Implantação de tecnologia na atividade leiteira com acompanhamento zootécnico e financeiro
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- Manuela Flores Bicalho
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1 Implantação de tecnologia na atividade leiteira com acompanhamento zootécnico e financeiro Adriana Lopes Ribeiro Lelis Flávia de Carvalho Lage Ricardo de Magalhães Luz Brasília DF 2015
2 1. Introdução Com interesse em estimular e apoiar a produção leiteira, em especial dos agricultores familiares, foi criado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) o Programa Brasília Leite Sustentável (BLS), em parceria com a Cooperativa Agropecuária de São Sebastião (Copas), Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal (FAPE-DF), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar- DF), Sindicato dos Criadores de Bovinos, Bubalinos e Equinos do DF (SCDF) e Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados do Distrito Federal (CSL- DF). Os agricultores familiares Flávio Franklin Guimarães e Elizabete Pereira de Souza decidiram fazer parte do Programa BLS devido ao interesse em atuar na produção de leite. A área da propriedade é de seis hectares localizados na comunidade de Barra Alta, no núcleo rural de Tabatinga no Distrito Federal. Antes do acompanhamento pelos extensionistas da Emater- DF, Flávio tinha criação de cavalos, galinhas, porcos e uma produção de apenas 30 litros de leite por dia com um rebanho de 12 vacas em Sem condições de viver de sua própria produção, o pequeno agricultor vendia sua mão de obra para outras propriedades e, nas horas vagas, trabalhava em sua própria terra. Essa situação não é tão rara no meio rural. Para completar a renda da família Flávio ainda trabalhava com a compra e venda de equinos e bovinos. Essa dificuldade desmotivava a família, que preferia ficar na cidade em vez de ficar na área rural. Por acreditar no potencial da atividade leiteira e na aptidão do produtor e da propriedade, considerando também a facilidade de venda do leite na região,
3 foi proposta a transformação da propriedade em uma unidade de referencia do Programa BLS, que foi aceita por Flávio. Este relato refere-se ao período de 2012 a 2014, embora a propriedade continua sendo acompanhada. 2. Objetivo da prática O objetivo da prática é divulgar as tecnologias e a viabilidade de sistemas de produção leiteira adaptadas à agricultura familiar, baseada em forragens e uso mínimo de concentrados. Através da unidade de referência espera-se motivar e difundir o trabalho desenvolvido pelo agricultor familiar Flávio Franklin Guimarães. 3. Descrição da experiência O projeto foi dividido em duas fases. Na primeira fase, iniciada em novembro de 2012, estabeleceu-se o acompanhamento do manejo sanitário, nutricional e reprodutivo do rebanho com definições das ações a serem implementadas, como, por exemplo, a implantação do sistema de pastejo rotacionado com capim mombaça; A segunda fase, iniciada em julho de 2013, caracterizou-se pela continuação das atividades efetuadas na primeira fase e início do acompanhamento financeiro.
4 Em janeiro de 2013, o produtor iniciou as anotações necessárias à gestão técnica e financeira, utilizando as planilhas disponibilizadas e foi instruído em relação ao preenchimento e a frequência de coleta das informações. Foi feito também a implantação do controle da qualidade do leite ao produtor, com ênfase nos procedimentos adequados de ordenha e do controle de mastite no rebanho. A divisão do pasto em piquetes e a implantação da cerca elétrica foi efetuada com o objetivo de facilitar o manejo do pastejo, melhorar a qualidade do pasto ofertado na hora do pastejo. Esta etapa contou com a ajuda de agricultores vizinhos e técnicos da Emater-DF. Depois de eliminar algumas áreas mais acidentadas do terreno, ficaram demarcados e cercados 25 piquetes de 475 m², totalizando 1,3 hectare de piquetes a serem utilizados por 10 vacas leiteiras em produção. Durante o período da primavera-verão ( ) foi realizada correção do solo com calcário e adubações superficiais com 12 m³ de cama de frango (em uma aplicação) e cobertura com uma fonte de nitrogênio em cada saída dos animais do piquete. Cada cobertura foi realizada utilizando-se 9,1 kg da formulação por piquete, além da adubação com micronutrientes (50 kg de FTE BR12 por hectare, em uma aplicação). A entrada dos animais era baseada na altura do capim. Os animais entravam quando o capim estava com aproximadamente 90 centímetros de altura, em média, e saíam quando estava com 30 centímetros. Estabelecer este critério facilitou o manejo do pastejo por parte do produtor.
5 Em março 2013, foi realizado o primeiro Dia de Campo na propriedade, uma metodologia de apresentação de resultados, que visou socializar o trabalho de referência e motivar os produtores de leite. Na ocasião, participaram cerca de 100 produtores e 30 técnicos da EMATER-DF, instituições parceiras e técnicos da iniciativa privada. Todos puderam acompanhar os resultados referentes às culturas plantadas, o manejo do rebanho desenvolvido até aquele momento, testemunharam o relato do produtor e sua esposa, e ainda explanações técnicas sobre qualidade do leite. A ensilagem do milho foi iniciada no mês de março de 2013, um pouco tardia, reflexo do atraso do plantio do milho. A produtividade dessa silagem foi de 20,8 toneladas por hectare de matéria original, abaixo do esperado, devido à baixa fertilidade do solo e aplicação dos nutrientes abaixo do recomendado. O plantio do sorgo, em condições de sequeiro, foi realizado logo após a ensilagem do milho. Houve necessidade desse plantio em razão do silo de milho não ter rendido o esperado para suportar todo o período seco. O sorgo rendeu 18 sacos de grãos utilizados na ração concentrada administrada no fim do período seco. A alimentação no período seco foi baseada em silagem de milho, sorgo e ração concentrada. No segundo ano, foi realizada a adubação de manutenção baseado na análise de solo, utilizando-se: 1026 kg/ha de ureia, 788 kg/ha de KCl, 2,5 toneladas de cama de frango e 50 kg/ha de FTE BR12 para o pasto, e para área de produção de silagem recomendou-se 400kg/ha de e 200Kg/ha de ureia para cobertura.
6 Em agosto de 2014, foi realizado o Dia Especial do Leite na propriedade, um encontro de agricultores e técnicos para divulgar as técnicas aplicadas e a gestão desenvolvida ate aquele momento. Foram apresentados os resultados obtidos durante os vinte meses de assistência do Programa BLS, o histórico do trabalho realizado, índices zootécnicos obtidos e a análise financeira do ultimo ano. O trabalho foi acompanhado através de visitas mensais programadas da Emater-DF à propriedade e também por eventuais visitas realizadas por demanda do produtor. Reuniões técnicas com grupo de técnicos envolvidos também foram necessárias para a definição das estratégias a serem seguidas. 4. Resultados Com a implantação do Programa Brasília Leite Sustentável, a propriedade de 6 hectares do Flávio e da Elizabete passou de uma produção de 30 litros de leite por dia com 12 vacas que comiam apenas capim Braquiária, para uma produção de 90 litros por dia, mesmo com a seca e com problemas enfrentados no manejo. A análise econômica foi feita no período de julho de 2013 a junho de Considerando que nesse período passaram pelo sistema de pastejo rotacionado 8,33 cabeças/ha ou 7,40 UA/ha, o número total de cabeças na propriedade foi de 18 por mês, ou seja, 10,91 UA/mês. Neste período, o preço pago pelo litro de leite foi de R$ 0,89. A venda de animais foi convertida em litros de leite, que somada á produção de leite diária chegou-se a produção de ,18 litros/ano.
7 O custo de produção médio por ano (custo variável) foi de R$ 0,58/litro, obtendo um lucro de R$ 0,31 por litro de leite ( 34,8%), chegando a renda mensal media de R$ 753,16. Essa lucratividade alta, analisada dessa forma, contabilizando apenas os custos variáveis, não se traduz em renda alta para o produtor. Simulando-se os mesmos custos com produção diária de 100 litros de leite/dia ou litros/ano, trocando-se as vacas que não responderam a alimentação fornecida, sobraria para o produtor em média R$ 915,00/mês. Isto significa um aumento de 21% na sua renda média anual. Essa analise foi fundamental para que ele implementasse o descarte e aquisições de novas matrizes. Na troca de duas matrizes, naquela época, houve um incremento de 20 litros de leite na produção diária da propriedade. A propriedade hoje possui antigas áreas degradadas já recuperadas, pratica o uso racional de seus recursos naturais, utiliza-se da matéria orgânica gerada pelos animais a fim de reduzir o consumo de adubos químicos e garante a utilização das terras disponíveis de modo sustentável para a permanência do produtor na atividade leiteira.
8 5. Potencialidades e Limites Um fator limitante era a escassez de água na propriedade, que foi sanada com a reativação de um antigo poço comunitário, utilizando-se de recursos próprios. O produtor tem boa receptividade ao uso de novas tecnologias. Embora, tenha havido algumas dificuldades na implantação devido a questões culturais e ao processo de construção do conhecimento que foi desenvolvido respeitando o conhecimento e a realidade do produtor. Um desafio a ser vencido na propriedade é melhorar o rebanho leiteiro por meio de seleção do gado atual, da aquisição de novas matrizes de maior potencial produtivo, além da implantação de inseminação artificial para realizar a melhoria genética do rebanho de maneira mais rápida e econômica. O aumento na frequência de ordenhas deve ser priorizado, pois quando o leite é retirado apenas uma vez ao dia, a vaca reduz a produção em cerca de 30%, e neste caso ainda permite e viabiliza o investir na aquisição de ordenhadeira mecânica. Outro fator importante é o planejamento dos investimentos ao longo do ano, realizando compra antecipada de adubos e insumos para pastagem e no plantio do milho e do sorgo, em épocas de melhor preço, e respeitar o calendário das correções de solo necessárias para a sustentabilidade do projeto. Nos sistemas de produção baseada em forragem, é evidente que a fertilidade do solo deve ser alta para que, as forrageiras tenham seu melhor desempenho na produção e no seu valor nutricional. Entretanto, o manejo é mais importante. Não é possível produzir com altas quantidades de adubos sem respeitar o ponto de colheita certo. O super pastejo é ruim, assim como a sobra ou sub pastejo, e ambos contribuem para o fracasso de um projeto. Então, o maior investimento é passar conhecimento adequadamente para o produtor e que ele assimile e aplique as informações repassadas pelos
9 técnicos. Entender como a planta, o animal, o solo e o ambiente funciona é fundamental e como esses aspectos fazem a diferença na produção do leite. Anotações dos dados pluviométricos, das temperaturas máximas e mínimas, análises de solo anuais são práticas que devem ser feitas todo ano, e que tendem a ser esquecidas pelo produtor. 6. Replicabilidade Este projeto é replicável desde que haja engajamento do produtor e do técnico, principalmente na coleta e análise das informações que são a base para o diagnóstico e gestão eficiente da atividade leiteira na propriedade. Além disso, o produtor precisa ser receptivo a adoção de inovações tecnológicas. 7. Depoimentos Para médica veterinária Adriana Ribeiro, a escrituração zootécnica foi de suma importância para se calcular os índices zootécnicos. Estes foram obtidos por meio de um sistema de acompanhamento permanente de pesagem do leite e forragem, lotação de animais e outros índices reprodutivos. Para obter o resultado final acompanhou-se, também, a implantação e manutenção da tecnologia propriamente dita. Com isso, observou-se melhoria das instalações, controle do calendário sanitário, queda na incidêcia de doenças, além do aumento da quantidade de leite produzida e da melhora dos índices reprodutivos da propriedade. Para o zootecnista Ricardo de Magalhães Luz, a análise econômica é de fundamental importância para tomada de decisão na propriedade. Com o resultado, pode se ter exata noção da rentabilidade e lucratividade da atividade leiteira, através disso foi dado início às mudanças racionais de atividades como: descarte de matrizes, quantidade de adubo a ser utilizado na propriedade, o tipo de volumoso no período de seca, os alimentos escolhidos para o concentrado na complementação da dieta dos animais utlizando sempre produtos da região. Assim como constatou-se a relação positiva da atividade leiteira em relação às outras atividades desenvolvidas na propriedade.
10 Após dois anos de participação no Projeto BLS, Flávio diz que no início não acreditava muito nas recomendações, mas com os resultados satisfatórios passou a ver o potencial de perto e investir tempo na pecuária de leite. Quando começou a fazer os piquetes (pequenos espaços de 475m²) ele dizia que não caberia nenhuma vaca, mas que a orientação técnica fez a diferença para aumentar a produção. Flávio salientou o aumento imediato da produção de leite de 30 litros/dia para 55 litros/dia, aproximadamente, significando um aumento de 83% na produção, dois meses após a implantação do projeto. Alem disto complementou: Na época das águas, as vacas ficam um dia em cada piquete e depois que elas saem a área é adubada. Para o período da seca, Flávio e sua família fazem silagem de milho. Segundo Flávio, ele nunca havia plantado milho e feito silagem antes. Na última colheita chegou a produzir 120 sacos de milho por hectare, na área reservada para colheita de grãos. Disse ainda, que de lá pra cá mudou tudo, Até a vida tá mais tranquila. Atualmente, entrega leite diariamente em um laticínio próximo a sua propriedade, e se sente orgulhoso quando diz: Eu sei quanto meu leite vale, antes eu tirava e jogava até fora. Fig. 10
11 8. Autores: Adriana Lopes Ribeiro Lelis Flávia de Carvalho Lage Ricardo de Magalhães Luz 8.1. Colaboradores: Antônio Carlos dos Santos Mendes Camila Fiorese Igor Pereira Alves Natividade Lucas Pacheco Máximo de Almeida Maria José Lopes Ferreira Matos (in memorian) Natal Gomes da Silva Revan Geraldo Soares Weber Alves de Brito
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