ACÓRDÃO. Belo Horizonte, 11 de março de DESª. HELOISA COMBAT - Relatora NOTAS TAQUIGRÁFICAS A SRª. DESª. HELOISA COMBAT: VOTO

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1 Número do processo: /001(1) Relator: HELOISA COMBAT Relator do Acordão: HELOISA COMBAT Data do Julgamento: 11/03/2008 Data da Publicação: 28/03/2008 Inteiro Teor: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE. FORNECIMENTO DE BEBIDA ALCÓOLICA. FESTA FECHADA EM BOATE. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO. - O proprietário de boate responde pelo fornecimento de bebidas alcoólicas a menores em festa particular realizada em seu estabelecimento. - A proibição de se fornecer bebida alcoólica a menores atinge a todos, independente de se tratar de evento fechado e gratuito. - A infração ocorre ainda que não verificado o efetivo consumo, bastando a demonstração de que os menores detinham a bebida que lhes foi fornecida gratuitamente, em situação que indicava que se destinava ao seu consumo. APELAÇÃO CÍVEL N /001 - COMARCA DE ITUIUTABA - APELANTE(S): ROGÉRIO AMUY ALBINO - APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. HELOISA COMBAT ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM REJEITAR PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO. Belo Horizonte, 11 de março de DESª. HELOISA COMBAT - Relatora NOTAS TAQUIGRÁFICAS A SRª. DESª. HELOISA COMBAT: VOTO Trata-se de apelação cível interposta por Rogério Amuy Albino contra a r. sentença da douta Juíza do Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Ituiutaba que lhe impôs multa de três salários mínimos por infração administrativa ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Alega o recorrente que o promotor do evento em que houve a autuação deve ser responsabilizado pela infração e que não está provada a consistência da acusação, embasando-se a decisão em meras suposições. I - DA PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE. O Parquet aventou em contra-razões preliminar de intempestividade do recurso, considerando que a intimação da sentença ocorreu em 18 de setembro de 2007 e que a apelação somente foi interposta no dia 02 de outubro de Extrai-se dos autos que o acusado foi intimado por mandado para efetuar o pagamento da multa antes mesmo que fosse cientificado a respeito da decisão judicial. A douta Escrivã Judicial constatou a irregularidade, conforme certificado o equívoco à f. 58, o que ensejou a expedição de

2 novo mandado para a intimação da parte da sentença, que foi juntado aos autos, cumprido, em 11 de outubro de 2006 (f. 59v). Não obstante, o procurador do requerido ainda não havia sido intimado da sentença, pelo que não poderia ter início o prazo recursal, em vista do disposto no art. 237 do CPC. Compete ao advogado e não à parte, atuar no processo, de forma que aquele precisa ser cientificado da decisão para, eventualmente, interpor recurso. Em 31 de janeiro foi intimado o advogado que subscreve o recurso, Dr. Munir Augusto Filho, o que levou a douta sentenciante a considerar intempestivo o recurso interposto em 22 de fevereiro de 2007, conforme decisão de f. 76. Ocorre que, em seguida, foi constatado que o causídico não possuía poderes para representar o indiciado, pois não juntou procuração nos autos e o instrumento apresentado com a defesa constituía como procurador o Dr. André Eduardo Vilela Cury. Diante dessa situação o Dr. Munir Augusto Filho juntou procuração nos autos à f. 84. Com vistas a regularizar a situação, a ilustre Magistrada que presidia o feito determinou que se repetisse o ato intimatório, sendo cumprida a decisão através de publicação da sentença no "Diário do Judiciário" em 20 de setembro de 2007 (f. 86v.). Na comarca de Ituiutaba os prazos legais são aumentados em dois dias úteis. Assim sendo, considera-se realizada a intimação em 24 de setembro (segunda-feira) encerrando-se o decênio previsto no art. 198, II, da Lei 8.069/90, em 04 de outubro (quinta-feira), resultando tempestivo o recurso interposto em 02 de outubro de Assim sendo, REJEITO A PRELIMINAR e conheço do recurso, presentes os seus pressupostos subjetivos e objetivos de admissibilidade. II - MÉRITO O auto de infração registra ter sido constatada a presença de dois menores de 18 anos consumido bebidas alcoólicas em evento particular realizado pela Empresa - JR na boate Mikonos Club, sendo o autuado proprietário do estabelecimento. De início, cumpre assinalar que o fato de o evento estar sendo promovido por uma empresa particular não exime o proprietário do local onde ocorreu a infração de responsabilidade pelos atos cometidos em seu estabelecimento. A natureza do espaço onde ocorria a festa autoriza a fiscalização e a imposição de limites administrativos pela Autoridade Judiciária, conforme previsão do art. 149, I, "c", do Estatuto de Criança e do Adolescente. A presença de menores em boates ou congêneres, desacompanhados dos pais é hipótese de exceção, admitida quando assim dispuser a portaria do Juízo competente. Pouco importa se o evento é aberto ou fechado e se o acesso é oneroso ou gratuito. O art. 258 do Estatuto versa que a responsabilidade pelo cumprimento das normas acesso e participação de menores em eventos e espetáculos recai sobre os responsáveis pelo estabelecimento e sobre o empresário.

3 Embora particular, nota-se o caráter comercial do evento realizado, visando a promoção da Empresa JR. O proprietário da boate auferiu receita pelo aluguel do espaço, não podendo se eximir da responsabilidade pelos ônus decorrentes, impondo-se que fiscalize a festividade e se certifique de que as cautelas necessárias serão tomadas pelo usuário. Sem embargo da questão afeta ao acesso de menores ao local, verifico que a prática antijurídica que ensejou a autuação concerne ao fornecimento de bebida a menores. A norma lesada se encontra no art. 81, II, da Lei 8.069/90, que proíbe a venda de bebida alcoólica a crianças e adolescentes. Descabe, na espécie, a interpretação literal do dispositivo, sob pena de se distanciar de sua finalidade, que é de impedir o acesso dos menores a substâncias ou informações que possam prejudicar o seu desenvolvimento saudável, considerando que não possuem discernimento amadurecido que permita uma escolha livre e a responsabilidade pelos seus atos. Corroborando com esse entendimento, o art. 243 do ECA tipifica como crime a venda ou o fornecimento, ainda que gratuito, a administração ou entrega de produtos que possam causar dependência física ou psíquica aos menores. José de Farias Tavares assinala em comentários ao art. 81, II, do ECA, que: "Melhor teria dito a lei, ao invés de venda, fornecimento, termo mais amplo, que abrange as operações de transferência onerosas e gratuitas. A lei tem a finalidade de evitar o acesso de pessoa imatura a coisas que lhe são perigosas ou nocivas. A interpretação teleológica é determinada no art. 6º, como já visto, dentro do princípio de normaguia contida no art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, aplicável a todo o Direito brasileiro. E conduz nessa linha de raciocínio, ao entendimento de que, para a proteção integral à criança e ao adolescente (Estatuto, art. 1º) tem de resguardá-los dos malefícios da aquisição a qualquer título, dos elementos catalogados como inconvenientes." (Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005) Destarte, comete crime e infração administrativa aquele que fornece bebida alcoólica a menores, a qualquer título, onerosa ou gratuitamente. Pratica a conduta antijurídica, em se tratando de evento particular realizado em boate, tanto o promotor do evento quanto o responsável pelo estabelecimento, que deve cuidar de fiscalizar o cumprimento das normas de proteção à criança e adolescente no âmbito de sua propriedade, em vista da natureza peculiar do comércio. Confira-se, nesse sentido, o seguinte julgado deste egrégio Tribunal de Justiça: "Apelação cível. Representação por infração ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Ilegitimidade passiva. Inocorrência. Consumo de bebidas alcoólicas por menores. Infração ocorrente. Responsabilidade do proprietário do estabelecimento caracterizada. Recurso não provido. 1. A legitimidade passiva "ad causam" decorre do envolvimento em conflito de interesses. 2. O clube locador de espaço para realização de festa promovida por sua sócia integra o conflito instaurado em decorrência de infração ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

4 3. Existe dever genérico de vigilância na formação da criança e do adolescente. O mencionado dever gera responsabilidade do locador de espaço pelo fornecimento de bebidas alcóolicas para menores. 4. A existência de contrato entre locador e locatária com cláusula expressa vedando a prática da infração mencionada com obrigação pelas eventuais penalidades não é oponível ao Estado. A locatária somente tem a obrigação de ressarcir o locador pela multa que este venha a recolher. 5. Apelação cível conhecida e não provida." (Apelação Cível nº /001-2ª Câmara Cível - Rel. Des. Caetano Levi Lopes - j ). Acrescente-se que o contexto probatório indica que não houve mero aluguel de espaço, mas prestação de serviços, consistente no fornecimento dos insumos consumidos pelos convidados. Não cuidou o apelante de demonstrar que a bebida era fornecida por terceiros e que não estava sendo servida por seus funcionários. Em relação à prova de que os menores estavam consumindo bebidas alcoólicas, não constato que houve mera suposição, mas indícios suficientes para ensejar a autuação. A Comissária de Menores prestou depoimento em Juízo em que afirma não ter presenciado os adolescentes ingerindo a bebida, mas que os encontrou em uma mesa diante de dois copos pela metade, com cheiro de bebida alcoólica. Ao indagá-los foram os próprios menores que informaram terem consumido a bebida, pois foram servidos e estava incluída, é dizer, era gratuita. (f. 32) O gerente da boate disse ter presenciado a autuação e que estava observando os menores que detinham copos contendo batida, dadas pelo promotor da festa. (f. 30) Dessa assertiva não se pode extrair que o promotor da festa forneceu diretamente a bebida, mas apenas que estava financiando o seu consumo. Denota-se que a bebida alcoólica estava sendo servida de modo indiscriminado, sem se indagar sobre a idade dos convidados, servindo a ficha de identificação do menor apenas para o controle das bebidas pagas. Apesar de o gerente do estabelecimento estar presente na festividade, não cuidou de averiguar a situação suspeita, omitindo-se do dever de prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente, estabelecido no art. 70 do ECA. Os próprios adolescentes afirmaram que consumiram a bebida que lhes fora servida, colhendo-se prova suficiente da prática de infração. Ademais, a conduta típica não exige o efetivo consumo da bebida, bastando que tenha sido entregue o produto lesivo à criança ou ao adolescente, colocando o menor em situação de risco. Resta evidente que os menores detinham copos com bebidas alcoólicas que lhes foram fornecidas no evento. Por esses fundamentos, REJEITO A PRELIMINAR E NEGO PROVIMENTO AO RECURSO, mantendo a r. sentença que julgou subsistente a autuação, condenando o infrator em multa correspondente a três salários mínimos.

5 Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): ALVIM SOARES e EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS. SÚMULA : REJEITARAM PRELIMINAR E NEGARAM PROVIMENTO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS APELAÇÃO CÍVEL Nº /001