o COMPORTAMENTO DA CATEGORIA VAZIA NA POSI<;AO DE SUJEITO EM ORA<;OES RELATIV AS DO PORTUGutS DO BRASIL
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- Baltazar Mirandela di Castro
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1 Daniela JAKUBASZKO (USP - CNPq) o COMPORTAMENTO DA CATEGORIA VAZIA NA POSI<;AO DE SUJEITO EM ORA<;OES RELATIV AS DO PORTUGutS DO BRASIL ABSTRACI': This search tries to offer a comparative panorama about the current question about the permission of the use of the empty category in the position of the subject in the Ponuguese Language in Brazil. According to the discussion proposed l7y Galves (1992,1993), Duarte (1993) and NegriJo eft MUller (1994), we tried to observe whichfachors can allow or restrict the use of such category on the relative sentences. The corpus used for such purpose is the 360/sp dialogue of the NURC project.} KEY WORDS: Relatives, pro-drop parameter, pronouns systems. Hi duas maneiras poss{veis de se expressar 0 sujeito da ora~o de uma determinada l ngua: uma e preencher lexicalmente a posi~o em quest!o e a outra e a possibilidadede omitir essa matriz fonol6gica. Dessa maneira, classificam-se dois tipos de linguas : as que admitem a categoria vazia (doravante cv) na posi~lo de sujeito e aquelas em que essa proptiedade nao e legitima. Esse e 0 chamado Parimetro Pro-Drop proposto por Chomsky. o objetivo deste trabalho e observar 0 comportamento da posi~ao de sujeito das or~s relativas do Portu~s do Brasil, a fim de verificar quais os fatores responsaveis que podem licenciar 0 sujeito nulo ou preenchido nesse tipo de or~. Dos trabalhos realizadas por Duarte (1993), Galves (1984,1993) e Negrao & MUller (1994), duas info~oes serlo destacadas : A evidencia existente de urn aumento do preenchimento da posi~o de sujeito no Portu~s do Brasil (doravante PB) e as possfveis origens dessa transfo~ao parametrica. 1 0 Projeto Nanna Urbana Culta (NURC) tem como objetivo descrever a variante culta falada nas quatro maiores capitais do Brasil. Para maior detalbes, ver: CASTILHO, A. & D. PRETI (1986) A LinguogemFalodo Culta no CidlJlle de SiJo Paulo. vol. 1, ElocIIfiies Formais. SP: Queir6s1 FAPESP. 328
2 A pesquisa de Duarte (1993) utiliza treehos de ~as de teatro de cunho popular, escritas no periodo de 1845 a 1992, para investigar diacronicamente a expressao do sujeito pronominal do PD atraves da relaclo crescente existente entre 0 aumento do preenchimento pronominal na posiclo de sujeito e 0 enfraquecimento do' morfema de concoromcia do PD. Dessa maneira, partindo da proposta de que 0 tra~ (+ AGR),'Presente de concordincia de uma lingua poderia licenciar ou permitir 0 sujeito nulo, se ele tiver capacidade de recuperar a interpre~o do tr~ de pessoa, au seja, a riqueza flexional de uma lingua e que possibilitaria a omissao da posi~lo de sujeito em sente~ fmitas. A pesquisa de Huang (l984) revela que uma lingua pode possuir sujeito nulo sem possuir flexao verbal forte, apontando para outras formas de recuperaclo do vazio. Jaeggli e Safir (1989), por exemplo, propoe que alem do tr~ de concordancia, outro fator poderia licenciar a cv em questlo, e que este fator poderia ser um elemento nominal em posi~io A ou A' c-comandando 0 sujeito nulo. Ou ainda, segundo Calabrese (l986) a presenca de um Tema no discurso possibilitaria a cv em posiclo de sujeito. Assim, os dados da pesquisa de Duarte, atestam um aumento no preenchimento da posiclo de sujeito. No periodo de 1845, a ocorr!ncia de sujeitos nulos e de 79% e vai diminuindo ate 0 periodo de 1992, chegando nessa data a 27%. Ao mesmo tempo em que essas ocorrencias foram observadas, ha a constatacio de um enfraquecimento do morfema de concordancia do PD, que consiste no desaparecimento das formas de segunda pessoa, pois essas co~am a flexionar-se como a terceira pessoa, e 0 aparecimento da expressao a gente flexionando tambem como a terceira pessoa e MO como primeira pessoa do plural. Esses tres fatores evidenciam portanto, 0 enfraquecimento do paradigma flexional do PD. Duarte argumenta entio, que 0 PD estaria deixando de admitir a categoria vazia nessa posiclo e que essa cv, estaria sendo substitufda pelos pronomes pleoos. Esse fato, segundo a autora, deve-se a alteracio que vem ocorrendo no quadro do sistema verbal, pois a perda da funcionalidade do morfema de concord4ncia MO poderia identificar pro, salvo que acontecesse um refo~ na recuperaclo de pro, como por exemplo, a exist!ncia de um Tema no discurso. "Holy (nota Gabriel): 0 que e que 0 nosso anjo tem hoje? Margareth: pro Ta com essa cara desde que pro chegou do ginasio. pro Nem foi em casa a1m~ar. Dona Irene: Com certezapro vai ficar novamente em segunda epoca. Desde que
3 pro chegou que pro Ilio para de olhar a cademeta. " As reflexoes lideradas par F. Tarallo indicam que as mudan~as de uma lingua aparecem em dois grandes aspectos sintaticos : 0 sistema pronominal e a ordem das ~alavras. Continuando entia essas reflexoes, os trabalhos de Galves (1993,1994) procuram analisar.qualitativamente essas m~as e ainda, qual seria a mudan~a profunda, causa das m~ superficiais. A autora realiza uma pesquisa nos conformes da teoria gerativa. Dentre os resultados utilizados destaear-se-a as ocorrencias relevantes para este trabalho : por exempl0, a pesquisa que utiliza 0 corpus de Tarallo mostra em 1825, 16,4% de sujeitos preenchidos para 79,4% em Galves (1993)l~ sua hip6tese calcada nos postulados da tearia de principios e parametros para os estudos diacronicos, que corresponde atestar que varias mudan~as decorrem de apenas uma mudan~ profunda. Assim seddo, a autora argumenta que essa mudan~a profunda, seja a redu~ao dos paradigmastlexionais. Ora, se 0 morfema de concordincia Ilio pode mais diferenciar;'a';-segunda;pessoae a primeira pessoa do plural(a gente) da terceira pessoa, e se AGR i 6 0 nucleo da oracio, esse enfraquecimento no sistema, obrigaria uma reorgamzaeio de toda a senten~a, interagindo portanto no usa das"formas 'pr~nominais plenas ou vazias do PB e na ordem das palavras.. ':.." Portanto Duarte e Galves acrediwn que 0 PB esteja transformando-se de uma lingua pro-drop para uma lingua Ilio pro-drop. Ou seja, nossa lingua passaria a rejeitar as categorias vazias com 0 passar do tempo. Entretanto, Negrio et MOller (1994) consideram essa hip6tese urn pouco precipitada e, atrav6s de duas investiga~s empiricas, argumentam que Ilio necessariamente 0 PB esteja passando por uma m~a no parimetro pro-drop e que Ilio necessariamente esteja ocorrendo urn processo de substitui~ao de formas pronominais. Considerando entio duas general~s apressadas : A primeira diz respeito a generajizaeio de que 0 enfraquecimento de AGR leva a urn preenchimento da posicio de sujeito por uma categoria lexical. A segunda diz respeito a generaliza~ao de que 0 enfraquecimento de AGR tem reflexos no SN 3 urna vez que as formas possessivas seu(s), mars) de terceira pessoa, tratadas como formas de concordincia de SN. estariam desaparecendo, sendo substituidas pelas formas genitivas dele(s), dela(s)."
4 " Ora, se 0 enfraquecimento da flexio e a causa do aumento progressivo da posicao do sujeito, esperariamos que 0 aumento do preenchimento se desse especialmente naquelas pessoas para as quais a morfologia verbal 010 e mais capaz de identificar 0 sujeito (segunda e terceira pessoas). Esperariamos tambem, uma maior proporcao de preenchimentos para os casos em que ha ausencia de concordincia - ou seja, em que a pessoa do verbo 010 e a mesma do sujeito. " ' No entanto, realizando uma analise mais cuidadosa, os dados resultam numa proporcao de preenchimentolvazio equivalente para os casos em que ha e que nlo ha concordincia, : "Portanto, os dados empiricos nlo parecem permitir inferir que 0 enfraquecimento da concordincia e a causa do aumcnto do preenchimento da posicao de sujeito." Dessa maneira, Negrao & M'illler (1994), procuram uma outra alternativa para expucar esses fenomenos e l~ a hip6tese de que esteja ocorrendo, tanto para a posicao de sujeito em senten~ simples como para os pronomes possessivos, uma especializacio em suas distribui~s, segundo 0 eixo semintico de referencialidade. Essa investigacao pretende portanto, discutir qual das duas hip6teses se verifica para 0 comportamento do preenchimento/o1o preenchimento na posicao de sujeito das ora es relativas do PD. Neste contexto, as or~ relativas parecem possuir um cartter especial. Duarte(1993) 010 encontra sujeito nulo nas ora es relativas. Opostamente a isto, no corpus de Negrao (1990), "a maior parte dos 010 preenchimentos referenciais se dao para os casos em que ha um sintagma nominal antecedente ou um que relativo". A amuse adotada para as relativas, foi a de considerar 0 movimento do que relativo para a posicao de Comp e 0 sujeito vazio como sendo a vrivel deixada na posicao de sujeito, quando este vazio e resultante do movimento do que relatiyo para a posicao de Comp.
5 (2) "(Ela quer)l saber (as matcrias)2 que2 elal vai ter. " A diferenca dos dados de Duarte talvez deva se dar pela diferenca da analise adotada para observacio das relativas.,. A selecao de dados da pesquisa de Duarte, so levou em conta os sujeitos pronominais (nulos ou plenos) com referenda definida. Talvez a autora nio tenha considerado 0 vazio como uma variavel resultante do movimento do que relativo para a posicao de Comp. Neste trabalho, as or~s relativas, teria uma analise qualitativa, observando a estrutura das relativas e a correferencia possivel entre sujeito da relativa eo que relativo. Para realizar essa pesquisa, 0 corpus selecionado foi 0 dwogo 360/sp do projeto NURC. Desse corpus analisaram-se todas as sentencas com sujeito vazio ou com pronomes plenos de terceira pessoa (ele(a), eles(as». Para esse trabalho, foram selecionadas todas as oracoes relativas, resultando num total de 86 oracoes. Destas, 07 foram exclufdas pois possufam sujeito indeterminado ou posposto. As 79 restantes aparecem em dois tipos distintos de formacao : 0 tipo 1 e aquela onde 0 SN antecedente do SN sujeito da oracao relativa e correferencial ao que relativo (SNl que! SNl V... ); 0 tipo 2 e aquela onde 0 SN antecedente do SN sujeito da oracao relativa nio e correferencial ao que relativo (SNl que! SN2 V... ). Foram analisados tambem 0 tipo de antecedente da categoria vazia e do pronome conforme a seguinte classificacao semantica : 2. SN.nio-especffico - nao possuem referencia defmida e denotam uma entidade hipotctica. 4. SN Quantificado - sempre informam a quantidade deindividuos indefinidos a ser selecionada, de um determinado conjunto. Das oracoes do tipo 2, onde 0 sujeito e vazio, foi verificada tambem, se ha a presenca de c-comando entre SN antecedente e SN vazio, uma vez que, pela teorla gerativa, 0 c-comando seria a outra maneira que a cv possui de resgatar a interpretaeao de seu SN antecedente.
6 - orr las quanto ao tlpo or~o Estruturas possfveis SNI que1 SNI V SNI que 1 SN2 V ELE(a) do encontrado no 21 oco~ncias ELES(as) corpus exs.: 2, 6, 7, 8e9 VAZIO 55 ocorrencias 2 oco~ncias exs.:l,3,4e5 exs.: 10 ell Enquanto que 5S ocorrencias do tipo 1 possuem sujeito vazio, nenhuma relativa do tipo 1 foi encontrada com sujeito pleno, como no exemplo hipotctico 0 menino que ele mora IA. " As relativas do tipo 2 apresentam urn resultado oposto: de 24 o~s, 21 ocorrencias sao para as relativas de sujeito pleno, e apenas 03 or~s possuem sujeito vazio. SNs especifico ii-especffico generico quantificado Tipo 1 18ocorr. 16 ocorr. 11 ocorr. 10 acorr. Vazio ex.: 1 ex.: 3 ex.: 4 ex.: 5 Tipo 2 18 ocorr. 3 ocorr ELE exs.: 2, 6 e 7 exs.:8e9 Tipo 2 locorr. 00 locorr. locorr. Vazio ex.: 11 ex.: 10 As 55 or~oes do tipo 1, tem como SNs antecedentes: 18 para especificos e 37 para genericos, nio especfficos e quantificados. (3) Aquele que cv nlo estiver presente foi ele que cv fez" (do especifico) (4) Os homens que cv estio U, realmente eles penam (generico)
7 Das 21 ora~ relativas com 0 pronome ele como sujeito. 18 possuem um antecedente SN especifico. ou seja. com referencia definicla e apenas 03 possuem seu anteeedente SN 1110 especifico. (6) ele vai se esquecer das outras profissoesque ele pretendia ter (7) pro Ja se cuidam, quer dizer, ja e alguma coisa que eles fazem (8) Qual 0 praza que eles dao para os concursados assumirem? (9) Entio 0 problema e 0 que eles chama de Head Hunter (10) "A pessoa pode estar muitissimo bem no lugar que evest! (generico) (11) Ate eles comerem todas as coisas que (ev) fazem... parte do cafe ciamanhi... eles demoram... " Esse exemplo acima, e 0 Unicoque possui referencia especffica ao mesmo tempo que possui sujeito vazio. Entretanto, ao ler 0 diaiogo. ha uma ambiguidade muito expressiva que nos impede de perceber se eles e que fazem as coisas do cafe cia manhi e entio ha 0 sujeito vazio ou se sao apenas as coisas que fazem parte do cafe cia manhi. o comportamento do sujeito vazio das relativas confirma que para 0 tipo 1, a categoria vazia est! funcionandocomo uma variavel presa ao operador que relativo. Para 0 tipo 2 0 anteeedente e sempre quantificado ou generico. 0 que fortalece a hip6tese do vazio funcionar como uma variavel presa a um anteeedente. Por outro lado, verificamos a tendencia do pronome pleno, em aparecer nos contextos onde 0 seu antecedente e especifico, pois 0 Unico exemplo (11) que mostra poderia aparentar o contrano, e ambfguo demais para apresentar uma contradicao nos dados.
8 Dessa forma, os dados parecem inclinar para a possibilidade de estar havendo urn fenomenode especializa~o na distribui~o no sistema pronominal, conforme hip6tese de Negrao et Mll1ler. Portanto, de acordo com os fatos relacionados ao comportamento da posi~o de sujeito das or~oes relativas, 0 PB nlo parece realmente estar passando por uma. m~a no parametro pro-drop, mas sim passando por uma "divisio de funcoes, onde 0 pronome ele e uma constante de referencia especifica e a categoria vazia e uma variavel. RESUMO: Este trabalho proc1!-raoferecer um panorama comparativo sobre a atual questdo do permissqo do uso do categoria vazia em posi~lio de sujeito das orafoes relativas do PS. PALA VRAS-eHA VB: relativas, parametro pro-drop, sistema pronominal. DUARTE, M.E.L. (1993) Do pronomc nulo ao pronome pleno: a trajet6ria do sujeito no portugues do Brasil. IN: ROBERTS, I. &.M. KATO (orgs.). GALVES, C.C. (1984) Pronomes e categorias vazias em Portugues do Brasil. Cademo de Estudos LinglUsticos, 7 : GALVES, C.C. (1993) 0 enfraquecimento da concordincia DO portugues do Brasil. IN: ROBERTS, I&. M. KATO (orgs.). HUANG, C.-T. J. (1984) On the distribuition and ReferellCCof empty Pronouns. Linguistic Inquiry, 15 (4): JAEGGU. O. &. K. SAPIR (1989) The Null subject parameter and parametric theory. IN: O. JAEGGU &. K. SAFIR (cds) The Null subject Parameter. Dordrecbt:Kluwer NEGMO. E. V. &.A. L. MULLER (1994) As ~ DO sistema pronominal do Portugu!s Brasileiro: Substi~ ou espec~lo de fonnas. (no prejo) ROBERTS, I. &. M. KATO (orgs.) (1993) Ponuguis Brasileiro: uma viagem diacr6nica. Campinas: UNICAMP.
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