PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA
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1 1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA DECISÃO MONO CRÁTICA APELAÇÃO CÍVEL N" /001. ORIGEM : 7 Vara Cível da Comarca da Capital. RELATOR : Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. APELANTE : Unimed João Pessoa Cooperativa de Trabalho Médico Ltda. ADVOGADO : Juliana Carreira Ribeiro e outro. APELADA : Marivone Duarte Laureano DEFENSOR : Rizalva A. de Oliveira Sousa. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DE AUTORIZAÇÃO DE TRATAMENTO DE QUIMIOTERAPIA. CLÁUSULA CONTRATUAL COM PREVISÃO DE EXCLUSÃO DO PROCEDIMENTO. INADMISSIBILIDADE. COBERTURA DA ESPECIALIDADE MÉDICA RELATIVA À DOENÇA. TRATAMENTO INDICADO PELO PROFISSIONAL MÉDICO. RELAÇÃO CONSUMERISTA. INTERPRETAÇÃO CONTRATUAL MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR. ART. 47, DO CDC. PRECEDENTES DO STJ. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. "O plano de saúde pode estabelecer as doenças que terão cobertura, mas não o tipo de tratamento utilizado para a cura de cada uma delas."(stj, AgRg no Ag /PA, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, Julgado em 22/03/2011. DJe 31/03/2011). O contrato de prestação de serviços de prevenção e tratamento de saúde celebrado com empresas de assistência privada (plano de saúde) possui todas as características de adesão, razão porqu suas cláusulas devem ser interpretadas de forma mais favorável ao consumidor. Vistos etc. Marivone Duarte Laureano ajuizou, perante o Juízo da 7' Vara Cível da Comarca desta Capital, Ação de Obrigação de Fazer, processo n , em face de Unimed João Pessoa Cooperativa de Trabalho Médico. Alegou que (1) seria contratante de plano de saúde oferecido pela Ré, desde o ano de 1997, estando adimplente com suas obrigações contratuais; (2) é portadora de Neoplasia Maligna de Mama, tendo sido submetida a procedimento cirúrgico, mastectomia radical, em outubro de 2009; (3) requereu àquela, sem êxito, autorização para realização de tratamento de "quimioterapia sistêmica", indicado por seu médico, f. 08, negada sob o fundamento de s riosta inexistência de cobertura contratual; (4) a negativa teria violado o art. 51 \. IV, o Codigo de Defesa do Consumidor, por.se tratar de tratamento urgente, em face rae risco de vida ou de dano irreparável à sua
2 saúde; e (5) todo contrato de plano de saúde celebrado anteriormente à vigência da Lei Federal n /98, deveria ser sucedido por novo contrato, não havendo ofensa ao ato jurídico perfeito. Requereu a antecipação da tutela para que a Ré fosse compelida a autorizar o tratamento médico prescrito até sua conclusão, com cobertura total das despesas, sob pena de multa diária e, no mérito, pediu a ratificação da liminar. Em Decisão de f. 24/26, o Juízo deferiu a liminar requestada, nos termos em que foi pleiteada, estabelecendo multa diária de R$ 500,00 em caso de descumprimento, sob o fundamento de que as cláusulas limitadoras da utilização de procedimentos para manter e recuperar a vida colidiriam com o Código de Defesa do Consumidor, não podendo serem invocadas para negar aos usuários de planos de saúde, tratamento indispensável à sua sobrevivência. A Ré apresentou Contestação, f. 29/42, alegando que (1) o contrato celebrado entre as partes excluiria expressamente em sua Cláusula VII, Item 7.27, a cobertura para Quimioterapia e Radioterapia Oncológicas; (2) que a Autora teve prévio conhecimento de todas as cláusulas do contrato, firmando-o sem qualquer restrição ou vício de vontade; (3) o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 54, 4, não veda a existência de cláusulas restritivas de direito, entre as quais se inclui a de exclusão de cobertura contratual, exigindo apenas que sejam redigidas em destaque; (4) que as cláusulas contratuais devem ser respeitadas, sob. pena de violação aos princípios do pacta sunt servanda e da boa-fé que regem as relações contratuais; (5) não tem obrigação de arcar com despesas relativas a procedimentos não previstos no contrato, sob pena de desequilíbrio contratual, porquanto a obrigação de prestar assistência à saúde na sua integralidade é do poder público. Requereu a improcedência do pedido. Sentenciando, f. 71/77, o Juízo julgou procedente o pedido para, ratificando a tutela antecipada anteriormente concedida, condenar a Ré ao custeio do tratamento médico pleiteado, ao argumento de que o direito da Autora está respaldado na cláusula V, e do contrato em discussão, que inexistindo neste cláusula que exclua expressamente o tratamento prescrito, deve ser interpretado da forma mais benéfica ao consumidor, de acordo com o art. 47, do CDC, e que se a cura da doença depende de determinados procedimentos médicos, não há como limitar ou excluir a cobertura, sob pena de inviabilizá-la, condenando-a, ainda, ao pagamento das custas e honorários advocatícios, no valor de R$ 500,00, nos termos do art..20, 4, do CPC. A Ré interpôs Apelação, f. 78/85, alegando que (1) a negativa de cobertura do tratamento decorreria de expressa previsão contratual, conforme cláusula VIL item 7.27; (2) inexistiria irregularidade no contrato em discussão, porquanto o próprio CDC não proibiria a existência de cláusulas restritivas de direito, desde que fossem redigidas em destaque, conforme art. 54, 4 ; (3) seria inaplicável o art. 47, do CDC, que determinaria a interpretação das crusulas contratuais da forma mais benéfica ao consumidor, tendo em vista que ref4ido entendimento seria aplicado na hipótese de dúvida ou contradição no contrato em suas cláusulas, o que não ocorreria no < co)
3 contrato em discussão, porquanto a exclusão da cobertura para o tratamento de quimioterapia estaria expressa; (4) a relação entre ela e a Apelada/Autora ao seria de cunho assistencial, não tendo, portanto, obrigação de custear procedimento não coberto pelo plano contratado Pugnou pelo provimento do Recurso para, reformando a Sentença, julgar improcedente o pedido inicial. Sem contrarrazões. Certidão de f. 89. Desnecessária a intervenção Ministerial, por não se configurarem quaisquer das hipóteses previstas no art. 82, I a III, do Código de Processo Civil. O Recurso é tempestivo e o preparo foi recolhido, f. 87. É o Relatório. Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço da Apelação. A Apelante/Ré se insurge contra Sentença que declarou sua obrigatoriedade em custear tratamento de quimioterapia para a Apelada/Autora, justificando que a negativa de cobertura deemeria de expressa previsão contratual, o que não seria proibido pelo CDC, que em seu art. 54, 4, exigia, apenas, a redação em destaque de referida cláusula restritiva. Analisando-se o instrumento contratual, f. 18/21, constata-se a previsão de cobertura da especialidade médica relativa ao tratamento pleiteado, conforme se denota da simples leitura de sua Cláusula V, que prevê "a cobertura assistencial abrangendo consultas médicas, serviços auxiliares de diagnóstico e terapia (SADT), e internações clínicas e cirúrgicas, (...), nas seguintes especialidades médicas: Cirurgia de Mama; Mastologia; Oncologia", entretanto, em sua Cláusula VII, item 7.27, f. 20v, excluiu expressamente os tratamentos de quimioterapia e radioterapia da cobertura contratual. Não há como sustentar a negativa de tratamento de quimioterapia. necessário à cura da doença que acomete a paciente, 'quando o contrato prevê a assistência médica na especialidade de Oncologia. Desta forma, existindo no Contrato cláusula de cobertura de doença ou especialidade médica, e cláusula excluindo o tratamento relativo a estas, o Instrumento deve ser interpretado da forma mais benéfica ao consumidor, conforme determina o art. 47, do CDC. Ademais, conforme entendimento dominante do Superior Tribunal de Justiça, o Plano de Saúde pode restringir na celebração do contrato a cobertura a determinadas doenças, mas não pode restrin r o tratamento às doenças cobertas pelo contrato, sob pena de esvaziamento da finali e precípua do plano de saúde, qual seja, o resguardo da vida e da saúde do contrat
4 Ilustrando o entendimento, os julgados abaixo: SEGURO SAÚDE. COBERTURA. CÂNCER DE PULMÃO. TRATAMENTO COM QUIMIOTERAPIA. CLÁUSULA ABUSIVA. 1. O plano de saúde pode estabelecer quais doenças estão sendo cobertas, mas não que tipo de tratamento está alcançado para a respectiva cura. Se a patologia está coberta, no caso, o câncer, é inviável vedar a quimioterapia pelo simples fato de ser esta urna das alternativas possíveis para a cura da doença. A abusividade da cláusula reside exatamente nesse preciso aspecto, qual seja, não pode o paciente, em razão de cláusula limitativa, ser impedido de receber tratamento com o método mais moderno disponível no momento em que instalada a doença coberta. 2. Recurso especial conhecido e provido (STJ. REsp /SP. Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Terceira Turma. Julgado em 15/03/2007. DJ 02/04/2007, p. 265). PROCESSO CIVIL E CIVIL. PLANO DE SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO' 'COBERTURA. DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS, IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. REQUISITOS LEGAIS. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA N. 7 DO STJ. 1...] 3. O plano de saúde pode estabelecer as doenças que terão cobertura, mas não o tipo de tratamento utilizado para a cura de cada uma delas. 4. Agravo regimental desprovido (STJ, AgRg, no Ag /PA, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, Julgado em 22/03/2011,13k 31/03/2011). Desta forma, a cláusula que exclui o tratamento de quimioterapia é nula de pleno direito, pois frustra expectativas legitimas do consumidor de ter a prestação dos serviços contratados, restringindo direitos inerentes à própria natureza e objetivos do contrato, e, por violação ao principio da boa- fé objetiva. Por fim, ao contrário do que afirmou a Apelante/Ré, não se trata de estender o dever constitucional do Estado de prover assistência integral à saúde aos fornecedores de planos privados, a questão, como se ressaltou, resolve-se na seara puramente contratual, e o argumento é bastante para reputai insubsistentes suas alegações, na esteira da jurisprudência dominante do STJ. Assim, correta a Sentença ao determinar que a Apelante/Ré custeie o tratamento de quimioterapia necessário à cura da doença que acomete a Apelada/Autora, na forma prescrita pelo seu médico, conforme documento de f. 08. Posto isso, considerando que a Apelação está em manifesto confronto com a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, nego seguimento ao Recurso, nos termos do art. 557, capta, do CPC. Publi e-se. Intime-se. /' ' G binete no T 7PB;" em João Pessoa, 18 de junho de 2,.-4, /( es. Romero Marcelo Fonseca de Oliveira ; Relator
5 ; TRICU1 DE JUSTIÇA Diretoria JudiOria Registrado em/41_04 2-/ /)-----
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