Como preparar os professores para nossas escolas
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- Terezinha Miranda Rijo
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1 Como preparar os professores para nossas escolas Claudio de Moura Castro Não há bom ensino sem bons professores. E, claramente, o Brasil sofre de uma severa escassez de bons professores para suas escolas de primeiro e segundo graus. Portanto, formar bons professores, selecionar bons professores e melhorar o nível dos existentes terá que ser parte de qualquer esforço sério de melhorar a educação. Examinemos primeiro a questão da preparação inicial dos professores e, em seguida, o seu aperfeiçoamento. A formação inicial dos professores Não cabe a prefeituras formar professores. Portanto, não se justifica aqui entrar em uma discussão que permanece aberta sobre as formas de organizar a preparação dos professores. Contudo, as prefeituras selecionam, estabelecem as regras e contratam professores. Estas tarefas são críticas e merecem muita atenção. Há muitos erros a serem evitados. A todo custo é preciso eliminar os critérios políticos de contratação de professores (e também na escolha de diretores). Isto é um fator de desmoralização para a classe do magistério. É também uma bomba relógio na educação pois dá um contrato estável a quem pode não ter o perfil para ensinar e contamina a escola com um tipo de política partidária que lá não tem lugar. Não há sistemas sérios de educação onde prevaleçam critérios políticos para contratação de professores. Do lado positivo, a observação mostra que os políticos aceitam de bom grado os critérios técnicos ou meritocráticos, contanto que sejam aplicados a todos. Portanto: Evitar a todo custo as indicações políticas para professores. Adotar concursos públicos com total transparência. A prefeitura pode definir o perfil dos professores que deseja contratar. Isso, em si, já é muito importante. Obviamente, sabemos que quanto mais elevado o nível educacional do professor, maior a probabilidade de ser um bom professor. Portanto, a primeira regra simples é: Contratar professores com o máximo de escolaridade que se possa encontrar no município e que possam ser atraidos com os salários oferecidos. Há pesquisas no Brasil mostrando que quase sempre os alunos aprendem mais com professores que têm mais anos de escolaridade. Pela mesma forma, verificou-se que para ser bom professor não é necessário ser formado especificamente como professor. No ensino médio, os graduados do ensino superior saem-se até melhor do que os professores formados. Há bastante resistência a aceitar, em igualdade de condições, graduados de ensino superior que não têm formação de professor. Daí a importância de definir regras claras e lutar para que este grupo não seja discriminado nos concursos. Portanto, a segunda regra é: 1
2 No caso do ensino médio, favorecer a contratação de profissionais com nível superior, mesmo quando seus diplomas não são voltados para o magistério. Na seleção dos professores, um critério muito importante é a sua capacidade de expressão verbal e escrita. Acredita-se que esta seja a característica mais importante. Mesmo uma matéria como a matemática é ensinada com a intermediação da palavra. Mas, obviamente, domínio do conteúdo é indispensável também. Portanto: No teste de seleção, privilegiar a capacidade verbal e escrita do professor, bem como o domínio dos conteúdos a serem ensinados. A maioria dos sistemas educacionais oferece salários e vantagens inciais muito limitadas. Isto faz com que os jovens mais talentoso não sejam atraidos pelo magistério. Por outro lado, as aposentadorias se dão a idades muito precoces, e os seus valores são elevados, criando problemas crônicos para os orçamentos públicos. Descobriu-se recentemente que os potenciais candidatos a professor não prestam qualquer atenção às condições de longo prazo (a idade e o valor da aposentadoria que arruinam as finanças públicas) mas sim aos salários iniciais. Isso quer dizer que foram criadas carreiras docentes equivocadas. É preciso reverter a equação, oferecendo salários mais altos (ou outras vantagens) ao início e menos vantagens à longo prazo, já que não é isso que atrai os bons professores. Portanto: Oferecer salários iniciais atraentes, para conseguir melhores professores, ao mesmo tempo em que limitar as vantagens de longo prazo (dentro do politicamente possível) A reciclagem dos professores O Brasil gasta incalculáveis fortunas nos programas de reciclagem de professores. Mas tudo indica que pouco resultado se esteja obtendo deste esforço. Ensina-se muita teoria da moda, muitas mensagens ideológicas, muitos métodos abstratos e pouco que possa ser imediatamente usado pelos professores. Portanto, há uma primeira lição: Grande parte dos cursos de reciclagem não melhoram o desempenho em sala de aula. É preciso pelo menos não repetir os erros do passado com cursos teóricos, sem foco e lidando com teorias da moda. Uma tendência saudável é dar a cada escola e seus professores alguma responsabilidade na escolha dos cursos que farão. São os professores que recebem os cursos, portanto, ouví-los é sempre uma boa idéia. Não se trata necessariamente de abrir mão de toda e qualquer iniciativa ou autoridade na programação dos cursos de reciclagem mas de abrir espaço para ouvir os professores e dar a êles algum poder decisório. Uma possibilidade interessante é dividir os cursos em duas categorias. Na primeira estão cursos muito curtos, de poucas horas, onde é possível oferecer 2
3 uma grande variedade de assuntos, em boa medida, respondendo a preferências dos professores. Pode-se pensar em oferecer uma lista para que os professores escolham ou, além disso, que eles próprios façam sugestões dos cursos que gostariam de fazer. O objetivo destes cursos é abrir os horizontes, informar, dar notícia de idéias novas. Poderão ser oferecidos cursos curtos, visando abrir os horizontes e informar. Estes cursos deverão ser de escolha livre por parte dos professores ou das escolas. Na segunda categoria estão os cursos mais longos. Estes são cursos mais caros, e deverão exprimir de forma próxima os objetivos educacionais da prefeitura. Estes cursos são elementos ou instrumentos para dar direção ao sistema educativo. Se a prefeitura acha que a prioridade é ensino de ciências, não tem sentido dispersar esforços com cursos de inglês ou espanhol. Esse é um ponto muito controverdido, pois a experiência passada mostra as prefeituras muito frequentemente promovendo cursos vagos, teóricos e ideológicos que nada trazem para a prática cotidiana do professor. Diante disso, é até melhor deixar que a decisão fique com as próprias escolas. Mas em nenhum caso, os professores devem ser forçados a tomar qualquer curso. Isso gera reações negativas, neutralizando os possíveis impactos do treinamento. Melhor oferecer os cursos e matricular os interessados. Naturalmente, os cursos curtos podem ser uma maneira de informar e atrair os professores para os longos. Cursos mais longos e caros deveriam ser de responsabilidade da prefeitura e ser um instrumento para implementar suas políticas. Mas não podem ser forçados aos professores. Os cursos que melhor resultados produzem são aqueles que ensinam a usar um material específico. Se há um novo método de ensinar ciências e se há um bom livro que acompanha, aprender a usar o livro é o tipo de curso que faz mais sentido. Há resistências na cultura brasileira a cursos práticos e que ensinam detalhes de como prodecer. Mais ainda, há uma versão de uma escola de pensamento pedagógico chamada Construtivismo que tende a rejeitar a estruturação do ensino e o uso de materiais que detalhadamente ajudam ao professor na condução da sala de aula. Mas são justamente esses os que mais tangíveis resultados dão. Esta é claramente uma área onde as boas idéias tendem a ser rejeitadas e substituidas por cursos teóricos e sem aplicações fáceis para os professores que estão na carreira. Os cursos que ensinam a usar materiais pedagógicos existentes são os mais úteis, embora haja resistência ao seu uso por parte de muitas pessoas ligadas às universidades. Grande parte do problema com nossos professores, sobretudo no nível médio, é falta de domínio dos conteúdos. Portanto, cursos que ensinam conteúdo são benvindos. Em geral, aprende-se tão bem ou melhor conteúdo em cursos que 3
4 ensinam a usar materiais específicos. Mas não há porque ser contra cursos claramente voltados para o aprendizado de conteúdos, sobretudo quando são conteúdos difíceis e imediatamente necessários para os professores. Áreas como matemática, química ou física são difíceis e podem se beneficiar de uma reciclagem em tópicos selecionados. Pela mesma forma, não adianta aprender a ensinar inglês sem saber falar a língua. Faz sentido ensinar conteúdos específicos das disciplinas, em certos casos específicos. Os meios de instrução Para este tipo de cursos de reciclagem, há muitas alternativas possíveis para a sua realização. Cada uma delas têm o seu lugar e se justifica de acordo com as circunstâncias. Cursos curtos, em geral, não justificam o uso de meios eletrônicos ou educação à distância (a não ser que haja recursos de tele-conferências disponíveis e a baixo custo). Estes tendem a ser cursos informativos, sobre novas idéias, sobre novas direções, aumentando a cultura e abrindo os horizontes do professores. É também uma oportunidade para conhecer colegas e outras pessoas, uma clara oportunidade de socialização. Portanto, há poucas razões práticas ou econômicas para usar meios tecnológicos na sua oferta. Cursos de divulgação devem involver contato pessoal, pois esse é um dos objetivos do curso. Não há muito espaço para uso de novas tecnologias. Mas em cursos um pouco mais longos, raramente será possível levar os grandes nomes, os grandes expoentes, a um número significativo de pessoas. Portanto, restam duas alternativas. Ou se usam professores menos brilhantes e carismáticos, ou se usa a televisão ou o vídeo para trazer os superstars à presença de todos. Mas obviamente, os resultados são muito melhores quando os vídeos são apoiados por professores e programas bem estruturados. Em outras palavras, os cursos semi-presenciais são mais eficazes do que os puramente à distância (embora sejam mais caros). Há ampla evidência de que programas utilizando televisão ou vídeo funcionam tão bem quanto cursos presenciais. Até mesmo os cursos por correspondência, já centenários, mostram bons resultados quando usados apropriadamente. A regra básica é que cursos a serem repetidos centenas de vezes, para um número muito grande de pessoas, tem boas razões para serem preparados em vídeo. Cursos onde se prevê uma clientela mais limitada não justificam o investimento em vídeos. Mas naturalmente, a prefeitura não pode investir em vídeos, pela dificuldade inerente e pelo alto custo. O que lhe cabe fazer é descobrir para que assuntos há vídeos de qualidade (Por exemplo, a TV escola produz muitos vídeos e dentre estes, há excelentes materiais). 4
5 É totalmente superada a interrogação acerca da eficácia da TV e vídeo no processo de ensino. Sabemos que bem usados funcionam e apresenta resultados tão sólidos quanto o ensino presencial. Portanto, a única dúvida é saber se existem bons programas para o assunto desejado. O computador e a Internet abrem novas portas para o ensino. No momento, a rede instalada de computadores e conexões não permite uma utilização mais extensiva deste meio. Mas é inevitável que se torne cada vez mais difundido. Há um grande futuro no uso do computador e da Internet na formação de professores. Contudo, no futuro imediato, os usos ainda são restritos. Ao pensar em cursos para professores, não devemos nos esquecer de uma modalidade de grande impacto e relativamente fácil implementação: o uso de professores mais experimentados como tutores de outros com menos vivência de sala de aula. A relação mestre-aprendiz, desde tempos imemoriais, mostra bons resultados. A idéia de escolher professores com competência e experiência para acompanhar o trabalho dos iniciantes é uma idéia velha mas que permanece extraordinariamente viável nos dias de hoje. Por todos os lados encontramos professores talentosos e dedicados. É só procurar, todos sabem quem são. Criar um programa para que ajudem aos principiantes é coisa relativamente fácil, sobretudo em prefeituras de cidades de menor porte, onde todos se conhecem. A mais velha tecnologia educativa, a relação mestre-aprendiz, ainda é uma boa idéia para permitir professores experimentados servirem de tutores para iniciantes. A avaliação Deve haver um esforço sistemático de avaliar o resultado dos cursos oferecidos. Podemos pensar em um processo em duas etapas. Ao fim do curso, os participantes devem preencher um questionário de avaliação. Aí estarão suas reações iniciais, comentários sobre o desempenho dos professores e organização geral do programa. Esses questionários são úteis como feedback para operar o sistema, eliminando erros que se repetem e dando uma orientação geral. Particularmente no caso de cursos mais longos, tem sentido proceder a uma avaliação mais em profundidade, vários meses após o seu término. Devido ao mais alto custo dessa avaliação, deve ser feita por amostragem dos cursos considerados mais críticos. Para tal, volta-se a entrevistar uma amostra dos graduados, tentando captar que consequências podem haver resultado para o seu desempenho em sala de aula. 5
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