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- Luiz Felipe Cunha Santarém
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1 13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ISSN ÁREA TEMÁTICA: ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( X ) SAÚDE ( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA RELATO DE EXPERIÊNCIA: QUANDO A ENTREVISTA VAI ALÉM DAS PALAVRAS Beatriz Gonçalves Lopes (bia_loppes@hotmail.com) Elaine Cristina Antunes Rinaldi (ecrisrinaldi@yahoo.com.br) Clóris Regina Blanski Grden (reginablanski@hotmail.com) Carlos Eduardo Coradassi (coradassi@gmail.com) Pollyanna Kassia De Oliveira Borges (pollyannakassia@hotmail.com) RESUMO A taxa de mortalidade infantil é um indicador capaz de refletir as condições de saúde de uma população. No Brasil ela é descrita e analisada por meio de informações epidemiológicas que quantificam os óbitos ocorridos no primeiro ano de vida, dentre todos os nascidos vivos do mesmo período. A morte é um assunto delicado e a maneira como cada pessoa reage a este acontecimento, depende da sua cultura e sua personalidade. O ser humano aceita melhor quando ocorrem mortes com pessoas idosas, porém quando se trata de criança a situação muda, pois essa morte corta com todo o planejamento familiar. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência que a pesquisadora vivenciou durante as entrevistas. Trata-se de um estudo transversal com abordagem qualitativa. As entrevistas foram semi-estruturadas, gravadas, transcritas e separadas de acordo com as idéias centrais. Ao se realizar essa pesquisa, houve medo do novo, pois o assunto determinado é um assunto delicado que deve ser falado de maneira sem invadir totalmente o espaço da mãe. Finalizamos esse relato com a certeza de que as mães entrevistadas passam por lutas diárias, mas que a cada dia se mostram mais fortes. PALAVRAS-CHAVE Mortalidade infantil. Luto. Pesquisa qualitativa. Introdução A taxa de mortalidade infantil é um indicador capaz de refletir as condições de saúde de uma população. No Brasil ela é descrita e analisada por meio de informações epidemiológicas que quantificam os óbitos ocorridos no primeiro ano de vida, dentre todos os nascidos vivos do mesmo período (GOULART, 2005). A taxa de mortalidade infantil vem apresentando tendência contínua de queda no Brasil (47,1/1000 nascidos vivos em 1990 para 19,3/1000 nascidos vivos em 2007), e essa redução ainda é um desafio para os serviços de saúde e a sociedade como um todo, principalmente pela mortalidade pós neonatal, pois a maioria das mortes são potencialmente evitáveis (BRASIL, 2009).
2 13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 2 A morte é um assunto delicado e, na maioria das vezes, existe um medo de se falar da morte. A maneira como cada pessoa reage a este acontecimento, depende da sua cultura e sua personalidade. O ser humano aceita melhor quando ocorrem mortes com pessoas idosas, porém quando se trata de criança a situação muda, pois essa morte corta com todo o planejamento familiar (BERNINI, 2000). A dor vivida pela perda de um filho é considerada uma das piores dores, pois o filho significa o início da vida, e não o contrário. Os pais planejam suas vidas, criam sonhos e expectativas de uma vida toda ao lado de sua criança, quando isso é interrompido alguns sentimentos tomam conta, como tristeza, raiva, medo, culpa, remorso entre tantos outros (SADAG, 2013). Sendo assim, percebeu-se a escassez de trabalhos publicados com esse tema, embora exista grande variedade em trabalhos sobre a mortalidade infantil, então foi realizada uma pesquisa com mães que perderam filhos menores de um ano de vida, para conhecer e compreender os sentimentos que elas sentem. Portanto sentiu-se a necessidade de como pesquisadora, relatar os sentimentos e dificuldades que passou ao decorrer das entrevistas. Objetivos O objetivo deste trabalho é relatar a experiência que a pesquisadora vivenciou durante as entrevistas, descrevendo sentimentos e dificuldades que a mesma sentiu para poder colaborar com futuros trabalhos que venham ser norteados por essa temática. Referencial teórico-metodológico Trata-se de um estudo transversal com abordagem qualitativa. Para a pesquisa, escolheu-se a região do Tarobá em Uvaranas, o motivo foi por ser a região de estágio no programa PRO/PET-Saúde da pesquisadora, ou seja, uma região que a mesma tem atuado com intervenções sobre a saúde materno infantil. Este relato de experiência refere-se ao projeto de extensão desenvolvido na Universidade Estadual de Ponta Grossa, que institucionaliza as atividades de extensão do PET-Saúde, sob o título FORTALECENDO A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA DE PONTA GROSSA, COM FOCO NA GESTAO CLÍNICA E O CUIDADO INTEGRAL EM TODOS OS CICLOS DE VIDA. O estudo foi realizado com mães que perderam seu filho de 0 mês à 1 ano, no período de 2006 a Segundo informações da Vigilância Epidemiológica de Ponta Grossa, nesse período a amostra foi de 14 mães. Foi usado como critério de exclusão as mães que não foi possível entrar em contato, por mudança de endereço ou ausência de contato telefônico (N=4), também foi
3 13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 3 excluído da pesquisa mães que rejeitaram a participação na mesma (N=1). Sendo assim, a amostra foi constituída por 9 mães. Foram realizadas visitas domiciliares para conversar com a mãe sobre a pesquisa, e então marcar um dia e horário de sua preferência para realização da entrevista. Antes de se iniciar as entrevistas foi concedido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que constava com as idéias principais da pesquisa e seus lados negativos, como por exemplo, a tristeza ao se lembrar da morte de seu filho. Por conseguinte, a mãe aceitando participar da entrevista e assinando o termo, a entrevista era iniciada. As entrevistas foram semiestruturadas, gravadas, transcritas e separadas de acordo com as idéias centrais. Resultados Várias perguntas surgem ao se iniciar uma pesquisa, pois é um campo novo, independente se já foi estudado, cada pesquisador terá um olhar diferente e fará uma reflexão única. Dessa forma, uma parte essencial da pesquisa qualitativa é o contato entre pesquisador e entrevistador, pois nesse momento são analisados sentimentos que vão além das falas. A pesquisa qualitativa pode ser realizada em vários lugares, porém quando acontece em domicilio à entrevista pode fluir melhor, já que há a possibilidade de acontecer com maior liberdade para o entrevistado declarar suas idéias e diminuir a preocupação com o tempo. Bem como, nos momentos da entrevista, são notados algumas falhas e as mesmas vão sendo corrigidas ao decorrer da pesquisa (DUARTE, 2002). Ao se realizar essa pesquisa, houve medo do novo, medo como a mãe iria acolher a pesquisadora, pois o assunto determinado é um assunto delicado que deve ser falado de maneira sem invadir totalmente o espaço da mãe, e na medida em que ela dá liberdade, confia, as respostas ficam mais completas, por isso o modo como abordar o assunto com a mãe efetuou-se de maneira clara e calma. Foi possível perceber uma desconfiança inicial em cada visita domiciliar, pois as entrevistadas queriam detalhes sobre como a pesquisadora conseguiu seus dados pessoais, para onde essas informações iriam, e se seus nomes estariam presentes, essa desconfiança foi quebrada ao se explicar que seus dados foram recebidos pela prefeitura para a realização da pesquisa, que a pesquisa poderá ser utilizada como uma forma de ajudar futuras mães que passarão pela mesma situação e, ainda, confirmando que seus dados permaneceriam anônimos. Em contrapartida, em alguns casos, antes de conseguir se comunicar com a mãe o assunto era falado para quem atendia a pesquisadora, como marido e irmãos, e os mesmos relatavam que era um assunto que a entrevistada não iria querer falar, essa fala logo foi entendida como uma forma de proteção para a entrevistada, porém, ao
4 13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 4 explanar o assunto eles compreendiam e chamavam a mãe para então marcar o dia para a realização da entrevista. No dia da entrevista o TCLE era explicado e passava mais segurança para a mãe, no início as respostas eram rápidas, mas ao decorrer as mães relatavam mais e contavam detalhes que só foi possível depois que a confiança foi estabelecida, então as mesmas descreveram o que estava em seu coração, sentimentos que foram além de palavras, mas também com expressões faciais, choros ou até mesmo risadas para disfarçar a dor. Sendo assim, foi notado que por mais que o assunto não fosse agradável e as lembranças tristes, as mães aproveitavam para desabafar, pois não tiveram apoio psicológico e com suas famílias o assunto não era mais tocado, como é possível notar no relato a seguir: As mães que perdem seus filhos precisavam de um apoio psicológico sabe, porque a gente guarda na cabeça, e a gente pensa cadê aquelas pessoas que podiam me apoiar? e não tem né, porque a família quando fala, fala pra gente esquecer e a gente não esquece. Eles falam: - você tem os outros, mas não é a mesma coisa. Segundo MARTINS (2014) as pessoas deixam de falar sobre o assunto, pois se falarem demonstrarão que são fracas e sentirão fracassadas. Porém é necessário para a superação do luto, como forma de aceitar o que ocorreu, e que não precisamos ser fortes e alegres em todos os momentos, mas que os seres humanos têm momentos de fraqueza que precisam ser demonstrados para serem superados. Outro ponto foi que ao ouvir cada relato foi notório que as mães viviam o momento de novo, lembrando de frases que médicos e enfermeiros falaram e algumas falando como era lindo seu filho. E essas falas vinham com sentimentos de raiva, dor e a certeza de um vazio que será carregado para sempre, como se pode perceber nesses relatos: A enfermeira falou lá na hora que se o médico tivesse entubado na hora que chegou tinha salvado. Na realidade o luto dura até hoje, não tem como você parar e dizer que o filho da gente foi embora, porque era um anjo, uma bonequinha. Na realidade foi embora e a gente tem que se conformar, isso acontece né. Mas é muito difícil. Em alguns relatos foi eminente a insensibilidade como a noticia foi trazida a mãe, apresentando uma forma de despreparo dos profissionais e que culminou em maiores dores para a mãe, como receber a noticia pelo telefone e não explicar o que realmente aconteceu com a criança. Dessa forma, uma mãe relatou que os profissionais não fizeram tudo que poderia ser feito por falta de amor a profissão. Como averiguado nessas falas: Ai fui e marquei a BCG na saúde, ai fiz e deu febre muito alta nela, por causa que ela já tava com três meses né, ai toma BCG, acho que foi isso, porque ninguém me explicou até agora porque. Só que daí teve um dia que a médica chegou, ligou pra mim e ó mãe, teu filho não agüentou, meningite na cabeça dele, ele entrou em óbito.
5 13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 5 daí um médico chegou e falou que era pra levar ela numa sala não sei das quantas lá, daí a enfermeira tentou fazer isso, mas não que ela fez com vontade, no meu ver ela não fez com vontade. (...) Nesse mundão de hoje precisamos de pessoas novas que gostem do que façam. Assim, percebe-se, que há um despreparo nos profissionais de saúde para lidar com essas situações, situações delicadas e dolorosas, que devem ser tratadas de forma sábia para ajudar na superação do luto. Também compreendemos que o pesquisador entrevistador, sempre que possível, deve ser o mesmo que analisa as entrevistas, pois a interpretação vai além do que está escrito, vai aos sentimentos que ela vivenciou durante a entrevista, e o mesmo, deve ser compreensivo sem invadir os limites das mães. Considerações Finais Finalizamos esse relato com a certeza de que as mães entrevistadas passam por lutas diárias, mas que a cada dia se mostram mais fortes para poder cuidar de sua casa, sua família e superar a dificuldade do luto. Dessa forma, podemos concluir que a pesquisa qualitativa traz experiências novas para o pesquisador, que ao decorrer de sua pesquisa percebe que cada entrevistado é um sujeito oculto que precisa ser desvendado, ou seja, um é diferente do outro, e nenhuma entrevista é igual à outra, por mais que as perguntas sejam as mesmas e as respostas tenham o mesmo sentido, pois a percepção vai além das palavras, mas sim de todo sentimento que mães explanaram. APOIO: Fundação Araucária. Referências BERNINI, GUIOMAR. Laços atados: a morte do jovem no discurso materno. Doutorado em ciência Sociais PUC. São Paulo BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Manual de vigilância do óbito infantil e fetal e do Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal.2. Ed. Brasília, DF, DUARTE ROSÁLIA. Pesquisa qualitativa: Reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de pesquisa. N. 115, p Rio de Janeiro. Março, FLENADY, V. et al. Meeting the needs of parents after a still birth or neonatal death. Internacional journal of obstetricians and gynaecologists.queensland, v.121, n.4, p GOULART, L. M. H. F.; SOMARRIBA, M. G.; XAVIER, C. C. A perspectiva das mães sobre o óbito infantil: uma investigação além dos números. Caderno Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.21, n.3, p , mai./jun
6 13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 6 MARTINS, M.; LIMA, P. V. A. Contribuições da Gestalt Terapia para os enfrentamentos das perdas e da morte.revista IGT na rede. v.11, n.20, p Rio de Janeiro SADAG, R. G. E. A piece of me died too... When the Ones we love are taken from Us. African Journal of Psychiatry.May.2013.
PALAVRAS-CHAVE: Mortalidade Infantil. Epidemiologia dos Serviços de Saúde. Causas de Morte.
ISSN 2238-9113 ÁREA TEMÁTICA: ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( X) SAÚDE ( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA Jessica Neves Pereira (latiifa@hotmail.com)
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