Controle do desconforto músculo-esquelético no trabalho com microcomputador: avaliação da eficácia de um programa ergonômico auto-intrucional.
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1 Controle do desconforto músculo-esquelético no trabalho com microcomputador: avaliação da eficácia de um programa ergonômico auto-intrucional. Por: Marcos dos Santos Almeida, PUC Minas Campus Poços de Caldas Rodrigo Gotardelo Silva, PUC Minas Campus Poços de Caldas Marcelo Landim Brizola, PUC Minas Campus Poços de Caldas Marina Aparecida Gonçalves, PUC Minas Campus Poços de Caldas, v.2, n.1, Art.2, jul. /nov
2 CONTROLE DO DESCONFORTO MÚSCULO-ESQUELÉTICO NO TRABALHO COM MICROCOMPUTADOR: AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE UM PROGRAMA ERGONÔMICO AUTO-INSTRUCIONAL ALMEIDA, MARCOS DOS SANTOS 1 ; SILVA, RODRIGO GOTARDELO 1 ; BRIZOLA, MARCELO LANDIM 2 ; PEREIRA, MARINA APARECIDA GONÇALVES (O) 2 1 Graduando do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Campus Poços de Caldas. 2 Docentes do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Campus Poços de Caldas. marina@pucpcaldas.br RESUMO Este trabalho teve como objetivo aplicar e avaliar a eficácia de um programa ergonômico autoinstrucional para indivíduos que trabalham com microcomputador. O conteúdo do programa foi baseado em Couto (1995), e na Norma Regulamentadora Nº17. As situações ilustradas no programa procuram retratar as condições adequadas no trabalho com microcomputador. A avaliação do programa foi realizada com a participação de quatorze usuários de microcomputadores, através do acompanhamento de mudanças efetivamente implementadas pelos mesmos, tais como: adequações de mobiliário, adoção de pausas e ginástica laboral e pela evolução do desconforto músculo-esquelético percebidos após a implementação do programa. Para isso as situações ocupacionais de cada participante foram registradas antes e após a aplicação do programa, através de uma lista de checagem (check-list), questionário de desconforto músculo-esquelético, caracterização pessoal, variáveis do trabalho e um questionário de revisão ao que se refere ao aprendizado dos indivíduos em relação aos equipamentos de trabalho com microcomputador. As informações obtidas foram analisadas pelo cálculo de correlação linear dado pelo coeficiente de correlação de Pearson e pelo teste não paramétrico de Wilcoxon. Os resultados indicaram que houve aumento numérico na média quanto às adequações no mobiliário, adoção de pausas e ginástica laboral e uma redução numérica na média de sintomas músculo-esquelético, porém não foi verificada diferença estatisticamente significativa (p>0.05), em nenhum dos casos. O fato de não ter sido verificada diferença estatística significante pode ser explicado pela falta de condições dos participantes em adquirirem equipamentos para o seu posto de trabalho. No entanto foi demonstrado através do questionário de revisão que a maioria dos sujeitos utilizou as informações transmitidas pelo programa. PALAVRAS-CHAVE: fisioterapia preventiva, postura sentada, ergonomia. ABSTRACT The aim of this work was to apply and to evaluate the efficiency of an auto instructional ergonomic program for keyboard users. The program content was based in Couto (1995), an by the Regulamented Standard number 17. The illustrated situations of the program tried to show the work conditions by the users in their work place. The program was evaluated by fourteen keyboard users through these adopted changes: furniture adjustments, pause adoptions, laboral gymnastic and the musculoskeletal symptom s evolution. For this purpose every participant had his or her occupational environment registered before and after the program s application through a check list, a questionnaire of the musculokeletal discomfort and a revision questionnaire of the program in the end of the application. The obtained information s were analysed by descriptive statistics, by Pearson s Test and by the non parametric Wilcoxom s test. The results indicated that there was a number increase to the furniture adjustments pauses adoption, laboral gymnastic, and a number reduction an the musculoskeletal symptomsd, but it was not shown significant statistic difference in any of the cases. These changes even without the statistic difference demonstrated through the revision questionnaire that most of the subjects learned the program, but there wasn t so much time and conditions for the participants to acquire new and necessary equipment for the work place with computer. KEYWORDS: preventional physiotherapy, sitting posture, ergonomics. 1
3 1. INTRODUÇÃO É incontestável dizer que o trabalhador passa a maior parte de sua vida no ambiente de trabalho e muitas dessas horas na posição sentada, visando melhores resultados que são traduzidos em eficiência e produtividade. A busca desenfreada por melhores resultados exige mais do trabalhador, ilustrando um modelo capitalista atualmente empregado pelas empresas (COUTO, 1995; RODGHER et al, 1996). A somatória desses eventos tem sido considerada fator primordial e desencadeador das doenças ocupacionais, afetando seriamente a saúde mental e física dos trabalhadores. Dentro desse perfil, às doenças ocupacionais - DORT S (Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho), surgem por diversas causas como: condições ergonômicas inapropriadas de equipamentos e mobílias, má postura, tensão muscular e psicológica, não adoção de pausas e exercícios de distensionamento (ginástica laboral) realizados durante o expediente de trabalho (PIRES et al, 1999; NASCIMENTO et al, 2000; KETOLA et al, 2002). Desta forma, a empresa que adotar uma adequada avaliação destes riscos, intervindo ergonomicamente na resolução dos problemas físicos e organizacionais do setor de trabalho estará, com certeza, significativos degraus à frente dos seus concorrentes (COURY et al, 1997). 2. OBJETIVO A presente pesquisa tem como objetivo aplicar e avaliar a eficácia de um para indivíduos que trabalham com microcomputador em uma empresa do ramo alimentício, abordando medidas efetivamente implementadas pelos participantes em suas condições de trabalho, assim como, seu conhecimento adquirido através do programa e os desconfortos músculoesquelético percebidos pelos mesmos, antes e após a aplicação do programa ergonômico auto-instrucional. 3. MATERIAL E MÉTODOS Para desenvolvimento da pesquisa foi escolhido o setor Administrativo de uma Empresa Alimentícia em Poços de Caldas-MG, cujo número total neste setor é de 62 2
4 funcionários. Deste universo foram selecionados pelo setor de Recursos Humano e Segurança do Trabalho, 14 sujeitos, todos usuários de microcomputador, que trabalham sentados, realizando tarefas variadas relacionadas à digitação, escrita, leitura e atendimento telefônico. Os participantes constavam de 07 homens e 07 mulheres, com idade variando entre 21 e 36 anos, tempo de serviço entre 06 meses e 14 anos, horas sentado entre 06 a 10 horas diárias, e tempo de teclado de 03 a 08 horas diário. Protocolo para coleta dos dados foi um check-list elaborado a partir do programa ergonômico auto-instrucional, contendo 25 questões sobre o posicionamento, o uso dos equipamentos e objetos de trabalho, elementos posturais, pausas adotadas durante o trabalho, assim como a realização de cinesioterapia laboral durante as pausas e no inicio da jornada de trabalho. Cada questão continha uma resposta sim, com valor 01 de pontuação e uma resposta não com valor 0 de pontuação. Ao termino do check-list, foi aplicado um questionário de caracterização pessoal, variáveis do trabalho e desconforto músculo-esquelético, baseado em Rodgher et al (1996), contendo nome, cargo, setor, idade, tempo de serviço, horas sentado, horas no teclado, figura do corpo em perfil anterior, posterior, lateral direito e esquerdo para marcar o local da dor e uma escala analógica visual de dor numerada de 0 a 10. Essa escala foi utilizada para registrar a intensidade da dor de cada participante, segundo Viel (2001). Todos os questionários foram aplicados sempre pelos autores da pesquisa. Em seguida foi realizada a implementação do, desenvolvido no Microsoft Power Point 2000, contendo um total de quarenta slides com informações em forma de figuras e textos explicativos, com informações sobre: forma correta de regular os equipamentos de trabalho, como adotar posturas neutras em seus segmentos corporais durante a atividade laboral, realização de pausas durante a jornada de trabalho e a realização regular da cinesioterapia laboral, baseado na legislação do Ministério do Trabalho e Emprego, ao prescrito na NR 17, portaria 3751 de 23 de novembro de 1990, relativa à Ergonomia, e em Couto (1995). Após um mês de instalação do aos computadores dos participantes, foram novamente aplicados o questionário e o checklist do inicio da pesquisa, e outro questionário de revisão foi inserido, contendo uma pergunta sobre a necessidade de obter algum outro tipo de equipamento para seu posto de trabalho, justificando por escrito sobre sua necessidade. 3
5 Para sua realização, o presente estudo foi dividido em quatro etapas: A primeira etapa constou da liberação da empresa para realização do mesmo, em seguida foi enviado um para todos os setores participantes do projeto, de forma a esclarecer os objetivos, horários e a forma de condução do estudo, os autores se dirigiram aos setores e cada participante recebeu em mãos, o termo de consentimento livre e esclarecido, o qual foi lido e assinado perante os responsáveis. Na segunda etapa foram aplicados o check-list e o questionário de caracterização pessoal. Na terceira etapa, foi implementado o aos microcomputadores dos participantes (apresentação de slides no Microsoft Power Point 2000), que ficou acessível durante um mês. Na última etapa utilizou-se os mesmos protocolos e um novo questionário de revisão foi inserido, para verificação da eficácia do programa. 4. RESULTADOS Os resultados serão descritos em três conjuntos, um referente à pontuação obtida no check-list, outro referente questionário de desconfortos músculo-esquelético, e por último o questionário de revisão. Será considerado nível de significância p> Pontuação do check-list Na avaliação da somatória dos pontos do check-list, constatou-se que o valor médio desta somatória foi de 11,8+1.8 antes do programa e de 13,1+2.5 após o programa. Embora tenha ocorrido um aumento numérico na média, não foi demonstrada diferença significativa (p>0.05), como pode ser visto no gráfico ,8 13, ANTES DEPOIS Gráfico 1- Resultado do check list aplicado antes e após a implementação do programa (p>0,05). 4
6 4.2 Desconforto músculo-esquelético A análise dos sintomas iniciou com a verificação da existência de correlação entre os dados pessoais (idade, tempo de serviço na profissão, horas sentado por dia e horas no teclado por dia) e o desconforto músculo-esquelético percebido pelos sujeitos antes do programa. A idade não apresentou correlação significativa com os sintomas (r=0,08771), assim como, o tempo de serviço na profissão (r=0,38317), e as horas trabalhadas em teclado (r=0,07574). No entanto, as horas de trabalho na postura sentada por dia, apresentaram uma correlação significativa (r=0,69427) com a presença de desconfortos músculo-esquelético. 4.3 Intensidade do desconforto músculo-esquelético Com relação à intensidade dos sintomas percebidos antes e após a implementação do programa, não houve uma redução significativa (p>0,05). Constatouse valor médio para os sintomas antes do programa de 4,7+1.8 e valor médio após o programa de 3,7+2.0, observando-se então, uma diminuição numérica na média de sintomas, que pode ser visto no gráfico Antes 4,7 Depois 3,7 Gráfico 2 Resultados dos questionários de desconforto músculo-esquelético, aplicados antes e após a implementação do programa (p>0,05). 5
7 Do total de 14 participantes, 09 destes (64%) tiveram seus sintomas reduzidos, enquanto que 04 (29%) não registraram nenhuma alteração e, finalmente, 01 (7%) apresentou uma intensidade maior de sintomas após a aplicação do programa, como pode ser observado no Gráfico 3. 64% 29% Diminuição Igualdade Aumento 7% Gráfico 3. Percentual de sintomas apresentados antes e após a implementação do programa autoinstrucional. 4.4 Freqüência dos sintomas O Gráfico 4, ilustra a freqüência de sintomas para cada grupo de regiões corporais, antes e após a aplicação do programa. Essas regiões foram agrupadas em seis conjuntos: 1) Cabeça e cervical; 2) Membros Superiores (MMSS); 3) Coluna Alta; 4) Coluna Baixa; 5) Nádegas; 6) Membros Inferiores (MMII). Conforme observar-se, todas as regiões corporais apresentaram uma diminuição dos sintomas após a aplicação do programa Desconfortos antes Desconfortos depois Cabeça e Cervical MMSS Coluna Alta Coluna Baixa Nádegas MMII Gráfico 4. Freqüência de Desconfortos por região corporal antes e após a implementação do programa. 6
8 4.5 Questionário de Revisão No gráfico 5, podemos observar que a maioria dos participantes da pesquisa solicitaram equipamentos necessários e que estavam ausentes em seus postos de trabalho, de forma condizente as determinações do programa. Constam também aqueles que não fizeram nenhuma solicitação, pois já os possuía, o que pôde ser observado pela comparação dos questionários de revisão com os check-list obtidos após a aplicação do programa. Em outro grupo, estão os indivíduos que fizeram à solicitação de equipamentos, porém de forma inadequada (não condizente as determinações do programa) ou não o fizeram. 78% 22% Solicitação condizente Solicitação não condizente Gráfico 5. Relação percentual dos indivíduos que solicitaram os equipamentos de trabalho de forma condizente e não condizente com as informações do programa. 5. DISCUSSÃO A eficácia do proposto pode ser discutida mediante a análise dos resultados encontrados. Embora o número total de participantes seja reduzido, é possível identificar algumas tendências positivas nas variáveis estudadas. Na avaliação dos check-list aplicados após o programa constatou-se que os participantes realizaram mudanças em seus postos de trabalho condizentes com as informações transmitidas pelo programa. Apesar das mudanças, os resultados não foram estatisticamente significativos. Isso pode ter ocorrido pelo fato dos participantes não 7
9 terem tido condições práticas de adquirirem os equipamentos necessários para adequação do seu posto de trabalho, tendo como conseqüência a baixa pontuação no check-list aplicado após a implementação do programa. Conforme estudo por Rodgher et al (1996), se programas dessa natureza pudessem contar com o apoio financeiro e funcional de diferentes níveis organizacionais da empresa, incluindo colegas de trabalho, chefias imediatas e direção da organização, os resultados seriam ainda mais positivos. Ao correlacionar o desconforto músculo-esquelético percebido antes da aplicação do aos dados pessoais dos participantes, encontrou-se um valor estatisticamente significativo para os indivíduos que passavam sentados, mais horas diárias, portanto, estes dados parecem indicar que a postura sentada por várias horas durante o expediente de trabalho, incrementa a intensidade dos sintomas músculo-esquelético. A média de desconforto após a instalação do programa diminuiu, porém sem significância estatística. A não significância pode estar relacionada ao fato dos participantes não terem adquirido os equipamentos ergonômicos necessários para a sua adequação nos postos de trabalho, o que favorece a permanência dos desconfortos, assim como o número reduzido de participantes, pode ser outro fator que contribuiu para a não significância. Estudos realizados por Coury (1996), citados por Rodgher et al (1996), mostram que a percepção dos sintomas pode aumentar após programas dessa natureza, uma vez que os indivíduos adquirem conhecimentos de que existem problemas em seus ambientes de trabalho sem que esses tenham condições de alterá-los. Segundo Coury et al (1997), o treinamento adequado para o ajuste do mobiliário, deve estar associado à disponibilidade de equipamentos ajustáveis para a redução dos desconfortos músculo-esquelético nos ambientes de trabalho. Os resultados obtidos com o questionário de revisão demonstram que a maioria dos indivíduos solicitou equipamentos para os seus postos de trabalho condizentes com o programa. Isso indica que apesar dos indivíduos não terem obtido os equipamentos, adquiriram conhecimentos sobre a necessidade dos mesmos. 8
10 6. CONCLUSÃO Este estudo nos permite concluir que o teve um efeito positivo sobre as ações dos indivíduos e que apesar da complexidade de algumas medidas preventivas necessárias, o programa contribuiu para aumentar o conhecimento dos indivíduos sobre equipamentos de trabalho, inserção de pausas, e da realização da cinesioterapia laboral que devem ser adotadas durante o trabalho com microcomputadores. Considerando essa complexidade das decisões envolvidas em uma intervenção preventiva, bem como a necessidade de apoio financeiro e funcional, é possível afirmar que, programas dessa natureza teriam resultados mais positivos se pudessem contar com o suporte de diferentes níveis organizacionais da empresa. Isso equivale a dizer que, se esses programas fossem conduzidos em contextos de intervenção mais ampla, envolvendo todos os setores a que pertence o participante, as chances de êxito seriam maiores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: COURY H.J.C. GIL e RODGHER S. Treinamentos para o controle de disfunções Músculo-esqueléticos Ocupacionais: um instrumento eficaz para a Fisioterapia Preventiva? Revista Brasileira Fisioterapia, 2(1), p. 7-15, 27/02 de COUTO H.A. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana. V.1, 1ª ed. Belo Horizonte-MG. Ed. Ergo Ltda, cap.6, p , , 1995). KETOLA, R.; TOIVONEN, R; HÄKKÄNEN, M.; LUUKKONEN, R. Effects of Ergonomic Interventions in work with vídeo display units Scands J work environ Health. 28(1); p , NASCIMENTO N.M. e MORAES R.A.S. Fisioterapia nas Empresas. 2ª edição. Rio de Janeiro-RJ. Ed. Taba Cultural, p.23,24,30-32,38-40,
11 RODGHER.S, H.J.C. COURY e L.A.P. SANDE. Controle de desconfortos Posturais em indivíduos que trabalham sentados: Avaliação da Eficácia de um Programa Audiovisual, Revista Brasileira. Fisioterapia, 1(1), p , 01/03 de PIRES. L. e RIO R. P. Ergonomia: Fundamentos da Prática Ergonômica. 2ª ed. Belo Horizonte, MG. Ed. Health, p , VIEL, E. O diagnóstico Cinesioterapêutico: Concepção, realização e transcrição na prática clínica e hospitalar. 1ª ed. São Paulo: Editora Manole, Cap.4. p
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