ESTADO DA PARAÍ EiA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO EXMO. DES. MÁRCIO MURILO DA CUNHA RAMOS
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1 ESTADO DA PARAÍ EiA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO EXMO. DES. MÁRCIO MURILO DA CUNHA RAMOS ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N /001 Comarca de Aroeiras. RELATOR : Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos APELANTE : Carmenisa Belo Pereira ADVOGADO: José Erivan Tavares Grangeiro APELADO : Município de Gado Bravo, representado por seu prefeito. ADVOGADO: Antônio Nilson Pereira da Silva APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE COBRANÇA CONTRATO TEMPORÁRIO (ART. 37, IX, DA CF) VERBAS SALARIAIS PROCEDÊNCIA PARCIAL IRRESIGNAÇÃO DA AUTORA CONTRATAÇÃO QUE SE RENOVA SUCESSIVAMENTE DESVIO DE FINALIDADE NULIDADE CONTRATUAL RECONHECIDA RELAÇÃO DE CARÁTER JURÍDICO-ADMINISTRATIVA VERBAS CELETISTAS AFASTADAS APLICAÇÃO DO 3 0, DO ART. 39, DA CF HORAS EXTRAS NÃO COMPROVAÇÃO DO TEOR DA LEI MUNICIPAL PAGAMENTO DEVIDO, APENAS, EM RELAÇÃO AO 13 SALÁRIO E TERÇO DE FÉRIAS PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. O contrato temporário firmado com o Município que tiver sucessivas e ilegais prorrogações é nulo, no entanto, considerando que a relação jurídica das partes possui caráter jurídico-administrativo, é devido o pagamento das parcelas previstas no 3 0, do art: 39, da CF sob pena de caracterizar enriquecimento ilícito. Não faz jus às horas extras quand lei municipal que preveja a cone o comprovado o teor da benefício. identificados. VISTOS, RELATADOS DISCUTIDOS estes autos, acima ACORDA a Egrégi Terceira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba,,e or unonimidade, em dar provimento parcial ao apelo.
2 RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta contra a sentença proferida pelo douto juiz de direito da Comarca de Aroeiras, que julgou parcialmente procedente o pedido de Carmenisa Belo Pereira para condenar o Município de Gado Bravo a pagar à autora apenas os salários mensais inàdimplidos, referente ao período em que a demandante, efetivamente, prestou serviços à Edilidade, ou seja, a partir de 12/01/2003. Irresignada, a autora intel pôs apelação às fls. 139/141, requerendo a reforma da sentença para que o município seja compelido a pagar todas as verbas trabalhistas ora pleiteadas na petição inicial. Apesar de devidamente intimado, o município recorrido não apresentou contrarrazões (fls.145). É o relatório. VOTO: A recorrente relata que foi contratada pela Edilidade para exercer atividade de excepcional interesse público (auxiliar de enfermagem) no período de 02 de janeiro de 1998 a 05 de janeiro de 2009, requerendo, ainda, o pagamento do 13 salário de 2005 a 2009, 1/3 de férias de 2004 a 2009, FGTS + 40%, hora extra, adicional de insalubridade, multa do art. 477, 8 da CLT e aviso prévio, devido à sua despedida arbitrária. Ressalte-se que a validade do contrato temporário firmado pela Edilidade deverá estar estritamente vinculada às regras do inciso IX, do art. 37, da CF que assim preceitua: "Art. 37. (...) IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;" Porém, analisando os autos, observo que a contratação da apelante não se enquadra na hipótese de "necessidade temporária de excepcional interesse público", pois apesar da recorrente ter sido contratada para exercer a função de auxiliar de enfermagem num período de 6 (seis) meses - 06/01/2003 a 06/07/2003 (fls. 10/11), verifico que ocorreram sucessivas renovações (fls. 12/57), o que caracteriza desvio de finalidade. Portanto está reconhecida a nulidade do contrato de prestação de serviço temporário firmado entre as partes. Cabe de bom alvitre salientar que, mesmo sendo nulo o contrato de trabalho, não se permite que o ente público obtenha as gens advindas do labor de um funcionário sem a devida contrapresta, sob pena de resultar em enriquecimento ilícito, o que é indubitavelme e vedado r nosso ordenamento jurídico. Também é import te destacar que a referida contratação da servidora, mesmo com sucessivas prorrog ções, possui natureza jurídico-administrativa e é regida pelo regime jurídico único. Co do, estão excluídas as verbas próprias do regime celetista, como o aviso prévio, FGTS + 40% e multa do art. 477, 8 da CLT.
3 `o Nesse sentido, tem-se os seguinte precedente: "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. AJUIZADA COM O OBJETIVO DE OBTER CONDENAÇÃO DE MUNICÍPIO AO PAGAMENTO DE VERBAS DECORRENTES DE CONTRATO DE TRABALHO. REGIME TEMPORÁRIO. PRORROGAÇÃO. MANUTENÇÃO DO VINCULO ESTATUTÁRIO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. - O STF, ao julgar a ADln n DF, excluiu da expressão relação de trabalho as ações decorrentes do regime estatutário. Assim, a competência para julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho, quando envolverem servidor estatutário não celetista e ente público, será da Justiça comum, estadual ou Federal, conforme o caso. - A contratação temporária terá sempre caráter jurídico-administrativo, ainda que haja prorrogação do contrato de maneira irregular, pois estas mudanças não têm o condão de alterar o vinculo inicialmente estabelecido entre as partes. Precedentes do STF e do STJ. - Agravo provido para declarar competente o Juízo de Direito da 3 a Vara Cível de Salto - SP." (STJ - AgRg no CC 116,913/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/04/2012, DJe 03/05/2012) O Ministro Joaquim Barbosa, no julgamento da Reclamação 5.863/MT, assim declarou: "Com efeito, o fato de o contrato de trabalho temporário ser nulo 'ou se tornado nulo em razão de sucessivas e ilegais prorrogações' não transforma automaticamente o seu caráter jurídico-administrativo em celetista. A sua natureza é e continua sendo jurídico-administrativa, a atrair a competência da justiça comum, estadual ou federal." - grifo nosso. Concluo então, que serão del idas, neste caso, todas as verbas que se incluem entre as enumeradas no 3 0, do art. 39, da CF: "Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. 3 Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir." Em caso semelhante, o Ministro Resp /GO, assim declarou: elgado, no julgamento do "É estreita, com a devid vênia, a inter retação no sentido de que ' o reconhecimento da "nu idade do contrato de trabalho somente confere direito à contrapartida fpelos serviços prestados, não gerando direitos trabalhistas além da sim les remuneração. O empregado, parte hipossáficiente na relação empregaticia, adere ao contrato de trabalho, em regra, de boa-fé. Na situação examinada os efeitos dessa boa-fé perdurou por mais de 4 (quatro) anos, sem que, em época alguma, tenha se comprovado qualquer participação direta do empregado na configuração da nulidade reconhecida.
4 Dois outros princípios que devem.ser considerados são o da primazia da realidade e o de que a retroatividade das nulidades, no Direito do Trabalho, não pode operar para prejudicarwenibreg -ad6." Tribunal Federal. Nesse sentido, tem-se os seguintes julgados do Supremo "Agravo regimental no agravo de instrumento. Servidor temporário. Contrato prorrogado sucessivamente. Gratificação natalina e férias. Percepção. Possibilidade. Precedentes. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que é devida a extensão dos diretos sociais previstos no art. 7 da Constituição Federal a servidor contratado temporariamente, nos moldes do art. 37, inciso IX, da referida Carta da República, notadamente quando o contrato é sucessivamente renovado. 2. Agravo regimental não provido." (AI AgR, Relator(a): Min. DTAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 13/03/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-079 DIVULG PUBLIC ) "AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONSTITUCIONAL. DIREITOS SOCIAIS. DÉCIMO TERCEIRO E TERÇO DE FÉRIAS. APLICABILIDADE A CONTRATOS TEMPORÁRIOS SUCESSIVAMENTE PRORROGADOS. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO." (ARE AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 22/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-236 DIVULG PUBLIC ) Assim, a recorrente faz jus ao recebimento do 13 salário de 2005 a 2009 e 1/3 de férias de 2004 a Quanto ao adicional de insalubridade, ficou consignado no termo de audiência de fl. 60 a desistência do benefício, tendo sido, inclusive, homologada pelo juiz trabalhista o qual extinguiu o pedido do adicional sem resolução de mérito. Por fim, no que se refere ao pagamento das horas extraordinárias por ter trabalhado nos domingos, devo enfatizar que não há, nos autos, provas suficientemente capazes de comprovar o direito da autora. Além disso, ressalta-se que a concessão de horas extras não é auto-aplicável, somente podendo ser concedidas através de lei instituidora de regime jurídico próprio, na esfera de sua competência. No caso sub judice, a demandante não fez juntada da lei municipal que preveja o seu direito. Nesse sentido, menciona o dispositivo do artigo 337 do Código de Processo Civil: Art A parte, que alegar consuetudinário, provar-lhe- ' juiz. unicipal, estadual, estrangeiro ou igência, se assim o determinar o Dessa forma, não/há como concede denização às horas extras, pois a autora não demonstrou o teor da ei municipal garantidora do seu direito. Por todo o e osto, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO APELO, para determinar que o Município de Gado Bravo pague à recorrente os
5 décimos terceiros salários dos anos de 2005 a 2009, bem como o terço de férias referentes aos períodos de 2004 a 2009, ressaltando que se encontram prescritas todas as verbas que antecedem-a-09/02/2004. Condeno a apelada no pagamento das custas judiciais e dos honorários advocatícios sucumbenciais, estes que arbitro em R$ 500,00 (quinhentos reais) em conformidade com o 4 0 do artigo 20 do CPC. É como voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sn Des. Genésio Gomes Pereira Filho. Participaram do julgamento o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos, o Exmo. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides e o Exmo. Des. Genésio Gomes Pereira Filho. Presente ao julgamento o Exm o. Dr. Francisco de Paula Ferreira Lavot, Promotor de Justiça convocado. João Pessoa, o Murilo da Cunha Ramos Desembargador
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