O FUTEBOL E SUA INFLUÊNCIA NO DESEMPENHO ESCOLAR

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1 O FUTEBOL E SUA INFLUÊNCIA NO DESEMPENHO ESCOLAR Resumo Emerson Liomar Micaliski 1 - UNINTER Maria Cristina Kogut 2 - PUCPR Grupo de Trabalho - Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento O presente estudo traz como ideia central, identificar o desempenho escolar de alunos que participam da iniciação esportiva futebol de acordo com a opinião de professores e pedagogos. O estudo foi realizado em duas escolas estaduais localizadas na Região Metropolitana de Curitiba, com 40 alunos atletas de idade entre 12 e 13 anos praticantes dessa modalidade esportiva, com treinamento três vezes na semana em período inverso à escola e jogos competitivos nos finais de semana. Para tanto, optou-se por desenvolver uma pesquisa de campo descritiva de caráter quantitativo-qualitativo, usando para isso de um questionário destinado aos professores e pedagogos e um levantamento de notas. Na análise dos resultados foram constatadas que 75% dos alunos apresentam boas notas com valores entre 70 a 84, outros 20% dos alunos exibem notas altas entre 85 a 100 e, apenas 5% dos alunos tiveram notas próximas da média exigida pela escola para aprovação que variam entre 65 a 69. Na análise da posição entre professores e pedagogos houve diferentes opiniões, alguns afirmaram que a iniciação esportiva futebol ajuda positivamente no processo educacional e que isso reflete nas notas, porém outros relataram que o futebol atrapalha o desempenho do aluno, fazendo com que haja muita atenção do aluno/atleta em prol do treinamento deixando de realizar atividades e conteúdos pedagógicos escolares. Os resultados indicam que o trabalho de iniciação esportiva com planejamento e execução pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento do aluno na escola e propõe-se que técnicos ou professores das escolas de futebol exijam notas e frequência desses atletas melhorando o seu processo educacional. Palavras-chave: Desempenho escolar. Iniciação esportiva. Futebol. 1 Graduado em Educação Física PUCPR (2009), Mestre em Teologia e Sociedade PUCPR, Professor do Centro Universitário Uninter. emicaliski@hotmail.com 2 Graduada em Educação Física PUCPR (1983) e Mestre em Educação pela PUCPR, Doutoranda em Educação Pela PUCPR. Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Cristina.k@pucpr.br ISSN

2 42609 Introdução O futebol é uma modalidade esportiva muito difundida, que atrai multidões de pessoas no Brasil e em todos os países do mundo. Desde o seu surgimento até o futebol moderno que existe hoje, foi se tornando um dos esportes mais populares, exercendo sobre crianças, jovens e adultos o fascínio pela bola, pelo jogo e pela emoção das partidas em campo. São bilhões de torcedores por todo o planeta, que torcem por seus clubes ou seleções nacionais ou que praticam esse jogo em praças, praias, campos e diversos outros locais (LEAL, 2001). Simões e Conceição (2004, p. 344), destacam que na atualidade o futebol constitui-se em modelo repleto de tendências, protagonizadas por um grande número de indivíduos, envolvidos diretamente ou indiretamente no espetáculo. Toda essa abrangência, bem como a força política e econômica, deve-se a esse fenômeno desportivo que conquistou praticamente toda a sociedade brasileira e mundial. O futebol por ser um esporte de competição, ou um esporte que possa proporcionar a atletas de alto nível uma carreira profissionalmente bem remunerada, desperta o interesse de muitas crianças e adolescentes para a sua prática visando a possibilidade de exercê-lo como profissionais. Assim, muitos jovens buscam as escolas de iniciação esportiva para aperfeiçoar suas técnicas de forma mais específica, e neste processo procuram conciliar seus estudos com o treinamento esportivo. O trabalho de iniciação ao esporte deve ser realizado coerentemente por profissionais capacitados a ensinar a modalidade respeitando as fases biológica e cronológica de crianças e adolescentes. Drubscky (2003) acredita ser fundamental a presença do professor preparado no processo de iniciação ao futebol, já que a formação de base no Brasil é essencialmente técnica, e a especialização seria a causa de que etapas fundamentais sejam ignoradas, como a educação para a vida profissional e fora do clube. Distante da especialização esportiva precoce de jovens, Greco; Benda (2001, p.73) destacam a iniciação esportiva como um meio de formação global para o ser humano, proporcionando o desenvolvimento psicomotor, o desenvolvimento cognitivo, a manutenção da saúde e da prática de atividades físicas e esportivas como um hábito contínuo. Visando um trabalho metodológico e pedagógico coerente no esporte, é importante destacar o respeito pelas limitações de jovens atletas durante seu processo de formação, para que não sejam depositadas cargas de responsabilidade em prol do treinamento e resultados, e em consequência disso afetar psicologicamente o aluno. Assim, é importante observar se o

3 42610 envolvimento de muitas crianças e adolescentes com o treinamento desportivo e a perspectiva de serem jogadores de futebol, deixam de lado outros aspectos importantes de suas vidas, como seu processo educacional para se aplicarem com maior intensidade aos treinos e competições. No ambiente escolar, professores e pedagogos podem identificar se alunos participantes de iniciação esportiva respectivamente o futebol, apresentam um desempenho escolar favorável ou não, em questões de notas, comportamento, disciplina e como cidadão na sociedade, ou seja, se a prática dessa modalidade esportiva influencia seu desempenho educacional de forma positiva ou negativa, em função do comprometimento aos treinos, jogos e competições. Também se essa prática desportiva pode afetar de forma estimulante em momentos de prazer, socialização e se estimula sua integridade com outras pessoas, podendo assim os praticantes se responsabilizem com maior autonomia em sua aprendizagem educacional. Geralmente as escolas de futebol ou clubes em formação, exigem boas notas dos alunos/atletas para participar de jogos ou determinadas competições, e a partir desse quadro são elencadas as seguintes dúvidas, será que esses atletas só se esforçam na escola para alcançar notas e terem uma chance de jogar em algum clube? E os clubes que visam formação de atletas, e assim, possuem uma intensidade maior de treinos, pode interferir no desempenho escolar dos alunos? Assim, este estudo buscou identificar o desempenho escolar de alunos que participam da iniciação esportiva futebol de acordo com a opinião de professores e pedagogos. Procedimentos metodológicos Para esse estudo, optou-se por desenvolver uma pesquisa de campo descritiva de caráter quantitativo-qualitativo. Conforme Gil (2006, p. 53) no estudo de campo, estuda-se um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressaltando a interação entre seus componentes. A opção por esta metodologia deve-se ao fato de que o pesquisador é o responsável pelo trabalho desenvolvido com os alunos/atletas de futebol. Os participantes foram dois pedagogos, dois professores de Educação Física e quatro professores das disciplinas de matemática, português, história, geografia e as demais matérias do currículo, a determinação ocorreu por meio de sorteio da matéria, todos de duas Escolas da Rede Estadual de Ensino, localizadas na região da Zona sul de Curitiba.

4 42611 O instrumento utilizado para a realização da coleta de dados desta pesquisa foi um questionário, destinado aos professores e pedagogos com questões abertas e/ou fechadas e fichas de notas. Foi elaborada uma ficha onde constavam os nomes dos alunos participantes do estudo com suas respectivas turmas. Esta teve como objetivo analisar as notas e identificar o rendimento e o nível de desempenho escolar dos alunos. Para cada aluno foi criado um código de identificação que possibilitou apenas aos envolvidos no estudo saber quem é o estudante avaliado. Resultados Inicialmente buscou-se levantar a opinião dos professores e pedagogo(a) das escolas A e B, sobre os aspectos no desenvolvimento dos alunos atletas em sala de aula. Na escola A, dois professores das disciplinas de Matemática e Educação Física afirmaram haver aspectos positivos, justificando que o treinamento esportivo ajuda no desenvolvimento do raciocínio lógico e melhor interação com os colegas, um professor de História e uma pedagoga colocaram esses aspectos ocorrem quando há o envolvimento das famílias no acompanhamento dos seus filhos. Na escola B, para a mesma questão um professor da disciplina de Geografia afirmou que os alunos que praticam futebol apresentam aspectos positivos na melhoria do trabalho em equipe e melhor socialização com a turma. A pedagoga e outros dois professores das disciplinas de Educação Física e Português afirmaram que esses alunos não têm interferência em seu desenvolvimento com a prática do futebol. Outra questão analisada foi à comparação de alunos / atletas com os demais alunos da escola, se há diferenças nos aspectos motores, sociais, afetivos e cognitivos e quais desses aspectos são mais característicos nos alunos atletas de futebol. Nas escolas A e B, todos os professores e as pedagogas afirmaram que existe uma diferença entre eles, justificando que os alunos atletas demonstram um maior desenvolvimento desses aspectos, exemplificando como alunos mais ágeis, comunicativos e mais responsáveis, já o aspecto cognitivo depende da maturidade e concentração de cada aluno. Esses resultados estão de acordo com Greco e Benda (2001, p.73) que afirmam que a prática do esporte proporciona o desenvolvimento psicomotor, o desenvolvimento cognitivo, a manutenção da saúde e da prática de atividades físicas e esportivas. Ou seja, quem pratica atividades físicas possui diferenças nesses aspectos em seu desenvolvimento.

5 42612 Posteriormente foi questionado qual é a influência do treinamento sobre trabalhos desenvolvidos na escola pelos alunos atletas. Na escola A, dois professores das disciplinas de História e Matemática juntamente com a pedagoga disseram que às vezes eles faltam mais que outros alunos ou deixam de fazer trabalhos usando como desculpa o esporte, já o professor de Educação Física afirmou que o treinamento não prejudica na entrega de trabalhos. Na escola B, um professor Geografia afirmou que a influência é positiva, justificando que apesar do cansaço que os alunos atletas apresentam em função dos treinos, eles não deixam de produzir, além do que essas atividades contribuem para a formação do ser humano. Outros professores das disciplinas de Português e Educação Física afirmaram que não há influência no desenvolvimento, mas demonstram preocupação com o fato de o horário de treino poder atrapalhar o envolvimento dos alunos atleta, havendo necessidade que este ocorra no contra turno. Já a pedagoga afirmou que atrapalha no trabalho escolar, justificando que esses alunos esquecem os estudos para se dedicarem em seus treinos. Tani, Bento e Peterson (2006) demonstram uma preocupação com esse fato, e afirmam que os alunos devem ser cientes do tempo para se dedicar ao treinamento sem interferir ao tempo para sua dedicação aos estudos. O período de treinamento pode ser positivo, quando se torna um meio de concretizar a educação, o desafio e exigências além do desenvolvimento pleno do ser humano através de jogos competitivos, mas também pode ser negativa, como a ocorrência de valores de individualismo e prejuízos de igualdade e solidariedade que aluno pode adquirir sem uma orientação correta. Por último os professores e pedagogos foram questionados sobre o rendimento nas notas dos alunos atletas. Nas escolas A e B, dois professores das disciplinas de Geografia e Educação Física afirmaram que é ótimo, justificando em suas respostas que geralmente são alunos modelos da sala. Outros professores das disciplinas de História, Matemática, Português e a pedagoga relataram que a maioria dos alunos apresentam resultados acima de média, mas que pode haver variações, onde o rendimento das notas escolares depende das cobranças que são feitas a eles e do nível cultural do aluno. Quando o professor faz cobranças, incentiva e encoraja os esforços, os alunos que procuram estudar, refletir e construir conclusões próprias conseguem render mais e conseguem desenvolver um maior senso de responsabilidade (WEIL, 1993). A segunda etapa buscou analisar o rendimento ou desempenho escolar, através da identificação das notas escolares dos alunos atletas.

6 42613 Gráfico 1: Notas dos alunos atleta De acordo com o gráfico 75% dos alunos apresentam notas intermediárias entre 70 a % apresentam notas altas que varia de 85 a 100, e apenas 5% dos alunos atingem notas baixas entre 65 a 69. Assim nota-se que a maioria dos alunos atletas mantêm suas notas acima considerável acima da média, obtendo um bom rendimento escolar. Percebe-se que alunos atletas apresentam um nível de desempenho escolar bastante positivo em termos de notas escolares. Seis alunos apresentam todas suas notas acima de 90, adquirindo uma média anual de 94 e 95 nos dois primeiros bimestres. Trinte e dois alunos com suas notas entre 70 a 89 e apenas 2 alunos possuem notas abrangentes a média exigida para aprovação. Os resultados apontam que no grupo que participou do estudo, os treinamentos e as atividades decorrentes desse não interferiram no rendimento escolar, indicando que há possibilidade de conciliar as duas coisas. Considerações finais Partindo-se da análise dos resultados, foi constatada a variação de opinião de professores e pedagogos. Alguns acreditam que a iniciação esportiva do futebol possa contribuir para o rendimento escolar destacando aspectos motores, sociais e afetivos mais

7 42614 aprimorados desses alunos, e também fazendo com que haja maior atenção no treinamento deixando muitas vezes de entregar trabalhos pedagógicos. Esses participantes afirmaram que o rendimento depende da personalidade e da maturidade de cada aluno. Porém a identificação das médias dos alunos atletas demonstrou que a maioria tira notas altas, indicando que os alunos são bastante dedicados. Um dos aspectos importante a se destacar, em termos de contribuição para o rendimento escolar dos alunos que treinam futebol, é o acompanhamento da família, quando os pais acompanham com proximidade o desenvolvimento do aluno junto à escola e o treinamento desportivo, organizando o tempo para situações de estudo diferentes do treino, beneficiando com maior ênfase seu processo educacional. Portanto a efetividade da preparação esportiva e a formação integral do aluno devem ser buscadas através de uma adequada atenção ao tempo e qualidade do trabalho desenvolvido entre o treino e estudo. Destaca-se a importância dos técnicos ou professores das escolas de futebol que podem contribuir nesse processo, quer seja motivando e controlando o processo (notas e frequência) realizado por pelos alunos atletas para uma melhoria em seu desempenho educacional. Este estudo mostrou que o desenvolvimento de um trabalho de iniciação desportiva, pode contribuir na formação global dos alunos tanto no desenvolvimento motor, mas também naqueles ligados aos aspectos cognitivos, morais e afetivos. Mas a principal preocupação de pais e educadores durante os anos de escolarização deve ser o desenvolvimento escolar e intelectual das crianças e adolescentes. E o esporte que por um lado pode contribuir de forma significativa com esse processo, pode também se beneficiar dele, pois futuros postulantes a atletas serão melhores sucedidos se tiverem uma capacidade de refletir e entender tudo o que envolve o treinamento. REFERÊNCIAS DRUBSKY, R. O Universo Tático do Futebol: Escola brasileira. Belo Horizonte: Health, GRECO, P. J., BENDA, R. N. Iniciação esportiva universal/ 1. Da aprendizagem motora ao treinamento técnico. 1. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, LEAL, J. C. Futebol: arte e oficio. Rio de Janeiro: 2 Ed. Sprint, WEIL, P. A criança, o lar e a escola. Petrópolis-Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1993.

8 42615 Gil, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: 4 Ed. Atlas, SIMÕES, A. C.; CONCEIÇÃO, P. F. M. Gestos e expressões faciais de árbitro, atletas e torcedores em um estádio de futebol: uma análise das imagens transmitidas pela televisão- Revista brasileira de educação física e esporte, Rio de Janeiro, v.18, n 4, p , out TANI, G; BENTO, J. O.; e PETERSON, R. D. Pedagogia do desporto. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2006.