos, isolamento das partes vivas. Queda Piso escorregadio, baixa iluminação, trabalho em altura. Tombos Sinalização das áreas com diferença de nível, ou em Lesões manutenção e limpeza, fitas antiderrapantes em escadas, utilização de equipamentos de segurança quando realizar Fraturas trabalhos em altura. Morte Quadro 5 Análise Preliminar de Riscos (continuação).

17 A finalidade da APR apresentada no Quadro 5 não é esgotar todos possíveis perigos e riscos existentes em uma usina, e sim apresentar os mais comuns e frequentes de acordo com o estudo. O resultado da APR reforçou o que já havia sido analisado nas entrevistas e visitas técnicas, que não são comuns ou frequentes os riscos neste ramo. O índice de risco pode variar de 1 a 25, no entanto o maior risco calculado nesse estudo foi nos acidentes de queda, com índice 8, correspondente a um risco de classificação moderado, indicando que são necessárias medidas a curto prazo para evitar esses acidentes. Do restante, todos os riscos foram classificados como triviais ou toleráveis, pois quando a severidade apresenta um grau elevado, o risco não é muito frequente, e vice e versa. Os riscos que se destacam são os que podem resultar em morte, que embora raros, são os mais preocupantes para qualquer empreendimento. No caso das usinas, o risco de morte é devido a inalação de gases, picada de animais peçonhentos, incêndio e explosão, choque elétrico e quedas de grandes alturas. Portanto é necessária a adoção de medidas para evitar a ocorrência desses riscos, diminuindo assim a chance de acidentes fatais Apresentação da uma estrutura de referência para elaboração de um Programa de Gerenciamento de Riscos O Programa de Gerenciamento de Riscos, como já dito anteriormente, é um documento que define a política e diretrizes de um sistema de gestão, com vistas à prevenção de acidentes em atividades potencialmente perigosas. O conteúdo da estrutura apresentada segue algumas recomendações da Norma Técnica P4.261 Manual de Orientação para Elaboração de Estudos de Análises de Riscos (CETESB, 2003). Um gerenciamento de riscos deve contemplar as seguintes etapas: Planejamento do Gerenciamento dos Riscos: estabelecimento de uma estrutura para dirigir os riscos potenciais da instalação. Identificação dos Riscos: todos os eventos acidentais possíveis e que podem causar danos à saúde das pessoas, às instalações (danos materiais) ou ao meio ambiente devem ser identificados e documentados claramente.

18 Análise dos Riscos: os riscos identificados são avaliados de forma qualitativa e os riscos mais significativos são avaliados de acordo com uma escala numérica que associa a probabilidade da ocorrência e a severidade do dano. Planejamento da Resposta aos Riscos: estratégias específicas são estabelecidas para prevenir ou corrigir os riscos identificados. Monitoramento e Controle do Risco: execução das medidas propostas para prevenir ou corrigir os riscos. Dessa forma, deve ser apresentado um relatório contendo as diretrizes do PGR, no qual deverão estar claramente relacionadas às atribuições, as atividades e os documentos de referência, como normais técnicas, legislações, relatórios, entre outros. É importante que todos itens constantes do PGR sejam claramente definidos e documentados, e devem ser aplicados tanto aos funcionários do empreendedor quanto a terceiros. Para o sucesso da implantação de um PGR são fundamentais as seguintes atividades: Informações de segurança de processo O PGR deve contemplar a existência de informações e documentos atualizados e detalhados sobre as substâncias envolvidas, tecnologia e equipamentos de processo, de modo a possibilitar o desenvolvimento de procedimentos operacionais precisos, assegurar o treinamento adequado e subsidiar a revisão dos riscos, garantindo uma correta operação do ponto de vista ambiental, de produção e de segurança. Revisão dos riscos de processo O estudo de análise e avaliação de riscos implementados durante o projeto inicial de uma instalação nova deve ser revisado periodicamente, de modo a serem identificadas novas situações de risco, possibilitando assim o aperfeiçoamento das operações realizadas, de modo a manter as instalações operando de acordo com os padrões de segurança requeridos. A revisão dos estudos de análise de riscos deverá ser realizada em periodicidade a ser definida no PGR, a partir de critérios claramente estabelecidos. Gerenciamento de modificações O PGR deve estabelecer e implementar um sistema de gerenciamento contemplando procedimentos específicos para a administração de modificações nas tecnologias utilizadas e nas instalações. Manutenção e garantia da integridade de sistemas críticos 18

19 Os sistemas considerados críticos devem ser devem ser projetados, construídos e instalados no sentido de minimizar os riscos às pessoas e ao meio ambiente. Com isso, o PGR deve prever um programa de manutenção e garantia da integridade desses sistemas, com o objetivo de garantir o correto funcionamento dos mesmos, por intermédio de mecanismos de manutenção preditiva, preventiva e corretiva. Assim, todos os sistemas nos quais operações inadequadas ou falhas possam contribuir ou causar condições ambientais ou operacionais inaceitáveis ou perigosas, devem ser considerados como críticos. Procedimentos operacionais Todas as atividades e operações realizadas durante a construção e operação do empreendimento devem estar contempladas em procedimentos escritos, devendo ser seguidos por todos os envolvidos e estar em conformidade com a legislação. Os procedimentos operacionais deverão ser revisados sempre que houver alterações durante a fase de construção, a fim de garantir que os mesmos reflitam a prática operacional utilizada. Todas as revisões e mudanças nos procedimentos operacionais devem ser documentadas. Nenhum novo sistema deve partir sem um procedimento operacional escrito formalizado. Capacitação de recursos humanos O PGR deve prever um programa de treinamento para todas as pessoas responsáveis pelas operações realizadas na empresa, de acordo com suas diferentes funções e atribuições. Os treinamentos devem contemplar os procedimentos operacionais, incluindo eventuais modificações ocorridas nas instalações e na tecnologia de processo, e devem ser devidamente documentados. O treinamento e desenvolvimento de pessoas têm a finalidade de sanar deficiências de conhecimentos, de habilidades e de atitudes de indivíduos, de grupos de trabalho, de segmentos da organização ou mesmo, da organização inteira. Investigação de acidentes Todo e qualquer incidente de processo ou desvio operacional que resulte ou possa resultar em ocorrências de maior gravidade, envolvendo lesões pessoais ou impactos ambientais devem ser investigados. Assim, o PGR deve contemplar as diretrizes e critérios para a realização dessas investigações, que devem ser devidamente analisadas, avaliadas e documentadas. As recomendações resultantes do processo de investigação devem ser implementadas e divulgadas na empresa, de modo que situações futuras e similares sejam evitadas. A 19

20 documentação do processo de investigação deve contemplar os seguintes aspectos: natureza do incidente, causas básicas e demais fatores contribuintes, ações corretivas e recomendações identificadas, resultantes da investigação. No presente estudo são abordadas com detalhes a identificação e análise dos riscos em Usinas Hidrelétricas e as respostas aos mesmos. Foram abordados os riscos identificados e vale ressaltar que a análise dos riscos é subjetiva, podendo ter pesos diferentes em outras usinas, porém a metodologia a ser seguida é a mesma aqui apresentada. 5. CONCLUSÕES Ao longo do presente estudo são identificados os perigos, avaliados os riscos e sugeridas medidas para prevenção e controle dos mesmos, além de avaliar a atual preocupação com a segurança dos funcionários das usinas visitadas. Os principais riscos identificados foram considerados triviais e toleráveis, e somente o risco de tombos foi considerado moderado, o que corrobora para a pequena ocorrência e gravidade dos acidentes na operação de usinas hidrelétricas. Porém, por menos frequente que seja, existe o risco de morte, devido a inalação de gases, picada de animais peçonhentos, incêndio e explosão, choque elétrico e quedas de grandes alturas, e devem ser tomadas as devidas precauções para evitá-los. Também são sugeridas medidas para prevenção de acidentes, com objetivo de minimizar os riscos a que o trabalhador está sujeito no ambiente de trabalho. Chega-se a conclusão que, embora os acidentes não sejam frequentes e os riscos aparentemente sejam de conhecimento do responsável, as informações não chegam aos trabalhadores de forma documentada e precisa, favorecendo as chances de acidentes e doenças ocupacionais. Com a elaboração e execução do Programa de Gerenciamento de Risco acredita-se que seja possível evitar, ou ao menos prever, os acidentes, assim como informar e capacitar os trabalhadores para esse mesmo fim. Sendo assim, prova-se fundamental a elaboração de um PGR, podendo tomar como base o presente estudo e a estrutura apresentada. Para maiores complementações, sugere-se a elaboração de trabalhos acerca do Plano de Ação de Emergência de uma PCH. REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução No 652, de 9 de dezembro de

21 AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Guia do Empreendedor de Pequenas Centrais Hidrelétricas. Brasília, Disponível em: < Acesso em 15/01/2012. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de Energia Elétrica do Brasil. 3 Edição. Brasília. ANEEL BARBOSA FILHO, Antônio Nunes. Segurança do Trabalho e Gestão Ambiental. São Paulo: Editora Atlas BRASIL, Ministério do Trabalho. NR-9 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PPRA. 67ª edição. São Paulo: Editora Atlas; DE CICCO, Francesco. Manual sobre sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho. São Paulo. Risk Tecnologia, Vol II DRAGONI, José Fausto. Segurança, Saúde e Meio Ambiente em Obras Diretrizes voltadas à gestão eficaz de Segurança e Saúde no Trabalho, Segurança Patrimonial e Meio Ambiente em obras de pequeno, médio e grande porte. São Paulo: Editora LTR ELETROBRAS. Diretrizes para estudos e projetos de pequenas centrais hidrelétricas. Brasília: Ministério de Minas e Energias, Disponível em < Acesso em 10/02/2012. EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Plano Rio de Janeiro. EPE, Disponível em < Acesso: em 25/01/2012. ERNST & YOUNG, Brasil Sustentável Desafios do Mercado de energia, FARIA, Maila Teixeira de. Gerência de Riscos. Apostila de Gerência de Riscos. Curitiba: UTFPR, FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONA Review of World Water Resources by Country. Disponível em: < Acesso em 10/01/