HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA REVISÃO DA LITERATURA Dentine hypersensitivity - Literature review
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- Maria Antonieta Castelo Camelo
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1 R. Periodontia - Junho Volume 20 - Número 02 HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA REVISÃO DA LITERATURA Dentine hypersensitivity - Literature review Maria Teresa Aiello Querido 1, Suzane A Raslan 2, Alexandre Prado Scherma 3 RESUMO Este estudo teve como proposta, baseado numa revisão literária, discutir aspectos importantes sobre hipersensibilidade dentinária cervical, sua etiologia multifatorial, teorias de mecanismo de dor, diagnóstico diferencial, bem como a variedade de tratamentos disponíveis para alívio da dor. A hipersensibilidade dentinária é uma resposta exacerbada a um estímulo sensorial, que normalmente em um dente sadio não causaria dor. É uma patologia que afeta indivíduos de ambos os sexos em grande parte da população, e vários grupos dentais, causando desconforto bucal e gerando inconvenientes na vida do indivíduo. Sua etiologia é multifatorial e existem várias teorias que procuram explicar o mecanismo da dor, sendo atualmente a mais aceita a teoria hidrodinâmica. Para que se possam eleger medidas terapêuticas adequadas é necessário um diagnóstico diferencial com outros tipos de lesões que podem causar respostas dolorosas semelhantes. UNITERMOS: Sensibilidade da Dentina. Etiologia. Mecanismo da dor. Terapia. Protocolos clínicos. R Periodontia 2010; 20: Cirurgiã-dentista especialista em Periodontia 2 Doutoranda em Odontologia UNITAU - Universidade de Taubaté, Taubaté - São Paulo 3 Professor Assistente Doutor UNITAU - Universidade de Taubaté, Taubaté - São Paulo Recebimento: 03/03/10 - Correção: 16/04/10 - Aceite: 10/05/10 INTRODUÇÃO A hipersensibilidade dentinária é uma ocorrência clínica de alta prevalência e representa uma queixa comum em pacientes com retração gengival originada por diferentes causas. Com a melhora da saúde bucal das populações, as pessoas têm mantido seus dentes por mais tempo. Assim, seguindo o declínio da cárie dental, o controle da doença periodontal ganhou prioridade, e, outros problemas odontológicos como a hipersensibilidade dentinária também tem assumido uma posição de destaque (Bánóczy, 2002). Em condições normais a dentina é recoberta pelo esmalte na superfície coronária e pelo cemento na superfície radicular. E, pelo fato do esmalte não ser sensível aos estímulos próprios da cavidade bucal a dentina não sofre estimulação direta. Entretanto, em situações específicas essa condição pode não estar assegurada (Zequi & Garcia, 2005). A hipersensibilidade dentinária é uma condição dolorosa de dentes com túbulos dentinários evidentes. Assim, na superfície da dentina exposta quando da presença de estímulos apropriados haverá uma resposta dos nervos pulpares, manifestada como uma dor rápida, aguda e intensa, associada a um mecanismo 39
2 hidrodinâmico mecanoceptor (Addy, 2002). Este estudo teve como proposta fazer uma revisão da literatura sobre hipersensibilidade dentinária. Abrangendo sua etiologia multifatorial, mecanismo da dor, diagnóstico diferencial, formas de tratamento, bem como formas de prevenção para se evitar ou para espaçar novas recidivas. Dentina e hipersensibilidade Brugnera Jr. & Zanin (1998) definiram hipersensibilidade dental como uma dor originária da dentina exposta, em resposta a uma grande variedade de estímulos. Descreveram que a dor é aguda, súbita e de curta duração, que até mesmo o simples toque da escova pode desencadear a dor, o que pode impedir ou limitar a aderência dos pacientes em relação aos hábitos de higiene bucal. Para Addy (2002) a hipersensibilidade dentinária é uma doença comum que apresenta tipicamente dor curta e aguda quando da aplicação de determinados estímulos sobre a dentina exposta. Posteriormente, esse mesmo autor acrescentou que tais estímulos são tipicamente térmicos, táteis, osmóticos ou químicos, e que essa dor não pode ser atribuída a qualquer outra forma de defeito ou patologia dental. Muitas hipóteses têm sido propostas há mais de um século para tentar explicar a sensibilidade da dentina. Zequi & Garcia (2005) relataram que a permeabilidade da dentina é considerada a expressão de todos os processos que atuam na passagem de substâncias e fluidos através dos tecidos. Assim, com estímulos externos sobre a dentina exposta ocorre o fluxo de fluido através da mesma, estimulando as terminações nervosas e causando dor. Logo, a constante umidade das superfícies dentinárias expostas, é causada pelos movimentos dos fluidos para fora da polpa através da permeabilidade dentinária. Em 2001, Cate já havia mencionado três mecanismos para elucidar a hipersensibilidade dentinária: a dentina contém terminações nervosas que respondem quando estimuladas; os odontoblastos servem como receptores e ligam-se aos nervos pulpares; e, a natureza tubular da dentina permite o movimento de líquido dentro do túbulo. Krüger (2001) também relatou as principais teorias existentes sobre hipersensibilidade dentinária: Teoria da Transdução (existência de um arranjo sináptico entre as terminações nervosas sensoriais e os processos odontoblásticos); Teoria da Modulação (estímulo irritante agride os odontoblastos, estes liberam substâncias neurotransmissoras, proteínas vasoativas estimuladoras da dor e aminoácidos, os quais modulam a ação da dor) e Teoria da Fibração ou gate control (fibras nervosas menores - fibras C - no interior da polpa não se ajustam aos estímulos causados durante uma injúria sobre a dentina, ampliando os pain-gates e exacerbando as passagens dos estímulos sensoriais) e Teoria Hidrodinâmica (a estimulação das terminações nervosas próximas às camadas odontoblásticas é provocada pela variação da pressão intra-pulpar decorrente da movimentação do fluido dentinário em direção à polpa ou em sentido contrário, na dependência da natureza do estímulo). Em 2005, Addy reafirmou que o mecanismo pelo qual a dentina é sensível está bem definido como um mecanismo microscópico hidrodinâmico. Os dentes com hipersensibilidade dentinária têm um grande número de túbulos abertos na superfície da raiz ou mesmo em qualquer parte do dente, e são de diâmetro maior do que os túbulos em dentes não sensíveis. Além disso, o mecanismo sugere que há um fluxo normal de fluido através da dentina e que na presença de estímulo apropriado, a taxa de escoamento do fluido aumenta e pressiona literalmente os nervos para o interior da dentina pulpar, quando então haverá dor a qualquer estímulo que aumente o fluxo do fluido. Existe uma exceção que é o calor que causa uma reversão no fluxo do fluido, cuja dor não é tão intensa como a causada pelos outros estímulos. Etiologia Segundo Addy (2002) dois processos são necessários para que ocorra a hipersensibilidade dentinária: a dentina tem que estar exposta e o sistema de túbulos dentinários tem que estar aberto e ligado à polpa. De acordo com Andrade (1998) a hipersensibilidade dentinária ocorre principalmente nos dentes incisivos, caninos e pré-molares, podendo essa ordem ser alterada com a variação de padrões de oclusão ou hábitos individuais. Além disso, hábitos parafuncionais como bruxismo, bulimia, ingestão excessiva de carboidratos fermentáveis, baixa tolerância à dor, estresse ou estados depressivos podem levar a sintomatologia dolorosa. Sobral & Garone Neto (1999) destacaram a importância de reconhecer as lesões não cariosas que expõem a região cervical as quais são classificadas da seguinte forma: Abrasão (desgaste mecânico da estrutura dental pela constante fricção de um corpo estranho); Erosão dental (perda superficial de tecidos duros dentais, promovidas por processos químicos, não envolvendo presença de bactéria); Abfração (lesões que ocorrem na presença do traumatismo oclusal, interferências oclusais, força da própria mastigação, ou apertamento dental, que levam à deflexão da estrutura dental, ruptura dos cristais ao nível cervical e a lesão). 40
3 Zequi & Garcia (2005) explicam que na oclusão ideal a força mastigatória incide sobre o longo eixo do dente e é dissipada com pouca distorção na dentina e no esmalte. Quando a oclusão não é ideal, são criadas forças laterais, ocasionando um encurvamento na região cervical, as quais se propagam rompendo a estrutura cristalina do esmalte/ dentina onde se formam as trincas. De acordo com Garone Filho (1996) em dentes periodontalmente comprometidos e com mobilidade a abfração não ocorre, pois o dente se movimenta sob ação de forças oclusais mal direcionadas, em vez de se flexionarem. No entanto, em pacientes idosos o periodonto se torna rígido perdendo sua capacidade de absorver forças oclusais aumentando assim a incidência de abfrações. Valle & Bramante (1997) afirmaram que a exposição da dentina pode ocorrer pela perda do esmalte e ou cemento, em qualquer superfície do dente, porém ocorre mais frequentemente na área cervical da superfície vestibular dos dentes permanentes. Para Moretzsohn & Campos (2001) a exposição da dentina ocorre pela perda do esmalte ou pela perda da estrutura periodontal de revestimento. A perda do esmalte ocorre por atrição, atividade parafuncional, abrasão, erosão ou abfração, e, geralmente é decorrente da combinação de um ou mais fatores. A perda da estrutura periodontal de revestimento é também multifatorial e pode ocorrer devido à doença periodontal aguda ou crônica, escovação traumática e tratamento periodontal. Drisko (2002) afirmou que a retração gengival é a causa mais comum da hipersensibilidade dentinária, e que as causas para a retração não estão muito bem documentadas, mas refere que a principal causa seria a escovação excessiva causando abfração/recessão gengival, desgaste do esmalte e exposição da dentina cervical. Para Addy (2002) a recessão gengival parece ser multifatorial e os fatores predisponentes a fazem ainda mais complexa. O autor explica ainda que existem outros agentes etiológicos para a recessão gengival que incluem gengivite ulcerativa necrosante, injúrias causadas pelo próprio paciente, outras formas de doença periodontal, procedimentos periodontais cirúrgicos e não cirúrgicos, e fenestração vestibulares ou linguais no osso alveolar. Diagnóstico diferencial Para Garone Filho (1996) uma correta anamnese associada a um exame clínico e radiográfico permitirão diferenciar a hipersensibilidade dentinária de outras patologias. O autor ressalta que um teste simples e rápido empregando um explorador na área sensível provocará uma dor localizada, aguda e de curta duração que desaparece com a remoção do estímulo. Addy (2002) explicou que existem inúmeras outras condições que apresentam sintomas similares da dor dentinária tais como: cárie, fratura dental, ranhuras palato gengivais, e que requerem opções de tratamento diferentes daqueles usados para hipersensibilidade dentinária. Para Haywood (2002) o diagnóstico diferencial da hipersensibilidade dentinária deve levar em consideração problemas com o periodonto e traumas no dente. Como critérios para um bom diagnóstico diferencial devem ser consideradas outras formas possíveis de problemas que causam dor semelhante à hipersensibilidade dentinária como: a) Dente trincado Para Haywood (2002) é quando ocorre fratura vertical ou fratura parcial da cúspide. Garone Filho (1996) relata que ao fazer um teste clínico a dor é desencadeada pela percussão ou pela mordida de um disco de borracha ou cunha de madeira, o que não ocorre na hipersensibilidade dentinária. b) Sensibilidade relacionada à restauração - Haywood (2002) explica que a presença de umidade no dente durante aplicação de compósitos pode resultar em micro-falhas, e que técnicas de secagem impróprias ou outras agressões à polpa durante preparos de cavidades, podem causar dores semelhantes à hipersensibilidade dentinária. c) Dor de origem pulpar Garone Filho (1996) explica que a dor é de longa duração, difícil localização, e persiste após remoção do estímulo. Para Zequi & Garcia (2005) a dor é intensa, lancinante e longa, apresentando sintomatologia dolorosa em respostada ao frio e ao calor, e às vezes na oclusão, podendo ou não apresentar lesão periapical ao exame radiográfico. d) Sensibilidade devido ao clareamento Haywood (2002) relata que durante o clareamento pode ocorrer passagem de agentes como o peróxido de carbamida através do esmalte e dentina em direção à polpa em questão de minutos. A sensibilidade toma forma de uma pulpite reversível causada pelo fluxo de fluido na dentina e o contato do material com a polpa, que muda a osmose, sem aparente injúria pulpar. Tratamento da hipersensibilidade dentinária Para se obter sucesso no tratamento da hipersensibilidade dentinária é indispensável conhecer o fator etiológico da lesão cervical e compreender o comportamento desse desconforto que pode variar de dente para dente num mesmo indivíduo. Historicamente a primeira re- 41
4 ferência, no que diz respeito ao tratamento da hipersensibilidade dentinária, existente na literatura, data de 400 a.c. e se refere ao uso do ópio (Garone Filho, 1996). Existem hoje inúmeras formas e produtos para tratamento da hipersensibilidade dentinária, mas deve-se iniciar o tratamento eliminando qualquer outro tipo de patologia envolvida (Zequi & Garcia, 2005). A sensibilidade dentinária pode apresentar cura espontânea, por remineralização pela saliva ou por formação de dentina reacional. Quando isso não ocorrer deverá ser feito um tratamento relacionado a um procedimento que diminua o fluxo de líquidos nos túbulos dentinários (Garone Filho, 1996). Tratamento endodôntico O tratamento endodôntico radical se estabelece de acordo com a gravidade e duração do problema, assim esse tipo de terapia será indicada apenas como última alternativa (Vale & Bramante, 1997). Aplicação de adesivos dentinários e restaurações As resinas e os adesivos dentinários são utilizados para obliterar os túbulos e evitar o movimento de fluidos dentro deles (Vale& Bramante,1997). Garone Filho (1996) explicou que os primers têm sido muito usados para tratar a hipersensibilidade dentinária, porém, nem sempre a camada formada por eles é suficiente para obliterar os túbulos dentinários, sendo necessário nestes casos, fazer aplicação do bond. Segundo Andrade (1998) a dessensibilização dentinária pode se dar por bloqueio mecânico dos túbulos quando da aplicação de primers hidrófilos e adesivos dentinários ou pelo recobrimento com material restaurador. Stanley (1990) refere que o ionômero de vidro é hidrofílico e não requer ataque ácido, tem boa adesão e estética favorável, além de propiciar a liberação de flúor. Já Peres et al. (1999) e Zequi & Garcia (2005) relatam que o cimento de ionômero de vidro é capaz de manter os túbulos dentinários ocluídos, e apresentam adesão por quelação, porém, o uso de materiais restauradores implica na presença de cavidades, maior técnica e maior custo para o paciente. Ajuste oclusal Garone Filho (1996) refere que se a pressão intrapulpar não for diminuída pelo ajuste oclusal, a obliteração dos túbulos dentinários fica dificultada pela movimentação do líquido dos túbulos, e consequentemente a hipersensibilidade permanece. A abfração nos dentes posteriores é geralmente por interferência na lateralidade (trabalho ou balanceio) e a hipersensibilidade nos pré-molares é mais comum, pois são os dentes que mais participam da desoclusão, quando falta a guia canina. Haywood (2002) explica que as lesões de abfração devem ser restauradas, e que a resina microparticulada oferece alguma flexibilidade de acordo com o movimento do dente. Para a prevenção de recidivas de abfração, este mesmo autor enfatiza a necessidade de corrigir o problema causador da interferência oclusal, e segundo Hiatt e Johansen (1972) em dentes hipersensíveis associados a um traumatismo devem ser realizados ajustes oclusal, fixação de dentes ou uso de uma placa noturna. Agentes dessensibilizantes e dentifrícios Haywood (2002) relata que o agente tópico mais comum para aplicação profissional é o flúor. Este pode diminuir a sensibilidade com o fechamento dos túbulos dentinários através da cristalização e redução do fluxo de fluidos para a polpa. Para Garone Filho (1996) a forma mais prática de aplicação de íon flúor é através da utilização de vernizes. No entanto, Yoshiyama (1990) refere que os vernizes cavitários têm valor clínico no tratamento da hipersensibilidade dentinária, porém, seu tempo de efeito é curto, pois são rapidamente removidos pela saliva. Haywood (2002) explica que os sais de potássio aplicados em movimentos de esfrega, agem obliterando os túbulos dentinários reduzindo o fluxo de fluidos dentro dos túbulos. O hidróxido de cálcio também tem sido um agente muito empregado no tratamento da hipersensibilidade dentinária, bloqueando os túbulos com formação de dentina esclerótica e não sendo irritante para a polpa, além disso, seu ph alcalino e seus íons cálcio facilitam o depósito de fosfato de cálcio dentro dos túbulos dentinários (Rico, 1992). Garone Filho (1996) também faz referência ao mecanismo de ação do hidróxido de cálcio, porém relembra que os mesmos são solúveis em meio ácido. Krüger (2001) e Ferreira et al. (2001) citaram que a forma mais comum de veículo para os agentes dessensibilizantes é o dentifrício, os quais podem apresentar formulações complexas com agentes dessensibilizantes como o cloreto de estrôncio, nitrato de potássio e fluoreto de sódio. Segundo Haywood (2002) os íons de potássio passam facilmente através do esmalte e dentina à polpa em minutos. Além disso, o potássio atua na despolarização das terminações nervosas dos odontoblastos. O autor relata ainda, que o efeito dessensibilizador, leva geralmente por volta de duas semanas com duas aplicações diárias, e um efeito 42
5 maior com o uso continuado. Segundo Garone Filho (1996) pesquisas para verificação da efetividade do estrôncio demonstraram diminuição da hipersensibilidade após seis semanas de uso do dentifrício. Pinto et al. (2007) avaliaram o efeito de substâncias dessensibilizantes na permeabilidade da dentina e obliteração dos túbulos dentinários em 21 incisivos de ratos, divididos em 3 grupos: G1 (n=7) Nitrato de potássio 2% com fluoreto de sódio 2%; G2 (n=7) verniz com 5% de fluoreto de sódio e G3 (n=7) Controle (escovação com dentifrício). Os espécimes foram preparados para análise da permeabilidade dentinária, microscopia eletrônica de varredura (MEV) e energia dispersiva de raios-x (EDX). Os autores concluíram que os dois agentes testados reduziram a permeabilidade dentinária obliterando parcialmente os túbulos dentinários. Cirurgias mucogengivais Para Haywood (2002) as superfícies radiculares que foram expostas devido à erosão e abfração, podem geralmente ser recoberta por retalhos periodontais ou enxertos. Lindhe (2005) explica que as principais indicações para o recobrimento radicular são necessidades estéticas/cosméticas, hipersensibilidade dentinária radicular, tratamento de lesões cariosas rasas na raiz e abrasões cervicais. No entanto, é fundamental que as variáveis clínicas sejam avaliadas para que se possam determinar os resultados possíveis deste procedimento. Vários são os procedimentos cirúrgicos usados no tratamento de defeitos de retração. Duarte & Castro (2004) referem que as técnicas cirúrgicas mais utilizadas são o retalho deslocado lateralmente, retalho deslocado coronariamente, retalho semilunar e enxerto subeptelial de tecido conjuntivo. Laser Segundo Brugnera & Zanin (1998) o laser cirúrgico parece bastante eficaz no tratamento da hipersensibilidade dentinária, pois, obtém a obliteração dos canalículos dentinários, com consequente controle da dor, um mínimo de efeito térmico e esterilização da superfície dentinária remanescente. Em relação ao laser não cirúrgico, Benedicente (1982) relatou diminuição da dor em todos os casos de hipersensibilidade dentinária. Atualmente os lasers não cirúrgicos mais utilizados são os de diodo. Os autores explicaram também que os dentes que não respondem por duas sessões de tratamento são sérios candidatos à endodontia, porém as respostas terapêuticas são diferentes em jovens, adultos e idosos, sendo que nesses últimos a média de tratamento é de quatro sessões. Rocha et al. (2005) avaliaram o laser de Érbio:YAG (Er:YAG) no tratamento da hipersensibilidade dentinária cervical, a partir de 13 pacientes selecionados, totalizando 69 dentes. Diferenças significativas no alívio de dor foram observadas entre grupo irradiado e grupo controle. Esses resultados indicaram que o laser de Er:YAG foi efetivo na redução da sintomatologia dolorosa associada à hipersensibilidade dentinária cervical. Procedimentos profissionais e autocuidados Andrade (1998) descreveu que o profissional antes de iniciar o tratamento deve conscientizar o paciente sobre procedimentos de autocuidados. Zero & Lussi (2005) afirmaram que o primeiro passo para a prevenção, é a educação do paciente, pois, muitos desconhecem a forma como seu comportamento contribui para a destruição dos dentes. Em 2005 Addy questionou se a escova e o creme dental provocariam desgaste (erosão) do dente, e esclareceu que o creme dental com o uso rotineiro causa efeitos mínimos no esmalte. Estudos laboratoriais sugerem que a escovação em condições normais, com dentifrício, removerá 1 mm de dentina em cem anos. Porém os dentifrícios que tem uma relativa abrasividade pela presença de trióxido de alumínio (alumina) ou alumina não hidratada gastarão o esmalte. O sulfato de sódio laureato é responsável por remover as camadas que protegem os túbulos dentinários, em poucos dias. Segundo o mesmo autor as escovas elétricas e manuais não têm diferença, no que se refere à eficiência, mas alguns autores sugerem que a abrasão com escova elétrica é menor, devido à menor pressão utilizada. No entanto, o uso abusivo de ambos os tipos podem levar a níveis patológicos de desgaste. Além disso, o desgaste se torna acentuado quando a escovação é feita logo após a exposição dos dentes a ácidos, pois nesta situação ocorre um processo de amolecimento e perda maciça do tecido duro e este se torna vulnerável ao desgaste por agressões físicas. Por essas razões o autor refere que a escovação após as refeições deve ser retardada a fim de permitir a remineralização. Zero & Lussi (2005) e Drisko (2002) sugeriram algumas recomendações aos pacientes como: evitar escovar os dentes imediatamente antes da exposição à agente ou procedimentos erosivos, pois, a película adquirida protege contra a erosão e a escovação; evitar escovar os dentes imediatamente após a exposição a substâncias ácidas pelo menos uma hora após a exposição; evitar recessão gengival decorrente de técnica inadequada de higiene bucal; evitar pressionar a gen- 43
6 giva ou usar palitos indevidamente; usar escova macia e com pontas arredondadas; evitar exagero na escovação impondo demasiada força por períodos prolongados; evitar excesso de fio dental ou uso incorreto de outro dispositivo de limpeza interproximal; evitar dentifrícios com baixo ph (usar os com baixo índice de abrasão); evitar usar uma grande quantidade de dentifrício ou evitar reaplicá-lo durante a escovação; evitar hábitos que provoquem a erosão, tais como sorver, bochechar ou manter bebidas na cavidade bucal; reduzir ou eliminar a exposição frequente a bebidas e sumos não alcoólicos ácidos; usar fluoreto remineralizante ou solução de bicarbonato de sódio; estimular o fluxo salivar; aconselhar os pacientes a procurar ajuda médica sempre que verificar fatores intrínsecos (anorexia, bulimia ou refluxo gástrico); evitar a instrumentação exagerada das superfícies radiculares durante a remoção de cálculo, raspagem e alisamento radicular; evitar polimento exagerado das raízes expostas durante a remoção de pigmentação; evitar a violação do espaço biológico quando da colocação das margens protéticas e evitar injuriar o tecido durante procedimentos de clareamento dental. DISCUSSÃO Em relação às teorias prováveis para a hipersensibilidade dentinária, a teoria da transdução foi abandonada quando ficou estabelecido que o prolongamento odontoblástico não se estendia muito além de um terço da espessura da dentina.a teoria da modulação também foi descartada uma vez que estudos demonstram que em até dois terços dos canalículos dentinários não existem odontoblastos, e que estes se estendem em apenas um terço do comprimento dos canalículos e o restante é preenchido com líquido semelhante ao líquido intersticial. Assim, é impossível estimular diretamente um odontoblasto em determinadas áreas da dentina e muito menos o nervo. Desse modo, apenas a Teoria Hidrodinâmica é atualmente aceita como apropriada para suportar os mecanismos subjacentes responsáveis pela HD. Nessa teoria foi demonstrado que há um fluxo normal de fluidos através da dentina, assim com estímulos apropriados a taxa de escoamento do fluido aumenta e empurra os nervos para dentro da dentina pulpar. A hipersensibilidade dentinária ocorre quando os túbulos dentinários estão expostos, porém, a exposição pode ocorrer com ou sem perda visível de estrutura dental. A multifatoriedade de sua etiologia pode ser uma das causas do fracasso de seu tratamento. Ao se deparar com um caso de hipersensibilidade dentinária um diagnóstico diferencial se faz necessário, pois, existem outras patologias com sintomas semelhantes aos da hipersensibilidade dentinária, mas que requerem tratamentos diferentes. O enfoque profissional não deve ser baseado somente no tratamento, mas também num controle dos fatores etiológicos e predisponentes que causaram o problema. Assim, cada tipo de lesão que causou a exposição dentinária tem características clínicas próprias e procedimentos de controle diferentes a serem associados ao tratamento. Quando a lesão for por abrasão, devem ser dadas orientações sobre técnica e pressão utilizada na escovação, tipos de escovas e dentifrícios utilizados, e risco dos desgastes se tornarem acentuados quando a escovação for realizada logo após a exposição do dente a ácidos. No que se refere ao desgaste, tanto a escova elétrica como a manual não apresentam diferenças, porém, existem autores que afirmam que a elétrica causa menor desgaste, pois, é realizada menor pressão na escovação. Já as lesões por abfração são mais complexas, os procedimentos de controle envolvem ajustes oclusais e restaurações, já que se formam cavidades na região cervical dos dentes. A falta de atenção ao ajuste oclusal tem sido considerado como a maior causa do fracasso no tratamento da abfração. Quanto ao tratamento da hipersensibilidade dentinária, estes podem ser iniciados através de métodos que o próprio paciente realiza em casa, como os dentifrícios dessenssibilizantes. As pesquisas relatadas por Garone Filho (1996) demonstraram que os dentifrícios que contêm estrôncio em sua fórmula diminuem a hipersensibilidade somente após terem sido utilizados por seis semanas, mas Haywood (2002) explicou que o efeito dessensibilizador dos dentifrícios com potássio leva por volta de duas semanas com duas aplicações diárias. Se o resultado obtido não for o desejado, inicia-se o tratamento no consultório com outras técnicas. Segundo Ricco (1992) as resinas e os adesivos dentários são utilizados para obliterar os túbulos e evitar movimento de fluidos dentro deles. As restaurações são capazes de ocluir os túbulos dentinários, porém, sua utilização implica em presença de cavidade, requer técnica mais cuidadosa, maior tempo de clínica e maior custo para o paciente. O fluoreto de sódio acreditam alguns autores, não é efetivo em ocluir os túbulos em apenas uma sessão. O flúor fosfato acidulado quando aplicado, na superfície dentinária exposta por quatro minutos, uma vez por semana durante quatro semanas, diminuiu a sensibilidade dos dentes tratados. 44
7 O tratamento com laser tem demonstrado bastante eficiência na dessensibilização de dentina, porém ainda com custo alto para paciente e profissional. E as técnicas cirúrgicas para correção da retração gengival são mais utilizadas quando há também um envolvimento estético. Dantas et al. (2007) avaliaram comparativamente, in vivo, a efetividade do uso de fluoreto de sódio a 4% e do laser de baixa intensidade de arseneto de gálio-alumínio (AsGaAl) no tratamento da hipersensibilidade dentinária e concluíram que não houve diferença estatisticamente significativa (p>0,05) quando da avaliação da hipersensibilidade dentinária imediata ao tratamento, bem como após um mês de controle, logo, as duas terapias foram efetivas na redução da hipersensibilidade. Como a hipersensibilidade dentinária encontra-se presente numa grande parcela da população que apresentam parafunção oclusal, muitas vezes, o tratamento adequado poderá requerer mais de uma técnica. Hotta et al. (2006), por exemplo, avaliaram o efeito da laserterapia de baixa intensidade sobre a hipersensibilidade dentinária. Formou-se então um grupo com aplicações efetivas de laser (Grupo 1) e um outro grupo com aplicações de laser e placa interoclusal (Grupo 2). Em ambos os grupos, a sensibilidade dentinária foi mensurada utilizando-se uma escala visual analógica, antes e depois de cada uma das quatro aplicações de laser para análise do efeito imediato e também, 1 semana, 1 mês e 2 meses da última aplicação, para análise do efeito tardio. Os estímulos utilizados foram o contato de uma sonda exploradora na região cervical dos dentes e a aplicação de rápido jato de ar, via seringa tríplice. Os resultados mostraram que em ambos os grupos a sensibilidade dentinária foi maior frente ao estímulo jato de ar. A laserterapia apresentou efeitos benéficos, a cada aplicação, no grupo irradiado e, ao final de dois meses, manteve a melhoria frente ao estímulo jato de ar. No grupo 2, os resultados foram estatisticamente significantes nas quatro aplicações frente a ambos os estímulos e se mantiveram até o período final de observação. Muitos são os produtos oferecidos para o tratamento da hipersensibilidade dentinária, mas não há, ainda, algum que traga benefícios consistentes e duradouros. CONCLUSÕES Após revisão da literatura conclui-se que, a Teoria Hidrodinâmica é a teoria mais amplamente aceita na atualidade para explicar a hipersensibilidade dentinária. A hipersensibilidade dentinária apresenta etiologia multifatorial. A exposição da dentina pode ocorrer por erosão, abrasão, abfração e retração gengival. Um diagnóstico diferencial se faz necessário, pois existem outras patologias com sintomatologia semelhante à hipersensibilidade dentinária. Muitos são os tratamentos propostos que abrangem desde o uso de creme dental dessensibilizante, adesivos dentinários, restaurações, cirurgia mucogengival até tratamento endodôntico. A orientação e colaboração do paciente são necessárias para o controle clínico da hipersensibilidade dentinária. ABSTRACT The present study has as its proposal, based on a review of literature, to discuss important aspects of cervical dentine hypersensitivity, its multi-factorial etiology, theories about the mechanism of pain, differential diagnosis, as well as the variety of available treatments for pain relief. Dentine hypersensitivity is an exacerbated response to a sensorial stimulus that would not be cause for pain on a healthy tooth. It is a pathology affecting both sexes in a great amount of the population, and in several tooth groups, causing mouth discomfort and generating inconveniences to one s living. Its etiology is a multi-factorial one, and there are a number of theories that try to explain the pain mechanism, the best accepted one being the hydrodynamics theory, nowadays. In order to elect adequate therapeutic measures, a differential diagnosis is needed, from other types of lesions that can cause similar pain responses. UNITERMS: Dentine sensitivity. Etiology. Pain mechanism. Therapy. Clinical protocols. 45
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Bánóczy J. Hipersensibilidade dentinária considerações gerais práticas para o sucesso do controle. International Dental Journal 2002; 52: Zequi SC, Garcia T M B. Hipersensibilidade dentinária cervical Definição etiologia e tratamento. Só Técnicas Estéticas 2005; 2: Addy M. Hipersensibilidade dentinária: novas perspectivas em um velho problema. International Dental Journal 2002; 52: Brugnera Jr A, Zanin F. Tratamento da Hipersensibilidade Dentinária. In Brugnera Jr A, Pinheiro A L B. Lasers na Odontologia Moderna. São Paulo: Pancast ; Cate RT. Complexo dentina polpa. In: Histologia bucal. 5ª ed..guanabara Koogan, Krüger CR. Hipersensibilidade dentinária - Mecanismos, permeabilidade e técnicas de dessensibilização. Jornal Brasileiro de Clínica & Estética em odontologia 2001; 5: Addy M. Tooth brushing, tooth wear and dentine hypersensitive Are they associated? International Dental Journal 2005; 55: Andrade M. Hipersensibilidade: escravo da dor. Rev. ABO Nac. 1998; 13: Sobral MAP, Garone Neto N. Aspectos clínicos da etiologia da hipersensibilidade dentinária cervical. Rev Odontol Univ São Paulo 1999; 13: Garone Filho W. Lesões cervicais e hipersensibilidade dentinária. In: Todescan FF, Bottino MA. Atualização na Clínica Odontológica. São Paulo: Artes Médicas; Vale IS, Bramante AS. Hipersensibilidade dentinária: Diagnóstico e tratamento. Rev. Odontol Univ São Paulo [periódico na Internet] [citado 2007 fev 19];11:. Disponível em: scielo.php? Script=sci-arttext&pid=S &Ing=pt&nrm=isso.doi: /S Moretzohn M, Campos I. Hipersensibilidade dentinária: ainda um problema?. RBO 2001; 58: in treatment of root hypersensitivity. J Periodontol. 1972;43(6): Yoshiyama M. Transmission electron microscopic characterization of hypersensitive human radicular dentin. J Dent Res. 1990; 69(6): Rico AJ. Hipersensibilidad dentinal. Acta Clin Odontol 1992; 15(28): Ferreira ST, Sampaio JEC, Sampaio A. Sensibilidade dentinária: formas de tratamento.rev. ABO Nac. 2001; 9: Pinto SCS, Pochapski MT, Wambier DS, Pilatti GL, Santos FA. Análise de substâncias dessensibilizantes na permeabilidade da dentina e oblteração de túbulos dentinários - estudo in vitro. Periodontia 2007; 17(03): Lindhe, J. et al. Tratado de periodontia clínica e implantologia oral. 4. ed. [S.l.]: Guanabara Koogan, Duarte CA, Castro MVM, Pereira AL. Retração Gengival: Possibilidades Cirúrgicas.In: Duarte C A, Castro M V C. Cirurgia Estética Periodontal. São Paulo: Ed. Santos; Benedicenti, A. Atlante di laserterapia. 2a, ed. Gênova, 1982, p Rocha DM, Eduardo CP, Ribeiro, MS. Efetividade da utilização do laser de Érbio: YAG na redução da sensibilidade dentinária cervical. Clín. int. j. braz. dent; 2005; 1(2): Zero DT, Lussi A. Erosão-fatores químicos e biológicos importantes para o dentista. International Dental journal 2005; 55: Dantas EM, Menezes MRA, Dantas PMC. Avaliação clínica do efeito do fluoreto de sódio a 4 por cento e do laser AsGaAl sobre hipersensibilidade dentinária cervical. RFO-UPF 2007;12(1): Hotta TH, Marchesan JT, Santos TM, Silva MAMR, Silva RS, Pécora JD. Uso de laser e placa oclusal na sensibilidade dentinária de bruxômanos. RGO 2006; 54(2): Drisco HC. Considerações sobre hipersensibilidade dentinária higiene dental e periodontais. International Dental Journal 2002; 52: Haywood Van B. Hipersensibilidade dentinária: considerações sobre clareamento e restauração para um controle bem sucedido. Internacional Dental Journal.2002; 52, Stanley HR. Pulpal responses to ionomer cements - biological characteristics. J Am Dent Assoc. 1990; 120(1): Peres CR, Salgado LPS, Sérgio PP, Hirata Jr R. Hiperestesia dentinária: etiologia, diagnóstico e formas de tratamento. RBO 1999; 56: Hiatt WH, Johansen E. Root preparation I. obturation of dentine tubules Endereço para correspondência: Alexandre Prado Scherma Rua Belmiro Luiz Cardoso, 20 CEP: Taubaté - SP Tel.: (12) apscd27@yahoo.com.br 46
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