O Desafio do Manejo de Queixadas (Tayassu pecari) em um Mundo em Mudanças
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- Lucinda Luna Mascarenhas Monteiro
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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Grupo de Pesquisas em Animais Silvestres O Desafio do Manejo de Queixadas (Tayassu pecari) em um Mundo em Mudanças Sérgio Luiz Gama Nogueira-Filho slgnogue@uesc.br
2 CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES No Brasil ocorrem duas espécies de pecaris ou porcos do mato: Caititu, cateto ou porquinho e o queixada ou porcão
3 TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DE PECARIS Sub-O. Suiformes Fam. Tayassuidae Gen. Catagonus» C. wagneri Gen.Tayassu» T. pecari Gen.Pecari» P. tajacu Caititu Pecari tajacu Taguá C. wagneri Queixada T. pecari
4 CARACTERÍSTICAS DA ESPÉCIE Em geral artiodáctilos que vivem em savanas e campinas formam agregações grandes e quando em abiente de floresta são encontrados vivendo isolados, em casais ou em grupos pequenos.
5 CARACTERÍSTICAS DA ESPÉCIE Os queixadas fogem à esta regra. Vivem em de florestas em grupos mistos e estáveis com centenas de indivíduos.
6 História Natural São animais frugívoros que atuam na dispersão/predação de sementes e plântulas. São considerados engenheiros ambientais em razão das modificações ambientais que provocam.
7 APROVEITAMENTO ECONÔMICO Em toda a América Latina os queixadas são caçados Fornecem carne para subsistência de populações tradicionais e couro como fonte de renda.
8 APROVEITAMENTO ECONÔMICO Atualmente, apenas o Peru exporta legalmente, por meio de autorização da CITES, couro de pecaris para Alemanha, França, Itália e EUA. Existe, inclusive, um programa de certificação para valorizar a venda do couro obtido da caça de subsistência na Amazônia Peruana.
9 APROVEITAMENTO ECONÔMICO Nos países europeus são confeccionados produtos de luxo como luvas e sapatos. 152 EUROS em Paris
10 MANEJO DE QUEIXADAS Na reserva indígena da Comunidade Tamshiacu-Tahuaio no Peru com 4200 km 2 foi estabelecido um programa de manejo mais sustentável de animais silvestres como queixadas, caititus, antas e veadoscatingueiro.
11 MANEJO DE QUEIXADAS Nesta reserva, foi estabelecido um programa de manejo que, por meio de monitoramento da população de queixadas, permite a exploração de até 40% da produção.
12 MANEJO DE QUEIXADAS
13 MANEJO DE QUEIXADAS Em média, até 2009, foram abatidos em torno de 11% da produção ou aproximadamente 600 animais/ano (20t/ano) na área de caça de subsistência com 1700 km 2 o que resulta na produtividade de 11,6 kg/km 2 ou 0,12 kg/ha*ano
14 AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DA CAÇA DE QUEIXADAS A sustentabilidade do sistema foi avaliada pelo modelo de exploração unificado que utiliza a curva de crescimento populacional modificada. No eixo X é colocado o tamanho da pop. Que varia do nível de extirpação (0) até a capacidade de suporte (K). No eixo Y está o limite de exploração sustentável (RS) que reflete o crescimento de uma população (dn/dt). Até 2009 a caça de queixadas estava abaixo da linha dos 40% da produção concluia-se que a caça estava em um nível sustentável apesar de abaixo dos 60% de K, considerados mais adequados.
15 MUDANÇAS CLIMÁTICAS A partir de 2009, no entanto, as mudanças climáticas passaram a afetar a sustentabilidade deste programa de manejo de queixadas na Amazônia Peruana.
16 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Grandes inundações e secas severas ocorriam em intervalos regulares a cada 7 ou 10 anos na Região Amazônica.
17 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Com as mudanças climáticas, no entanto, estes eventos estão ocorrendo em intervalos menores e com intensidades muito maiores.
18 MUDANÇAS CLIMÁTICAS Enchentes com 6 meses de duração entre 2009 e 2012, afetaram a população de queixadas na Reserva Nacional Pacaya-Samiria (Bodmer et al. 2012).
19 As enchentes prolongadas restringiram o acesso às terras mais altas, resultando em menor disponibilidade de alimento e aumento na competição inter e intra-específica (Bodmer et al. 2012).
20 Em 2009, os queixadas atingiram a densidade populacional de 2,8 ind/km 2. Em 2010 a densidade caiu dramaticamente para 0,9 ind/km 2 e em 2011 para 0,6 ind/km 2. Decrescendo também a sustentabilidade da caça (Bodmer et al. 2012).
21 MUDANÇAS CLIMÁTICAS A partir de 2011, os impactos das mudanças climáticas ficaram mais evidentes nas populações de queixadas, caititus, veados-catingueiros e cutias, tornando não sustentável a caça destes animais. Os Cocama, povo tradicional que habita a reserva Pacaya-Samiria e seu entorno, passou a depender da pesca para atender suas necessidades nutricionais.
22 MUDANÇAS CLIMÁTICAS A seca prolongada de 2010 em adição à sobre-pesca do súltimos anos resultou na redução dos recursos pesqueiros. As autoridades locais e os pesquisadores que atuam na região estão testando alternativas econômicas baseadas em estratégias conservacionistas como meio de compensar os impactos negativos das mudanças climáticas.
23 ALTERNATIVA: PRODUÇÃO EM CATIVEIRO Entre as alternativas destaca-se a produção em cativeiro das espécies Neo-tropicais como os queixadas. A produtividade de queixadas é maior do que a de bovinos o que torna sua criação uma alternativa de baixo custo para comunidades rurais (Fang et al. 2008).
24 PRODUTIVIDADE EM CATIVEIRO 1 ocupa de 1,0 a 1,5 ha tempo de abate 2,5 a 3,0 anos 100kg/ha. ano 25 por ha tempo de abate 1100 kg/ha.ano 10 meses
25 CAÇA NO BRASIL O Brasil exportava anualmente em média couros de queixadas até a proibição da caça comercial em 1967.
26 PRODUÇÃO EM CATIVEIRO Atualmente, no Brasil e alguns outros países Latino Americanos, o aproveitamento econômico de queixadas e outras animais Neo-tropicais é permitido apenas por meio da criação em cativeiro.
27 VANTAGENS DA PRODUÇÃO EM CATIVEIRO Obtenção de couro com qualidade superior; Carne mais sadia
28 CARACTERÍSTICAS DA ESPÉCIE Os queixadas apresentam características que os diferenciam dos porcos domésticos
29 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE QUEIXADAS Produção semi-confinada e extensiva. Rodney Mauro Bonito MS
30 CARACTERÍSTICAS DA ESPÉCIE Vivem em grupos mistos e estáveis Fêmeas não precisam ser isoladas para parição. Não apresentam anestro lactacional. Filhotes precoces.
31 REPRODUÇÃO DE QUEIXADAS EM SEMI-CONFINAMENTO E VIDA LIVRE Parâmetro reprodutivo Idade primeiro parto Vida livre 1 Semi- Confinado (dias) Intervalo entre partos 411 (dias) 203 (dias) No. filhotes/parto 1,6 1,7 Partos/ano 0,9 1,3 No. filhotes/fêmea*ano 1,4 2,2 Mortalidade - 5,0% (parasitose) Período de gestação: 160 dias 1 Mayor et al. (2009) 2 Nogueira-Filho & Lavorenti (1997) Peso médio ao nascer 710g
32 COMPARAÇÃO Redução nos custos de capital para iniciar a atividade Custo por matriz instalada em sistema semiconfinado Porco doméstico: R$ 882,36 1 Queixadas: R$ 516, Leite et al Nogueira-Filho (1999)
33 PRODUÇÃO DE QUEIXADAS EM SEMI-CONFINAMENTO Para iniciar a atividade um grupo de 2 e 10 é introduzido em piquete de 2500 m 2 Aos poucos, com aumento do grupo, amplia-se também a área para 8 ha com até 200 animais 400 m 2 /indiv.
34 COMPORTAMENTO SOCIAL Hierarquia de dominância facilita manejo
35 MANEJO DE QUEIXADAS EM SEMI-CONFINAMENTO Manejo em curralarmadilha e brete 10 m x 2,0 m tela ou tábua de madeira Gaiola de contenção ou puçá de rede
36 MANEJO DE QUEIXADAS EM SEMI-CONFINAMENTO Legenda: Curral Portas 3,80m a 36
37 SELEÇÃO TEMPERAMENTO PC2 (5.6%) Relaxed Stressed Calm Bored Nervous 0.0 Active Anxious Alert Agitated Apathetic Satisfied -0.2 Tense Docile PC1 (80.7%) PC1 (TI) -1.0 Fearful Agressive Caititu Queixada Os queixadas são considerados agressivos, mas estudando seu temperamento verificamos grande diversidade que pode ser aplicada para seleção de animais mais dóceis (Nogueira et al., Animal Welfare, 2015) PC2
38 CARACTERÍSTICAS DA ESPÉCIE Presença de préestômago: 70-80% do volume do trato gastrointestinal; Fermentação microbiana; Digestão de alimentos volumosos.
39 DIGESTIBILIDADE DOS NUTRIENTES Comizzoli et al. (1997) e Moraes (1999) encontraram coeficientes de digestibilidade da fibra alimentar similares aos de animais ruminantes.
40 CARACTERÍSTICAS DE PECARIS Presença de préestômago: 70-80% do volume do trato gastrointestinal; Fermentação microbiana; Digestão de alimentos volumosos. Redução das exigências protéicas.
41 Perda de N de origem metabólica: 3,1 g N/kg MS ingerida; Perda de N de origem endógena: 91 mg N/kg 0,75 *dia; Exigência N: 336 mg N/kg 0,75 *dia
42 Devido à síntese de proteína pelas bactérias no pré-estômago, os queixadas exigem apenas 4,5% PB em suas dietas para manutenção (Nogueira-Filho et al. Zoobiology 2014).
43 ALIMENTAÇÃO EM CATIVEIRO Ingrediente Ao invés do uso de rações de suínos R$0,60-0,90/kg. Rações feitas na propriedade R$0,18/kg 12 % PB e kcal/kg EB. kg Rolão de milho 70 F. soja 10 F. trigo 17 Sal mineralizado (Ca e P) 2,9 Premix min. e vit. 0,1
44 Peso (kg) GANHO DE PESO 75 g/dia CA: 8:1 >10 meses CA: 20:1 GDP:12g/dia Idade (meses) Fonte: Nogueira-Filho & Lavorenti (1997)
45 USO DE ALIMENTOS REGIONAIS Composição de Frutos Amazônia: Total 42 espécies - 18 contém de 9 a 20% de PB e 9 contém 12 a 37% EE. P.ex. Andiroba (Albuquerque, 2006). Min Max Ca 0,07% 0,99% P 0,05% 0,43%
46 CUSTOS DE PRODUÇÃO Nogueira-Filho (1997) 60% rendimento carcaça: US$4,67/kg carne ~R$15,00/kg carne
47 ATIVIDADE COMERCIAL
48 Viabilidade/Propostas para Ampliação da Produção de Animais Neo-tropicais Formação de cooperativas ou associações para aumento da escala de produção e obtenção de preços de venda mais justos.
49 Viabilidade/Propostas para Ampliação da Produção de Animais Neo-tropicais Onde ocorreu incentivo à implantação da atividade por meio de organizações governamentais e não governamentais nos países Neotropicais.
50 Viabilidade/Propostas para Ampliação da Produção de Animais Neo-tropicais Estabelecimento de Centros de Multiplicação de Animais Neo- Tropicais para evitar que a captura agrave ainda mais a conservação das espécies ameaçadas.
51 CONTINUAMOS ESTUDANDO Comportamento aplicado à produção Nutrição Reprodução Seleção e Melhoramento
52 PROGRAMAS DE PÓS- GRADUAÇÃO PPG EM CIÊNCIA ANIMAL Mestrado e Doutorado PPG EM ZOOLOGIA Mestrado
53 OBRIGADO!
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