NOÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICADO NORTE DO PARANÁ

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1 NOÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICADO NORTE DO PARANÁ Amanda Lipinski Fernandes Maciel (IC), Verônica Rodrigues de Moraes (IC), Giovana Cândido dos Santos (IC), Thalita Toledo de Oliveira (IC), Jorge Sobral da Silva Maia (Orientador), amanda.fmaciel@hotmail.com Ciências Humanas, Educação. Universidade Estadual do Norte do Paraná/Campus Jacarezinho Palavras-chave: educação ambiental, escola pública, ensino fundamental e médio. Resumo O presente artigo provém de uma pesquisa realizada na Educação Básica, desenvolvido em duas escolas públicas paranaenses com alunos do Ensino Fundamental e Médio, localizadas nos municípios de Jacarezinho e Santo Antônio da Platina. A pesquisa objetivou investigar as concepções de Educação Ambiental apresentadas pelos estudantes, por meio de questionário composto de cinco questões dissertativas, relacionadas ao conceito, conteúdos e políticas públicas sobre o tema em debate. Os estudantes apresentaram visões ingênuas da Educação Ambiental evidenciando os limites da inserção de temáticas socioambientais na Educação Básica. Conclui-se que é necessário um trabalho mais intenso com foco na sustentabilidade ambiental na contemporaneidade. Introdução A Educação Ambiental como um processo de apropriação crítica de conhecimentos, atitudes e valores não pode ser tratada por meio de uma visão simplista de natureza, como geralmente é concebida, mas como um processo voltado à apreciação da questão socioambiental na perspectiva histórica, antropológica, econômica, social, cultural e ecológica, em que o ser humano é sujeito participante, transformador, e consequentemente receptor de suas ações (OLIVEIRA, et. al, 2010; OLIVEIRA, 1998). O marco da educação ambiental está na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, no ano de A partir dessa conferência a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) lançaram o PIEA (Programa Internacional de Educação Ambiental), em 1975 (BRUGGER, 1999). A educação ambiental no Brasil instituiu-se em 1999, pela Lei n Lei da Educação Ambiental, cujo Art. 1 afirma: Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, Lei n 9.795, 1999). Na sequência, em seu Art. 2, legisla que a educação ambiental deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

2 Nesse contexto, as instituições escolares podem ser consideradas espaços privilegiados para a formação de uma consciência crítica dos estudantes, fazendo com que estes se percebam como integrantes do ambiente, cientes de suas responsabilidades como cidadãos (LIMA, 2004). Dessa forma, os professores necessitam estar atentos para a realização de uma prática que fomente a criticidade sobre os pressupostos determinantes da crise social e ambiental atual; e, ainda evidencie os problemas ambientais e suas causas, elaborando reflexões em prol do ambiente e da qualidade de vida na sala de aula (SALES et. al, s/d). Diante do exposto verifica-se a importância de diagnosticar as concepções dos estudantes na Educação Básica para identificar as consequências das práticas educativas ambientais na Escola, e refletir sobre as concepções de educação ambiental de estudantes da Educação Básica, em duas escolas públicas do Estado do Paraná. Justifica-se este diagnóstico por entendermos a escola como o local para a prática da educação ambiental crítica emancipatória e transformadora (MAIA, 2015). Material e métodos Este trabalho foi realizado com dezessete alunos do 6 ano do Ensino Fundamental e dezesseis alunos do 2º ano do Ensino Médio, respectivamente das Escolas Estaduais Maria Dalila, de Santo Antônio da Platina, e Luiz Setti, de Jacarezinho. Aplicou-se uma entrevista do tipo estruturada, diretamente aos estudantes, durante as aulas regulares das turmas. Os dados foram organizados a partir de cinco categorias de análiseelaboradas a partir dos dados coletados, considerando a abordagem qualitativa na perspectivada pesquisa social na concepção de Triviños (2008). A entrevista buscou dados sobre a Educação Ambiental formal, isto é, aquela que ocorre na escola. A metodologia escolhida confere o anonimato aos alunos e consequentemente a liberdade dos mesmos para responderem as questões (BONI; QUARESMA, 2005). Resultados e Discussão As categorias a seguir se apresentam precedidas por EF para os alunos do Ensino Fundamental e EM para os do Ensino Médio, e as falas dos mesmos serão colocadas entre aspas. 1- Conceito de Educação Ambiental: A maioria dos alunos do EF e EM relacionaram Educação Ambiental apenas como preservação da natureza, exemplo: Não jogar lixo nas ruas e na água, Não desmatar as florestas. Apenas um aluno do EF e três do EM referiram-se à educação ambiental dentro de um contexto social, em que eles também são partes integrantes do ambiente, exemplo é uma educação que nos ensina a cuidar do ambiente, porque fazemos parte dele. 2- Conteúdos da Educação Ambiental para a Educação Básica: Os alunos do EF citaram conteúdos referentes à importância da água, por exemplo: ciclo da água, sua contaminação e tratamento. Cinco mencionam ainda a importância do oxigênio, dois abordaram desmatamentos e queimadas das florestas e sete fizeram menção à fotossíntese. Treze dos discentes do EM não souberam indicar conteúdos referentes à Educação Ambiental, eles apenas reformularam suas respostas apresentadas na primeira questão. Três alunos não souberam responder, justificando falta de conhecimento sobre a matéria exposta, e somente um apresentou exemplo de conteúdo, citando a extinção de animais e a exploração da vegetação. 3- Importância dos conteúdos: Dezesseis dos alunos do EF julgaram a importância dos conteúdos relacionando-os com a preservação ambiental e consequentemente com o bem estar dos seres vivos, por exemplo: sem a água todos nós morremos de sede, não haveria vida, o ambiente sujo, prejudica nossa saúde. Exclusivamente um aluno avaliou a importância dos conteúdos como forma de aquisição de conhecimento, dissertando: porque são conhecimentos que a gente adquire e leva para a vida toda.

3 Metade dos alunos do EM indicaram a relevância dos conteúdos relacionados à preservação do ambiente, discorrendo: para manter o ambiente limpo, é importante para o mundo ficar melhor e os demais alunos, discorreram além da importância da preservação o bem estar dos seres vivos dizendo: porque é ótimo para o bem estar dos seres humanos e para a sobrevivência do planeta. 4- Promoção de conteúdos ambientais na escola: Em geral os alunos do EF indicaram trabalhos em sala de aula como construção de maquetes, assim como, visitas ao laboratório de Ciências para a realização de pesquisas e projetos. Seis alunos referiram-se a documentários e filmes como forma de divulgação para um posterior debate, e apenas um, não soube responder a pergunta. Dentre o total, onze estudantes do EM mencionaram palestras e debates como formas de exposição, quatro julgaram importante à realização de atividades de entretenimento, como jogos e peças de teatro, e um argumentou a ausência de sua resposta devido à falta de conhecimento. 5- Conhecimento de políticas públicas que tratam da Educação Ambiental no Brasil: Onze alunos do EF apresentaram como políticas públicas o saneamento básico, como a coleta de lixo, além de projetos de conscientização da comunidade em relação ao cuidado com a limpeza do ambiente. Dois citaram canais educativos que passam na TV como Cultura e TV Escola e três mencionaram a caça ilegal e sua proibição. Desmatamento e queima de florestas foram apresentados por cinco alunos, e reciclagem do lixo por apenas um. Sete alunos do EM citaram como políticas públicas as ONGS (Organizações Não Governamentais), a exemplo do Greenpeace. Os outros nove alunos mencionaram IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e polícia ambiental, sendo que três apontaram o Partido Verde. Do ponto de vista conceitual os estudantes não consideraram as implicações socioeconômicas da problemática ambiental, não tem claro sua definição e importância indicando que a educação ambiental não é tratada de forma a levá-los à apropriação crítica de conhecimentos, valores e atitudes em prol do ambiente e sua sustentabilidade nas relações com a sociedade. Também consideraram apenas elementos diretamente associados à visão de ambiente como natureza sem considerar o conflito pela apropriação do patrimônio ambiental e não demonstraram entender a importância da educação ambiental para o enfrentamento dessa condição. Em relação às propostas de inserção, os estudantes apresentaram estratégias desenvolvidas pelos professores sem demonstrarem criatividade para proposições que pudessem aprimorar os processos pedagógicos, o que nos indica a necessidade de considerar novas propostas para ainserção da educação ambiental no espaço escolar. Possivelmente realizar essa tarefa passe pela interação entre escola e universidade, de forma que a pesquisa produzida nas universidades possa ser compartilhada com professores e estudantes na rede escolar pública e particular. Outro fator é a ausência de compreensão do papel das políticas públicas que norteiam a educação ambiental, ausência essa que pode ser estendida para outras abordagens relacionadas ao papel das políticas públicas na vida dos estudantes, inviabilizando a plena formação para a cidadania. Considerando a Educação Ambiental como a educação que tematiza o ambiente, e reconhecendo que neste ocorre disputas pela apropriação do patrimônio que lhe é inerente, a visão dos estudantes é simplista, pois estes não consideram os componentes sociais, políticos e econômicos daquestão ambiental, evidenciando lacunas em seu processo formativo (TOZONI-REIS et al, 2015) colocando-os assim, em condição limitada no sentido da luta pelos seus direitos e por uma condição de vida digna. Esses elementos podem ser considerados importantes como conteúdos da Educação Ambiental na escola, superando a ideia de Educação Ambiental estritamente ligada à natureza. Desta forma, torna-se importante promover novas interpretações referentes às práticas pedagógicas dos professores para que estas reflitam de forma consistente e coerente a prática social dos estudantes sem abrir mão de problematizar as políticas públicas referentes a Educação Ambiental e às outras áreas do saber, significativas para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e participativo dos estudantes da Educação Básica.

4 Conclusões Os alunos demonstraram conhecimentos superficiais e simplistas (TOZONI-REIS et al, 2015) sobre a educação ambiental, relacionando-a, em visão panorâmica, com o que é exposto pela mídia. Dissertaram respostas curtas, sem aprofundamento das questões. Para os estudantes apresentarem ideias e argumentações consistentes sobre a temática é necessário que a educação escolarizada proporcione ações que tratem da educação ambiental por meio de diferentes estratégias de ensino, que partam da prática social dos estudantes (SAVIANI, 2012), dando aos conteúdos sentido para pensarem sua realidade e o seu potencial como agentes transformadores dela. Ainda é importante problematizar a questão ambiental, que perpassa por todas as áreas do conhecimento, não abrindo mão da prática social dos estudantes, mas também fornecendo as ferramentas culturais produzidas socialmente e acumuladas historicamente pelo conjunto dos seres humanos (SAVIANI, 2005). Pode-se atingir o anterior exposto, por meio da prática docente orientada em uma perspectiva crítica e dialética em que se identifica a realidade dos estudantes e as dificuldades da ação do professor (MAIA; TOZONI-REIS, 2014). Esta concepção permite pensar a prática por meio da teoria e voltar à prática de forma contextualizada e crítica, contribuindo simultaneamente com a qualidade do ensino básico e qualidade da formação discente e também potencializar a prática pedagógica dos professores (AGUDO, 2013). Referências AGUDO, M. de M. A maior flor do mundo de José Saramago e a Educação ambiental na escola f. Dissertação (Mestrado em Educação para a Ciência) Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, BONI, V.; QUARESMA, S. J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC.2, 3, 68-80, BRASIL, Lei nº de abril de BRÜGGER, P.Educação ou adestramento ambiental? 2º ed. Florianópolis:Biotemas, CUBA, M. A. Educação Ambiental nas escolas.eccom, 1, 2, 23-31, MAIA, Jorge Sobral da S. Educação ambiental crítica formação de professores. Curitiba: Appris, OLIVEIRA, K. J. M.; MEDEIROS, D. H. Educação ambiental: abordagens teóricometodológicas. In V Encontro de produção cientifica e tecnológica, Campo Mourão, Disponível em: < S.pdf> OLIVEIRA, E. M.; AGUIAR. R. A. R. Educação Ambiental:uma possível abordagem.instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos naturais renováveis, SALES, E. M.; SOUSA, A. P.; SANTIAGO, A. S.; BRAGA, J. C.; SILVESTRE, A. S. Educação Ambiental: Percepção ambiental entre alunos e professores do ensino médio. No prelo. Disponível em: < SAVIANI, D. Escola e democracia. 42ª ed. Campinas/SP: Autores Associados, 2012.

5 SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 9ª ed. Campinas/SP: Autores Associados, SOUZA, D. C. A educação ambiental crítica e sua construção na escola pública: compreendendo contradições pelos caminhos da formação de professores. Tese de Doutorado em Educação para a Ciência, Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, TEIXEIRA, L. A. Formação do educador ambiental: reflexões de um professor da escola pública. Tese de Doutorado em Educação para a Ciência, Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, TOZINI-REIS, et al.a inserção da Educação ambiental na escola pública: disputas e contradições. In Anais do VIII Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental, A avaliação da década da educação para o desenvolvimento sustentável e perspectivas futuras. Rio de Janeiro: UNIRIO/UFRJ, Vol. 1, 1-15, TOZONI-REIS, M. F. C. (Org.); MAIA, JorgeSobralda S (Org.). Educação ambiental a várias mãos: Educação escolar, currículo e políticas Públicas. 1ª ed. Araraquara/SP: JUNQUEIRA & MARIN EDITORES, 1, 164, TRAJBER, R.; MENDONÇA, P. R. (orgs.) O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental. Brasília: MEC/Secad, TRIVINOS, A. Ñ. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: A pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Editora Atlas, 2008.