INSTITUTO BRASILEIRO DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE ENGENHARIA XIII COBREAP - Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias.

Transcrição

1 INSTITUTO BRASILEIRO DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE ENGENHARIA XIII COBREAP - Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias. SIMILARIDADE DE EMBALAGENS INDUSTRIAIS, UMA PROPOSTA DE ANÁLISE Maia Neto, Francisco Engenheiro Civil e Advogado, CREA-MG /D, IBAPE-MG nº 226 Rua Benvinda de Carvalho, nº 239, 5º andar , Belo Horizonte, MG. Fone: (31) FAX: (31) geral@precisaoconsultoria.com.br RESUMO: Este trabalho foca a importância da análise comparativa entre embalagens de produtos, no caso de perícias envolvendo discussão sobre propriedade industrial, onde buscou-se não o estudo puro e simples dos detalhes gráficos, mas concentrou-se na identificação visual do produto. Destacamos ainda a fundamentação principal do parecer, baseado em matéria jornalística obtida nos arquivos pessoais do profissional, portanto, enfatizamos a importância da manutenção de uma constante pesquisa de assuntos que possam resultar em futura utilização em trabalhos periciais. Palavras-chave: Perícia, Marcas e Patentes, Similaridade. 1

2 I) BREVE HISTÓRICO DOS FATOS Este trabalho resume um parecer elaborado na condição de assistente técnico de uma empresa que ajuizou Ação de Obrigação de Fazer, objetivando retirar do mercado um produto de empresa concorrente, sob a alegação de semelhança nas embalagens. Toda argumentação fundava-se no fato de que existia inegável possibilidade de confusão para o consumidor, sendo o seu produto uma marca tradicional de mercado, enquanto o concorrente teria constituído um produto cuja embalagem explorava aspectos presentes no antecedente, especialmente formato, cor, símbolos, etc. O perito nomeado, não obstante a seriedade e o zelo profissional que procurou empreender em seu trabalho, em nosso entendimento, procurou trilhar um caminho equivocado, unicamente em aspectos meramente formais da confecção gráfica da embalagem do produto periciado. Esta conduta, certamente originada de sua formação como perito grafotécnico, levou a uma análise estática da questão, onde foram desprezados os aspectos ligados principalmente ao foco do consumidor, que possui características dinâmicas, como procuraremos mostrar ao longo deste trabalho. II) EMBALAGENS OBJETO DA ANÁLISE No que se refere simplesmente às embalagens dos produtos objeto da perícia, podemos verificar abaixo que existe grande semelhança entre elas, diferentemente do que foi obtido à época da confecção do laudo pericial. Dentre as principais semelhanças, detectadas no exame estático, que influenciam uma análise dinâmica sugerida, destacamos os seguintes: a) Formato e dimensão das embalagens; b) cores utilizadas nas embalagens; c) posicionamento do nome do fabricante; d) elementos de estilo utilizados, que levam a uma idéia de velocidade. Como informamos anteriormente, sob o ponto de vista meramente gráfico, as tipologias de escrita o estilo dos elementos gráficos são diferentes, se analisados individualmente, mas, no conjunto, podem levar o consumidor a erro, como demonstramos em seguida. III) IDENTIFICAÇÃO FIXAÇÃO VISUAL DE PRODUTOS Em nosso entendimento, mais importante que a simples comparação em detalhe, cujo foco de visão é direcionado à embalagem (exame estático), é o estudo da identificação visual do produto (análise dinâmica). Segundo artigo publicado em 15 de março de 2001, no conceituado jornal GAZETA MERCANTIL, em estudos realizados pelo Point of Purchase Advertising Internacional 2

3 (Popai), relativo à influência das marcas fortes no momento da decisão de compra, encontramos o seguinte: Esses estudos constataram que o tempo médio de permanência do consumidor em um supermercado é de 69 a 98 minutos; mais de 70 % trafegam por todos os corredores da loja; a velocidade média com que os olhos do consumidor percorrem as gôndolas é de 100 Km/h, e o tempo que ele demora para fazer a sua escolha é de menos de 5 segundos. (grifo nosso) Isto torna evidente a importância da identificação visual rápida, uma vez ser impossível a comparação minuciosa, como feita com muita capacidade pelo ilustre perito oficial, conforme ilustra o mesmo artigo citado anteriormente: Diante desses dados, fica evidente que, se o consumidor fosse comparar todas as opções de produtos e marcas em cada categoria, verificando diferenças de preços em busca da opção mais em conta, iria passar dias e dias fazendo a compra do mês. IV) ANÁLISE COMPARATIVA DAS EMBALAGENS Diante destas evidências inquestionáveis, o assistente técnico procurou fotografar painéis de propaganda do produto vendido pelo Réu, disposto em cabines telefônicas distribuídas na cidade. Em seguida, utilizando os recursos de computação gráfica, promovemos uma montagem sobre os referidos painéis, utilizando a embalagem produzida pelo Autor, superposta à embalagem do Réu, cujas reproduções encontram-se nas páginas seguintes, na seguinte ordem: 1ª montagem (distante 20,00 metros): Esta ilustração coloca lado a lado a visão que o consumidor tem do produto, quando posicionado a uma distância de aproximadamente 20,00 metros do painel. Conforme fica evidente, é muito difícil distinguir um produto do outro, uma vez ser o desenho das embalagens idênticas, e as cores possuírem tamanha semelhança que, na velocidade que os olhos percorrem o cenário, torna-se imperceptível a diferença entre elas. 3

4 2ª montagem (distante 15,00 metros): Nesta montagem o observador encontra-se postando aproximadamente 15,00 metros do painel. O efeito é bastante similar ao anterior, quanto ao nível de detalhamento do produto. 3ª montagem (distante 8,00 metros): Montagem que traduz mais uma aproximação, objetivando reproduzir a visão do consumidor se aproximando do produto. Trata-se de uma visão bastante similar a que se verifica nos pontos de vendas, comparável à aproximação do produto na gôndola, onde percebe-se não ser possível a distinção entre eles. 4

5 4ª montagem (distante 2,00 metros): Ao contrário das anteriores, mas com idêntica disposição, procurou-se posicionar o observador a uma distância próxima de 2,00 metros do painel, com visão direta do objeto. Ainda que ao observador mais detalhista possa ser atribuída diferenças que permitam distinguir o produto, uma pessoa que rapidamente folheie este processo verá que dificilmente conseguirá distinguir um produto do outro. V) CONCLUSÃO Diante do exposto nos itens anteriores, e após analisarmos todos os fatos que interferem ou possam vir a interferir com o assunto objeto deste parecer, concluímos o seguinte: A análise da similaridade de embalagens de produtos não pode ter somente a conotação estática, voltada unicamente para comparação dos elementos gráficos adotados entre o original e a cópia denunciada. Esta análise serve tão somente para identificar sinais coincidentes, tais como forma da embalagem, cores adotadas, tipologia das letras e disposição das informações. A conclusão final deve estar voltada para a análise dinâmica, baseada nos fundamentos técnicos trazidos ao presente trabalho, no sentido de aferir eventual confusão que possa causar nos comparadores entre os produtos objeto da perícia. Por essa análise, torna-se evidente que, diante dos elementos descritos na análise dinâmica retratada ao longo do trabalho, a permanência do produto pode levar o consumidor à dúvida, o que justifica a constatada similaridade das embalagens. 5

6 VI) CURRICULUM VITAE: Francisco Maia Neto Graduado em Engenharia Civil (julho/1983) e Direito (dezembro/1996) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Graduação em Engenharia Econômica - Fundação Dom Cabral (julho/84). Extensão universitária em Direito Imobiliário - Faculdades Metropolitanas Unidas (setembro/1997). Sócio da PRECISÃO CONSULTORIA (Avaliações, Perícias e Arbitragens). Professor de disciplinas relacionadas à Engenharia de Avaliações e Perícias em cursos universitários, pós-graduação e de treinamento, em diversos estados brasileiros. Autor de livros, trabalhos e artigos sobre avaliações, perícias, arbitragem e mercado imobiliário. Participação em entidades: IBAPE Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Entidade Federativa Nacional) Presidente (2003/2004); ABRAP Associação Brasileira de Entidades de Engenharia de Avaliações e Perícias Vice-Presidente (1988/1990); IBAPE-MG Instituto Mineiro de Avaliações e Perícias de Engenharia - Presidente (1989/1990 e 1991/1992); IBAPE-SP Instituto Mineiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo Membro do Conselho Presidencial (2006); CREA-MG Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais Vice-Presidente (1992/1993); COBREAP Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias Presidente XII COBREAP (Belo Horizonte-MG/2003); ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Diretor de Engenharia de Avaliações e Perícias do COBRACON (1991/1996); SME Sociedade Mineira de Engenheiros Membro fundador e Presidente da Comissão Técnica de Perícias, Mediações e Arbitragens (2000/2001) CAMARB Câmara de Arbitragem de Minas Gerais Membro do quadro de árbitros; CAMINAS Câmara Mineira de Conciliação, Mediação e Arbitragem Coordenador da Câmara Setorial do Mercado Imobiliário e Construção Civil. IPEAD Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas de Minas Gerais (UFMG) Membro do Conselho Superior (1997/2005). CMI-MG Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais Chanceler da Medalha do Mérito Imobiliário (1996/1997/1999/2001). ASPEJUDI Associação de Peritos Judiciais, Árbitros, Conciliadores e Mediadores de Minas Gerais Vice-Presidente de Cultura Profissional (2006/2007). AAAEE Associação dos Antigos Alunos da Escola de Engenharia da UFMG Membro do Conselho Deliberativo (2000/2002). 6