PROGRAMA AVES Inquérito de Opinião, Competências e Valores - Resultados de 2004
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- Ângelo Vasques Meneses
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1 PROGRAMA AVES Inquérito de Opinião, Competências e Valores - Resultados de 2004 António M. Fonseca Introdução No âmbito dos objectivos do Programa AVES Avaliação de escolas com ensino secundário, a vontade de conhecer os processos educativos de cada escola assim como os resultados que obtêm os alunos, tendo em conta as características da escola e o nível académico dos alunos, passa também pela avaliação de estratégias de aprendizagem, valores e atitudes, competências de raciocínio, e opinião sobre a escola. Os pais dos alunos também são chamados a expressar a sua opinião sobre a escola 1. Neste texto apresentam-se e discutem-se os resultados alcançados com a aplicação dos instrumentos de avaliação das dimensões consideradas, reportados a 2004, do seguinte modo: - apresentação dos resultados por dimensão, sendo previamente delimitados o modo e a natureza dessa avaliação; - síntese dos principais resultados seguida de respectiva discussão. Resultados 1. Valores e Atitudes A prova de Valores e Atitudes consiste num questionário de 52 itens, a que cada aluno responde anonimamente. Nesse inquérito são analisados temas de quatro eixos orientadores: educação ambiental, educação para a paz, educação para a saúde; educação para a igualdade de oportunidade entre os sexos. A partir dos dados obtidos através da administração desta prova aos alunos, avalia-se a relevância junto dos alunos dos seguintes factores: - tolerância e igualdade de oportunidade entre os sexos: refere-se à posição que os alunos adoptam em temas como o racismo, a xenofobia e a discriminação, assim como os conhecimentos e comportamentos relacionados com a igualdade de oportunidades entre ambos os sexos; - ecologia e respeito pelo meio ambiente: refere-se à posição que os alunos adoptam perante conhecimentos e comportamentos no âmbito da educação ambiental; - saúde e bem-estar: refere-se à posição que os alunos adoptam relativamente a conhecimentos e comportamentos no âmbito da educação para a saúde. 1 Os instrumentos de avaliação utilizados estão disponíveis em: Fundação Manuel Leão (2003). PROGRAMA AVES Avaliação de escolas com ensino secundário. Apresentação dos instrumentos de avaliação para a população portuguesa. Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão.
2 As primeiras três figuras referem-se aos resultados alcançados nesta prova pelos alunos do 7º, 9º e 11º anos de escolaridade. Figura 1 O factor saúde e bem-estar é aquele que alcança maior relevância junto dos alunos do 7º ano de escolaridade, sucedendo o inverso com o factor tolerância e igualdade de oportunidades. Não há diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas. Figura 2
3 Nos alunos do 9º ano, o factor saúde e bem-estar continua a ser o mais destacado, mas agora é o factor ecologia o menos valorizado. Não há diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas. Figura 3 Os resultados expressos pelos alunos do 11º ano de escolaridade revelam uma tendência idêntica à observada no 9º ano: maior valorização atribuída ao factor saúde e bem-estar, menor ao factor ecologia. Verifica-se uma diferença de resultados consoante o contexto sóciocultural das escolas no factor saúde e bem-estar, no sentido de uma maior valorização deste factor nos alunos provenientes de escolas de contexto médio. Uma visão agrupada destes resultados (Figura 4), independentemente do contexto das escolas, permite-nos extrair as seguintes ideias principais: - valores e atitudes relativos à saúde e bem-estar são os mais destacados pelos alunos, em todos os anos de escolaridade; - valores e atitudes relativos à ecologia são, no 9º e no 11º ano, os menos destacados pelos alunos; - com o avanço da escolaridade, verifica-se um aumento da importância atribuída a valores e atitudes relativos à tolerância e igualdade de oportunidades, e uma diminuição da relevância de valores e atitudes relativos à saúde e bem-estar.
4 Figura 4 A prova de Valores e Atitudes permite ainda analisar o factor transversalidade, por meio do qual se avalia a percepção dos alunos sobre a forma como temas transversais do currículo (nomeadamente, tolerância e igualdade de oportunidades, ecologia, saúde e bem-estar), são abordados em cada estabelecimento de ensino. Os resultados obtidos apresentam-se na Figura 5. Figura 5 À medida que se avança na escolaridade, a percepção dos alunos é que a abordagem de temas transversais vai tendo um peso cada vez menos importante no respectivo currículo.
5 2. Estratégias de Aprendizagem A prova de Estratégias de Aprendizagem consiste num questionário de 44 itens, a que cada aluno responde anonimamente. A partir dos dados obtidos através da administração desta prova aos alunos, avaliam-se os seguintes factores: - tratamento da Informação: refere-se à capacidade dos alunos para planificar a tarefa que pretende levar a cabo e tratar a informação, extraindo as ideias principais e distinguindo o essencial do acessório; - técnicas de estudo: refere-se ao uso de técnicas próprias de elaboração e organização da informação, tais como resumos, esquemas ou guiões; - articulação de saberes: refere-se à capacidade do aluno para estabelecer relações entre o que já sabe e os novos conteúdos, bem como entre diferentes áreas de estudo; - aprendizagem pela memória: refere-se à forma como o aluno aborda o estudo e caracteriza-se pela consideração isolada dos materiais de estudo, usando a memorização. Figura 6 As principais ideias a reter são as seguintes: - verifica-se uma grande homogeneidade quanto às estratégias de aprendizagem usadas pelos alunos; - não há diferenciação de estratégias à medida que se avança na escolaridade; - a aprendizagem pela memória é muito salientada pelos alunos, nos três anos de escolaridade. Não se verificaram diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas.
6 3. Competências de Raciocínio Este questionário consiste num conjunto de três provas/testes de raciocínio diferencial, originalmente incluídas na Bateria de Provas de Raciocínio Diferencial (BPRD), instrumento de avaliação das capacidades intelectuais aferido para a população estudantil portuguesa pelo Prof. Leandro Almeida, em meados da década de oitenta. A BPRD tem subjacente a possibilidade e o interesse de avaliação da capacidade de raciocínio dos alunos em diferentes conteúdos de raciocínio; no caso do Projecto AVES, foram seleccionados o Raciocínio Numérico, o Raciocínio Abstracto e o Raciocínio Verbal. Raciocínio Numérico A prova de Raciocínio Numérico compõe-se de 30 itens sob a forma de sequências lineares ou alternadas de números que se seguem em cada série. Este trabalho requer, por um lado, a descoberta da lei de sucessão dos números e, por outro, a aplicação desse princípio aos problemas propostos, subentendendo a realização de pequenos cálculos. Exemplo: Raciocínio Abstracto A prova de Raciocínio Abstracto compõe-se de 35 itens figurativos ou de conteúdo abstracto em termos de significação. O aluno terá que, inicialmente, perceber a relação existente entre os dois elementos de um primeiro par de figuras para, de seguida, aplicar essa relação a um segundo par que é constituído por uma terceira figura apresentada e por uma quarta a escolher de entre as cinco alternativas de resposta. Exemplo: a b c d e Raciocínio Verbal A prova de Raciocínio Verbal compõe-se de 40 itens verbais, apresentados sob a forma de analogias. Após a descoberta da relação existente entre um primeiro par de palavras, o aluno deverá encontrar uma quarta palavra que mantenha idêntica relação com a terceira apresentada. Exemplo: Quarto está para Casa, como Capítulo está para a) Dicionário b) Leitura c) Livro d) Jornal e) Revista Cada uma destas provas tem subjacente um tempo de realização próprio, distinto de prova para prova. O resultado de cada prova equivale ao número total de respostas correctas que o aluno alcançou dentro do tempo atribuído para cada uma. A apreciação desse resultado deve fazer-se comparando o valor obtido por um aluno numa determinada prova com o valor médio
7 alcançado por um grupo representativo de alunos do mesmo sexo e do mesmo ano de escolaridade nessa mesma prova, realizada em condições semelhantes. Esses valores médios foram calculados para a população estudantil portuguesa do 7º ao 12º ano de escolaridade, pelos autores da BPRD, a partir de uma amostra nacional representativa de cerca de alunos, repartidos pelos vários anos de escolaridade, pelos dois sexos e por várias regiões. Analisemos, desde já, os resultados obtidos pelos alunos por ano de escolaridade. Figura 7 Fig. 7 cont. Em todas as provas, os resultados médios obtidos pelos alunos que actualmente frequentam o 7º ano são inferiores aos obtidos pelos alunos que frequentavam o 7º ano de escolaridade há
8 cerca de 20 anos. Verifica-se um grande equilíbrio entre os resultados actuais e os registados há 20 anos pelos alunos que frequentam o 9º ano e o 11º ano de escolaridade. Analisemos, agora, os resultados obtidos pelos alunos por ano de escolaridade e por contexto sócio-cultural da escola. Figura 8 Figura 9
9 Figura 10 Em qualquer uma das provas de raciocínio usadas e nos três anos de escolaridade considerados, verifica-se uma clara variação dos resultados em função do contexto, ocorrendo uma diminuição progressiva dos resultados à medida que se desce nos níveis de contexto. No 7º ano, a diminuição é acentuada de nível para nível. No 9º ano, essa diminuição é mais suave, sendo o ano de escolaridade onde os resultados são mais equilibrados entre os contextos. No 11º ano, a clivagem faz-se essencialmente do contexto de nível alto para os dois outros contextos de nível médio, onde os resultados são idênticos. 4. Opinião sobre a escola - alunos A avaliação da opinião dos alunos sobre a escola que frequentam realiza-se a partir de um questionário com 35 itens. A análise das respostas é realizada em função de sete factores: - ordem, disciplina e ambiente de trabalho no estabelecimento de ensino: refere-se aos itens que abordam a disciplina, a ordem e o ambiente de trabalho assegurados pelos professores dentro da sala de aula, bem como à forma de resolução de eventuais problemas disciplinares; - professores - relação e competência: refere-se ao relacionamento humano com os professores, em especial no que diz respeito à capacidade de comunicação, à disponibilidade e à capacidade de partilha de responsabilidades pedagógicas; - actividades: refere-se às actividades extra escolares e às propostas didácticas ao nível das diferentes disciplinas; procura analisar a quantidade, mas também a qualidade e,
10 sobretudo, o nível de participação dos alunos tanto na concepção como na execução dessas actividades propostas; - Director de Turma - relação e competência: refere-se ao papel do director de turma como conselheiro, como interlocutor nos conflitos, como "ponte" com os encarregados de educação e como informador privilegiado sobre o futuro profissional; - classificações obtidas: refere-se ao índice de satisfação com os resultados escolares alcançados, bem como do grau de justiça desses resultados; - relação com os colegas: refere-se ao nível de satisfação na relação com os colegas, tanto da turma como da escola em geral; - satisfação com a escola em geral. Figura 11 Para todos os factores avaliados, os alunos do 7º ano de escolaridade são aqueles que têm uma opinião mais positiva da escola que frequentam e os alunos do 11º ano os que registam uma opinião menos positiva. A opinião sobre a escola vai, pois, registando impressões progressivamente menos positivas (ou até negativas) à medida que se avança na escolaridade, em particular entre 7º e o 9º ano de escolaridade. Do 9º para o 11º ano de escolaridade, a opinião tende a estabilizar (excepção feita ao factor actividades). Em qualquer um dos anos de escolaridade, relação com os colegas e Director de Turma são os aspectos acerca dos quais os alunos mantêm uma opinião mais positiva; actividades e classificações são os aspectos que menos opiniões positivas recolhem dos alunos. A satisfação com a escola em geral é elevada em qualquer um dos anos de escolaridade, registando o mesmo padrão de evolução da generalidade dos factores avaliados: diminuição de satisfação entre o 7º e o 9º de escolaridade, satisfação idêntica no 9º e 11º anos de escolaridade. Não se verificaram diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas.
11 5. Opinião sobre a escola encarregados de educação A avaliação da opinião dos encarregados de educação sobre a escola que os educandos frequentam faz-se a partir de um questionário com 28 itens. A análise das respostas é realizada em função de cinco factores: - funcionamento da escola e preparação dos alunos; - comunicação com professores/directores de turma; - informação e participação dos pais na vida escolar; - ordem e disciplina; - actividades extra-curriculares. Figura 12 Os factores comunicação com professores/directores de turma e ordem e disciplina são aqueles acerca dos quais os encarregados de educação têm uma opinião mais positiva, em qualquer um dos anos de escolaridade. O factor que recolhe uma opinião menos positiva é o relativo às actividades extra-curriculares. A opinião dos encarregados de educação sobre a escola vai-se tornando progressivamente menos positiva, em todos os factores avaliados, à medida que se avança na escolaridade, com uma variação mais sensível entre o 7º ano e o 9º ano de escolaridade, permanecendo depois mais estável entre o 9º e o 11º ano de escolaridade. Não se verificaram diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas.
12 Síntese de resultados e discussão Para facilitar a discussão dos resultados, apresentamos inicialmente uma síntese das principais ideias já registadas (Quadro 1), distinguindo, para além de uma apreciação global, duas variáveis de interpretação: o ano de escolaridade e o contexto socio-cultural da escola. Quadro 1 APRECIAÇÃO GLOBAL ANO DE CONTEXTO ESCOLARIDADE SOCIO-CULTURAL Valores e atitudes Valores e atitudes relativos à saúde e bem-estar são Valores e atitudes relativos à tolerância e igualdade De um modo geral, não há diferenças significativas de os mais destacados pelos de oportunidades são os resultados consoante o alunos menos salientados pelos contexto sócio-cultural das alunos do 7º ano; valores e escolas. atitudes relativos à ecologia são os menos destacados pelos alunos do 9º e do 11º ano. Com o avanço da escolaridade, verifica-se: - aumento da relevância de valores e atitudes relativos à tolerância e igualdade de oportunidades, - diminuição da relevância de valores e atitudes relativos à saúde e bemestar. Transversalidade Este factor alcança um valor médio entre os A percepção dos alunos é que a abordagem de Não se verificaram diferenças de resultados alunos. temas transversais vai consoante o contexto tendo um peso cada vez sócio-cultural das escolas. menor no respectivo currículo, à medida que se avança na escolaridade. Estratégias de aprendizagem Grande homogeneidade quanto às estratégias de Não há diferenciação significativa de estratégias Não se verificaram diferenças de resultados aprendizagem usadas entre os diferentes anos de consoante o contexto pelos alunos. A escolaridade. sócio-cultural das escolas. aprendizagem pela memória é muito salientada pelos alunos como uma estratégia de aprendizagem importante.
13 Competências de raciocínio Em todas as provas, os resultados actuais ficam Os resultados médios obtidos pelos alunos que Há variação dos resultados em função do contexto, aquém ou são idênticos actualmente frequentam o com uma diminuição aos obtidos pelos alunos 7º ano são inferiores aos progressiva dos resultados que efectuaram estas obtidos pelos alunos que à medida que se desce provas há cerca de 20 frequentavam o 7º ano de no contexto: anos. escolaridade há cerca de - no 7º ano, a diminuição é 20 anos. Os resultados acentuada, actuais e os registados há - no 9º ano, a diminuição é 20 anos pelos alunos que mais suave, sendo o ano frequentam o 9º ano e o de escolaridade onde os 11º ano de escolaridade resultados são mais são globalmente idênticos. equilibrados entre os contextos, - no 11º ano, a clivagem faz-se essencialmente do contexto alto para os outros contextos de nível médio, onde os resultados são idênticos. Opinião sobre a escola - alunos Relação com os colegas e Director de Turma são Os alunos do 7º ano de escolaridade são aqueles Não se verificaram diferenças de resultados os aspectos acerca dos que têm uma opinião mais consoante o contexto quais os alunos mantêm positiva da escola que sócio-cultural das escolas. uma opinião mais positiva; frequentam e os alunos do actividades e 11º ano os que manifestam classificações são os uma opinião menos aspectos que menos positiva. A opinião sobre a opiniões positivas escola vai registando recolhem dos alunos. A impressões cada vez satisfação com a escola menos positivas à medida em geral é elevada. que se avança na escolaridade, em particular entre 7º e o 9º ano de escolaridade. Do 9º para o 11º ano de escolaridade, a opinião tende a estabilizar. Opinião sobre a escola encarregados de educação Comunicação com professores/directores de turma e ordem e disciplina são os aspectos A opinião dos encarregados de educação é progressivamente menos positiva à medida que se Não se verificaram diferenças de resultados consoante o contexto sócio-cultural das escolas acerca dos quais os avança na escolaridade, encarregados de educação com uma variação mais têm uma opinião mais sensível entre o 7º e o 9º positiva. O aspecto que ano de escolaridade, recolhe uma opinião permanecendo depois menos positiva é mais estável entre o 9º e o actividades extra- 11º ano de escolaridade. curriculares
14 Tendo novamente presente o objectivo de conhecer os processos educativos de cada escola, de acordo com as características da escola e o nível académico dos alunos, é possível equacionar a hipótese de estarmos perante um conjunto de resultados que nos oferecem uma imagem global das escolas envolvidas no Programa AVES apresentando duas facetas completamente distintas: - por um lado, os alunos e respectivos encarregados de educação estão satisfeitos com a escola que frequentam, contribuindo para essa apreciação positiva um conjunto de aspectos relacionais (relação com os colegas e director de turma) e de organização da escola (comunicação com professores/directores de turma, ordem e disciplina), os quais fazem apelo a uma faceta afectiva da relação aluno-escola satisfatoriamente alcançada nestes estabelecimentos de ensino; - por outro lado, os indicadores disponíveis sobre estratégias de aprendizagem e competências de raciocínio dão-nos sinais de estarmos perante um conjunto de escolas cuja faceta cognitiva da relação aluno-escola revela fragilidades, sendo difícil de compreender tanto a ausência de evolução dos resultados relativos às competências de raciocínio face há duas décadas atrás, como a ausência de evolução das estratégias de aprendizagem a que se recorre ao longo da escolaridade ( estudase e aprende-se sempre da mesma forma, com recurso substancial à memorização). Aliás, verifica-se que os alunos mais satisfeitos com a escola (os do 7º ano de escolaridade) são aqueles que apresentam resultados mais baixos ao nível das competências de raciocínio, aproximando-se depois estes resultados, no 9º e 11º anos de escolaridade, das médias de aferição para Portugal, mas com uma espécie de custo : os alunos passam a ter uma opinião menos favorável da escola (ainda que não seja negativa). Tal poderá significar a existência de uma incompatibilidade (que importa investigar) entre as duas facetas atrás realçadas, como se o trabalho escolar no domínio da faceta cognitiva, fazendo os alunos crescerem sob este ponto de vista, seja susceptível de comprometer o envolvimento afectivo dos alunos em termos da frequência escolar. Assim, o período que decorre entre o 7º e o 9º ano de escolaridade parece ser um período de progressivo desencanto com a escola sob o ponto de vista afectivo mas de progressivo incremento sob o ponto de vista cognitivo, observando-se depois uma estabilidade entre o 9º e o 11º ano que, nomeadamente em termos das competências de raciocínio e das estratégias de aprendizagem, poderá ser explicada por duas vias: - ou porque a escola concentra-se na transmissão de conhecimento e descura o desenvolvimento do aluno no seu papel de sujeito cognitivo e aprendente, - ou porque o próprio aluno se acomoda à realidade escolar, cumprindo o que lhe é solicitado e resistindo à valorização de si mesmo em domínios não directamente relacionados com o currículo.
15 De resto, estamos perante escolas acerca das quais existe uma percepção generalizada de valorizarem pouco o papel das actividades para além do currículo. Este ponto de vista é partilhado por alunos e encarregados de educação, sendo particularmente salientado pelos alunos mais avançados na escolaridade, o que poderá ajudar a sustentar as hipóteses anteriormente avançadas. A diferença de resultados entre os três anos de escolaridade avaliados é notória também ao nível dos valores e atitudes. Se é certo que o factor saúde e bem-estar surge sempre bem destacado é uma evidência desenvolvimental que os aspectos relativos à saúde pessoal são fortemente valorizados pelos adolescentes e uma evidência sociológica que a promoção do bem-estar individual encaixa numa orientação individualista do viver contemporâneo, observa-se um aumento progressivo da tolerância e igualdade de oportunidades no quadro de valores e atitudes dos alunos. Este fenómeno explica-se naturalmente pela maior abertura ao outro, pelo reconhecimento dos seus direitos, opiniões e necessidades, não sendo de menosprezar o papel que eventualmente a escola possa desempenhar nesse sentido, aperfeiçoando o pensamento cívico dos alunos. A perda de importância dos valores e atitudes relativos à saúde e bem-estar, à medida que a escolaridade (e a idade) progride(m), justificase dado ser esperado um aumento da adopção de comportamentos de risco para a saúde pessoal, logo, ser esta menos valorizada pelos adolescentes que frequentam o 11º ano de escolaridade quando comparados com os que frequentam o 9º e sobretudo o 7º ano de escolaridade. Finalmente, quanto à importância do contexto socio-cultural, a sua influência faz-se sentir de forma significativa em termos das capacidades de raciocínio, penalizando os alunos provenientes de um nível socio-cultural mais baixo e evidenciando o papel que a estimulação derivada da pertença a um contexto socio-cultural mais elevado exerce no plano cognitivo. Ou seja, ser proveniente de um meio social mais alto ou mais baixo não é indiferente quanto às possibilidades de obtenção de performances mais elevadas em tarefas nas quais estejam implicadas capacidades de raciocínio (como são a generalidade das tarefas de natureza curricular). Já o mesmo não se pode dizer relativamente às variáveis que se prendem com valores e opiniões, onde o papel do contexto socio-cultural parece não exercer influência de relevo, demonstrando a existência de alguma homogeneidade trans-nacional quanto aos valores e atitudes aqui avaliados e à opinião sobre a escola.
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