Panorama da violência e abusos no cotidiano do portador de transtorno mental impacto da desospitalização-
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- Leonor de Figueiredo Gonçalves
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1 Panorama da violência e abusos no cotidiano do portador de transtorno mental impacto da desospitalização- Prof. Dr. William Dunningham FMB UFBA PRM Psiquiatria HJM/SESAB-SUS
2 Dados sobre a Saúde Mental no Brasil 3% da população geral sofre com transtornos mentais graves e persistentes; Mais de 6% da população apresenta transtornos mentais graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas; 12% da população necessita de algum atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual; 2,3% do orçamento anual do SUS é destinado para a Saúde Mental
3 Saúde Mental e Transtornos Mentais Fronteira entre a saúde e a doença O normal e o patológico Diferença entre a saúde e os transtornos mentais Transtornos Mentais: gravidade
4 Lei Nº /2001 Art. 1º - Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. Art. 2º - Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos seus direitos
5 Lei Nº /2001 Art. 3º - É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais
6 Desassistência Deixar de realizar procedimentos técnicos necessitados pelos doentes para economizar recursos A questão da eletroconvulsoterapia (ECT) Desídia em criar e fazer funcionar unidades psiquiátricas em hospitais gerais Baixo índice de leitos por 1000 habitantes e sua má distribuição entre os diversos estados da federação Parâmetros assistenciais elaborados com base num referêncial ideológico que carece de base científica Cuidar em lugar do tratar: desmedicalização ao invés da integralidade = desassistência
7 Desassistência Resultado de um modelo que vem sendo implantado há 20 anos no país e que é antagônico aos psiquiatras, à Medicina e aos pacientes Se a Lei /01, aprovado no Congresso e sancionada pelo Pres. da República, fosse posta em prática, funcionaria bem. O governo federal vem burlando a legislação com portarias, nas quais predominam pressupostos ideológicos
8 Desassistência Um dos principais problemas é a redução drástica do número de leitos psiquiátricos (0,25/1000 habitantes) Em nenhum lugar há vaga para internar um paciente do SUS Faltam leitos, atendimento ambulatorial com psiquiatra, medicamentos em quantidade e qualidade. Quem tem condições financeiras consegue um bom atendimento, mas quem não tem recursos está desassistido No Brasil coexistem dois extremos: a iniciativa privada, igual aos melhores sistemas, comparado ao europeu ou americano; e o sistema público, desumano, como na África subsaariana
9 Desassistência Querem tratar a doença mental sem medicamento, sem médicos Mas a doença mental, como qualquer outra diabetes, pneumonia, precisa de tratamento, de assistência médica e até de internação Óbvio, a maior demanda é ambulatorial Mas há casos em que o paciente precisa ser internada por colocar a própria vida ou a de outras pessoas em risco Para esses casos é preciso ter leitos psiquiátricos, e em boas condições
10 Desospitalização e Violência O destino dos pacientes são as ruas, as prisões, o abandono. Em dez anos, o número de leitos no país foi reduzido de 120 mil para menos de 36 mil Não foi criada nenhuma alternativa para atender às pessoas que ficaram sem esses espaços. Coincidentemente, há mais de 60 mil doentes mentais presos
11 Desospitalização e Violência As prisões tornaram-se os novos manicômios. É o resultado da falta da atenção à saúde mental no Brasil como deveria ser feita. As pessoas vão para as ruas, cometem pequenos ilícitos, são presas ou... morrem É uma desumanidade, uma violência o que está sendo feito com os doentes mentais no Brasil
12 Autocrítica? Os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), instâncias do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), recebem cotidianamente demandas relacionadas à saúde mental (abandono, violência, maus-tratos etc. e a violação de direitos é muito freqüente)......muitos casos que chegam aos CRAS são pessoas com transtorno mental que vivem nas ruas... (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. População em situação de rua. Disponível em:. Acesso em: 2 nov. 2012)
13 Panorama da violência e abusos no cotidiano do portador de transtorno mental impacto da desospitalização...o cenário em que se insere o Movimento de Reforma Psiquiátrica é considerado desafiador A Reforma Psiquiátrica brasileira caminha a passos lentos e a política de redução de leitos se apresenta como um instrumento favorável, mas, sozinha, sem garantia de financiamento, enfrenta todo tipo de dificuldade para avançar... (Ministério da Saúde. Saúde Mental em Dados 10. Ano VII, n.10. Informativo Eletrônico. Brasília: mar. 2012)
14 MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE MENTAL PELO MUNDO Canadá 11% do orçamento total da assistência à Saúde para a Saúde Mental Rede de atenção integral em Saúde Mental, os diversos serviços não concorrem entre si, trabalhando de forma harmônica e integrada Grã-Bretanha: 10% do total do orçamento da área da Saúde para Saúde Mental. Rede de atenção integral em Saúde Mental em todos os níveis de complexidade
15 MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE MENTAL PELO MUNDO ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA 6% de todo o orçamento da área de Saúde O Estado não e a única fonte de recursos, que provêm também de seguros saúde e de outras fontes não estatais 0,95 leitos psiquiátricos por mil habitantes O que propiciou uma melhora dos pacientes e parte de sua ressocialização foi o advento dos antipsicóticos nos anos 50, permitindo tratamento ambulatorial
16 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL Princípio de integração entre os diversos serviços, constituindo um sistema integrado de referência e contra-referência as unidades devem funcionar de forma harmônica, complementando-se entre si definição clara das funções de cada serviço e os meios a serem adotados nos procedimentos de referência e contra-referência Seguindo-se a Lei /2001, é preciso contar com parâmetros de atenção e serviços
17 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL NÍVEL PRIMÁRIO: Promoção e Prevenção: - Campanhas de desestigmação - Orientação educacional contínua - divulgação dos serviços SM e orientação de como procurá-los e utilizá-los - Treinamento e supervisão das equipes multiprofissionais
18 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL NÍVEL PRIMÁRIO: Unidades Básica de Saúde (UBS) - Treinamento de médicos do Programa de Saúde Mental de Família (PSF) e Unidades Básica de Saúde (UBS) - Sistema de referência e contra-referência estruturado através da ação de equipes matriciais, ligados à rede de saúde mental - programas de promoção, prevenção e intervenções terapêuticas em saúde mental específicas para a atenção primária
19 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL NIVEL SECUNDÁRIO Centro de Atenção Médica, Psicológica e Social (CAMPS) - Estruturado nos termos da Lei (assistência integral aos portadores de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, etc) Ambulatório Psiquiátrico Geral e Especializado - Serviço de atendimento médico de acordo com a demanda de cada local, inserido ou não em ambulatório médico geral, com distribuição gratuita dos medicamentos prescritos
20 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL NIVEL TERCIÁRIO: Hospital Dia e Hospital Noite: - Serviços destinado a hospitalização parcial para pacientes que não necessitem permanecer em tempo integral no hospital - Centro de Atendimento Integral em Saúde Mental (CAISM) - atendimento completo em todos os níveis de complexidade (promoção, prevenção, ambulatório, prontosocorro, CAMPS, hospital parcial e hospital para internação em tempo integral)
21 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL NIVEL TERCIÁRIO: Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral: - internações de pacientes agudos, de curta permanência, para casos sem intercorrências ou com intercorrências clínicas/cirúrgicas que necessitem de internação em hospitais gerais Hospital Psiquiátrico Especializado - para pacientes que necessitem cuidados intensivos cujo tratamento não é possível ser feito em serviços de menor complexidade, contando com equipe multiprofissional completa, necessária para os programas terapêuticos da unidade
22 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL NIVEL TERCIÁRIO: Unidade de Emergência Psiquiátrica - Unidade de pronto socorro psiquiátrico, em tempo integral (24 horas por dia), com leitos para pacientes em crise, em curtíssima permanência (até 24 horas). Em hospitais psiquiátricos e em hospitais gerais. Articuladas com o SAMU
23 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL PROTEÇÃO SOCIAL : Serviço de Residência Terapêutica I (Lar Abrigado) - para pacientes com autonomia, sem necessidade clínica de internação, que não contam com o apoio da família Serviço de Residência Terapêutica II (Pensão Protegida) - Serviços destinados a pacientes com a autonomia comprometida, sem necessidades clínicas de internação, que não contam com o apoio da família
24 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL PROTEÇÃO SOCIAL : Centro de Convivência: - Serviço para convivência de pessoas, com variados graus de comprometimento, para recreação e convívio. Utilizadas técnicas de reabilitação, com profissionais de nível superior, à exceção de médicos
25 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL
26 PROGRAMAS ESPECÍFICOS DE SAÚDE MENTAL PROGRAMA DE ATENÇÃO ESPECÍFICA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS TRÊS NÍVEIS - 15 a 20% da população, com predomínio dos transtornos do comportamento disruptivo e transtornos emocionais - quanto menor a criança, mais dependente do grupo familiar que, principalmente da mãe, quem habitualmente percebe todo e qualquer desvio - Na medida em que a criança se desenvolve a escola passa a desempenhar um papel, constituindo-se, juntamente com a família, no universo da criança
27 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL
28 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL PROGRAMA DE ATENÇÃO ESPECÍFICA PARA IDOSOS NOS TRÊS NÍVEIS aumento da expectativa de vida e do número de pessoas acima de 65 anos de idade, o impacto sobre gastos com saúde e previdenciários aumento progressivo da prevalência de transtornos transtornos demenciais, à medida que avança a idade depressão no idoso, tão prevalente quanto a doença de Alzheimer
29 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL PROGRAMA DE ATENÇÃO ESPECÍFICA PARA A ÁREA DE ÁLCOOL E DROGAS NOS TRÊS NÍVEIS - a DQ é uma doença crônica grave e não somente um problema social ou psicológico - o modelo do sistema de tratamento da DQ deve assemelhar-se ao das outras doenças crônicas - sistema de serviços que leve em conta a diversidade de problemas (saúde física, saúde mental, social, familiar, profissional, conjugal, criminal, etc), buscando a diversidade de soluções - alguns pacientes podem beneficiar-se de intervenções breves e outra parte, necessitar de tratamentos mais sistematizados e com diferentes níveis de complexidade e variedade de recursos
30 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL SERVIÇOS DE ATENÇÃO ESPECÍFICA PARA DOENTES MENTAIS CUMPRINDO MEDIDA DE SEGURANÇA E POPULAÇÃO PRISIONAL COM TRANSTORNOS MENTAIS DISTRIBUIÇÃO DE MEDICAMENTOS REABILITAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL
31 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL FINANCIAMENTO A situação atual da assistência em Saúde Mental no Brasil piorou nos últimos 20 anos O Ministério da Saúde retirou da Saúde Mental cerca de 2/3 dos recursos originariamente a ela destinados. Eram de 5,8% do orçamento total da área Saúde e hoje é de apenas 2,3% Os recursos oriundos do fechamento de 60% dos leitos psiquiátricos foram retirados da Saúde Mental e não aplicados numa rede integrada e eficiente de serviços extra-hospitalares É necessário utilizar os créditos orçamentários em sua plenitude!
32 DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL Urgem a correção de rumo e a mudança da política de saúde mental do Governo Federal, através do Ministério da Saúde A desassistência já está instalada e poderá se tornar dramática Porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente (Geraldo Vandré, 1966)
33 Obrigado pela paciência! Cel. (71) ;
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