PROJETO O RÁDIO A SERVIÇO DA CIDADANIA

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1 Titulo: PROJETO O RÁDIO A SERVIÇO DA CIDADANIA Instituição: Universidade Federal da Paraíba Área Temática: Comunicação Autores: Jucieude de Lucena Evangeslista jucieudelucena@hotmail.com Prof. Bertrand de Souza Lira (orientador), - bertrand.lira@uol.com.br O rádio surgiu no Brasil com objetivos unicamente educacionais. Seus idealizadores "anteviram as potencialidades do veículo como elemento de informação e formação do povo brasileiro, que teria no rádio um imprescindível aliado na educação em larga escala num país de território com dimensões continentais". Hoje o uso deste veículo está distante deste objetivo, servindo aos interesses comerciais das grandes redes de comunicação e de políticos, detentores das concessões de radiodifusão, vetando o acesso da população aos meios de comunicação. O projeto O Rádio a Serviço da Cidadania desenvolve atividades de sensibilização e educação junto a comunidades, organizações não-governamentais e movimentos sociais de João Pessoa. Na primeira etapa do projeto, de julho do ano 2000 a fevereiro de 2001, o projeto atendeu exclusivamente à comunidade do Baixo Roger, em João Pessoa através de uma rádio difusora existente na Escola Piollin, uma escola de arte-educação que tem utilidade pública reconhecida, formada por professores do ensino fundamental, arteeducadores, psicólogos e artistas. Durante o período em que foi desenvolvido, foram realizados programas diários, com duas horas de duração, das 17 às 19 horas, horário em que o sistema de alto-falantes poderia funcionar sem interferir nas atividades da escola. Uma campanha para doação de CDs foi feita através da confecção e instalação de out-doors com a colaboração do professor e alunos da disciplina Laboratório de Pequenos Meios da Habilitação de Jornalismo. O resultado foi a aquisição de aproximadamente 50 CDs para o acervo da Escola. O passo mais significativo foi a solicitação da concessão de um canal de rádio FM Comunitário para a Escola Piollin. Em 2001, foi firmada a parceria entre o Departamento de Comunicação, e o LIBERTA Centro de Pesquisa, Comunicação e Educação para a Cidadania através do projeto O Rádio a Serviço da Cidadania para ampliar o alcance de suas atividades. O

2 LIBERTA é uma organização não governamental que realiza trabalho voluntário de sensibilização para o desenvolvimento de meios de comunicação popular junto a entidades e grupos comunitários da grande João Pessoa. Assessora grupos para implantação de rádios e difusoras comunitárias. Produz programas radiofônicos com temáticas direcionadas para a promoção da cidadania e desenvolve programa de formação e capacitação em rádio e saúde junto a comunicadores comunitários. Formada por jornalistas, radialistas, comunicadores e educadores populares, a entidade surgiu da organização de grupos populares, a exemplo da Rede de Mulheres Comunicadoras Comunitárias da Paraíba, e da participação de voluntários com atuação nos movimentos sociais populares. O objetivo maior desse projeto é o treinamento permanente de profissionais de diversas áreas e agentes comunitários, envolvidos no trabalho de educação com as entidades e grupos comunitários organizados de diversos bairros da cidade de João Pessoa e de outras cidades do Estado, para o uso do veículo rádio com fins de promover as rádios comunitárias como instrumento de educação e desenvolvimento local. Além de buscar a sensibilização e conscientização sobre a comunicação como um dos direitos humanos para incentivar iniciativas populares no sentido de lutar pela democratização do acesso aos meios de comunicação. O método de trabalho adotado está dividido em duas ações: a primeira consiste no trabalho de sensibilização para o uso do rádio através da realização de intervenções em comunidades e junto a movimentos sociais, organizações não-governamentais, e outros grupos organizados da Grande João Pessoa. Este trabalho é feito através de uma rádio itinerante que funciona com um transmissor de rádio de Frequência Modulada (FM) de baixa potencia pertencente ao Liberta, batizada de Rádio Comunidade FM. O objetivo é estimular o desejo do fazer rádio através da participação direta de pessoas da comunidade e grupos organizados atendidos pelo projeto. Geralmente as intervenções são realizadas em datas comemorativas das comunidades, ou em dias de mobilização dos movimentos sociais como, Dia Internacional de Luta Contra a AIDS, Grito dos Excluídos, Dia Internacional da Mulher, etc. A rádio vai ao ar durante cinco ou seis horas e tem a programação inteira baseada no contexto da comunidade da comunidade em questão, ou nos temas de mobilização dos movimentos sociais. Os programas são produzidos com a participação dos

3 estudantes do Curso de Comunicação e de pessoas da comunidade onde está sendo realizada a intervenção, ou dos movimentos organizados, conforme o caso. A segunda ação é o trabalho de capacitação dos agentes comunicadores comunitários. Este trabalho é feito através de oficinas realizadas pela equipe do LIBERTA e pelos extensionistas. Nesta fase do trabalho são enfocadas a produção radiofônica a produção de textos e de roteiro para rádio, estruturação da grade de programação, o manuseio dos equipamentos bem como a discussão sobre a gestão participativa da rádio comunitária, o acesso aos meios de comunicação como um direito do cidadão. O projeto O Rádio a Serviço da Cidadania vem realizando as intervenções de radiofônicas desde Julho de Esta metodologia mostrou-se bastante eficiente no trabalho com as comunidades, mas na sua utilização com os movimentos organizados não alcançamos o resultado esperado. A dificuldade encontrada no trabalho com as ONGs, e movimentos sociais, em primeiro lugar aconteceram pela localização da rádio, que sempre era instalada em local distante do local onde ocorriam os atos públicos. Em segundo lugar, e por conseqüência deste primeiro fator, acontecia a dispersão dos militantes dos movimentos. Estes optavam por participar do ato público em detrimento da participação na produção dos programas e do trabalho na rádio. Isto prejudicou o trabalho de sensibilização. Mas como alternativa para solucionar este problema foi criada uma nova proposta de rádio chamada de Rádio de Rua. A estratégia agora é levar o rádio para o local do ato público para atrair a participação das pessoas envolvidas na manifestação e das demais pessoas presentes. A Rádio de Rua consiste na montagem de uma barraca com um equipamento de som (mesa de som, amplificador, CD-player, microfones, difusoras, etc.), adotando uma linguagem radiofônica, com programas, vinhetas e spots. Esta proposta encontra-se em fase de experimentação. A primeira intervenção da Rádio de Rua foi durante o plebiscito sobre a ALCA no Parque Sólon de Lucena no Centro de João Pessoa. Com essa nova forma de intervenção esperamos suprir as deficiências encontradas anteriormente. O resultado mais significativo foi obtido na Comunidade Maria de Nazaré, situada no Bairro do Grotão na periferia de João Pessoa. Esta comunidade nasceu da ocupação de um terreno, na década de oitenta, pertencente ao governo do Estado da Paraíba. Até hoje a área não é reconhecida pela prefeitura como área habitada, constando no mapa da cidade

4 como área verde, os moradores não têm a posse de suas casas reconhecidas legalmente, além de sofrer outras carências básicas, como saúde, por exemplo. Em agosto de 2001, atendendo a convite do Movimento de Luta Pela Moradia, foi realizada na comunidade Maria de Nazaré uma intervenção radiofônica por ocasião do Dia dos Pais. A partir desta atividade a comunidade sentiu o desejo e a necessidade de instalar uma rádio comunitária. Em Maria de Nazaré atuam muitos grupos como o já citado Movimento de Luta pela Moradia, a Amazona (Organização Não-Governamental que trabalha com prevenção a AIDS e DST), além de um projeto de extensão do Centro de Ciências da Saúde da UFPB. A associação de moradores percebeu que a implantação de uma rádio comunitária iria contribuir sensivelmente para a realização de atividades educativas de iniciativa dos próprios moradores, além de dar suporte às atividades dos diversos grupos que lá atuam, e promover ações para melhorar a qualidade de vida da comunidade. A partir daí a comunidade mobilizou esforços para arrecadar dinheiro para a compra de equipamentos e para a instalação de uma rádio comunitária no formato de difusora, com caixas acústicas instaladas nos postes da rede elétrica. Foram realizados bingos, sorteios e entre outras atividades. Em Fevereiro de 2002 teve início a fase de capacitação dos agentes comunicadores, ainda antes da rádio entrar em funcionamento. Inicialmente foram trabalhados com os agentes da comunidade a definição dos objetivos da rádio e qual o perfil que ela deveria ter para atender as necessidades da comunidade. Nesta fase do trabalho, os extensionistas e a equipe do Liberta atuam como facilitadores do processo de aprendizado, dando liberdade para os agentes comunicadores descobrirem, através de sua experiência com o rádio, que tipo de programas e de conteúdo a rádio deve veicular. Como material didático foram usadas gravações de programas de rádios comerciais e rádios comunitárias, vinhetas, spots, e esquetes radiofônicos. Em seguida veio a capacitação técnica, voltada para a produção radiofônica (redação de textos, roteiro, montagem da grade de programação e uso dos equipamentos) que a partir de agora utiliza os equipamentos próprios da comunidade. Em maio deste ano, a rádio entrou em funcionamento com dez caixas acústicas, mas esse número já foi ampliado para mais de trinta. Atualmente os extensionistas realizam o acompanhamento sistemático dos agentes comunicadores, além de utilizarem um determinado espaço da rádio como laboratório para exercitar o conhecimento adquirido em

5 sala de aula. Além da comunidade Maria de Nazaré, outras comunidades esperam ser atendidas pelo trabalho desenvolvido pelo Projeto o Rádio a Serviço da Cidadania em parceria com o LIBERTA. O objetivo é ampliar mais o alcance de nosso trabalho, mas o número de profissionais e estudantes envolvidos ainda não é suficiente para atender a demanda. No entanto, o nosso trabalho conseguiu levar a discussão sobre o uso das rádios comunitárias como instrumento de educação popular, para as salas de aula do curso de Comunicação, e esperamos com isso contribuir para o crescimento do número de estudantes e, portanto, futuros profissionais que se dedicam a trabalhar a comunicação numa perspectiva educadora. BIBLIOGRAFIA BARBERO, J. M. (1981). Praticas de Comunicaion en la Cultura Popular en Comunicación Alternativa e Cambio Social en America Latina. Cidade do México: UNAM. BRECHT, Bertolt (s.d). A exploração in LAVOINNE, Yves (org.). A Rádio. Lisboa. Vega. CAPARELLI, Sérgio (1982). Comunicação de Massa sem Massa. São Paulo: Editora Cortez. (1986). Televisão e Capitalismo no Brasil. Porto Alegre: LPM. COSTA, Gilberto e NOLETO, Pedro (1997). Chamada à ação: manual do radialista que cobre a educação. Brasília: projeto Nordeste/Unicef. GOMEZ, Orozco Guilherme. Recepção Televisiva: três aproximações e uma razão para seu estudo. Cadernos de Comunicação e Práticas Sociais. Programa Institucional de Investigação e Comunicação e Práticas Sociais/Direção de Investigação, março de 1991.

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