Um Retrato do Uso dos Jogos no Ensino de Matemática no 6º Ano do Ensino Fundamental: um estudo de caso.
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- Izabel Affonso da Cunha
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1 Um Retrato do Uso dos Jogos no Ensino de Matemática no 6º Ano do Ensino Fundamental: um estudo de caso. Francisco Ricardo Nogueira de Vasconcelos 1 Ivoneide Pinheiro de Lima 2 RESUMO A aplicação adequada de jogos em sala de aula possibilita um ambiente fértil para o desenvolvimento das estruturas cognitivas necessárias para a apropriação dos conceitos matemáticos, além de um sólido aprendizado para a vida cotidiana. Nesse trabalho buscamos analisar como os professores estão utilizando os jogos no ensino de matemática. Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi preenchido um questionário pelos professores do 6 0 ano do ensino fundamental de uma escola da rede pública estadual de ensino na cidade de Fortaleza-CE, situada em um bairro de classe média, fundada a 30 de junho de As análises mostram que embora o uso de jogos seja um assunto bastante discutido, essa prática não é tão comum no contexto educacional. Para reverter esta situação é necessário que se invista em formação continuada dos professores, almejando expandir as discussões na busca de metodologias que trabalhem com a utilização dos jogos no ensino de matemática. Palavras-chave: Ensino de matemática, Jogos lógicos, Formação de professores. INTRODUÇÃO O jogo como recurso pedagógico para o ensino de matemática vem despertando o interesse e a realização de diversas pesquisas científicas, como Alves (2007), Sampaio e 1 Mestrando em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Federal do Ceará UFC, e- mail:frnv34@gmail.com. 2 Professora D ra da Universidade federal do Ceará UFC e da Universidade Estadual do Ceará UECE, e- mail: ivoneidepinheirodelima@gmail.com.
2 Chaves (2003) dentre outros. Sempre com o intuito de amenizar as dificuldades de aprendizagem que os alunos sentem na apropriação dos conceitos da matemática. Os jogos matemáticos possuem características primordiais como a capacidade de encantar, de estimular a criatividade, de incentivar para a descoberta do novo, de algo que está por vir. Porém, estes não podem substituir a vida do indivíduo, e sim fazer parte dela como um meio para atingir objetivos de uma forma mais interessante. O uso do jogo nessa perspectiva contrapõe-se ao ensino tradicional (regido por fórmulas e regras) e considera o aluno como ponto central no processo de construção do conhecimento. O aluno é um ser ativo e dinâmico. Com a inserção das atividades lúdicas em sala de aula, se aprende matemática brincando, devido à sua natureza lúdica e prazerosa; contrariando a idéia inicial que para estudar matemática é preciso um espaço em que prevaleça a rigidez, a disciplina e o silêncio (SANS e DOMINGUES, 2000). Nesse sentido, a pesquisa busca responder a seguinte indagação: como e com qual assiduidade os professores utilizam os jogos no ensino de matemática? A aplicação adequada do jogo em sala de aula possibilita o desenvolvimento de um ambiente fértil para o desenvolvimento das estruturas cognitivas necessárias para a apropriação dos conceitos matemáticos, além de um sólido aprendizado para a vida cotidiana, permitindo assim que percebam o mundo com um toque de harmonia e ritmo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) indicam que: Os jogos podem contribuir para um trabalho de formação de atitudes, enfrentar desafios, lançar-se a busca de soluções, desenvolvimento da crítica, da intuição, da criação de estratégias e da possibilidade de alterá-las quando o resultado não é satisfatório, necessárias para aprendizagem de matemática. (BRASIL,1998, p. 47). Como elemento mediador entre o pensamento abstrato e os conceitos formais, os jogos educativos possuem uma ligação com a cultura, proporcionando, de forma prazerosa,autonomia e a capacidade de gerar mecanismos próprios para a estruturação de um raciocínio abstrato, especialmente no cenário da matemática. Para Ribeiro, [...] a inserção dos jogos no contexto escolar aparece como uma possibilidade altamente significativa no processo de ensino- aprendizagem, por meio da qual, ao mesmo tempo em que se aplica a idéia de aprender brincando, gerando interesse e prazer, contribui-se para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos alunos. ( RIBEIRO, 2008, p.19)
3 Assim, esta pesquisa apóia-se no pressuposto que a utilização de jogos no contexto da matemática constitui uma estratégia pedagógica para ensino dos conceitos matemáticos e tem como objetivo analisar como e com que freqüência os professores utilizam os jogos no ensino de matemática. METODOLOGIA Para o desenvolvimento do estudo foi realizado uma pesquisa de campo de natureza qualitativa com característica de estudo de caso. A escolha por esse tipo de pesquisa possibilita uma investigação das características de eventos vivenciados. Esse método de pesquisa vem conquistando crescente aceitação por parte dos pesquisadores da área de educação, por ser uma categoria cujo objeto de estudo é uma unidade que se analisa com bastante profundidade, pois busca conhecer o como e o porquê, de forma a evidenciar a sua unidade e identidade próprias, debruçando-se sobre uma situação específica e descobrindo o que nela há de essencial e específico. O critério de escolha da escola, para o desenvolvimento da pesquisa, foi devido à existência de alunos com baixo desempenho em matemática, principalmente nos conteúdos do currículo escolar que exigem raciocínio lógico-matemático e a compreensão formal de conceitos matemáticos advindos dos teoremas, postulados e axiomas. Por isso, optamos por uma escola da rede pública estadual que contempla dois níveis de ensino, o fundamental II e o médio. Com base nos princípios teóricos de Rodrigo (2008), que ressalta a importância do uso de instrumentos e estratégias para a obtenção de dados como um recurso para incrementar a qualidade da pesquisa, resolvemos trabalhar com a observação e a aplicação de um questionário a três professores de matemática do 6º ano do ensino fundamental. O questionário foi dividido em três seções: a) Dados pessoais incluindo sexo, idade, tempo de serviço em sala de aula e na instituição pesquisada e turno. b) Formação docente subdividida em inicial e continuada.
4 c) Questões referentes ao tema da pesquisa. Na última seção, foram apresentadas sete questões abertas na tentativa de saber-se a visão dos professores a respeito da importância dos jogos lógicos como facilitadores no ensino de matemática no 6º ano do ensino fundamental, da sua contribuição para o desenvolvimento do raciocínio lógico matemático, dos seus benefícios específicos e gerais para o aluno, e das possíveis dificuldades encontradas para essa prática interativa. RESULTADOS E DISCUSSÃO O questionário foi entregue no dia 2 de outubro de 2008 às três professoras de matemática que lecionam no 6º ano do ensino fundamental II, docentes essas que chamaremos aqui de P1, P2 e P3, respectivamente. Foi explicado que o questionário seria um apanhado inicial das práticas docentes em relação ao uso de jogos nas aulas de matemática e que, posteriormente, de comum acordo com as professoras,haveria a aplicação de jogos para com os alunos, no intuito de verificar a influência de tais jogos na aprendizagem dos conceitos matemáticos. Somente a professora P1 devolveu o questionário com suas anotações. As professoras P2 e P3 demonstraram resistência em devolver o questionário, como também não evidenciaram nenhum interesse pelo trabalho proposto. Como justificativa pela não entrega do questionário, a professora P3 alegou que os jogos não iriam surtir nenhum efeito, justificando que os alunos não tinham a base de conhecimentos necessária para entender as regras dos jogos. Em suas próprias palavras,a professora P3 afirmou: Nossos alunos não sabem nem ler, quanto menos interpretar. Esse é o problema. Vale ressaltar que, essa proposta pedagógica de trabalhar com os jogos no ensino de matemática recebeu apoio da direção da escola, que considerou a idéia boa, inclusive, a própria diretora fez uma intervenção junto às P2 e P3 para que devolvessem os questionários resolvidos. Mesmo assim não houve êxito. Esse fato nos chamou a atenção, permitindo hipotetizar que as professoras P2 e P3 tinham receio de revelar a sua realidade, ou seja, a ausência dos jogos nas aulas de matemática. A professora P1 aceitou desde o início participar desse trabalho. Foi a única a acompanhar o processo integralmente. Por dois meses, duas vezes por semana e quatro horas por dia, nos reuníamos para estudar, planejar sobre a aplicação dos jogos nas suas aulas de matemática. A professora tem 26 anos de idade, um tempo de serviço em sala de
5 aula de aproximadamente dois anos e leciona o 5º e 6º anos, nos dois turnos diurnos. Quanto à formação inicial, possui curso de Pedagogia em Regime Especial Licenciatura Plena e Pós-graduação Latu-sensu em Planejamento Educacional, o que demonstra a preocupação desse docente em investir na sua formação continuada. A professora P2 não aceitou participar do estudo,porém contradizendo essa recusa com uma atitude indiretamente incentivadora, sempre que estávamos em reunião com a P1, na sala dos professores, ela tecia comentários em favor da inserção dos jogos nas aulas de matemática. Já a professora P3,desde o início, adotou atitude auto-excludente quanto ao estudo. Quanto ao questionário respondido pela professora P1, a primeira questão indagava se os jogos lógicos contribuiriam para o desenvolvimento cognitivo do aluno do 6º ano. Como resposta, a professora considerou os jogos como subsídios ao desenvolvimento da capacidade de raciocínio e capacidade de elaboração de estratégias do pensamento lógico estruturado. A segunda questão interrogava se os jogos lógicos desenvolveriam o raciocínio e ajudariam na interpretação dos conceitos formais onde é exigido um maior grau de abstração do aluno. Em sua resposta, a professora P1 concordou que os jogos lógicos, quando trabalhados de forma correta em sala de aula, despertam o interesse dos alunos para um aprender mais significativo, e ajudam na resolução de uma situação-problema na qual é exigido um raciocínio lógico bem estruturado. Quanto aos conceitos formais, os jogos podem contribuir significativamente para desencadear no aluno uma visão mais ampla dos conceitos formais abordados em sala de aula, defendeu a professora P1. A terceira questão perguntava sobre os benefícios que os jogos lógicos podiam trazer para o aluno. A professora 1 apontou como benefícios, a melhora da percepção, da concentração e do interesse dos alunos, e principalmente nas situações-problema com mais de uma solução. Os comentários expõem que a professora tem perceptibilidade à importância do uso de jogos nas aulas de matemática como instrumento versátil que possibilita de maneira
6 fácil e envolvente a apropriação de conceitos matemáticos. A resposta da professora coincide com o pensamento de Fiorentini e Miorim (2007), quando comentam que, talvez por pouca informação, o professor muitas vezes não tem a clareza das razões que fundamentam a importância dos jogos ou materiais para o ensino e a aprendizagem de matemática, e consequentemente, do momento adequado para serem trabalhados em sala de aula. Porém, se faz necessário observar que por trás de cada material ou jogo, se esconde uma visão de educação, de matemática, de homem e de mundo. Ou seja, existe subjacente ao jogo ou material concreto, uma proposta pedagógica que justifica seu uso. Desse modo, Azevedo apud Fiorentini e Miorim (2007), afirma que tudo que se dá a uma criança, no campo da matemática, deve primeiro ser apresentado em uma situação concreta que a leve o educando a agir, a pensar, a experimentar, a descobrir, e finalmente, a mergulhar no mundo mágico da abstração. A quarta questão perguntava se os professores trabalhavam ou já utilizaram os jogos como meio para ajudar na aprendizagem da Matemática. A resposta foi não, sem nenhuma justificativa. Fato esse lamentável, pois o professor que se recusa a usar os jogos está privando seus alunos dos benefícios que os jogos oferecerem para uma melhor compreensão dos conceitos formais da matemática. Quando se joga, pode-se gerar simultaneamente, alegria, seriedade, liberdade e criação. A teoria dos jogos tem mostrado de forma clara que se pode extrair dos jogos conceitos de matemática. Entretanto, o uso de jogos como recurso didático não vem ocorrendo frequentemente nas escolas de cursos regulares. Além do mais, o professor que não utiliza os jogos está perdendo a oportunidade de enriquecer suas aulas com a utilização de jogos. A quinta questão dependia da anterior e pedia um breve comentário caso o professor trabalhasse com jogos. Nesse caso, também não houve resposta. As duas últimas questões, a sexta e a sétima, investigavam sobre a maneira na qual eram trabalhados os jogos em sala de aula e quais as principais dificuldades encontradas ao se trabalhar com jogos lógicos ou material concreto, respectivamente. Como a sétima questão dependia da resposta afirmativa da sexta questão, que por sua vez dependia da quinta, que também dependia da quarta questão, então não houve nenhuma resposta a essas questões. CONCLUSÃO
7 As análises apresentam uma realidade preocupante, pois embora o uso de jogos para o ensino da matemática seja um assunto bastante discutido no âmbito educacional, essa pesquisa constatou que esse uso não é tão comum no contexto educacional como se pensa, tendo em vista que ainda existe um número considerável de professores que não fazem uso dessa ferramenta. Isso significa que, esse recurso pedagógico ainda é pouco utilizado em sala de aula pelos professores, seja por total desconhecimento de seu potencial pedagógico ou por sentirem dificuldades na operacionalização dessa ferramenta aliada aos conceitos matemáticos. A resposta da professora comprova que existe, nessa escola, carência de treinamentos e cursos específicos que discutam a importância dos jogos para os processos de ensino e de aprendizagem da matemática. Assim, para reverter tal situação é necessário que a escola invista em formação continuada dos seus docentes, almejando expandir as discussões na busca de metodologias que trabalhem com a utilização dos jogos no ensino da matemática, permitindo assim obtermos uma substancial melhoria na prática docente. REFERÊNCIAS ALVES, M. S. A ludicidade e o ensino da matemática: uma prática possível. 4. ed. Campinas, SP: Papirus, p.(coleção Papirus Educação) BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais (5ª a 8ª séries): matemática. Brasília: MEC, Disponível em: < Acesso em: 30 out FIORENTINI, Dário; MIORIM, Maria Ângela. Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e jogos no ensino da matemática. Boletim da SBEM, São Paulo, n.7, jul-ago Disponível em: < retos_e_jogos_no_ensino_da_matematica.doc>. Acesso: 29 out RODRIGO, J. Estudo de caso: fundamentação teórica. Brasília: Vestcon, Disponível em: < Acesso em: 29 ago
8 SAMPAIO, A. L; CHAVES, S. M. Jogos e teoremas de matemática. Sobral,CE: Edições FACIB, p. SANS, Maria José Breda e DOMINGUES, Renata Helena. Jogos matemáticos: através do lúdico, a criança resolve situações-problema.in: Revista do professor. Santa Bárbara D'Oeste/SP: CPOEC LTDA, 2000, jan./mar BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais (5ª a 8ª séries): matemática. Brasília: MEC, Disponível em: < Acesso em: 30 out
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