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Cármen Lacerda Castelo
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1 Editor: Instituto Politécnico de Santarém Coordenação: Gabinete coordenador do projecto Ano 6; N.º 240; Periodicidade média semanal; ISSN: ; [N.66] FOLHA INFORMATIVA Nº A Varina não era só peixeira A escritora Marina Tavares Dias, a quem já referi neste jornal num outro texto intitulado As Varinas foram fenícias diz no livro Lisboa Misteriosa : A varina era de certo modo o símbolo da cidade e, de 1850 a 1950, rara seria a rua em que não passasse, quase sempre em grupo, a qualquer hora do dia. Trajes de Portugal: Figuras Típicas de Lisboa Varinas

66] FOLHA INFORMATIVA Nº15-2013 A Varina não era só peixeira A escritora Marina Tavares Dias, a quem já referi neste jornal num outro texto

2 Na verdade, esta mulher, oriunda da região de Ovar, foi, durante meados do séc. XX, a figura emblemática de Lisboa, cidade que várias vezes representou em exposições no estrangeiro, sendo também referida e celebrada nas canções e fados lisboetas. Mais adiante, diz Marina Tavares Dias, Pela cidade toda, foram tomando conta do comércio volante do peixe Viva da Costa!, Pescado do Alto!. Olha a bela pescada marmota! eram seus pregões habituais. Varinas, Lisboa Muitos autores escreveram sobre a varina. Mas há um poema de Cesário Verde, O Sentimento de um Ocidental, de que não resisto transcrever aqui três quadras, que nos falam duma outra actividade praticada por algumas varinas, e que constitui a razão principal deste meu apontamento. Diz-nos Cesário Verde: Vazam-se os arsenais e as oficinas; Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras; E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Mais adiante, diz Marina Tavares Dias, Pela cidade toda, foram tomando conta do comércio volante do peixe Viva da Costa!, Pescado do Alto!. Olha a bela pescada marmota! eram seus pregões habituais.

3 Vêm sacudindo as ancas opulentas! Seus troncos varonis recordam-se pilastras; E algumas, à cabeça, embalam nas canastras Os filhos que depois naufragam nas tormentas. Descalças! Nas descargas de carvão, Desde manhã à noite, a bordo das fragatas; E apinham-se num bairro onde miam gatas, E o peixe podre gera os focos de infecção! O poeta, bom observador, que escrevia pormenorizadamente os costumes e as personagens da sua cidade, fala-nos aqui das varinas nas descargas de carvão, e num bairro aonde miam as gatas, possivelmente Madragoa, aquele para onde afluiu maior parte dos nossos conterrâneos, transformados em varinas e fragateiros. É curiosa a referencia à ligação das varinas às fragatas, já que, através de conversas ou de leituras a seu respeito, quase sempre ficamos com a ideia de que apenas se dedicavam à venda do peixe pelas portas, calcorreando as ruas de Lisboa, por onde faziam ecoar os seus lindos pregões. Varina de Lisboa

O poeta, bom observador, que escrevia pormenorizadamente os costumes e as personagens da sua cidade, fala-nos aqui das varinas nas descargas de carvão, e num bairro aonde miam as gatas, possivelmente

4 Afinal, não era assim! As varinas também tinham outra actividades!...algumas delas apenas iam à lota de Santos buscar peixe, que transportavam para diversos mercados de Lisboa, tais como Alcântara, Santa Clara, Campo de Ourique, Alfama, Rato, 4 de Julho, etc. Chamavamlhes as varinas dos fretes Trajes de Portugal: Figuras Típicas de Lisboa Varinas Outras, aquelas de quem nos fala Cesário Verde, andavam nas descargas do carvão. Faziam-no algumas vezes para o lado de Lisboa, e tinham, nos anos 40, uma encarregada natural de Ovar, Adelaide Figueira, muito conhecida naquele trabalho, que era árduo e sujo. Muitas das descargas eram feitas em terras da margem sul do rio, na outra banda, operando especialmente nas povoações do Caramujo e Vila Franca de Xira. Muitas vezes, da tripulação das fragatas, transportadoras daquele combustível, faziam parte vários familiares daquelas mulheres oriundas de Ovar, a quem, por isso, também chamavam ovarinas. Estas varinas do carvão também faziam descargas das areias que vinham nas fragatas desde a praia do Alfeite para a doca de Santo Amaro (mais conhecida por doca do Pinho, por ali se encontrarem habitualmente grandes montes de rama de pinho, transportadas nas fragatas para ser consumida nos fornos das padarias de Lisboa).

Chamavamlhes as varinas dos fretes Trajes de Portugal: Figuras Típicas de Lisboa Varinas Outras, aquelas de quem nos fala Cesário Verde, andavam nas descargas do carvão.

5 Varinas a sair de uma fragata Conhecidas como as vendedeiras de peixe, enchendo de beleza as ruas da capital, com seu traje típico e com seus pregões ainda hoje recordados pelos lisboetas mais idosos como um símbolo de Lisboa, as varinas, afinal para poderem sobreviver, tiveram de se entregar a outros trabalhos difíceis Algumas varinas de Ovar em Lisboa na primeira metade do séc. XX: Conceição do Raia, Rosa do Raia, Otília do Raia; Irmãs Sineira; Rosa Pula; Rosa Sueca; Irmãs Duarte; A do Pelouro; Rita Vilas; Maria de Lurdes Cosido; Varinas de Ovar na descarga do carvão (carvoeiras): Maria Batoca; Rosa Russa; Rosa Pinovai; Glória Rasteira e mais duas irmãs; Maria Barata auxiliar da encarregada geral, a supracitada Adelaide Figueira. José de Oliveira Neves

séc. XX: Conceição do Raia, Rosa do Raia, Otília do Raia; Irmãs Sineira; Rosa Pula; Rosa Sueca; Irmãs Duarte; A do Pelouro; Rita Vilas; Maria de Lurdes Cosido; Varinas de Ovar na descarga do

6 ANEXO Sua Alteza Real, a Rainha D. Maria Pia, em traje de varina

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