Palavras-chave: Escola, Entorno, Comunidade, Família, Participação.
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- Armando Carreiro Escobar
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1 2 A RELAÇÃO ESCOLA E COMUNIDADE: ANÁLISE PRELIMINAR DOS DADOS DE PESQUISA CONDUZIDA EM ESCOLAS PÚBLICAS RESUMO: A presente pesquisa trata da relação escola e comunidade, de modo especial, da relação escola e família. Faz parte de uma pesquisa mais ampla denominada Projeto Observatório da Educação financiada pela CAPES com três eixos: um mais voltado a dados quantitativos, analisando resultados do Projeto Geres e da Prova Brasil; outro voltado para a Avaliação Institucional Participativa em escolas de ensino fundamental e um terceiro voltado à relação entre a Escola e a Comunidade. Este objetiva analisar as relações entre escola/família/comunidade e sua influência no aprendizado e desenvolvimento dos alunos. O presente trabalho é um estudo dos dados coletados pela pesquisa junto a quatro escolas públicas municipais de ensino fundamental de Campinas localizadas em bairros com alto e baixo nível socioeconômico. Procura explorar descritivamente aspectos dessas escolas buscando compor análises que nos permitam adentrar em cada uma das instituições perceber as diferenças e similitudes entre elas de forma a elaborarmos um quadro analítico que nos possibilite entender como e ligados a quais aspectos investigados se dá a relação entre escola e comunidade, analisando se há diferenças vinculadas aos níveis socioeconômicos diversos. Constata-se, pelos dados analisados, que a relação das escolas com suas comunidades é pequena ficando mais restrita a festas e comemorações; que há diferença na gestão escolar das instituições a o que, todavia, não se associa necessariamente a uma maior ou menor participação da comunidade nas decisões administrativas e pedagógicas; e que existe um distanciamento grande entre escola, família e comunidade. Observamos que análises desta natureza podem indicar novos caminhos às políticas públicas em busca da melhoria da qualidade social da educação destinada às camadas populares que frequentam a escola. Palavras-chave: Escola, Entorno, Comunidade, Família, Participação. Introdução A qualidade da educação tem sido tema recorrente no debate nacional quando se discute possibilidades de novos caminhos a serem percorridos na busca da melhoria da educação. Seja a partir das análises de especialistas da área, ou seja, na fala de profissionais que atuam nas escolas ou, mais recentemente, na posição tomada por empresários preocupados em garantir a formação necessária ao atendimento do mercado. Geraldo Antonio Betini Luana Costa Almeida Maria Marcia Sigrist Malavasi Essa preocupação com a qualidade da educação se justifica pela ampliação do acesso à educação básica garantido em sua quase totalidade, mas não acompanhado por níveis adequados de instrução, o que se evidenciou de forma mais efetiva a partir da adoção de sistemas de avaliação em larga escala. Sem adentrarmos à discussão do que se consegue medir a partir desses modelos destacamos que essas medições denunciam Livro 3 - p
2 3 um grave problema enfrentado pelo sistema educacional brasileiro, o qual seria a baixa qualidade educacional das instituições de ensino do país, tanto em escolas públicas quanto nas privadas. Como destacam Torres, Ferreira e Gomes (2005) trata-se de paradoxos da universalização, em que conseguimos trazer para dentro das escolas os alunos mais pobres, entretanto estas mesmas instituições não têm conseguido garantir a estes um ensino de qualidade (TORRES et al, 2008). A partir desse apontamento, podemos dizer que estudar como se dá a relação entre a escola e o contexto externo (famílias e bairro) parece ser um caminho promissor para compreender não apenas como o Nível Socioeconômico (NSE) dos alunos e suas famílias impactam as escolas, mas como diferenças dessa natureza podem influenciar a entrada e participação de agentes externos no interior desta instituição. Muitos estudos têm apontado a importância da compreensão da relação da escola com as famílias/comunidade. Apesar disso eles têm voltado sua investigação para o papel da família na educação de suas crianças e como estas se relacionam com a escola, sendo mais raros os trabalhos voltados a um recorte mais amplo da questão (ALMEIDA e BETINI, 2011a). O que corrobora a necessidade de se ampliar a investigação trazendo a comunidade, para além da própria família, como unidade de análise. Nesse trabalho entendemos família como sendo aqueles que diretamente, pais ou responsáveis, cuidam das crianças seja em relação à sua aprendizagem e desenvolvimento na escola, seja em sua participação na comunidade (MALAVASI, 2002). Por comunidade entendemos como sendo a localidade (bairro) em que as famílias estão estabelecidas em torno da escola podendo ou não influenciá-la e ser influenciada por ela no que tange à educação dos seus filhos. Assim sendo, é imperioso considerar os diferentes graus de relacionamento existentes entre escola e família e como eles, de modo especial, ocorrem no processo de educação das crianças. Em busca da compreensão dos possíveis fatores externos associados à melhoria da qualidade educacional, procuramos investigar a relação entre escola e comunidade de forma a tentar perceber como diferentes escolas, em diferentes comunidades, se mobilizam no atendimento à população de forma a identificarmos similitudes e diferenças que expressariam oportunidade de entendimento do fenômeno. Esse estudo faz parte de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido no período de 2009 a 2012, denominado Projeto Observatório da Educação financiado pela CAPES que vem analisando três eixos relacionados ao ambiente escolar. O primeiro deles possui caráter mais quantitativo estabelecendo uma comparação entre os Livro 3 - p
3 4 resultados obtidos nos testes aplicados no Projeto GERES - Estudo Longitudinal sobre a Qualidade e Equidade no Ensino Fundamental Brasileiro (FRANCO; BROOKE e ALVES, 2008) e a Prova Brasil. Outro eixo se refere ao desenvolvimento de Avaliações Institucionais em redes públicas do Ensino Fundamental como estratégia de participação coletiva e melhoria da escola e o presente texto se refere ao eixo da pesquisa, que trata da Relação Escola e Comunidade. Esse eixo busca conhecer por um lado, como a escola é afetada pela realidade de seu entorno e por outro lado como a comunidade é afetada pela existência da escola. O desenho metodológico utilizado optou pela análise de escolas localizadas em diferentes comunidades e a partir daí a coleta de dados se deu, até o presente momento, por uma observação inicial das escolas, acompanhada de entrevistas com a direção e, posteriormente, aplicação de questionários para todos os seus segmentos, (gestão e funcionários da escola, alunos do quarto e quinto ano do ensino fundamental, seus respectivos professores e pais/responsáveis). O critério para a escolha das quatro escolas participantes da pesquisa foi o NSE coletado pelo Projeto GERES, o qual do ponto de vista operacional [...] é tomado como um construto teórico, ou seja, uma variável latente (não diretamente observada) cuja medida é feita pela agregação de informações sobre: a educação, a ocupação e a riqueza ou rendimento dos indivíduos (ALVES e SOARES, 2009). A amostra foi composta por duas escolas com maior nível socioeconômico (chamadas no texto de escolas E1 e E2) e duas com menor nível socioeconômico (denominadas escolas E3 e E4). As considerações feitas neste trabalho refletem o que foi encontrado e relatado no momento em que as visitas e entrevistas foram realizadas. É fruto, também, das primeiras aproximações com os dados coletados e tabulados. Trata-se, portanto, de um balanço apenas preliminar. CARACTERIZAÇÃO DAS ESCOLAS QUE PARTICIPARAM DA PESQUISA A escola E1 está situada em um bairro de maior nível socioeconômico. Segundo a diretora da escola cerca de 80% da população que a frequenta é classe média/média. Existem apenas umas 10 famílias em situação de pobreza. É uma escola pequena com aproximadamente 334 alunos. A escola tem em média 30 alunos por sala com bons espaços didáticos, como biblioteca, sala de informática, bem como a existência e uso de recursos pedagógicos. Livro 3 - p
4 5 Quanto ao trabalho coletivo, constatou-se que está mais concentrado entre direção e professores e que faltam instâncias colegiadas na escola, existindo apenas o Conselho de Escola e a Comissão Própria de Avaliação (CPA); segundo a direção 80% das famílias participam da vida da escola. Quanto às características positivas da escola e que contribuem para o bom aprendizado dos alunos a direção mencionou os seguintes aspectos: excelência da equipe de trabalho, isto é, gestão, professores, funcionários, cujo objetivo é proporcionar uma educação de qualidade aos alunos. Quanto aos problemas enfrentados foram mencionados a dificuldade de aplicar o reforço com alunos que o necessitam em função da não dedicação de alguns e ausência nas aulas de reforço, assim como a questão da indisciplina que atrapalha a aprendizagem da maioria. Esses problemas são enfrentados, basicamente, com a conscientização de pais e alunos para a importância desses fatores na aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Em uma análise preliminar dos dados dos questionários aplicados aos alunos e com seus respectivos professores, pais/responsáveis, funcionários e diretora da escola podemos fazer algumas considerações. Em relação à participação dos pais na escola há dados contraditórios entre a fala dos pais/responsáveis, diretora e professores que dizem que os pais participam, mas que estes dizem que não e que gostariam de participar mais. Observa-se que há maior participação dos pais/responsáveis no acompanhamento do desempenho dos filhos na escola e que esta os incentiva a fazer isso. Entretanto, não há indícios claros de que há participação deles na vida da escola em termos de tomada de decisões administrativas e pedagógicas. Quanto aos funcionários, olhando as suas respostas, fica claro que não há participação na tomada de decisões e na elaboração do PPP. Sobre a escolaridade dos pais/responsáveis a maioria tem o ensino médio completo, sendo 49% entre as mães e 59% entre os pais. Alguns acham que a qualidade da educação da escola é muito boa. Quanto aos dados levantados dos questionários dos alunos, observa-se que há interesse dos professores em fazer com que todos aprendam e que há interesse dos alunos em aprender também, que levam a sério os estudos e que valorizam a escola. A escola E2 está situada em um bairro tradicional de Campinas, próximo ao centro da cidade com maior nível socioeconômico e tem 950 alunos. Segundo a diretora 80% dos alunos pertencem à classe média. A escola passou por uma ampla reforma em 2010, inclusive com aumento de salas de aula. Há espaços didáticos adequados à aprendizagem dos alunos como Livro 3 - p
5 6 biblioteca laboratório de ciências, horta e quadro de esportes. Há também recursos didáticos que são usados pelos professores. Segundo a equipe gestora há uma participação efetiva dos professores na elaboração do PPP; envolvimento de todos os segmentos na CPA; reuniões trimestrais com as famílias para acompanhamento do desempenho dos alunos. Como ponto positivo da escola na aprendizagem dos alunos existe diálogo entre todos os segmentos da escola; trabalho integrado; relação com a comunidade; avaliações contínuas. Quanto aos problemas foram citados: metodologia de aula (a escola não tem uma linha de trabalho única); licenças saúde e substituições; professores desestruturados frente à indisciplina. Para enfrentar esses problemas são realizados trabalhos junto aos professores no sentido de assumirem compromisso de mudança de comportamento em benefício de melhor qualidade de educação ofertada aos alunos. Quanto ao relacionamento da escola com seu entorno, segundo os dados, há participação de, aproximadamente, 20% das famílias, pois em torno de 50% das famílias não moram no bairro, isso em decorrência da escola estar em um corredor de ônibus, sendo de fácil acesso. A participação dos funcionários na vida da escola é baixa. Sobre o nível de escolaridade dos pais/responsáveis, a maior incidência foi no ensino médio completo, sendo 66% entre as mães e 56% entre os pais. Quanto aos alunos a grande maioria relata que sempre recebe incentivos dos pais aos estudos. A escola E3 está situada em um bairro de menor nível socioeconômico distante do centro de Campinas e tem alunos. A escola funciona em 5 períodos, das 07:00 às 10:45, das 11:00 às 14:45, das 13:00 às 17:00. das 15:00 às 18:45 e das 19:00 às 23:00 horas (com a Educação de Jovens e Adultos - EJA). As salas de aula têm elevado número de alunos, de 30 a 40, para que se possa atender o máximo de crianças do bairro. Tivemos muita dificuldade para agendar, tanto a visita para explicar a pesquisa e obter a adesão da escola, como para marcar a entrevista. A pessoa que nos atendeu é uma professora de matemática que, por motivos de saúde, está afastada de sala de aula ajudando a direção da escola em trabalhos pedagógicos e administrativos. A infra-estrutura da escola deixa muito a desejar. Quanto aos espaços pedagógicos o que existe é o mínimo, ou seja, laboratório de informática com internet, sala para atividades de artes e quadra de esportes coberta, biblioteca, mas que é utilizada eventualmente pelos alunos. Quanto aos equipamentos e recursos didáticos a escola está bem aparelhada. Livro 3 - p
6 7 Como nas outras escolas o trabalho coletivo está mais restrito à direção com os professores. Faltam instâncias coletivas de participação, sendo que a CPA foi rejeitada pelo professores. Quanto à relação da escola com seu entorno, está mais voltada para a participação em eventos festivos, porém, segundo a entrevistada, há um grupo que sempre está presente (30%). Como pontos fortes apontados estariam a formação dos professores que constantemente estão se atualizando; trabalho de letramento dos professores com os alunos com mais dificuldades (reforço). Quanto aos problemas que prejudicam a aprendizagem dos alunos são apontados: indisciplina e a não participação da família nos estudos dos filhos. Também nessa escola o maior trabalho é a conscientização de pais e alunos para as questões apontadas como problemas. Analisando preliminarmente dados coletados dos questionários aplicados na escola podemos fazer algumas considerações. Quanto à participação na elaboração do PPP a diretora diz que a escola oferece oportunidade aos alunos e comunidade, mas o retorno não é satisfatório como o esperado (Diretora E3). Em parte a comunidade valoriza a escola e o trabalho que desenvolve. Assim ela se refere à questão: a maioria não valoriza, é sem comprometimento e delega para a escola as responsabilidades em geral (Diretora E3). Quanto à participação de professores na elaboração do PPP apenas duas respostas, entre 6 respondentes, coincidem e estes afirmam que foi elaborado pela diretora e por uma equipe de professores. A grande maioria dos professores não mora no bairro, apesar de dizer que conhecem o seu entorno. Não há envolvimento dos funcionários em instâncias participativas. Quanto à participação dos pais/responsáveis há comentários bastante significativos para a vida da escola, sendo que dentre as falas uma chama atenção pela aparente indignação com a falta de ligação entre o interno e o externo da escola: Acho que essa escola olha apenas para os seus interesses pessoais e esquece a vida dos alunos aqui fora (Pai/Responsável E3). Quanto à escolarização dos pais/responsáveis a maioria diz ter o ensino médio completo, sendo as mães 38% e pais 34%. Entretanto, existe uma dispersão grande entre os vários níveis educacionais, demonstrando uma heterogeneidade que, em geral, oscila para uma escolaridade menor que a conclusão do Ensino Médio. Livro 3 - p
7 8 Os alunos dizem que os pais incentivam que façam os deveres e os trabalhos da escola, porém, somente às vezes recebem ajuda para fazer as tarefas. Também relatam que somente às vezes os pais conversam sobre o que ocorre na escola. A escola E4 está situada em um bairro de menor nível socioeconômico. O entorno da escola apresenta sérios problemas de urbanização (falta de asfalto, saneamento básico, construções inacabadas e, em alguns casos, não de alvenaria). A escola tem alunos com salas numerosas, em média com 35 alunos. O quadro administrativo no momento da visita estava completo, porém, apenas a um ano na escola. Anteriormente, segundo a gestão atual a rotatividade era grande. As instalações físicas, apesar de recentes, estão deterioradas pelo uso, necessitando de reparações. Existe laboratório de informática, quadra de esportes não coberta e biblioteca. Segundo a orientadora pedagógica, muitas deteriorizações são frutos de depredações feitas pela própria comunidade. Quanto aos recursos didáticopedagógicos existem e são aqueles comuns às escolas de ensino fundamental da rede municipal. Tivemos dificuldades para marcar a visita. Fomos atendidos pela orientadora pedagógica. Segundo ela o PPP da escola é construído coletivamente, todavia os questionários respondidos pelos professores sinalizam para a sua não participação para esta elaboração. Existe a CPA e o Conselho de Escola, que estão sendo revitalizados. Existem reuniões trimestrais com as famílias para rever o desempenho dos alunos ou quando há necessidades específicas. A principal característica positiva da escola que contribui para a aprendizagem de seus alunos é a receptividade deles para a aprendizagem. Apesar do entorno dificultoso as crianças parecem abertas e interessadas em aprender (Orientadora Pedagógica E4). Quanto aos problemas, além de pouco espaço físico, há o problema social (baixa frequência de alunos e grande evasão em muitos casos por problemas das famílias com o tráfico de drogas). O que a escola tem feito é se aproximar cada vez mais das famílias e comunidade e atuar mais na parte pedagógica, fazendo mudanças que melhorem a aprendizagem dos alunos e a participação de todos os segmentos na vida da escola. Em relação à participação das famílias a OP percebe que ainda está no começo, por enquanto elas só aparecem quando há algum problema grave a ser resolvido. Um apontamento extremamente significativo foi o da percepção de um poder paralelo (tráfico) forte, havendo grupos disciplinadores no bairro que tentam evitar a entrada da polícia e do Conselho Tutelar. Livro 3 - p
8 9 Ao analisar, preliminarmente, as respostas dos questionários podemos observar que a participação deles na escola é restrita. O fracasso do aluno é atribuído pelos professores a fatores externos à escola como à falta de comprometimento dos pais com a educação de seus filhos. Em relação à percepção dos alunos, estes reconhecem que a professora tem interesse em ensiná-los, recebem incentivos dos pais para estudarem, mas a maioria responde às vezes quando a questão é a ajuda dos pais para fazer os trabalhos escolares, bem como se conversam com eles sobre o que ocorre na escola. Sobre a escolaridade dos pais/responsáveis a maior incidência está na 4ª série do Ensino Fundamental. ANÁLISE PRELIMINAR DE ALGUNS RESULTADOS Após analisarmos cada uma de nossas escolas algo que observamos imediatamente foi a precariedade, em geral, em que se encontravam essas instituições, por ocasião de nossas visitas. Tanto a escola E3 como a escola E4 têm um número excessivo de alunos em sala de aula, aproximadamente, entre 30 e 35, chegando em alguns casos a 40, e mesmo assim não conseguem suprir a demanda da comunidade. Essas duas escolas estão situadas em bairros de menor nível socioeconômico. No caso da escola E4, seu entorno apresenta efetivos problemas estruturais e sociais como falta de saneamento básico, dificuldade na oferta de serviços essenciais à população e ruas não pavimentadas. A situação da escola E3, não aparenta ser muito diferente da escola E4 embora a infraestrutura próxima a escola seja menos precária, porém os dados que temos não são suficientes, no momento, para afirmações mais específicas. Já as outras duas escolas (E1 e E2) além de se localizarem em bairros com melhor infraestrutura urbana, dizem acolher uma população com nível socioeconômico mais elevado e de acordo com as duas diretoras pode-se dizer que se trata de uma classe media/media que frequenta a escola. O que, imaginamos, pode fazer diferença na maneira como essas escolas conseguem se organizar, assim como na relação que mantêm com seu entorno, tendo em vista que nas escolas E1 e E2 a população atendida provavelmente tem maior facilidade de se colocar/impor perante a escola, seja pela possibilidade argumentativa do discurso ou pelo conhecimento de seus direitos e meios de reivindicação. Livro 3 - p
9 10 Conforme o relato dos entrevistados os problemas que as escolas enfrentam e que dificultam o aprendizado dos alunos estão relacionados à indisciplina e falta de apoio das famílias no acompanhamento dos estudos dos filhos. A disciplina parece não ser um problemas apenas dessas escolas. Conforme Aquino (1996) Constata-se que muitas vezes a escola não sabe como lidar com o fenômeno. Quanto ao acompanhamento, outras pesquisas observam que quanto menos dificuldade de aprender mais os pais ou responsáveis estão presentes na vida escolar dos filhos. Almeida e Betini (2011b) analisando trabalhos realizados na área relatam que crianças com menor dificuldade de aprender têm famílias mais interessadas no acompanhamento dos filhos na escola e que as que têm dificuldade de aprender as famílias são omissas no acompanhamento da aprendizagem de seus filhos. Um fato bastante significativo foi que nas duas escolas com menor nível socioeconômico, nem chegamos a conhecer pessoalmente as diretoras. Nas escolas com maior nível socioeconômico não só fomos atendidos pela diretora, como por toda a equipe gestora da escola. Não nos parece ser coincidência que essas são as duas escolas que aparentam melhor estrutura administrativa e pedagógica. Quais fatores podem fazer a diferença entre o comportamento apresentado pelas direções das escolas pesquisadas? Talvez tempo na função, nível de exigências dos pais/responsáveis em relação à escola e condições de infra-estrutura física, pedagógica e administrativa. Acreditamos como Brandão (2009) a partir de suas pesquisas, que o estilo de gestão pode fazer a diferença. Quanto ao relacionamento com a comunidade escolar, aparentemente, a ênfase das quatro escolas está nas reuniões trimestrais em que se apresenta a avaliação das crianças com a presença dos pais. Outras aproximações são raras, a não ser em festas abertas ao bairro, sendo o trabalho coletivo aparentemente mais restrito à direção e professores. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A pesquisa feita junto às escolas, assim como os dados coletados, preliminarmente, nos mostram diferenças e semelhanças entre àquelas de menor e maior nível socioeconômico. Diferenças e semelhanças que, concordando com a literatura, acreditamos poder se refletir no desempenho do aluno e na relação da escola com a sua comunidade e vice-versa. Observamos que as escolas de maior nível socioeconômico estão mais bem estruturadas, possuem gestores com mais tempo na função, focados na vida da escola e, Livro 3 - p
10 11 aparentemente, mais interessados na relação da escola com a sua comunidade e com o seu entorno e, principalmente, com o aprendizado dos alunos. Entretanto, os dados da pesquisa evidenciam que essas diferenças e semelhanças entre as escolas, em alguns aspectos, pouco afetam as suas relações com o seu grupo de profissionais, pais/responsáveis, alunos e entorno. Isso ocorre quanto ao nível de participação nas decisões administrativas e pedagógicas das escolas que é baixo ou quase inexistente. Quanto à relação dessas escolas com os seus respectivos entornos, pelos dados considerados, é muito pequena e nada significativa, ficando mais restrita a festas e comemorações. Esse distanciamento priva a escola do conhecimento e da experiência local, do que é realmente a vida das pessoas que habitam aquele território. O que pudemos observar até o presente momento, é que nas escolas de maior nível socioeconômico os pais ou responsáveis comparecem com maior frequência e demonstram maior interesse em acompanhar a vida escolar de seus filhos. Acreditamos que a análise da escola e sua relação com a família e a comunidade podem indicar novas possibilidades na construção de políticas públicas e de gestão escolar que vislumbrem parcerias e rupturas de isolamento e distanciamento entre esses segmentos. O que se vê é uma separação entre a vida social, comunitária, econômica e a vida no interior da escola que muitas vezes ignora os movimentos naturais da comunidade e se coloca distante dela, constituindo-se como uma instituição isolada que não potencializa a participação coletiva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Luana Costa ; BETINI, Geraldo Antonio. Investigação sobre a escola e seu entorno: estudo bibliográfico de produções nacionais. In: Anais do 10º Encontro de Pesquisa em Educação da Região Sudeste: Rio de Janeiro, 2011a. ALMEIDA, Luana Costa ; BETINI, Geraldo Antonio. Relatório técnico de pesquisa. Investigação sobre a escola e seu entorno: estudo bibliográfico. LOED, FE, Unicamp, Campinas, 2011b. ALVES, Maria Teresa Gonzaga; SOARES, José Francisco. Medidas de nível socioeconômico em pesquisas sociais: uma aplicação aos dados de uma pesquisa educacional. Opin. Publica, Campinas, v. 15, n. 1, p.1-30, Available from < access on 10 Oct AQUINO, Julio Groppa. Apresentação. In: AQUINO, J. G. (Org.). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 7. ed. São Paulo: Summus Editorial, p. 7-8 Livro 3 - p
11 12 BRANDÃO, Zaia. Práticas cotidianas na escola e na família. Hipóteses sobre a constituição de habitus escolares. Disponível em hipoteses_ sobre_o_habitus_escolar-28.html, PUC Rio, FAPERJ e CNPQ, s/d. FRANCO, Creso; BROOKE, Nigel; ALVES, Fátima. Estudo longitudinal sobre qualidade e equidade no ensino fundamental brasileiro: GERES Ensaio: aval.pol.públ.educ., Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, Dec Disponível em: < access on 17 Nov Acesso em: /S MALAVASI, Maria Marcia Sigrist. Os processos Avaliativos: entre os pais e a vida escolar dos filhos. In: FREITAS, L. C. (Org.) Avaliação: construindo o campo e a crítica. Florianópolis: Editora Insular, p TORRES, Haroldo da Gama et al. Educação na periferia de São Paulo: como pensar as desigualdades educacionais? In RIBEIRO, L C Q; KAZTMAN, R (Orgs.). A cidade contra a escola: segregação urbana e desigualdades educacionais em grandes cidades da América Latina. Rio de Janeiro: Letra Capital: FAPERJ; Montevidéu, Uruguai: IPPES, TORRES, Haroldo; FERREIRA, Maria Paula; GOMES, Sandra. Educação e segregação social: explorando o efeito das relações de vizinhança. In MARQUES, Eduardo; TORRES, Haroldo. São Paulo: segregação, pobreza e desigualdades sociais. São Paulo: Editora SENAC, Livro 3 - p
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