Gabinete do Conselheiro Antônio Carlos Andrada

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1 PROCESSO: NATUREZA: Representação REPRESENTANTE: CONSITA LTDA. REPRESENTADA: Prefeitura Municipal de Ouro Branco Trago para deliberação deste Colegiado os presentes autos, que versam sobre representação formulada pela empresa CONSITA LTDA., em face da licitação n.º 002/2006, na modalidade Concorrência, promovida pela Prefeitura Municipal de Ouro Branco. Após análise do ato convocatório, detectei irregularidade que impedia o prosseguimento regular do certame, razão pela qual determinei sua suspensão em sede de liminar, no dia 21/09/2006, uma vez que a abertura dos envelopes estava designada para o dia 25/09/2006, conforme íntegra do despacho que submeto ao referendum desta Câmara. Versam os presentes autos sobre REPRESENTAÇÃO formulada pela empresa CONSITA LTDA., em face do edital da licitação n.º 002/2006, na modalidade Concorrência, instaurada pela Prefeitura Municipal de Ouro Branco, objetivando a contratação da prestação de serviços de limpeza urbana no município, compreendendo as seguintes atividades: varrição de ruas e logradouros públicos, recolhimento de terra e resíduos de construção civil, capina de sarjetas e passeios públicos, roçada manual e mecanizada, pintura de meios-fios e recolhimento de cadáveres e carcaças de animais de pequeno porte em ruas e logradouros públicos, em conformidade com as especificações técnicas e quantitativos contidos no projeto básico, que faz parte integrante do edital, no valor estimado de 1

2 R$ ,78 (novecentos e cinqüenta e sete mil, quatrocentos e oitenta e um reais e setenta e oito centavos), para a execução dos serviços no prazo inicial de 12(doze) meses, podendo ser prorrogado até o limite de 60(sessenta) meses. Insurge-se a Representante, às fls. 02/03, alegando que, no citado edital, constam exigências que vão além daquelas permitidas por lei, cerceando, de forma significativa, o direito participativo de muitas empresas especializadas nos serviços de limpeza pública e economicamente capazes da realização do objeto licitado, especificamente, quanto aos índices contábeis exigidos para habilitação das licitantes interessadas. Informa, ainda, a Representante, que para comprovação da capacitação econômica das empresas interessadas, o instrumento editalício exige índice de liquidez geral e índice de liquidez corrente igual ou superior a 3,0 e grau de endividamento igual ou superior a 0,30, para um serviço cujo orçamento, para um período de 12 (doze) meses, importa num total de R$ ,78. Requer a Representante, na condição de licitante potencial e interessada em participar do referido certame, que esta Corte de Contas determine a suspensão da licitação, decretando a nulidade do edital impugnado, determinando-se, ainda, a sua retificação. Tendo em vista que a abertura das propostas está marcada para o dia 25/09/2006 às 16:00h, impõe-se o exame do pedido de suspensão do 2

3 procedimento licitatório, face às disposições previstas no art. 221, 1º, do RITCMG. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO A Representação cinge-se em argumentos discordantes da exigência constante no edital, considerada necessária à habilitação dos interessados no certame evidenciado. Nesta linha, imprescindível se faz, inicialmente, assinalar o art. 37, inciso XXI da Carta Magna: [...] ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. (Negritei) O administrador público deve orientar-se pela Constituição e pelas leis, para garantir o princípio da legalidade e o da igualdade de possibilidades de contratar com o Poder Público. Desse modo, exigível sempre é a realização do procedimento licitatório, com o fito de afastar o arbítrio e o favorecimento. Registre-se que a regra acima transcrita revela que 3

4 somente serão permitidas no certame as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações, sob pena de infringência desses mesmos princípios constitucionais. Preceitua o art. 31, 5º, da Lei de Licitações Públicas: Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômicofinanceira das empresas limitar-se-á a: [...] 5º A comprovação da boa situação financeira da empresa será feita de forma objetiva, através do cálculo de índices contábeis previstos no edital e devidamente justificados no processo administrativo da licitação que tenha dado início ao certame licitatório, vedada a exigência de índices e valores não usualmente adotados para a correta avaliação de situação financeira suficiente ao cumprimento das obrigações decorrente da licitação. Inicialmente cumpre observar, consoante relatório técnico à fl. 60, que apesar de não constar do processo em exame a documentação relativa à fase interna do procedimento que deu início ao certame, o qual pode conter as justificativas técnicas que motivaram a colocação das exigências, quanto aos índices contábeis previstos no edital, cumpre observar que os indicadores exigidos, diante da natureza do objeto, do prazo fixado para a vigência inicial do futuro contrato e do valor do respectivo instrumento, extrapolam os limites previstos no Regulamento das Licitações. O doutrinador Jessé Torres Pereira Júnior, ao discorrer sobre o tema, 4

5 ensina: As razões da escolha (incluindo menção às fontes de consulta, sobretudo revistas especializadas) devem guardar nexo causal com a índole do objeto e o grau de dificuldade ou complexidade de sua execução, a fim de que se cumpra o mandamento constitucional de serem formuladas tão-somente exigências necessárias a garantir o cumprimento das obrigações que se venham a avençar. Não se haverá de exigir índices de árdua consecução quando a simplicidade do objeto não for daquelas a demandar desempenho do adjudicatório que exorbite da escala do que é rotineiro e inerente ao ramo de suas atividades empresariais. (Comentários à Lei das Licitações e Contratações da Administração Pública. Renovar, 2003, p. 380). Impõe-se acrescentar o posicionamento do Professor Marçal Justen Filho, ao transcrever, parcialmente, voto do TCU Tribunal de Contas da União: Índices de liquidez razoabilidade e justificativa TCU verificou: No caso concreto, foi inserida exigência de comprovação de índice de liquidez corrente e geral de 2,50. Além de não haver justificativa para escolha desse valor. Exigência em quantidade 361,5% superior ao do objeto da licitação. TCU determinou:...evitar a excessividade dos valores exigidos para os índices de liquidez corrente e geral, e falta de 5

6 justificativas para suas adoções no processo administrativo da licitação, em inobservância ao disposto nos arts. 3º, 1º, inciso I, e 31, 5º, da Lei 8.666/93. Nota: TCU multou a autoridade responsável e os membros da CPL, em valores variando entre R$ 2.000,00 e R$ 5.000,00 Out Apenas, a título de exemplo, das empresas listadas pela Revista Conjuntura Econômica, com dados de 2005, na edição de agosto de 2006, (vol. 60, n.º 8), dentre as 500 maiores do país (abrangendo todos os ramos de atividade), por faturamento, apenas 9% das mesmas lograriam satisfazer os valores exigidos no edital, com relação ao índice de liquidez corrente. Neste sentido, há que se observar limites razoáveis, que não frustrem ou restrinjam o caráter competitivo do certame. Assim sendo, na ausência de parâmetros definidos, não deve o administrador escolher o mais rígido. Portanto, pela inteligência do 5º do art. 31 da Lei 8666/93 acima citado, é vedada a excessividade dos valores mínimos para os índices de liquidez corrente, geral e endividamento. Cumpre ressaltar, ainda, que em conformidade com o dispositivo em comento, para a correta avaliação da situação econômico-financeira das empresas participantes de certame licitatório, é obrigatória a apresentação de justificativas na fase interna e mais só poderão ser exigidos indicadores e valores usualmente adotados. 6

7 O instrumento convocatório aponta, à fl. 16, a fórmula através da qual será calculado o índice de endividamento geral (EG), como sendo: EG = PASSIVO CIRCULANTE + EXÍGIVEL A LONGO PRAZO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Ressalta o órgão técnico, à fl. 61, que o índice de endividamento geral comumente utilizado em concorrências públicas, tem sua fórmula definida da seguinte forma: EG = PASSIVO CIRCULANTE + EXIGÍVEL A LONGO PRAZO ATIVO TOTAL Ainda de acordo com relatório técnico, à mesma folha, verifica-se que o denominador do índice exigido no edital considera tão somente o valor correspondente ao patrimônio líquido, enquanto que, no endividamento geral, considera-se o somatório dos valores de todos os bens e direitos da empresa submetida à avaliação. Assim, entende-se que o índice previsto no regulamento da concorrência não corresponde ao indicador utilizado para demonstrar o grau de endividamento geral da empresa licitante. Portanto, o referido indicador apresenta-se como parâmetro inadequado para aferição da situação econômico-financeira da licitante, o que, por 7

8 conseqüência, demonstra que a exigência, da forma colocada no edital, confronta-se com disposições contidas na Lei de Licitações (art. 31, 5º, da Lei n.º 8.666/93). E acrescenta, às fls. 61 a 62, que quanto aos demais índices exigidos no regulamento da concorrência em exame, vale destacar o disposto na Instrução Normativa MARE-GM n.º 5, de 21/07/1995, que estabelece normas e procedimentos a serem adotados pelos Órgãos da Administração Federal, visando a otimização da sistemática de compras na Administração Pública, especialmente as regras contidas no item 7.1 e no seu inciso V, que estabelecem o seguinte: Para uniformidade dos procedimentos, os editais destinados às Licitações Públicas devem conter, obrigatoriamente, as exigências descritas nos incisos seguintes, de modo a explicitar que: (...) V a comprovação da boa situação financeira de empresa oriunda de localidade onde o SICAF não tenha sido implantado, será baseada na obtenção de Índices de Liquidez Geral (LG), Solvência Geral (SG) e Liquidez Corrente (LC), resultantes da aplicação das fórmulas: LG = Ativo circulante + Realizável a Longo Prazo Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo 8

9 SG = Ativo Total Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo LC = Ativo Circulante Passivo Circulante E conclui o relatório técnico, às fls. 62 a 63 Dessa forma, se considerados os critérios adotados pela Administração Federal, como parâmetro para avaliação da situação econômico-financeira da empresa licitante, todos os índices contábeis previstos no regulamento da concorrência, instaurada pela Prefeitura Municipal de Ouro Branco, se revelam como exigências excessivas. De conformidade com o artigo 3º, caput, da Lei de Licitações, A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração (...). De fato, o princípio da economicidade não foi observado, já que a Administração, ao restringir a concorrência, abdica da possibilidade de contratar o objeto da licitação pelo melhor valor de mercado, comprometendo a relação custo/benefício que deve orientar a contratação na esfera pública, segundo este princípio. 9

10 Por toda a exposição desenvolvida, resta constatada a existência de vício que pode comprometer a legalidade do certame - Concorrência nº 002/ promovida pela Prefeitura Municipal de Ouro Branco, por violação das determinações do art. 3º, bem como do 5º do art. 31 da Lei 8.666/93. Haja vista a abertura das propostas estar marcada para o dia 25/09/2006 às 16:00 horas, determino, liminarmente, ad referendum da Segunda Câmara, a suspensão da licitação, com fulcro no art. 76, XIV e XVI da Constituição Estadual e dos 1º e 2º do art. 221 do RITCMG. Proceda-se à intimação por , fac-símile e AR, do Prefeito Municipal de Ouro Branco, e do Presidente da Comissão Permanente de Licitação, para que se abstenham da abertura das propostas, e ainda para que remetam toda a documentação referente ao procedimento licitatório, e caso queiram prestem esclarecimentos que julgarem pertinentes acerca do item impugnado, no prazo de 15(quinze) dias, devendo o ofício conter a advertência de que, a não-remessa dos documentos, importará a aplicação de multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do art. 236, inciso IV do RITCMG. Intime-se também o autor da representação do teor do despacho, via AR. 10

11 Esta é a decisão monocrática que submeto à aprovação deste Colegiado. Tribunal de Contas, em 25/09/2006. Conselheiro Antônio Carlos Andrada Relator ECR/ 11

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