é estratégico para o pais
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- Sara Alencastre Azambuja
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2 / / -- I'! -.:, W' I Roberto Amaral O setor nuclear é estratégico para o pais / O Brasil precisa voltar a i nvestir em ciência e tecnologia, sob pena de não consegui r superar os obstácu los do presente que impedem ou dificultam nosso desenvolviment o. Recuperar o atraso num setor que é fundamental para o desenvolvimento do pafs. " 0 fundamental é desenvolver a ciência e a tecnologia de que necessitamos para solucionar nossos graves problemas econômicos, sociais e culturais", afirma o ministro da Ciência e Tecno log ia, Roberto Amarai. Em entrevista a Brasil Nuclear, ele diz que o conhecimento nuclear é parte fundamental dessa estratégia. " Esta não é apenas uma política de governo, mas de Estado e não pode deixar de ser feita. Vamos investi r nela", garante. Qual é a importância da ciência e tecnologia para o desenvolvimento do pais? Pelo menos desde a Revolução IndustJial a ciência e a tecnologia tomaram-se paradigmas fundamentais para o desenvolvimento de um país. As máquinas superaram a tração animal e o braço humano. Quem detinha a propriedade das máquinas também se aproptiava do poder. Esse modelo se tomou hegemônico nas relações internacionais. Os países indusbializados passaram a controlar e explorar os países subdesenvolvidos. Hoje, na sociedade da informação, pode-se dizer que não há exemplo de país desenvolvido sem ciência e tecnologia de ponta. O conhecimento tornou-se o princi-
3 pal componente de toda produção, e, por conseqüência, do poder, da dominação. O Brastl perdeu a Revolução Industrial, ou chegou muito atrasado. Não podemos permitir que aconteça o mesmo agora. Isso poderia ser irrecuperável. Temos que superar o modelo de exportação de commodities pelo de exportação de patentes, de conhecimento, de inteligência, que têm hoje o maior valor agregado em qualquer produto. Qual é a sua avaliação sobre a política científica e tecnológica praticada no pais nos últimos anos? Vou usar a mesma apreciação do prêmio Nobel de Química, Peter Agre, que esteve no Brasil recentemente. Ele disse que "a ciência brasileira é maravilhosa". E isso não acontece do dia para a noite, é resultado de um trabalho de formação de pesquisadores, que se dedicam a construir o conhecimento. Agre também ressaltou que mais importante do que os laboratórios são os cérebros. No entanto, a ciência, para chegar ao mercado, ao cidadão, deve ser transformada em produto ou serviço. E isso passa pela tecnologia. Aí está nosso principal problema- o desenvolvimento da tecnologia. Desde o início dos anos 90 o pensamento dependente, que se tornou hegemônico nos governos passados, afirmava que seria mais barato comprar tecnologia do que desenvolvêla. Ou pior ainda, que não te1íamos condições de competir com os países desenvolvidos, devendo renunciar à c1iação autônoma de novas tecnologias. Ora, o que se compra no mercado são tecnologias já superadas. Além disso, como houve uma indiscriminada subordinação das politicas nacionais às vontades dos países desenvolvidos, no processo unilateral de abertura de mercados - a chamada globalização- que só escancarou as nossas portas, o Brasil atrasouse muito, em vários setores. Quais as áreas que tiveram maior avanço? Tivemos mais avanços nas áreas onde predominou a concepção de que o desenvolvimento da tecnologia deve estar aliado à soberania nacional. A Petrobras, por exemplo, desenvolveu tecnologias de ponta para a exploração de petróleo em águas profundas. A Embrapa deu uma conbibuição enorme no desenvolvimento de várias culturas. O mesmo se pode dizer da engenhruia brasileira, na consb11ção de barragens e produção de energia elétrica. Houve avanços consideráveis, ainda, na indúsbia aeroespacial. Qual é a estratégia traçada pelo novo governo para a área de C& T? O fundamental é desenvolver a ciência e a tecnologia de ql!e necessitan1os pru-a solucionar nossos graves problemas econômicos, sociais e culturais. Essa estratégia deve estar ligada ao gmnde projeto do governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva de transformar a exclusão (social, econômica, cultural, tecnológica) em inclusão. Para isso, já estamos atacando o verdadeiro apartheid tecnológico regional e social, promovendo a desconcenbctção científica e tecnológica com investimentos adequados nas regiões ru1tes deprimidas, sem desmontar os centros de excelência do Sudeste e do Sul. Ao contrário, eles estão sendo convidados a participar desse processo. A ciência e tecnologia que promovemos tem um direcionamento ético, está voltada para a vida, para a paz. E tem que ser realizada pensando em como superar os obstáculos do presente que impedem ou dificultam nosso desenvolvimento. Como será a sua implementação? A implementação dessa nova política está sendo feita em parceria, desenvolvida em três direções: no próprio âmbito do governo federal; com os governos estaduais e com as instituições não-governamentais. Isso só traz benefícios e potencializa nossas ações, tanto política como finan ceiramente. Assim, trabalhamos em esh eita cooperação com outros ministérios, principalmente os da Educação, das Relações Exteriores, de Minas e Energia e da Defesa. Se antes havia concorrência entre eles, hoje existe cooperação. Fazemos uma política de integração. Também visitamos quase todos os Estados e trabalhamos em estreita cooperação com as secretarias estaduais de Ciência e Tecnologia e com as Fundações de Amparo á Pesquisa, que se reúnem nacionalmente em seus fóruns. Estivemos presentes
4 em todas as suas reuniões. Nos convênios que firmamos, existe sempre a contrapartida dos Estados, que entendem a importância de investir em ciência e tecnologia. O Pronex, por exemplo, um programa de incentivo à formação de centros de excelência, que estava com dificuldades financeiras, foi revisto, passou a ser desenvolvido em parceria com os Estados e, assim, duplicou seus recursos. Agora mesmo firmamos convênios com quase 20 estados, através da Finep, para incentivar empresas de bases tecnológicas. Também aí duplicamos os recursos, promovemos a desconcentração e repartimos as responsabilidades. Em vez de somente o poder central decidir imperialmente sobre os projetas que seriam desenvolvidos no país, agora cada Estado vai também se responsabilizar pelo que aprova, de acordo com suas necessidades. Nesse trabalho de cooperação, ouvimos sempre a Academia Brasileira de Ciências, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Andifes, entre outros. Com parcerias como essas, a gente aumenta nosso potencial de acerto, economiza recursos e realiza muito mais. Quais as principais políticas e programas de incentivo à pesquisa? Quais são as áreas prioritárias? Logo no início do mandato, no momento em que o presidente Lula anunciava contingenciamento de recursos para promover a estabilidade financeira e combater a innação, também criava mais bolsas de estudos no CNPq. Isso sinaliza o novo direcionamento de incentivo à ciência e tecnologia deste governo. Nos últimos oito anos, em vez de aumentar, o número dessas bolsas havia sido reduzido. O compromisso do governo Lula é elevar a formação de doutores de 6 mil para lo mil até o final do mandato desse governo e duplicar os investimentos em ciência e tecnologia. Vamos, também, começar a procurar vocações no ensino médio, com as 3 mil bolsas de iniciação científica que passamos a oferecer, em convênio com os Estados. Criamos, também, um grupo de estudo conjunto CNPq-Capes para rever todo o programa brasileiro de pós-graduação. Vamos definir quais áreas científicas e tecnológicas deveremos desenvolver para não estarmos sempre a reboque dos países desenvolvidos. Quem imaginava, há 20 anos, o desenvolvimento da nanociência ou dos estudos sobre o genoma? Temos que prospectar, agora, quais possíveis campos de estudo serão desenvolvidos no futuro. Mesmo garantindo a liberdade de pesquisa, precisamos incentivar os estudos de determinadas áreas, prioritárias para o país do futuro. A ciência não se faz para o presente. Ela constrói o futuro. Qual a sua avaliação sobre os programas de formação de recursos humanos? Nós precisamos agilizar a formação de recursos humanos com base tecnológica. Nesse aspecto, nosso ensino público, em todos os níveis, foi depredado. Dados recentes do MEC indicam o tamanho do crime praticado contra a juventude. No momento em que estamos numa competição mundial de conhecimento científico e tecnológico, temos um déficit de cerca de 200 mil professores de matemática, biologia, física e química para o ensino médio. Quase a metade das escolas de ensino básico público está sem biblioteca; 75% não dispõem de laboratório de informática; 80% não têm laboratório para ensino de ciências. Apenas 27% delas estão conectadas à Internet. Que ensino estamos praticando na educação básica? Além disso, o Brasil tem apenas 31 centros tecnológicos públicos de ensino superior. A universidade pública estava sendo arrasada, hoje têm apenas 30% dos alunos matriculados. Temos que estancar essa sangria do ensino público, em todos os níveis, para promover a qualidade. Isso é urgente, porque é na universidade pública que se produz mais de 90% de nossas pesquisas. Para redirecionar essa realidade, também firmamos convênios, recentemente, com nove estados, onde serão implantados Centros Vocacionais Tecnológicos, para disseminar o ensino avançado, tal como é feito no Ceará. No próximo ano queremos instalar 20 desses CVTs em cada Estado. Temos um projeto sendo finalizado para dotar cada escola de ensino médio de um laboratório para o ensino de ciências, até o final do mandato. Em síntese:
5 hoje o prioritário é fomentar e melhorar a qualidade do ensino público, principalmente incentivando o conhecimento científico e tecnológico. É possível trazer de volta e fixar no país os pesquisadores que hoje trabalham no exterior e que tiveram grande parte de sua formação custeada pelo governo brasileiro? Não é fácil, mas é possível. Já sinalizamos nessa direção com a criação do Centro de Neurociências, em Natal. Nele trabalharão cientistas renomados, que hoje estão no exterior. As mudanças de nossa política científica e tecnológica já foram percebidas lá fora. Recentemente, a influente revista científica Nature chamou a atenção para as mudanças positivas que estavam ocorrendo no Brasil. O prêmio Nobel Peter Agre também ressaltou que, com as mudanças, os cientistas brasileiros poderão trabalhar em seu próprio país. Ele percebeu e provou a nossa política de preservar o bem mais precioso, os cérebros. A tecnologia nuclear tem dado uma importante contribuição a diversas áreas como a agricultura, medicina, saneamento, indústria e à preservação do meio-ambiente, além da geração de energia. No entanto, não tem havido renovação de quadros nessas áreas, devido à escassez de recursos humanos. Como enfrentar essa situação? O país vai voltar a investir na formação de recursos humanos na área nuclear? A sua pergunta já contém parte da resposta. Concordo, a tecnologia, o conhecimento nuclear são fundamentais. No entanto, os governos anteriores cor- taram quase todo o investimento do programa nuclear. Isso porque na base de sua concepção aceitava a dependência como um determinismo geográfico, étnico ou histórico, ou tudo isso junto, sei lá. Não concordamos com nada disso. Consideramos que essa não é apenas uma política de governo, mas de Estado. É estratégica. Não pode deixar de ser feita. Vamos investir nela. Qual o papel da energia nuclear dentro da matriz energética brasileira? Não é só para o Brasil que ela é importante. A Europa também está rediscutindo seu programa nuclear. Com a perspectiva de esgotamento do combustível fóssil e a limitação de fontes para a geração de energia hidráulica, as centrais nucleares voltaram à cena. E o que é importante: retornam sem o clima de suspeição gerado durante a "Guerra Fria". Elas voltam para gerar riqueza e desenvolvimento. Voltam dentro de programas para a paz. O Sr. é favorável à retomada das obras da usina Angra 3? Sou. O Brasil já adquiriu quase todos os equipamentos necessários à sua construção. Dominamos a tecnologia e necessitamos de energia. Repito: esse setor é estratégico para o Brasil. Por que o domínio da tecnologia de enriquecimento do urânio é importante para o país? Se não houvesse outro motivo, porque ele é combustível necessário para as nossas usinas nucleares. É estratégico. Tem um alto valor agregado no mercado internacional. Tanto que os seis países que controlam a tecnologia de enriquecimento de urânio sempre nos negaram acesso a ela. O urânio saía de nosso território, passeava pelo exterior e nós o importávamos enriquecido. Ou seja, se esse círculo vicioso continuasse, estaríamos sempre dependentes e gastando divisas. Mas conseguimos, através da Marinha, desenvolver um processo de enriquecimento de urânio por centrifugação, mais avançado do que aquele que nos foi negado. Logo estaremos produzindo 60% do urânio enriquecido de que necessitamos, para uso pacífico, para gerar energia, aplicar na saúde e na agricultura, por exemplo. Temos a terceira maior reserva de urânio do mundo. Em breve passaremos também a exportá-lo enriquecido. Isso é a maioridade da nossa tecnologia, é economia, geração de empregos, autonomia, soberania nacional. Não tem preço.
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