Dificuldades de Aprendizagem

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1 Perturbações Graves do Comportamento Dificuldades de Aprendizagem Para uma leitura de Ao encontro de Espinosa de António Damásio Trabalho realizado por: Universidade Portucalense Elisa de Castro Carvalho Porto, 05 de Julho de Aluna n.º Perturbações Graves do Comportamento Mestre Jorge Barbosa

2 O coração tem razões que a razão desconhece. Pascal

3 ÍNDICE Introdução... 3 Emoções e Sentimentos... 4 A Inteligência Emocional da Criança... 7 Perturbação por Défice de Atenção e Hiperactividade... 8 Conclusão... 9 Referências Bibliográficas

4 Introdução O presente trabalho centra-se na questão das emoções e tem como ponto de partida o texto Contributos para a Educação. Limitações no Domínio Emocional (Barbosa, 2004). Será feita uma reflexão em torno de conceitos como o sentimento e a emoção mencionados na obra de António Damásio Ao encontro de Espinosa. Uma vez que desconhecíamos este autor pesquisamos acerca do mesmo e concluímos que se trata de um famoso médico neurologista e investigador português, radicado nos EUA e onde é professor na Universidade de Iowa. Ao encontro de Espinosa faz parte da sua vasta obra literária neste domínio. Com este trabalho pretendemos fazer uma reflexão acerca do que se entende por emoções e sentimentos, sendo certo que não é fácil precisar uma definição clara. Todos nós, em algum momento da nossa vida, já proferimos frases como Foi um filme emocionante ou Era uma pessoa com bons sentimentos ; contudo, se tentarmos definir por palavras nossas o que são emoções ou como se manifestam teremos alguma dificuldade em chegar a um consenso. Emoções e sentimentos estão intimamente ligados, o que não quer dizer que signifiquem exactamente a mesma coisa. Faremos, então, uma reflexão acerca destes conceitos apoiando-nos para isso no texto sugerido. 3

5 Emoções e Sentimentos O estudo das emoções adquiriu grande importância nos últimos tempos graças a autores como Damásio, LeDoux e Goleman. As suas pesquisas constituem fabulosos guias no domínio da inteligência emocional. A obra de Goleman intitulada Inteligência Emocional publicada em 1995 refere duas formas de manifestação da nossa inteligência: a inteligência racional e a inteligência emocional, sendo esta última mais decisiva no nosso êxito pessoal e profissional do que a primeira. Etimologicamente, emoção provém do latim emotionem que significa movimento, comoção, acto de mover. Mas a que nos referimos concretamente quando falamos de emoções? As emoções estão francamente absorvidas no discurso quotidiano das pessoas. Ouvimos sistematicamente as pessoas dizerem que não se sentem bem ou que se sentem emocionadas quando vêem algo na televisão, pelo que à partida não temos necessidade de definir este conceito. No entanto, no domínio da ciência importa clarificar estes conceitos. A emoção, ao contrário do sentimento, é pública e revela-se na presença do outro. Podemos ficar tristes com a morte de um ente querido e até disfarçar essa tristeza, mas não somos capazes de impedir que essa manifestação aconteça no nosso cérebro: A emoção é uma perturbação do corpo, por vezes é uma verdadeira convulsão. Apenas o ser humano tem a capacidade de interpretar aquilo que sente graças à consciência, isto é, as emoções ocorrem no corpo ao passo que os sentimentos manifestam-se na mente. Daí que as emoções sejam visíveis ao olhar do outro e, pelo contrário, os sentimentos sejam algo do foro privado. Damásio refere que as emoções são acções ou movimentos, muitos deles públicos, visíveis para os outros na medida em que ocorrem na face, na voz, em comportamentos específicos (2003b, p. 28). Segundo esta perspectiva, uma emoção é uma reacção automática activada perante um estímulo emocionalmente competente (Ibidem, p. 53), caracterizada por um conjunto de reacções químicas e neuronais particulares. Perante a activação de uma emoção, o organismo prepara-se para se adaptar com vista a uma satisfação positiva. Algumas emoções de carácter expressivo são facilmente 4

6 detectáveis ao contrário das emoções de carácter psicofisiológico que são difíceis de observar. Segundo Damásio, existem emoções básicas como o medo, a raiva, a surpresa, a tristeza, a felicidade ou a aversão/repugnância, que se revestem de um carácter inato, e emoções sociais (mais complexas) como a simpatia, o embaraço, a vergonha, a culpa, o orgulho, a inveja, a gratidão, a admiração e desprezo. Os sentimentos situam-se num nível superior, sendo a percepção de um certo estado corporal juntamente com a percepção de um certo modo de pensar e de pensamentos com determinados temas (Ibidem, p. 86). Emoções e sentimentos estão intrinsecamente ligados, no entanto não devemos assumi-los como uma entidade simples. A emoção é sobretudo um estado momentâneo e passageiro, que surge como resultado de uma excitação do organismo do indivíduo. É, portanto, um estado afectivo que ocorre de modo súbito. O indivíduo recebe determinados estímulos através dos sentidos, avaliando depois a situação de modo positivo ou negativo: O conjunto destas reacções e dos sinais químicos com elas associadas resultam na experiência do prazer. A dor ou prazer têm causas diversas problemas da função corporal, funcionamento ideal do metabolismo ou acontecimentos exteriores que ameaçam o organismo ou promovem a sua protecção, isto é, as emoções são o resultado de um processo de interacção entre o indivíduo e o meio que o rodeia e em que se produz uma avaliação da situação em termos de benefícios ou de prejuízos: As emoções são um meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia e reagir de forma adaptativa. As manifestações fisiológicas são mais facilmente observáveis e pressupõem reacções do organismo perante determinadas vivências. As emoções podem assumir diversas manifestações fisiológicas como a tristeza, a alegria, o medo, a culpa, a vergonha,, ou seja, as jóias da regulação automática da vida. Por outro lado, vamos encontrar os sentimentos na parte mais alta da árvore, na ponta dos seus diversos ramos, sendo eles estados afectivos complexos e estáveis e mais duradouros que as emoções. Existem diversos tipos de emoções, e segundo Damásio os rótulos existentes são manifestamente inadequados ; no entanto, o autor utiliza como classificação para as três categorias: emoções de fundo, emoções primárias e emoções sociais. Seja como for, todas elas têm uma função reguladora cujo 5

7 objectivo é auxiliar o organismo na conservação da vida. Todas as emoções são determinadas por mecanismos cerebrais e usam o corpo como teatro: se não sentirmos as emoções, não temos emoções. O corpo pode tê-las, mas nós não. O sentimento passa-se no teatro da mente, no teatro invisível, não comportamental, não objectivo da mente. O sentimento é subjectivo, é uma construção da mente. O ser humano não experimenta emoções apenas através de estímulos que recebe a nível sensorial. As vivências experienciadas pelas pessoas levam-nas a associar determinados objectos a certas situações conducentes inevitavelmente a emoções: Um dos aspectos fundamentais da história do desenvolvimento humano diz respeito ao modo como a maior parte dos objectos que nos rodeiam acaba por ser capaz de desencadear emoções, fortes ou fracas, boas ou más, conscientemente ou não. Damásio refere que a máquina da homeostasia é bem alta e larga e que os variados ramos são os fenómenos automáticos de regulação da vida. Partindo da base para o topo, podemos encontrar nos ramos mais baixos o processo de metabolismo que inclui componentes químicos e orgânicos. Nos ramos médios podemos encontrar comportamentos normalmente associados à noção de prazer ou dor. Próximo do topo encontramos as emoções propriamente ditas e que já aqui referimos. Voltando aos comportamentos associados à noção de prazer ou dor, para 6

8 Damásio a dor diferencia-se de certas emoções. Quando caímos e nos magoamos, o nosso organismo reage com comportamentos de dor devido aos sinais químicos emitidos (os nociceptivos). Algumas acções tentam restabelecer o equilíbrio do corpo e podem ser o retraimento do corpo, a protecção da zona afectada ou ainda expressões faciais de sofrimento. A dor é, portanto, o conjunto destas acções e dos sinais químicos relacionados com a sua produção. É considerada uma sensação desagradável que pode ocorrer em qualquer parte do organismo, actuando sempre como um sinal de alerta relativamente a um perigo iminente. Além de ser vista em termos de dano físico, a dor pode ser encarada como uma vivência emocional. Todas as pessoas percepcionam a dor aproximadamente da mesma forma; no entanto, a reacção emocional pode variar de pessoa para pessoa e depende sobretudo de características da personalidade e de experiências prévias. A dor diferenciase das emoções tais como a alegria ou o amor, precisamente porque é causada por uma perturbação física. A Inteligência Emocional da Criança Não há receitas para se estabelecer uma boa relação com as crianças; no entanto, o senso comum diz-nos que algum amor misturado com uma boa dose de respeito pela personalidade única da criança podem ser os condimentos perfeitos para tal. Tal como os adultos, as crianças também têm emoções, mas para que tenham consciência das mesmas necessitam de entendê-las para as poderem expressar correctamente, por isso, é cada vez mais importante ensinar a criança a educar as suas emoções. Durante este processo é fundamental a intervenção dos pais, que nos dias actuais poderá estar comprometida devido ao estilo de vida das famílias. Muitos pais questionam-se acerca das suas práticas pedagógicas, procurando muitas vezes as tais receitas de que falávamos há pouco em livros da especialidade. Sabemos que na prática tudo é diferente, dado a especificidade de cada criança e as suas características próprias. 7

9 A forma como educamos as nossas crianças é também um reflexo da nossa maneira de estar e sentir. Quanto mais felizes estivermos, mais as crianças beneficiarão desse nosso bem-estar, o qual passa também pela confiança que a criança tem de si própria. É comum ouvir os professores lamentarem-se que determinado aluno tem insucesso escolar porque os pais manifestam desinteresse em relação ao seu filho que se traduz na falta de afectos e de atenção. Na verdade, os pais não são ensinados a serem pais, e o pressuposto de que ser boa mãe ou ser bom pai é algo de inato parece estar a cair por terra. Os laços afectivos entre a criança e os pais são verdadeiramente importantes para o seu desenvolvimento intelectual, social e moral. O facto de estarem sujeitos a ambientes socioemocionais desfavoráveis como no caso de famílias desestruturadas, poderá levar essas crianças a experimentarem o insucesso escolar. As taxas de divórcio aumentam o fosso existente entre pais e filhos, ficando estes mais vulneráveis a estados depressivos. A falta de atenção e de carinho dos pais pode não chegar a ser um trauma mas deixa marcas emocionais muito fortes, com consequências ao nível de futuras relações. A dificuldade manifestada por algumas crianças em gerir as suas emoções em ambiente escolar poderá, assim, ter origem no seu próprio estilo de vida, nas crenças que partilham com o seu grupo de pertença e não em limitações na organização e gestão das emoções. Tudo à nossa volta constróise a partir das relações que estabelecemos com os outros. A relação de proximidade que um professor possa estabelecer com os seus alunos é meio caminho andado para que estes se sintam importantes e confiantes. A relação afectiva criada entre o professor e o aluno tem um enorme poder na melhoria do comportamento e da aprendizagem deste último. Perturbação por Défice de Atenção e Hiperactividade As manifestações desta perturbação podem ocorrer precocemente mas é na escola que elas se assumem como um problema sério. A maioria das crianças que revelam esta perturbação apresenta dificuldades emocionais (e temperamentais) desde o nascimento. 8

10 O diagnóstico é essencialmente clínico e tem por base critérios de natureza comportamental como a inatenção, a hiperactividade e a impulsividade. É fundamental que, após este diagnóstico, pais e professores entendam que esta alteração de comportamento é sobretudo um problema de saúde e não um problema de disciplina. É essencial adoptar uma atitude positiva e de valorização dos comportamentos adequados que se esperam da criança. Além de uma intervenção psicológica junto destas crianças, é também necessária uma intervenção médica na qual o uso de psicofármacos poderá ajudar a nível neuropsicológico. É verdadeiramente importante que os comportamentos desajustados manifestados pela criança sejam sempre desvalorizados, e, pelo contrário, encorajar a repetição de comportamentos adequados. Conclusão O termo comportamento designa, em psicologia, a conduta de um indivíduo face a um determinado estímulo, isto é, o modo como ele reage em determinadas circunstâncias. O comportamento humano é o reflexo de determinadas características da personalidade do indivíduo, tais como o temperamento, o carácter ou a emoção. É, portanto, a conjugação dos factores que fizeram parte da construção da personalidade do indivíduo. Urge educar as crianças no sentido de elas próprias se educarem a nível emocional, já que o controlo das emoções é a pedra basilar para o seu bemestar. Na sala de aula o professor deverá saber gerir as suas emoções e sentimentos, sejam eles positivos ou negativos, para que os seus alunos saibam, eles próprios, identificar e expressar aquilo que sentem de forma saudável. O bom professor será aquele que sabe o que o aluno sente, mesmo sem ser necessário que este o diga. É no silêncio das palavras que descobrimos quem verdadeiramente somos. 9

11 Referências Bibliográficas BARBOSA, Jorge N. (2004). Contributos para a Educação. Limitações no domínio Emocional. Edição: DAMÁSIO, A. (2003a). Ao encontro de Espinosa. Mem Martins: Publicações Europa-América. DAMÁSIO, A. (2003b) Looking for Spinoza. Joy, sorrow and the feeling brain. London: William Heinemann. Goleman, D. (1997). A Inteligência Emocional. Lisboa: Editora Temas e Debates. Sites consultados: Corbis: consultado em 29 de Junho de 2008 Wikipedia: consultado em 29 de Junho de