PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIA Processo N

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1 Processo n Impetrante : Impetrado : Classe: 2100 MS Individual ROVEMA LOCADORA DE VEÍCULOS LTDA DELEGADO DA RECEITA FEDERAL EM PORTO VELHO DECISÃO Trata-se de ação de mandado de segurança, com pedido de liminar, objetivando provimento judicial para que seja deferido, nos termos do art. 151, II, do CTN, o depósito integral e em dinheiro das parcelas vincendas do PIS e COFINS sobre a receita auferida em razão da prestação de serviços para obra enquadrada no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura REIDI, com a conseqüente suspensão da exigibilidade das contribuições. A empresa impetrante alega, em síntese, que presta serviços de locação de veículos automotores, sem motorista, utilizados nas obras da construção da UHE Jirau, à Construtora Camargo Corrêa S/A e SUEZ Energy South America Participações Ltda, bem como à Construtora Norberto Odebrecht S/A. Assevera que referidos consórcios têm o objetivo de implantar a Usina Hidrelétrica denominada UHE Jirau, de titularidade da empresa Energia Sustentável do Brasil S/A, bem como a Usina Hidrelétrica Santo Antônio, de titularidade da empresa Madeira Energia S/A, que, por força das Portarias nºs. 448, de 17 de dezembro de 2008 e 284, de 28 de agosto de 2008, foram enquadradas no REIDI. Sustenta que, como prestadora de serviços para obra enquadrada no REIDI, possui direito líquido e certo de não recolher o PIS e COFINS sobre a receita Pág. 1/6

2 auferida dessa prestação de serviços. Consigna que a Lei , de 15 de junho de 2007, instituiu o REIDI, sendo que em seus artigos 3º e 4º ficou estabelecido a não incidência do PIS/COFINS sobre o faturamento oriundo da venda de equipamentos e prestação de serviços destinados às obras de infra-estrutura. Diz, todavia, que a Secretaria da Receita Federal do Brasil tenta restringir tal direito, com base nas limitações impostas pelo Decreto nº e pela Instrução Normativa nº 758 da Receita, ambos de 2007, sendo que tais normativos violam os princípios constitucionais. É o relatório. Decido. Para a concessão de liminar, é necessário o atendimento dos pressupostos da relevância do fundamento do pedido (fumus boni juris) e o do risco da ineficácia da medida, se concedida ao final (periculum in mora), conforme previsto no art. 7º, III, da Lei nº /2009. Inicialmente, em relação ao pedido de depósito do montante integral, observo que sua aferição corre por conta e risco do impetrante e, por si só, enseja a suspensão da exigibilidade do tributo, nos termos do artigo 151, II, do CTN. O depósito é, na ação judicial, uma faculdade do contribuinte, sendo desnecessária qualquer autorização deste juízo para tal fim. Nos termos do art. 309 do Provimento Geral Consolidado COGER nº 38, de 12/06/2009 do TRF da 1ª Região, o depósito em questão, quando incidente a processo em curso, será efetuado, sem prévia autorização judicial, na Caixa Econômica Federal, que fornecerá guias específicas a serem preenchidas pelo interessado (grifei). Portanto, é desnecessário qualquer pronunciamento deste juízo sobre Pág. 2/6

3 tal pedido. No caso em foco, verifico estar preenchido o requisito da plausibilidade do direito, fundado em prova pré-constituída inequívoca. A Lei nº /07 estabeleceu as normas que regulam a isenção do recolhimento do PIS/COFINS para as empresas enquadradas no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura REIDI, a qual dispõe em seus artigos 1º e 2º: Art. 1º Fica instituído o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infra-Estrutura - REIDI, nos termos desta Lei. (Regulamento) Parágrafo único. O Poder Executivo regulamentará a forma de habilitação e cohabilitação ao REIDI. Art. 2º É beneficiária do REIDI a pessoa jurídica que tenha projeto aprovado para implantação de obras de infra-estrutura nos setores de transportes, portos, energia, saneamento básico e irrigação. (Regulamento) 1º As pessoas jurídicas optantes pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte - Simples ou pelo Simples Nacional de que trata a Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, não poderão aderir ao REIDI. 2º A adesão ao REIDI fica condicionada à regularidade fiscal da pessoa jurídica em relação aos impostos e contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda. Verifica-se que, para usufruir dos benefícios instituídos pela REIDI, Pág. 3/6

4 torna-se necessário que a pessoa jurídica esteja habilitada ou co-habilitada; que o projeto de obras e infra-estrutura tenha sido aprovado; não ser optante do Simples ou do Simples Nacional e de estar condicionada à regularidade fiscal. Da leitura do art. 4º, inciso I, da lei regente, nota-se que a isenção desses tributos se estende também às empresas que prestam serviços à empresa habilitada no REIDI. Confira-se: Art. 4 o No caso de venda ou importação de serviços destinados a obras de infraestrutura para incorporação ao ativo imobilizado, fica suspensa a exigência: (Regulamento) I - da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins incidentes sobre a prestação de serviços efetuada por pessoa jurídica estabelecida no País quando os referidos serviços forem prestados à pessoa jurídica beneficiária do REIDI. Entendo que a condição imposta pelo Decreto nº 6.144/07 e pela Instrução Normativa nº 758, no sentido de que o benefício alcança tão somente as empresas que prestam serviços diretamente ao programa, não se mostra coerente com a própria Lei nº /2007, que estabelece que os serviços prestados na área de infraestrutura nos setores de transportes, portos, energia, saneamento básico e irrigação, serão contemplados pelo REIDI. Embora haja previsão no parágrafo único do artigo 1º da Lei /07 de que caberá ao Poder Executivo regulamentar a forma de habilitação e co-habilitação ao REIDI, este não poderá extrapolar do seu poder regulamentar, vez que O ato normativo e o decreto regulamentar não podem restringir ou limitar direitos assegurados por lei ao contribuinte, sob pena de extrapolar sua função específica no ordenamento jurídico. (AMS /BA, Rel. Desembargadora Federal Maria Do Pág. 4/6

5 Carmo Cardoso, Oitava Turma,e-DJF1 p.511 de 16/04/2010). Assim, a restrição imposta pelo Decreto nº 6.144/2007 encontra-se eivada de ilegalidade, uma vez que a Lei /07 não impõe tal limitação. Analisando os autos, verifico que a empresa impetrante demonstrou, através dos contratos nº , que presta serviços de locação de veículos automotores, que são utilizados nas obras de Construção da UHE JIRAU. DISPOSITIVO Em face do exposto, DEFIRO parcialmente a liminar postulada e DETERMINO que a autoridade impetrada suspenda a exigibilidade dos créditos tributários discutidos, nos termos do art. 151, inciso I, do CTN, e que proceda a co-habilitação da empresa impetrante no REIDI, desde que preenchidos os demais requisitos, bem como se abstenha de praticar qualquer ato que venha a cercear o direito da impetrante, devendo fornecer Certidão Negativa de Débito relativo a tal operação, até julgamento final do mérito da presente demanda. Em relação ao pedido de depósito judicial, é desnecessário pronunciamento judicial, conforme fundamento supra. Notifique-se a autoridade impetrada, cientificando-a desta decisão. Cientifique-se o órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, para que, querendo, ingresse no feito (art. 7º, II, Lei nº /09). Fica desde já determinada, no caso de ingresso, a sua inclusão no pólo passivo da autuação e a sua intimação, a partir de então, para todos os atos praticados neste processo. Após, ao Ministério Público Federal e, em seguida, façam-me os autos Pág. 5/6

6 conclusos para sentença. Intime-se. Publique-se. Porto Velho, 03 de agosto de Rodrigo de Godoy Mendes Juiz Federal da 2ª Vara Pág. 6/6