ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N APELANTE : Confiança Companhia de Seguros Gerais GBOEX --

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA. PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA 11~ ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N APELANTE : Confiança Companhia de Seguros Gerais GBOEX -- APELADA : Previdência Privada (Adv. João Paulo Leal, Ângela Ibanez Leal, Luiz Evonir Nascimento Gua.zina e Henry Flores de Souza) Auda Maia (Adv. Maria de Fátima Maia de Vasconcelos, Cláudio Sergio Reis de Menezes e Franciclaudio de França Rodrigues). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO C/C DANOS MORAIS. INVALIDEZ PERMANENTE. PRESCRIÇÃO. REJEIÇÃO. ACIDENTE SOFRIDO. LA MÉDICO. DEBILIDADE PERMANENTE. PREVISÃO N CONTRATO. PAGAMENTO DEVIDO. DANOS MORAIS. NÃO OCORRÊNCIA. PROVIMENTO PARCIAL DO APELO. O objeto principal do seguro é a cobertura do risco contratado, ou seja, o evento futuro e incerto que poderá gerar o dever de indenizar por parte da seguradora de saúde. - Sendo comprovada a invalidez do segurado, independentemente de acidente ou doença degenerativa, não pode a seguradora se eximir do pagamento pactuado. RECURSO ADESIVO. DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. DESPROVIMENTO. Não demonstrada a ilegalidade na conduta do recorrido, impossível reconhecer o direito buscado pela autora, pois, consoante leciona Sílvio de Salvo Venosa, "o dever de indenizar vai repousar justamente no exame de transgressão ao dever de conduta que constitui o ato ilícito". VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em que figuram.

2 como partes as acima nominadas. ACORDA a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, rejeitar a prejudicial de prescrição, dar provimento parcial ao recurso apelatório e negar negar provimento ao adesivo, nos termos do voto do relator, integrando a presente decisão a súmula de julgamento de fl RELATÓRIO Trata-se de apelação cível (fls. 174/189) interposta contra sentença (fls. 155/160) que julgou procedente ação de cobrança de seguro c/c danos morais em virtude de ocorrência de acidente que gerou invalidez permanente na segurada e condenou a ré ao pagamento dos valores correspondentes a 100% (cem. por cento) do prêmio de seguro da autora, bem como condenou na quantia de R$ 3.000,00 (três mil reais) a título de danos morais. E como sucumbência, condenou-a ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes, fixados em 20% (vinte por c sobre o valor da condenação. Inconformada, a parte ré apresentou apelação argumentando, preliminarmente, a prescrição da ação e, no mérito, "que a apelada agiu incorretamente quando pediu R$ ,54, urna vez que este valor corresponde a 100% do valor do seguro de Invalidez Permanente, pois o valor postulado deveria ser da diferença do valor segurado para o valor pago administrativamente". Assevera que "deve ser reformada a sentença retro para que seja deduzido do valor integral da indenização (100% para a invalidez permanente) o valor pago em maio de 2005 (fl. 69/73), ou seja, 60% (sessenta por cento). Aduz a inexistência de danos morais, pois não há nenhuma conduta ilícita por parte da requerida e não há menção de quais abalos morais efetivamente a apelada sofreu. Dessa forma, pugna pela exclusão da referida condenação e a minoração da verba honorária. Foram apresentadas contrarrazões pugnando pelo desprovimento do recurso apelatório (fls. 193/210). A parte autora apresentou Recurso Adesivo, requerendo a majoração do (Man tuim arbitrado a título de dano moral (fls. 212/227). Contrarrazões ao recurso adesivo (fls. 239/245).

3 A douta Procuradoria-Geral da Justiça, devidamente intimada, entendeu não ser caso de manifestação quanto ao mérito (fls. 259/260). É o relatório. VOTO A questão versa sobre cobrança de indenização de contrato de seguro de acidentes pessoais por morte ou invalidez, ante a inércia da seguradora em honrar o compromisso firmado. A autora sustentou que contratou seguro de vida de acidente pessoal por morte ou invalidez com a demandada, por intermédio da GBOEX - Grêmio Beneficente de Oficiais cio Exército, sendo beneficiária de 02 (dois) tipos de planos PEC/INVAL/APC, sob apólice n , datada de 21/11/1960. Alegou que, em 05 de abril de 2003 foi vitima de um acidei em sua residência, sofrendo uma queda acidental que acarretou sua invalide permanente, fazendo, jus, então, ao valor integral constante da apólice de seguro. Como relatado, o MM. julgou procedente a ação de cobrança de seguro c/c danos morais em virtude de ocorrência de acidente que gerou invalidez permanente na segurada e condenou a ré ao pagamento dos valores correspondentes a 100% (cem por cento) do prêmio de seguro da autora, bem como condenou na quantia de R$ 3.000,00 (três mil reais) a título de danos morais. Inicialmente, analisando a prejudicial de prescrição, entendo que não merece guarida. É que a parte ré efetuou o pagamento do seguro, embora em quantia inferior à devida, em data de 10 de maio de 2005, e como houve requerimento administrativo, antes do prazo de 01 (um) ano, pugnando pelo pagamento da diferença (fls. 36 e 38), houve a interrupção do prazo prescricional. Ademais, não há noticia alguma da finalização cio procedimento administrativo junto à seguradora, ora apelante, razão pela qual o curso do prazo prescricional ainda não retornou, devendo ser aplicado ao caso a Simula 229, STJ. "S STJ - o pedido de pagamento de indenização à segurado suspende o prazo de prescrição ate que o segurado tenha ciência da decisão". Como a ação foi. ajuizada em 07/01/2008, tem-se que a autora

4 seguro, nos termos do que dispõe as "Condições Gerais de Seguro de Acidentes Pessoais Coletivo", juntado pela ora apelante (fl. 68). Portanto, urna vez contratada a cobertura para invalidez por acidente, deve a seguradora honrar com seu compromisso, não podendo furtar-se ao seu mister amparando-se em cláusulas restritivas, apresentada ao segurado quando da recusa do pagamento da indenização. A companhia de seguro, ao restringir o pagamento da indenização não impede que o órgão julgador, ao entender que o caso que se julga preenche os requisitos ensejadores do adimplemento da indenização, determine que a seguradora cumpra com a obrigação pactuada. Isto porque o sinistro atingiu a segurada, o que basta para reconhecer o direito à indenização prevista na apólice para o risco de invalidez, ainda que a devedora invoque obrigação não prevista em contrato. Sobre o assunto, é oportuno trazer à baila os ensinamentos Cavalieri Filho', ao lecionar que: "Três são os elementos essenciais do seguro - o risco, a mutualidade e a boa-fé -, elementos, estes, que formam o tripé do seguro, uma verdadeira, "trilogia", uma espécie de santíssima trindade. Risco é perigo, é possibilidade de dano decorrente de acontecimento futuro e possível, mas que não depende da vontade das partes. Por ser o elemento material do seguro, a sua base fática, é possível afirmar que onde não houver risco não haverá seguro. As pessoas fazem seguro, em qualquer das suas modalidades - seguro de vida, seguro de saúde, seguro de automóveis etc. -, porque estão expostas a risco. (...) Em apertada síntese, seguro é contrato pelo qual o segurador, mediante o recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a obrigação de pagar-lhe uma determina indenização, prevista no contrato, caso o risco a que está sujeito se materialize em um sinistro. Segurador e segurado negociam as conseqüências econômicas do risco, mediante a obrigação do segurador de repará-las". Estando presentes os pressupostos que autorizam o pagamento da indenização ao segurado, não podem estipulações contratuais abusivas e inócuas sobreporem-se à lei para negar-lhe efeitos. Por fim, o inadimplemento da apelante ensejou a presente ação de cobrança e, diante do que fora apreciado, acertada se mostra a decisão de primeiro grau, analisando de forma adequada as questões discutidas no feito, aplicando com acuidade jurídica a legislação acerca do contrato de seguro e condenando-a ao pagamento do valor pactuado no contrato cie seguro de vida. 3 CAVALIERI FILHO, Sérgio, Programa de Responsabilidade Civil, 7 ed., rev. e amp. SP: Editora Atlas, 2007, p. 404/405.

5 exerceu o seu direito de ação dentro do prazo legal, conforme art. 206, 1Q, li, "b" do CC, motivo pela qual rejeito a prejudicial. Quanto ao mérito, compulsando os autos, verifico que a invalidez da apelada é inconteste e restou plenamente comprovada nos autos, sendo inclusive reconhecida por perícia oficial (fl. 126). Sendo assim, a celeuma gira em torno, apenas, do percentual a que faz jus a apelada. Ab initio, cumpre esclarecer que os contratos de seguro, como típicos contratos de adesão, estão afetos à legislação protetiva do consumidor, conforme disposição do 2, do art. 3, do referido diploma legal. A questão é pacifica e assim julga o Tribunal de Justiça de Santa Catarina: "As relações contratuais securitárias encontram-se ao abrigo das normas da Lei n de (Código de Defes o Consumidor), a teor do disposto no seu art. 3', 2' " 1 Nessa mesma esteira: "Ora, cuidando-se de relação de seguro, está ela sob a disciplina do Código de Defesa do Consumidor, cujo art. 46 é expresso em que os contratos não obrigarão os consumidores se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance."' Tal peculiaridade permite às avenças securitárias serem controladas pelo poder judiciário, face o eminente caráter de direito público emprestado à Lei n /90, admitindo, de plano, a intervenção pelo julgador, nas relações por ela regidas. Ressalte-se, por oportuno, que aquele que celebra um contrato de seguro, o faz objetivando tranquilidade e segurança, caso o risco temido futuramente venha a se concretizar. A apelada contratou seguro que previa o pagamento da indenização em caso de morte natural, morte por acidente, invalidez permanente por acidente (fl. 15). O infortúnio que lhe ocorreu deixou-a inválida, e, portanto, não pode a seguradora se escusar do pagamento integral da indenização, sob alegação de ser a invalidez parcial. Restou claramente demonstrado nos autos, a invalidez total da parte autora, fazendo jus ao percentual de 100% (cem por cento) do valor do 1 A pelaçàc, cível n , da Capital, Rel. Des. Nelson Scliaeler Martins 2 ACV a , de. Caçador, Rel. Des. joão José Schaefer

6 Ultrapassando os assuntos enumerados, resta agora saber o quantiun a ser indenizado. A apelante alega que, administrativamente, a indenização referente ao seguro por invalidez permanente foi paga. Folheando o caderno processual, vê-se que, de fato, foi efetuado, administrativamente, o pagamento do valor correspondente a R$ ,16 (dezessete mil, setecentos e oitenta reais e dezesseis centavos) (fls. 31/32), fato inclusive afirmado pela parte autora, o qual, embora não represente a totalidade do valor devido, deve ser abatido deste montante, sob pena de enriquecimento indevido. Sendo assim, deve ser reformada a sentença neste ponto, para que seja decotado o valor de R$ ,16 dos valores correspondentes a 100% (cem por cento) do prêmio de seguro que faz jus a autora, como assim determinado na r. sentença de primeiro grau. No que se refere aos danos morais, especificamente, enten o que assiste razão à recorrente. Após a vigência da Constituição Federal de 1988, ar 59, inciso X, sucumbiu de vez a controvérsia anteriormente havida acerca da existência do dano moral puro, desligado de qualquer repercussão material, sendo entendido como o desconforto ou a dor advinda de conduta ilícita. Examinando as circunstâncias do caso em comento, penso que a autora não logrou demonstrar que a recusa da seguradora causou-lhe grave constrangimento ou sentimento de dor e angústia capaz de caracterizar o dano moral. Ademais, é imperioso destacar que apenas restou cabalmente demonstrada a invalidez permanente da autora após a perícia judicial, não se podendo falar em má-fé da seguradora, uma vez que não houve ilicitude de sua parte. Por fim, quanto à alegação de que os honorários advocatícios foram fixados em valor além do que faria jus o advogado dos apelados, entendo que irresignação também não merece ser acolhida, uma vez que a verba honorária foi fixada dentro de um parâmetro razoável, segundo a norma inscrita no art. 20, 3 2, do CPC, observando, inclusive, os critérios enumerados nas alíneas do referido dispositivo. Por tal razão, desacolho o pedido de redução dos honorários advocatícios, posto que fixados dentro das bases legais e da razoabilidade. Quanto ao recurso adesivo interposto, pugnando pela majoração dos danos morais, pelas razões já expostas, inexiste o dever de indenizar, razão pela qual nego provimento ao recurso. Feitas estas considerações, rejeito a prejudicial de prescrição,

7 dou provimento parcial ao recurso apelatório, afastando a condenação em danos morais e deduzindo a quantia efetivamente paga de R$ ,16, do valor total da condenação, e nego provimento ao recurso adesivo, mantendo a r. sentença em seus demais termos. Custas e honorários advocatícios, que fixo em R$ 500,00 (quinhentos reais) CPC, art. 20, 4 2, rateados entre todos os litigantes, em razão da sucurnbência recíproca. Considerando que a autora litiga beneficiada pela gratuidade judiciária, suspendo a exigibilidade de tais créditos, nos termos do art. 12, da Lei ii.( /50. É como voto. DECISÃO A Câmara decidiu, por unanimidade, rejeitar a prejudicial de prescrição, dar provimento parcial ao recurso apelatório e negar provimento ao adesivo, nos termos do voto do relator. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Desembargadores João Alves da Silva, relator, Romero Marcelo da Fonseca Oliveira e Frederico 1\ilartinho da Nóbrega Coutinho. Presente o representante do Ministério Público, na pessoa da Excelentíssima Sra. Dra. Marilene de Lima Campos Carvalho, Procuradora de Justiça. Sala das Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 23 de abril de 2013 (data do julgamento). João Pessoa, 30 de al il de Desembargad,4j. Alves da Silva

8 TRiãuwAt. 1,41:,Ita:i-"N4 Diretoria judiciária Registrado em